A presidente Dilma Rousseff durante coletiva, no Palácio do Planalto (Ueslei Marcelino/Reuters)
O governo protelou até onde foi possível, mas permitiu a subida dos juros a partir de 2012. Com os financiamentos mais caros, menos brasileiros se sentem seguros para assumir uma dívida tão alta como é a compra de um veículo. Além disso, diante do crescimento baixo da economia, os bancos se tornaram mais criteriosos na hora de conceder empréstimos, o que fez com que menos brasileiros tivessem acesso a crédito. O resultado é que as montadoras enfrentam um de seus piores anos, com queda de 9% nas vendas de veículos somente em 2014. Com isso, as fábricas passaram a demitir. O setor automotivo, que inclui também as fábricas de autopeças, é um dos maiores empregadores da indústria brasileira. Se o setor vai mal, o emprego é sacrificado. Segundo o IBGE, a indústria automotiva já demitiu mais de 8.000 funcionários até agosto deste ano.
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OS RICOS ESTÃO CADA VEZ MAIS RICOS. O QUE ACONTECEU?
O ano de 2014 se
sobressai quando se trata de indicadores econômicos ruins. Tudo piorou: dos
juros à inflação, da balança comercial ao emprego, das contas públicas à
política cambial. São informações que afetam diretamente a vida dos brasileiros
e precisam ser levadas em conta na hora do voto. O site de VEJA preparou uma
lista que mostra como a deterioração dos indicadores pode mudar a realidade da
população a partir do ano que vem.
COMPRAR CARROS NÃO É MAIS TÃO SIMPLES. POR QUÊ?
O governo protelou até onde foi possível, mas permitiu a subida dos juros a partir de 2012. Com os financiamentos mais caros, menos brasileiros se sentem seguros para assumir uma dívida tão alta como é a compra de um veículo. Além disso, diante do crescimento baixo da economia, os bancos se tornaram mais criteriosos na hora de conceder empréstimos, o que fez com que menos brasileiros tivessem acesso a crédito. O resultado é que as montadoras enfrentam um de seus piores anos, com queda de 9% nas vendas de veículos somente em 2014. Com isso, as fábricas passaram a demitir. O setor automotivo, que inclui também as fábricas de autopeças, é um dos maiores empregadores da indústria brasileira. Se o setor vai mal, o emprego é sacrificado. Segundo o IBGE, a indústria automotiva já demitiu mais de 8.000 funcionários até agosto deste ano.
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A INFLAÇÃO VOLTOU
PARA FICAR. ISSO FAZ DIFERENÇA?
A inflação tem sido o grande inimigo dos brasileiros. No acumulado de doze
meses, ela bate 6,5%. Esse patamar é o teto da meta estabelecida há quase vinte
anos com o objetivo de domar a alta dos preços que era tão feroz no Brasil nos
anos 1980.
O centro da meta é de 4,5% e é esse número que deve ser perseguido
pelo Banco Central, o órgão responsável por controlar o indicador. A inflação,
contudo, tem sido sentida com muito mais força pelos brasileiros do que os 6,5%
indicam. Aluguéis, mensalidades escolares, compras de supermercado e preços de
serviços têm sofrido reajustes mais dolorosos.
Alimentos, por exemplo, subiram
8% em 2013 e 4,8% no acumulado de janeiro a agosto de 2014. Já os serviços
subiram 6,64% nos primeiros oito meses nesse mesmo período. A inflação só não
está mais alta porque há os chamados preços administrados, como a gasolina,
energia elétrica e impostos, como o IPVA, por exemplo. São valores que precisam
da chancela de governos federal, estaduais e municipais para serem reajustados.
O governo dispõe de mecanismos para contribuir com o controle da inflação, como
redução dos gastos públicos, por exemplo. Contudo, essa não tem sido a diretriz
da atual presidente. Ela tem sacrificado o controle inflacionário em função de
políticas de aumento de gastos. Outra forma de controlar a inflação é subindo
os juros. Na prática, com juros mais altos, a população reduz o consumo num
primeiro momento e os preços se reequilibram. O problema é que o BC não teve
liberdade para subir juros quando necessário. No momento em que recebeu o aval,
passou a elevá-los, mas já era tarde demais. Há três anos o Brasil não consegue
trazer a inflação para o centro da meta.
Saiba mais:
Está engavetado no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) um estudo
inédito que mostra uma realidade bem diferente da que vem sendo pregada pelo PT
na campanha eleitoral de Dilma Rousseff.
O mostra que a concentração de renda
aumentou no Brasil entre 2006 e 2012. Dados do Imposto de Renda dos brasileiros
coletados por pesquisadores do Instituto mostram que os 5% mais ricos do país
detinham, em 2012, 44% da renda. Em 2006, esse porcentual era de 40%. Os
brasileiros que fazem parte da seleta parcela do 1% mais rico também viram sua
fatia aumentar: passou de 22,5% da renda em 2006 para 25% em 2012.
