sábado, 19 de janeiro de 2013

O ADVOGADO DE MONSTROS



A trajetória de Jacques Vergès, que virou defensor de alguns dos piores criminosos da história moderna, com a desculpa do que sofreu sob o colonialismo
Cinema Isabela Boscov

Em 1957, dois anos depois de se formar, o advogado Jacques Vergès começou a carreira de maneira instigante: defendendo argelinos que o governo francês acusava de assassinato. Na dramática batalha pela independência da Argélia (a qual viria a se concretizar em 3 de julho de 1962), guerrilheiros da Frente de Libertação Nacional plantavam bombas em lugares públicos frequentados por civis franceses. 

A tática, terrível e sangrenta, era uma resposta à maneira brutal com que a França colonialista havia tirado a Argélia dos argelinos. Durante o longo processo, Vergès se valeu de um tipo de defesa até hoje em voga entre réus de tribunais internacionais, como o ditador iraquiano Saddam Hussein: recusar-se a reconhecer o mérito dos procedimentos e a autoridade do juiz e do júri, devolvendo contra eles as acusações de abuso e assassinato. 


Conseguiu, assim, mobilizar a opinião pública em todo o mundo e, por fim, obter a anistia para seus clientes – entre os quais a bela Djamila Bouhired, símbolo do movimento argelino, com quem se casou. Em alguns anos, porém, Vergès se transformou em uma criatura assustadora: um ideólogo do terrorismo e do genocídio, que voluntariamente procura seus clientes entre figuras cruéis e se associa, em amizade ou interesse, a alguns dos nomes mais infames do século XX. Como Pol Pot, que à frente do Khmer Vermelho ordenou o assassinato de milhões no Camboja. Ou o palestino Wadi Haddad, um dos inventores do terrorismo internacionalizado.


Djamila Bouhired

Essa trajetória sinistra é o tema do documentário O Advogado do Terror (L’Avocat de la Terreur, França, 2007), que estréia nesta sexta-feira em São Paulo e no Rio de Janeiro. Dirigido pelo cineasta de origem alemã Barbet Schroeder, que em 1974 fez trabalho de calibre semelhante sobre o ditador ugandense Idi Amin Dada, o filme colhe testemunhos de dezenas de participantes dessa história. Mas o astro, claro, é o próprio Jacques Vergès, que expõe seus feitos, canta suas glórias e delineia seu "pensamento" em falas de vaidade triunfante. O retrato que emerge desse mosaico é enregelante. Vergès sintetiza em sua própria pessoa um desdobramento nefasto da segunda metade do século XX – a metamorfose da luta anticolonialista no terrorismo indefensável.

Filho de um francês e de uma vietnamita, Vergès diz guardar lembranças amargas de desprezo e discriminação. Que esse seja, então, o ovo; já a serpente que ele produziu é um homem que promoveu ativamente ligações entre palestinos e nazistas em torno do anti-semitismo. Seus clientes mais célebres incluem o francês Roger Garaudy, negacionista do holocausto, e o alemão Klaus Barbie, oficial nazista que atuou com sadismo incomum na França ocupada. Em nome do anti-imperialismo e do anticapitalismo, além disso, Vergès corteja abertamente genocidas. Defendeu um punhado de ditadores africanos da pior estirpe e ofereceu-se para amparar legalmente Saddam Hussein e o sérvio Slobodan Milosevic. Hoje octogenário, defende Khieu Samphan, que foi braço-direito de Pol Pot.

Não menos tenebrosa é a maneira como Vergès desfigura um dos esteios da democracia – o direito de todo réu, por mais abominável que seja, à melhor defesa possível. Vergès não seleciona seus clientes entre nomes que a maioria dos defensores considera indefensáveis por lealdade a esse princípio, cujas origens remontam à Antiguidade clássica. Sua meta é exatamente ridicularizá-lo. Em vez de buscar a condenação mais justa ou ganhar tempo para obter a prescrição da pena, ele justifica e acolhe tanto o crime como o criminoso. No julgamento de Klaus Barbie, por exemplo, pontificou que a França não podia julgá-lo, já que seus crimes colonialistas seriam piores que os do réu. Essas relativizações destrutivas são o efeito que Vergès procura, conforme demonstrado em uma de suas declarações no documentário: "Se eu defenderia Hitler? Ora, eu defenderia até George W. Bush, com a condição de que ele se declarasse culpado". O estilo gongórico e a argumentação tresloucadamente ideológica nada têm a ver com a prática do direito, diz o jurista Saulo Ramos, mas consistem apenas em "montar pândegas forenses, em que Vergès se projeta sob a fama de seus clientes para escandalizar os meios de comunicação". Vergès, enfim, é a acepção literal de um "advogado do diabo" – aquele que se candidataria a defender o próprio, por gosto e convicção.


