domingo, 15 de abril de 2012

POR QUE EXPATRIADOS MARGINALIZADOS SE TORNAM BONS LÍDERES


Por IESE Insight, The New York Times News Service/Syndicate

As pessoas que viveram em mais de uma cultura, mas que não se identificam realmente com nenhuma delas, às vezes são vistas como mal adaptadas, psicologicamente oprimidas, ou socialmente fracas.

Esse tipo de rótulo parece fazer dos "biculturais marginalizados", como são conhecidos, candidatos pouco ideais para se tornarem líderes globais, profissionais que precisam ser mestres em se conectar com muitas pessoas diferentes e influenciá-las. Com frequência, os líderes globais se deparam com grandes níveis de diversidade, complexidade e incerteza em suas negociações comerciais - e você pensaria que um trabalho como esse não serve para pessoas "socialmente fracas".

Entretanto, Stacey R. Fitzsimmons da Western Michigan University, em Kalamazoo, Yih-teen Lee do Instituto de Estudios Superiores de la Empresa, da Universidade de Navarra, na Espanha e Mary Yoko Brannen da escola internacional de administração INSEAD buscaram desafiar essas noções. Em seu livro ."Demystifying the Myth about Marginals: Implications for Global Leadership." (Desmistificando o mito sobre os marginais: implicações para a liderança global), escrito para a Academia de Liderança Global da Dinamarca, eles argumentam que os "biculturais marginalizados" podem, na verdade, apresentar melhores resultados que outros líderes globais.

De acordo com a teoria da identidade cultural, a forma como nos vemos e como nos identificamos com os outros pode ter um efeito profundo em nossos processos mentais, em nossas emoções e comportamentos. Isso é especialmente pertinente no caso de imigrantes ou de expatriados de longa data, presos entre mais de um ambiente cultural.

Ao passo que alguns deles "se tornam nativos", e adotam outra cultura como sua própria, outros podem não conseguir se identificar plenamente nem com seu ambiente de origem, nem com aquele que os recebeu. Esses últimos tipos são conhecidos como "marginais", e são considerados maus candidatos para cargos de liderança global.

Ainda assim, de acordo com Fitzsimmons, Lee e Brannen, esses "marginais" são especialmente bons em sua habilidade de entender e interagir com pessoas de determinada cultura, sem, contudo, sentir que fazem parte dela. Mais como negociantes transculturais, os "marginais" têm a habilidade de ver como suas posições ou suas táticas podem ser vistas pelos outros. Além disso, sua falta de identificação plena com um grupo cultural os torna particularmente aptos a lidar com a diversidade.

Os "marginais" também têm um alto nível de tolerância com as incertezas, graças ao fato de estarem sempre entre diferentes culturas. Eles também têm menos chance de sofrer com conflitos de identidade e são mais abertos a novas ideias.

Uma vez que não se ligam a grupos culturais específicos, eles podem ter melhores ferramentas para liderar equipes diversificadas e para gerar confiança em contextos multiculturais, quando comparados a gerentes com apenas um ponto de referência cultural. Ao serem confrontados com fatores culturais e comerciais desconhecidos, os "marginais" têm menos chance de adotar uma abordagem defensiva e estão mais dispostos a tentar entendê-los.

Em resumo, uma vez que eles, ao mesmo tempo, fazem e não fazem parte de uma determinada cultura, os "marginais" são livres para adotar uma mentalidade cosmopolita e global. Eles têm a capacidade de manter a neutralidade e o desapego em ambientes transculturais e podem constituir relações sociais mais facilmente com pessoas de diferentes origens culturais. Mesmo que eles se integrem à sociedade que os adotou, eles ainda são capazes de manter essas habilidades especiais.

Posto isso, nem todos os "marginais" se tornam líderes globais. Alguns deles rejeitam ativamente ambas as culturas, algo que não é favorável à liderança global. Entretanto, aqueles que têm uma autoconsciência saudável e que aprenderam a adotar esse estado intermediário estão mais bem preparados para desenvolver seu potencial de liderança global.

Uma vez que os "biculturais marginalizados" representam um percentual relativamente pequeno da população, seria impraticável que as empresas fizessem o recrutamento apenas com base nisso. Entretanto, caso você considere a "marginalização" como um processo - pessoas que passam por uma construção de identidade que envolva dois ou mais grupos culturais - o universo de candidatos  aumenta consideravelmente.

Fitzsimmons, Lee e Brannen listam diversas contribuições que essas pessoas podem fazer:

- Elas podem ser responsáveis.

Essas pessoas dão poucas coisas como certas e, por essa razão, são capazes de notar detalhes que outros deixam passar. Elas também têm mais chances de fazer o papel de advogado do diabo, que é fundamental para a liderança global responsável.

- Elas podem ser menos limitadas.

Com poucas perspectivas de se adequarem às normas, elas não são limitadas por seu ambiente, ainda que, ao mesmo tempo, sejam capazes de compreendê-lo profundamente.

- Elas podem ser "agentes de mudança" para a melhoria contínua.

Pessoas de fora são capazes de ver coisas que quem está em um ambiente familiar já deixou de enxergar. Por exemplo, quando a Tesco começou a perder competitividade em seu mercado natal, a empresa convidou uma equipe de gerentes asiáticos de suas subsidiárias para que eles observassem suas operações locais e identificassem formas de melhoria.

Treinar líderes globais é um processo caro, longo e incerto. Ainda que competências e habilidades possam ser desenvolvidas no decorrer do tempo, características de personalidade são muito mais difíceis de mudar.
Faz sentido, portanto, que as empresas invistam o máximo de tempo possível para avaliar e reconhecer as competências secretas dos biculturais quando estão recrutando potenciais líderes globais. As empresas devem prestar mais atenção a esses perfis, pois eles são candidatos especiais aos cargos de liderança global, argumentam Fitzsimmons, Lee e Brannen.

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Osvaldo Aires Bade Comentários Bem Roubados na "Socialização" - Estou entre os 80 milhões Me Adicione no Facebook 

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