O mesmo
ocorreu para o porcentual de 0,1% da população mais rica, que se apropriava de
9% da renda total do país em 2006 e, em 2012, de 11%. Outro estudo feito pelos
mesmos pesquisadores, usando dados da Pnad e do imposto de renda, mostram que
houve sim crescimento da renda durante os governos petistas. Porém, diz o
estudo, "os ricos se apropriaram da maior parte desse crescimento”.
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O DÓLAR DISPAROU. ISSO É UM PROBLEMA?
Quando a presidente Dilma assumiu, o dólar estava cotado a 1,68 real. Hoje,
está em 2,49 reais. As razões da subida são muitas e incluem desde erros
cometidos pelos governantes até uma tendência internacional de alta da moeda.
No caso do Brasil, os problemas internos contaram mais que as situações vindas
de fora. Quando o dólar custava menos que 1,70 real, o governo o considerava
baixo demais e começou a cobrar mais impostos sobre os investimentos
estrangeiros que eram feitos no país. O objetivo era limitar a entrada de
dólares justamente para sua cotação subir.
Num primeiro momento, não adiantou
nada. Mas, conforme os investidores foram perdendo a confiança no Brasil, os
dólares, de fato, começaram a minguar. Com isso, a moeda passou a subir até
superar o patamar de 2 reais. O dólar mais alto encarece os produtos que o
Brasil importa, como gasolina e trigo. Mas, por outro lado, beneficia os exportadores
brasileiros.
O dólar começou a subir tanto que o governo mudou de ideia.
Descobriu que, se moeda ficasse muito cara, a inflação subiria muito — o que é
ruim para o bolso da população e pode gerar um alto índice de desaprovação nas
urnas. Assim, por meio do Banco Central, o governo começou a estimular a
entrada de dólares. Os efeitos dessas ações, no entanto, não impediram a moeda
de subir. Aliás, quanto mais as pesquisas mostram que a presidente Dilma tem
chances de se reeleger, mais dólares deixam o Brasil e mais alto fica o valor
da moeda americana.
Saiba mais:
O SETOR ELÉTRICO ESTÁ EM CRISE. COMO ISSO AFETA O SEU BOLSO?
Com o intuito de reduzir a conta de luz em cerca de 20%, a presidente Dilma
anunciou, em 2012, um pacote de medidas para o setor elétrico. Em suma, as
geradoras e distribuidoras que levam a energia até as residências teriam de se
adaptar a novas regras que, num primeiro momento, reduziria seus ganhos.
Nem
todas as geradoras aceitaram os novos termos e deixaram de fornecer para o
mercado regulado, que é o jargão do setor para explicar o mercado residencial.
Com isso, a oferta de energia se arrefeceu para as residências. Outro agravante
foi a estiagem que atingiu o centro-sul do país. As distribuidoras que estavam
descontratadas, ou seja, precisavam fechar novos contratos com as geradoras
para oferecer energia aos brasileiros, tiveram de comprar energia a um preço
cinco vezes maior no mercado de curto prazo.
As distribuidoras também tiveram
de arcar com o custo das termelétricas. Devido à estiagem, muitas hidrelétricas
não conseguiram suprir a demanda de energia. Por isso as térmicas, que são
movidas a combustível e por isso são mais caras, tiveram de assumir o
fornecimento. Sem caixa para bancar esse aumento de custo, as distribuidoras
tiveram de pedir ajuda ao governo e reajustar a tarifa de energia dos
brasileiros. Resultado disso é que o corte na conta de luz anunciado em 2012
causou tamanho desequilíbrio no mercado que gerou um ônus de mais de 60 bilhões
de reais para o país. Essa conta está sendo paga pelos consumidores, por meio
do aumento da conta de luz, e pelos contribuintes, que financiam a ajuda que o
governo deu às distribuidoras.
Saiba mais:
CONTAS PÚBLICAS ESTÃO UM DESASTRE. E DAÍ?
O que o governo faz do dinheiro arrecadado com impostos pagos pela população é
de grande importância. Pena que os governantes não se preocupam muito em
prestar esclarecimentos sobre esses gastos. Por isso muitos brasileiros nem
sabem ao certo o que são as contas públicas, que nada mais é do que o fluxo de
caixa do governo — ou seja, o dinheiro que recebe em impostos e como esse valor
é aplicado para o bem estar da população.
A forma como o governo gasta o
dinheiro público é um indicador importantíssimo da saúde financeira do país,
sobretudo no caso do Brasil, que tem de pagar mensalmente os juros sobre sua
dívida com outros países, investidores, bancos nacionais e estrangeiros, entre
outros credores. Para pagar os juros, é preciso economizar mensalmente.
Ou
seja, gastar menos do que se arrecada. Assim, consegue-se o superávit primário,
que é o jargão econômico usado para descrever essa economia. Quando o governo
não cumpre o superávit, tem de aumentar sua dívida para conseguir pagar os
juros. É como se o governo recebesse dos brasileiros o valor suficiente para
pagar seus compromissos mas, por má gestão, não conseguisse pagar as contas
devidas. Assim, ele toma mais empréstimo em nome dos brasileiros para conseguir
pagar os juros.