A clientela de Vergès
Nazistas, genocidas e terroristas são seus favoritos – e às vezes amigos

CARLOS, "O CHACAL"
Ligado a vários dos grandes agentes do terrorismo anti-sionista, o venezuelano Ilich Ramírez Sánchez primeiro ganhou notoriedade com uma ação em Viena, em 1975. Logo o suposto "revolucionário de esquerda" passou a mero mercenário, enriquecendo com seqüestros e ameaças de atentados a bomba.

Michel Porro/Getty Images
SLOBODAN MILOSEVIC
O presidente da Sérvia estimulou conflitos sangrentos nos Bálcãs, como as guerras da Bósnia e do Kosovo, as quais usou para "limpeza étnica". Durante o seu período no poder, estima-se que tenham sido mortos 250 000 civis. Milhares de outras pessoas foram submetidas a tortura ou tiveram de se refugiar longe de casa


Fotos AFP

KLAUS BARBIE
Na foto à esquerda, Vergès (de perfil) e Barbie, durante o julgamento deste, em 1987. Um dos chefes da Gestapo na França ocupada, o oficial nazista (que aparece com seu uniforme à direita) ficou conhecido como "Açougueiro de Lyon". Ele gostava de torturar e foi responsável direto por algo como 4 000 mortes.

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RIO TEM O METRO QUADRADO MAIS CARO DO BRASIL


Leblon: valor do metro quadrado do bairro é recorde



























Ultrapassa o do Distrito Federal e chega a R$ 8.358. No bairro mais caro, o Leblon, valor é de R$ 18.000

por Ernesto Neves | 03 de Outubro de 2012


O metro quadrado do Rio de Janeiro já é o mais caro do país. Segundo dados do índice FipeZap, o valor médio dos imóveis na cidade subiu 1,2% durante o mês de setembro, alcançando R$ 8.358. O valor desbanca o Distrito Federal como cidade mais cara para se comprar apartamento, região em que a média pesquisada foi de R$ 8.143. Bairro mais valorizado do Rio, o Leblon registrou o valor recorde de R$ 18.332. Na segunda colocação, o metro quadrado de Ipanema alcançou R$ 16.984, e em terceiro, a Lagoa Rodrigo de Freitas, com R$ 14.795. 

O índice avalia o preço médio do metro quadrado nas cidades do Rio, São Paulo, Distrito Federal, São Paulo, Recife, Fortaleza, Belo Horizonte e Salvador. Terceira colocada, a cidade de São Paulo tem preço médio de R$ 6.806, enquanto que a média das sete regiões metropolitanas foi de R$ 6.862. No último mês, o FipeZap registrou a maior alta de preços desde setembro de 2010 sendo que, ao longo do ano, a elevação dos preços foi de 10,6%.

Veja também: Os campeões de vendas - Com o mercado imobiliário em ebulição, os supercorretores cariocas vendem dezenas de casas, apartamentos e salas comerciais, faturando comissões que chegam a ultrapassar 100 000 reais por mês.


Av. Paulista se valoriza ainda mais

Preço do metro quadrado chega a R$ 9.507; com mudança, via fica mais cara do que Lago Sul, em Brasília

19 de novembro de 2009 | 0h 00 Diego Zanchetta, Felipe Grandin e Rodrigo Brancatelli - O Estadao de S.Paulo


No levantamento dos lugares que mais valorizaram nos últimos anos, conforme a nova Planta Genérica de Valores (PGV) proposta pela Prefeitura de São Paulo, nenhuma área estritamente residencial foi incluída. O topo da lista é ocupado pelos dois corredores empresariais mais importantes do País, as Avenidas Paulista e Faria Lima. Nessas duas vias estão as sedes dos principais bancos e de multinacionais instalados na capital. Já a terceira colocação ficou com a Rua 25 de Março, o centro popular de compras por onde passam, todos os dias, em média 350 mil pessoas - nos dois últimos meses do ano, essa média salta para 1 milhão.


No trecho de quase 1.500 metros da região dos Jardins, área nobre da zona sul, a Avenida Paulista tem o metro quadrado de terreno mais caro de São Paulo. Pela nova PGV enviada pelo prefeito Gilberto Kassab (DEM) à Câmara Municipal, o m² no principal centro financeiro da América Latina chega a R$ 9.507. Esse valor atinge nove quadras da avenida, entre a Alameda Joaquim Eugênio de Lima e a Rua Bela Cintra, onde a maior parte dos imóveis é comercial. Conjunto Nacional, Parque Trianon e o Residencial Baronesa do Arary, com 3.500 moradores em 556 quitinetes, estão nesse trecho. Até 2001, o valor máximo do m² atingia R$ 6.100.

O novo valor coloca a Paulista à frente, por exemplo, do metro quadrado cobrado no Lago Sul, área nobre residencial de Brasília, cujo valor do metro de terreno sai, em média, por R$ 6.500 (considerando preços de mercado). Mas, em comparação com o valor do m² da Rua Delfim Moreira, na parte mais badalada da Praia do Leblon, no Rio, a avenida paulistana fica bem atrás. São cobrados em média R$ 21 mil de m² no bairro nobre carioca. Em Ipanema, o preço na Avenida Vieira Souto, reduto de edifícios luxuosos à beira-mar, também é superior: R$ 15 mil, em média.
No novo ranking paulistano das regiões mais valorizadas, a Paulista é seguida por outro corredor empresarial da cidade, a Avenida Brigadeiro Faria Lima. Nessa avenida, que também cruza bairros residenciais de classe alta como os Jardins Europa e América, o metro quadrado do terreno foi avaliado em até R$ 6.014. Com essa valorização, a partir de 2010 o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) de escritórios, de lojas e de restaurantes instalados na avenida vai subir até 60% - o teto estabelecido pelo governo para o reajuste no próximo ano. Mas nos anos posteriores esses imóveis devem continuar sendo taxados com base em correções acima da reposição inflacionária, uma vez que a valorização em algumas quadras da Faria Lima, em comparação com o preço do metro quadrado fixado na PGV de 2001, chega a 198%.
O valor do metro quadrado nas duas avenidas não é muito superior ao que será cobrado agora na 25 de Março, região do centro velho, onde milhares de camelôs travam uma batalha diária com a fiscalização da Prefeitura, na tentativa de ocupar as calçadas. "Hoje, um ponto comercial na 25 de Março, de 60 metros quadrados, não sai por menos de R$ 300 mil. Há dez anos, esse valor era menos de R$ 100 mil. Com a queda do comércio informal do Paraguai, o Brasil inteiro passou a comprar na 25. Essa correção é justa", avalia o corretor de imóveis Reginaldo Góes, de 56 anos, que tem uma imobiliária no centro, especializada na venda e na locação de imóveis comerciais, desde abril de 1989. "E na 25 muitos estabelecimentos estão concentrados na mão de um mesmo dono, são muitos descendentes de libaneses e coreanos que têm mais de um imóvel. Isso faz esses proprietários estabelecerem entre si os valores para a área. A nova PGV vem em boa hora para a região."