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ARRUMAR TRABALHO NÃO É MAIS TÃO FÁCIL. POR QUÊ?
Com a inflação no teto da meta, os juros começaram a subir e o emprego,
consequentemente, deu sinais de esgotamento. A criação de vagas com carteira
assinada em 2014 (até agosto) é a mais baixa desde 2002, início da série
histórica disponibilizada pelo Ministério do Trabalho. Dados do Ministério
mostram que, em 2014, alguns segmentos já registram mais demissões do que
contratações.
É o caso do Comércio, que fechou mais de 6.000 vagas nos oito
primeiros meses deste ano. Não à toa, justamente o setor varejista, que foi o
que mais cresceu durante o boom econômico dos últimos anos, é a ponta mais
sensível à variação no bolso da população. Com a inflação acima do teto da meta
(de 6,5% ao ano) e os juros em seu maior patamar desde 2011 (11% ao ano), a
renda e o consumo diminuem.
Os brasileiros estão também menos confiantes de que
terão emprego no ano que vem, como mostra levantamento recente da CNI. O
mercado de trabalho é o principal termômetro da economia. Se os empresários
estão confiantes, investem e criam emprego. Mas, diante dos problemas
econômicos que se colocam, a confiança do empresário também está no nível mais
baixo da história, segundo a CNI.
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OS BRASILEIROS ESTÃO MAIS ENDIVIDADOS. QUEM DISCORDA?
Com a inflação
corroendo a renda da população e as parcelas de financiamentos abocanhando
grandes pedaços do orçamento das famílias, é natural que o consumo caia. As
vendas no varejo, por exemplo, cresceram apenas 4,2% no primeiro semestre — o
segundo pior resultado desde 2006, diz o IBGE. Além disso, o último dado de
inadimplência contabilizado pela Serasa mostrou que 57 milhões estão com contas
em atraso. Um número recorde que representa mais de 40% da população adulta.
Nessa dinâmica, o mercado de trabalho tem papel vital. Numa situação de pleno
emprego, ainda que as dívidas assustem, tem-se a perspectiva de conseguir
pagá-las. Esse já não é o caso, segundo aponta a pesquisa da CNI, que mostra
que os brasileiros estão temerosos em perder o emprego e não conseguir
recolocação.
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A PETROBRAS FOI DEVASTADA. E DAÍ?
A Petrobras é uma
empresa mista. Uma fatia minoritária pertence a investidores e a outra,
majoritária, está sob o comando do governo. A Petrobras opera num setor
estratégico, que é o óleo e gás, e por isso é compreensível que tenha entre
seus acionistas o governo. Contudo, a empresa se transformou num centro de
corrupção operado por partidos políticos.
Isso significa que o governo deixa à
disposição de legendas alguns cargos estratégicos da empresa. O escândalo
envolvendo o doleiro Alberto Yousseff e o ex-diretor da empresa Paulo Roberto
Costa trata justamente disso: as denúncias apontam que o diretor favorecia
determinadas empresas prestadoras de serviços para, em troca, receber propina e
repassá-la parcialmente a partidos políticos. A derrocada da empresa significa
que boa parte do dinheiro público investido lá dentro, pois o governo é seu
maior acionista, foi pelo ralo.
Dinheiro dos contribuintes brasileiros, que não
sabem ao certo como foi gasto, investido ou desviado. Mesmo com o benefício de
ser a "dona" do pré-sal, a Petrobras tem 300 bilhões de reais de
dívida. É a empresa de petróleo mais endividada do mundo. Mais da metade dessa
dívida será paga pelo governo, ou seja, novamente pelo dinheiro dos impostos
dos brasileiros.
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O PAÍS ESTÁ EM RECESSÃO TÉCNICA. O QUE É ISSO?
O Produto Interno Bruto (PIB) é o resultado de
todas as riquezas produzidas pelo país. É um dos principais sinais de que a
economia está avançando, a população está vendo sua renda aumentar e mais
empregos estão sendo gerados. Quando o PIB cai, sinaliza que essa riqueza
recuou. Se cai por dois trimestres consecutivos, o país entra em recessão
técnica. E isso não é bom.
O PIB é importante porque sintetiza em um único
número os resultados de políticas do governo, o ânimo dos empresários para
investir e criar emprego e o ímpeto de consumo da população. Quando não há
nenhuma crise grave no mundo e, mesmo assim, o PIB de um país mostra retração,
significa que algum desses três fatores (ou todos eles) não vão nada bem. O
governo tem afirmado que o PIB brasileiro, que recuou 0,6% no primeiro semestre
de 2014, vai mal por causa da crise internacional. Fica difícil acreditar nisso
quando apenas o Brasil está em recessão, se comparado aos Estados Unidos, à
Alemanha, à França e outros países atingidos pela crise financeira de 2008.
O
problema de se estar em recessão é que o país se torna menos atrativo para
investimentos que geram emprego. Uma empresa alemã, por exemplo, investirá mais
na filial do país que mais cresce, não daquele que está em recessão. Um PIB
ruim cria um círculo vicioso. E revertê-lo não é fácil, nem rápido.
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