RANKING

Os terrenos mais caros de São Paulo
Avenida Paulista: R$ 9.507 pelo metro quadrado
Avenida Brigadeiro Faria Lima: R$ 6.014 pelo metro quadrado
Rua 25 de Março: R$ 5.292

Rua Campo Verde: R$ 4.707
Rua Angelina Maffei Vita: R$ 4.642 pelo metro quadrado
Rua Carlos Millan: R$ 4.642

Rua Cássio da Costa Vidigal:R$ 4.642 pelo metro quadrado

Rua Ibiapinópolis: R$ 4.642 pelo metro quadrado

Rua General Carneiro: R$ 4.627

Rua Ceilão: R$ 4.619 pelo m²

Alameda Gabriel Monteiro da Silva: R$ 4.619 pelo m²

Rua Jacarezinho: R$ 4.619

Ladeira Porto Geral: R$ 4.510

Rua Santa Ifigênia: R$ 4.241

Os terrenos mais baratos


Rua André de Almeida: R$ 18 por m²
Rua Professor Amicis Brandi Bertolotti: R$ 18 por m²
Rua Antenor: R$ 18 por m²
Rua Basílio Ramos: R$ 18 por m² 

Faltam estudos para diagnosticar bolha imobiliária no Brasil, diz pesquisador
Para Eduardo Zylberstajn, do índice FipeZap, País tem carência de estatísticas sobre o setor 29 de outubro de 2012 | 11h 37 Circe Bonatelli, da Agência Estado

SÃO PAULO - O mercado brasileiro sofre com a carência de pesquisas para um diagnóstico preciso sobre a possível existência de uma bolha imobiliária, avalia Eduardo Zylberstajn, economista coordenador do Índice Fipezap de preço dos imóveis. "Os estudos de bolha exigem uma perspectiva de longo prazo. O Brasil tem carência dessas estatísticas", afirmou nesta segunda-feira, durante congresso Cityscape Latin America.
O economista lembrou que o Índice Fipezap tem pouco mais de dois anos, o que é insuficiente, por si só, para afirmar se há uma bolha.
Zylberstajn ponderou que a perspectiva para o preço dos imóveis no longo prazo não é de valorização constante, como mostram pesquisas mais extensas, como o Índice Case-Shiller, pesquisa feita nos EUA desde o século 19. "Essa perspectiva não tem lastro. Os preços tendem a se acomodar em algum momento", afirmou.
O economista observou que a capacidade de pagamento das famílias por um imóvel segue praticamente estável nos últimos seis anos. Segundo ele, apesar de ter havido uma forte alta no preço da habitação, houve também melhora nas condições de crédito imobiliário. "Se o crédito estiver em um patamar sustentável, então o preço dos imóveis está condizente", avaliou.

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SEIOS SILICONADOS, MANSÕES, APARTAMENTOS PAGOS EM DINHEIRO VIVO, JOIAS, SECRETÁRIAS PARTICULARES: AS MULHERES DE BANDIDOS CARIOCAS QUE CUMPREM PENA GASTAM DINHEIRO A RODO — E AJUDAM OS MARIDOS A TOCAR SEU NEGÓCIO CRIMINOSO

18/01/2013 às 14:00 \ Política & Cia

trafico-herdeiras

Mulheres herdam poder e fortuna de traficantes presos
Publicado originalmente em 25 de maio de 2012.
(Reportagem de Leslie Leitão publicada na edição impressa de VEJA)

Bandidos
HERDEIRAS DO TRÁFICO

Os inquéritos policiais não deixam dúvida: as mulheres dos chefões da bandidagem carioca, hoje presos, usufruem à vontade suas fortunas e são essenciais para garantir a continuidade dos principais redutos do crime no Rio
O grupo de mulheres a seguir vem acumulando dinheiro e poder nos principais QGs da bandidagem carioca depois que seus maridos, figuras do alto escalão na hierarquia do crime, foram parar na prisão.
Do lado de fora, são elas que zelam pelo patrimônio que eles amealharam e continuam a acumular, mesmo encarcerados – em alguns casos, há anos.
A lógica da reprodução do dinheiro sujo não varia muito de um caso para o outro. Essas mulheres encabeçam verdadeiras “lavanderias” constituídas de pequenos negócios fincados nas favelas onde vivem e mandam, não raro com mãos de ferro. Também esparramam os tentáculos dos impérios criminosos que representam pelo mercado imobiliário, comprando e revendendo imóveis no Brasil inteiro com a ajuda de redes de laranjas. E servem de leva-e-traz da prisão.
Mesmo na cadeia, os grandes bandidos cariocas continuam mandando no tráfico
“As primeiras-damas do tráfico são, em geral, guardiãs zelosas e aplicadas dos impérios erguidos por seus maridos, quando não ocupam posição de destaque nas quadrilhas”, diz o delegado de polícia Luiz Alberto Andrade, que investigou quatro das cinco mulheres que aparecem nestas páginas e levou três à prisão.
Elas aguardam em liberdade o andamento de processos que se arrastam na Justiça, quase sempre sob a acusação de lavagem de dinheiro e, às vezes, também de associação com o tráfico. Suas histórias, bem detalhadas nos inquéritos aos quais VEJA teve acesso, não só desvendam sua trajetória no mundo do crime como escancaram uma realidade incômoda.
Mesmo na prisão, os grandes bandidos cariocas permanecem no comando do tráfico nas favelas, inclusive naquelas recém-ocupadas pelas Unidades de Polícia Pacificadora, as UPPs, como Rocinha e Complexo do Alemão. Com uma vida cercada de luxos, elas ajudam a garantir aos marginais com quem se uniram o essencial: a continuidade.
Conheça algumas dessas mulheres de bandidos:
A “juíza”
Flávia dos Santos Lima, mulher do traficante Fabiano Atanásio da Silva, o FB
Flávia dos Santos Lima, mulher do traficante Fabiano Atanásio da Silva, o FB: seios de silicone, correntes de ouro, maços de dinheiro vivo na bolsa
Flávia dos Santos Lima, 37 anos, nunca se preocupou em esconder os sinais da riqueza que acumulou como “primeira-dama” de Vila Cruzeiro, favela da Zona Norte, um dos mais lucrativos redutos do crime no Rio de Janeiro. Ao contrário.
A mulher do bandido que ordenou o abate de um helicóptero da Polícia Militar, Fabiano Atanásio da Silva, o FB, hoje preso, adora ostentar suas correntes de ouro, várias ao mesmo tempo, e exibir pilhas de dinheiro vivo no meio da rua. Certa vez, apareceu em uma concessionária disposta a sair de carro novo. “Em questão de minutos, ela pagou 100 000 reais em espécie por uma caminhonete preta”, conta um dos investigadores, que prendeu a moça dois meses atrás.
Assídua cliente de clínicas de estética
FB continua na prisão, mas a mulher, que responde a um processo por associação com o tráfico e lavagem de dinheiro, já está livre, cuidando e usufruindo do patrimônio do marido, com quem tem dois filhos. Seu nome consta da clientela assídua de clínicas de estética povoadas por celebridades e sobrenomes da alta sociedade carioca (Flávia não nega: fez lipoescultura, pôs silicone nos seios e aplicou Botox).
Antes de a Justiça ordenar o sequestro de bens de FB, ela ainda conseguiu embolsar 500 000 reais pela venda de uma casa em Peruíbe, no litoral paulista, que estava em seu nome. Moça de boa lábia, costumava ser apresentada pelo marginal como “juíza”. Assim, ajudou a acobertar um dos grandes bandidos da cidade e fez negócios por meio dos quais o dinheiro do tráfico foi sendo lavado e o império do marido, mantido a todo o vapor.

Ninguém mexe com a mulher do chefe
Danubia de Souza Rangel, mulher do traficante António Francisco Bonfim Lopes, o Nem (Foto: Reprodução)
Danubia de Souza Rangel, mulher do traficante António Francisco Bonfim Lopes, o Nem: aproveitando à vontade o dinheiro do marido, inclusive em passeios de helicóptero
Depois de se unir ao traficante Antônio Bonfim Lopes, o Nem, bandido número 1 da Rocinha, Danúbia de Souza Rangel, 28 anos, virou “Xerifa”, apelido que ela preza e cultiva. Chegou a ser presa, acusada de lavagem de dinheiro e associação com o tráfico, logo depois da captura do marido, episódio que culminou na tomada da favela pela polícia, em novembro passado.
Mal se reconhecia Xerifa presa a um par de algemas, no lugar dos habituais penduricalhos cravejados de brilhantes, e com os cabelos no marrom original – e não mais pintados de amarelo-ouro, sua marca registrada.
Há dois meses, conseguiu a liberdade por meio de um habeas corpus, decisão da qual o Ministério Público recorre. Ela aproveita à vontade o dinheiro que o marido juntou e continua a faturar com a venda de drogas no QG do crime ainda comandado por ele, a distância. Os dois inquéritos dos quais Danúbia foi alvo dão detalhes de como tem vivido cercada de luxos e regalias que o posto de “primeira-dama” do tráfico lhe garante.
Ela tem quatro bandidos em seu currículo
Já foi flagrada ao embarcar em um helicóptero só para ver a Cidade Maravilhosa de cima (1 500 reais o passeio, na foto acima). Uma vez, reservou numa loja 5 000 reais em peças para o enxoval da filha de 2 anos que tem com Nem. Pendurou tudo na conta de um laranja, que só passou lá para acertar a dívida.
Suspeita-se que, em seus périplos por São Paulo e Paraná, ela também tenha ido às compras no mercado imobiliário. Na Rocinha, lidera o Bonde da Bate-Bola (uma “associação” de mulheres dos comparsas de Nem) e desfila em saltos agulha trazendo sempre ao pescoço um cordão ornado com a letra N, homenagem ao marido.
Ali, Danúbia é rainha. Depois de cinco anos de união com o marginal, o quarto bandido de seu currículo matrimonial, Xerifa ouve por onde passa: “Não olha. Não mexe. Quem está passando é a mulher do chefe”. A polícia sabe que ela ainda está lá, de olho em tudo e em todos, mais discreta, mas não menos vaidosa.

A dona da “lavanderia”
Casa de Marcinho VP (Foto: Genilson Araújo)
 A casa de Marcinho VP em Jacarepaguá, no Rio: muralha de 3 metros de altura e cerca elétrica (Foto: Genilson Araújo)

Maria Gama dos Santos, mulher de Marcinho VP (Foto: André Mour„o / Ag. O Dia)
Maria Gama dos Santos, mulher de Marcinho VP (Foto: André Mour„o / Ag. O Dia)
É bem raro ver Márcia Gama dos Santos Nepomuceno no Complexo do Alemão, conjunto de favelas da Zona Norte onde seu marido, Márcio Nepomuceno, o Marcinho VP, permanece no comando da mais poderosa célula criminosa do Rio de Janeiro – mesmo estando preso desde 1996.
Ela vive em uma mansão com os quatro filhos do casal, numa propriedade protegida por uma muralha de 3 metros de altura e cerca elétrica no bairro de Jacarepaguá, Zona Oeste da cidade (foto acima).
Com carrão e secretária, ela lava o dinheiro do marido
Anda sempre a bordo de um carrão diferente, com o secretário particular a tiracolo, adora roupas de grife e vai aos restaurantes da moda. Certa vez, cismou de querer um diploma universitário, e entrou em uma faculdade de Direito (não exerce a advocacia).
Aos 36 anos, há mais de vinte unida ao chefão do Complexo – a quem visita no presídio de segurança máxima de Porto Velho, em Rondônia, pelo menos uma vez por mês -, Márcia mantém andando o esquema de lavagem do dinheiro do bando que é reservado ao marido.
Segundo o inquérito número 06761/2008, a “lavanderia” se dá por meio de pequenos negócios, entre eles uma farmácia, um salão de beleza e um supermercado que ficam no Alemão. Márcia chegou a ser presa em 2010, mas foi logo solta e responde em liberdade à acusação de lavagem de dinheiro.
Vez ou outra, baixa na favela para mostrar quem manda. Em conversa interceptada pela polícia, desancou um integrante da gangue de Marcinho VP que havia lhe enviado menos dinheiro do que o combinado. Aos gritos, Márcia esclareceu: sua “semanada” era de 25 000 reais, e não de 15 000, quantia que queriam lhe pagar. Nunca mais erraram na conta.

O reinado de horrores de Dona Deise
Deise Mara de Sousa Rodrigues - de rosa e bolsa da Louis Vuitton -, mulher de Celso Luis Rodrigues, o Celsinho da Vila (Foto: Alexandre Brum / Ag. O Dia)
Deise Mara de Sousa Rodrigues (de blusa rosa), mulher de Celso Luis Rodrigues, o Celsinho da Vila Vintém: recebendo instruções desde o presídio de Bangu-IV (Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia)
O inquérito número 08396/2010 é um calhamaço de 300 páginas que elenca um rol de atrocidades levados a cabo pela quadrilha de Vila Vintém, favela da Zona Oeste do Rio para onde parte da gangue da Rocinha se bandeou.
Na liderança desse que se transformou num dos principais entrepostos de droga da cidade está uma figura temida pelo sangue-frio com que trucida os inimigos e comanda chacinas que espalham o horror pelas vielas: Deise Mara de Sousa Rodrigues (na foto com uma bolsa Louis Vuitton falsa), 49 anos, atual chefe do braço criminoso fundado por seu marido, Celso Luís Rodrigues, o Celsinho da Vila Vintém, preso há dez anos.
Testemunhas-chave, por medo, somem ou mudam de versão
Na favela, ela se instalou com as duas filhas do casal em um casarão com piscina, churrasqueira e enfeites macabros, como a escultura de um demônio que dá as boas-vindas a quem vai ali lhe prestar contas.
Deise vigia cada centavo. Segundo a polícia, o cérebro da quadrilha ainda é o marido, a quem conheceu na adolescência e que lhe dá instruções sobre como conduzir as coisas nas visitas ao presídio de Bangu IV, no Rio. Dona Deise, como é mais conhecida, costuma andar com a escolta de quatro policiais a quem paga por proteção.
Pelo curso da investigação, ela e mais vinte que tocam a barbárie no morro podem acabar na prisão por lavagem de dinheiro e associação com o tráfico. Mas Deise tem um trunfo: tomadas de medo, testemunhas-chave costumam abrandar suas histórias ou mesmo sumir. Isso ocorreu no mês passado, quando uma pessoa que acusava Deise do assassinato do próprio sobrinho mudou subitamente sua versão.
Foragida havia um ano, a chefona pôde então voltar a caminhar à vontade por seus domínios.

A garota de Ipanema que veio de Antares
Paula Fernanda Vieira da Silva - mulher do traficante Márcio Batista da Silva, o Dinho Porquinho (Foto: Reprodução)
Paula Fernanda Vieira da Silva - mulher do traficante Márcio Batista da Silva, o Dinho Porquinho: apartamentos em Ipanema comprados com notas de 10 e 20 reais (Foto: Reprodução)
Paula Fernanda Vieira, 28 anos, tem uma boa veia para os negócios. Em 2008, arrematou numa tacada dois apartamentos de 150 metros quadrados cada um em Ipanema, um dos bairros mais valorizados do Rio.
Usou duas senhoras como laranjas e liquidou a conta, de 800 000 reais, com notas de 10 e 20 reais. Tentava vender os dois imóveis no mês passado, pelo triplo do que pagou, quando a Polícia Federal sequestrou os apartamentos, no curso da operação batizada de Garota de Ipanema.
Três dias com o marido bandido na cadeia, sem serem incomodados
Estão na mira da PF mais bens da moça, incluindo uma loja de roupas, um salão de beleza e duas farmácias na favela, além de outros apartamentos pela cidade e até fazendas fora do Estado. Tudo em nome de um farto “laranjal”, como aponta a investigação policial.
Ela ganhou relevância na hierarquia do crime em 2005, depois que seu marido, Márcio Batista da Silva, o Dinho Porquinho, chefe na favela de Antares, na Zona Oeste, foi capturado em Fortaleza. É até hoje um dos bandidos mais poderosos do Rio. Do quinhão dele, Paula cuida bem.
Casada com o marginal há uma década e mãe de dois filhos, como as outras mulheres que ilustram esta reportagem ela responde fora da prisão pelo crime de lavagem de dinheiro. Nos últimos tempos, ninguém sabe exatamente por onde anda. Depois que foi vítima de um sequestro engendrado por um grupo de policiais corruptos – aos quais pagou 400 000 reais em dinheiro vivo pela liberdade -, a “primeira-dama” de Antares foi vista em Itamaracá, Pernambuco, onde Dinho está encarcerado e, sabe-se, tem lá suas regalias.
A visita à prisão durou três dias. E o casal não foi incomodado.