segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Golpe Militar 1964 Filme Documentário



Publicado em 26 de mar de 2015


Excelente documentário que mostra muito bem o que aconteceu no golpe militar do Brasil de 64 e como o governo dos EUA participaram ativamente.

Golpe no STJ para soltar empreiteiros se deve a ameaças de detalharem depósitos no exterior para campanhas


Otávio Azevedo (ao fundo) e Marcelo Odebrecht: soltem-nos se forem capazes

PT tenta conseguir habeas corpus para Marcelo Odebrecht e Otávio Azevedo

Por: Felipe Moura Brasil 20/09/2015 às 3:40

Falei aqui e aqui do golpe em andamento no Superior Tribunal de Justiça (STJ) para soltar o empreiteiro Marcelo Odebrecht – e blindar Lula e Dilma Rousseff.
Falei aqui que a campanha de Dilma aparentemente foi financiada com dinheiro roubado da Petrobras, vindo da Suíça, como as anotações de Marcelo levavam a suspeitar.
A coluna Painel, da Folha, atualiza as informações ‘estarrecedoras’ de ambos os casos neste domingo:
“Está avançada uma articulação de políticos de vários partidos, membros do governo, ministros do Superior Tribunal de Justiça e advogados da Operação Lava Jato para que o STJ conceda nas próximas semanas habeas corpus para os empreiteiros Marcelo Odebrecht e Otávio Azevedo, presidentes da Odebrecht e da Andrade Gutierrez, presos desde junho em Curitiba. A expectativa dos que costuram a saída é que o STJ também critique a manutenção de prisões provisórias por tanto tempo.
A coluna ouviu detalhes da operação —que inclui políticos de PMDB e PT e ministros do governo Dilma Rousseff e do STJ— de três fontes: um integrante do Palácio do Planalto, um senador e um ministro da Esplanada.
Advogados haviam recebido garantia de que os habeas corpus seriam concedidos no recesso judiciário pelo STJ, mas a estratégia ruiu depois que o juiz Sergio Moro decretou novas prisões preventivas de Odebrecht e Azevedo em julho [exatamente como revelou VEJA].
A mobilização para tirar o mais rápido possível os executivos da prisão se deve às ameaças, cada vez mais frequentes, de que podem dar detalhes sobre depósitos feitos no exterior para campanhas recentes.”
Relembro o que escrevi em 21 de julho:
“Para tentar se blindar contra as investigações, Marcelo Odebrecht mandou o vice-presidente jurídico da empreiteira, Mauricio Roberto de Carvalho Ferro (‘MRF’) transmitir sua ameaça a [os ministros José Eduardo] Cardozo e Edinho Silva, mencionando que as campanhas de Dilma e Fernando Haddad foram financiadas com dinheiro de conta suíça.
Diz a mensagem [de 9 de janeiro de 2013, por e-mail, interceptada pela Polícia Federal]: ‘Para Edinho visão da conta toda inclusive o gasto com Haddad. MRF: dizer do risco cta suíça chegar campanha dela?
É um escândalo de potencial avassalador, sob medida para a cassação do mandato de Dilma Rousseff e a convocação de novas eleições.”
Lamentavelmente, a imprensa não deu a mínima.
Agora, os empreiteiros ameaçam cada vez mais o PT de fazer a cta suíça chegar campanha dela” – e o PT prepara o golpe no STJ para impedir (ou retardar) a própria demolição.
É uma gente repulsiva que apodreceu o Brasil.
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O menino morto na praia


Perda. Aylan (esq.), de 3 anos, e seu irmão Galip, de 5 anos, morreram em naufrágio juntamente com a mãe

Mario Vargas Llosa
20 Setembro 2015 | 03h 00
A foto de Aylan Kurdi, o menino sírio de três anos morto em uma praia da Turquia quando sua família tentava imigrar para a Europa, comoveu o mundo todo. E serviu para vários países europeus ampliarem sua quota de refugiados - não todos, naturalmente, e a opinião pública internacional se conscientizar da magnitude do problema representado pelas centenas de milhares, talvez milhões, de famílias que fogem da África e do Oriente Médio para o mundo ocidental, onde, acreditam, encontrarão trabalho, segurança e uma vida digna e decente que seus países não lhes oferecem.
É bom que agora, nos países mais prósperos e livres do mundo, exista uma consciência maior do dilema moral que lhes é colocado pelo problema dessas migrações em massa e espontâneas, mas é necessário que, por mais positivo que seja o esforço dos países avançados para receber mais refugiados, as pessoas não se iludam, achando que dessa maneira o problema será resolvido. Nada mais errado. 
Mesmo que os países persistam na política de fronteiras abertas, defendida pelos liberais radicais, jamais haverá infraestrutura e trabalho suficiente para todos que querem fugir da miséria e da violência que assolam certas regiões do mundo. O problema está lá e somente lá é que podemos achar uma solução real e duradoura. Da maneira como está a situação na África e no Oriente Médio, infelizmente, essa solução ainda levará algum tempo. No entanto, os países desenvolvidos poderiam diminuir esse tempo se orientassem seus esforços nessa direção, sem se dispersar em paliativos momentâneos de eficácia duvidosa.
A raiz do problema está na pobreza e na insegurança terríveis em que vive a maioria das populações africanas e do Oriente Médio, seja por culpa de regimes despóticos, incompetentes e corruptos ou pelos fanatismos religiosos e políticos - por exemplo, do Estado Islâmico e Al-Qaeda - que geram guerras, como na Síria e no Iêmen, além de um terrorismo que diariamente cega vidas humanas, destrói habitações e mantêm milhões de pessoas em pânico, paralisadas e famintas, como ocorre no Iraque, país que lentamente se desintegra. 
Não são países pobres, porque hoje qualquer país, mesmo que careça de recursos naturais, pode ser próspero, como comprovam os casos extraordinários de Hong Kong ou Cingapura, mas estão empobrecidos pela cobiça suicida de pequenas elites dominantes que exploram com cinismo e brutalidade essas massas que antes se resignavam à sua sorte.
Hoje não é mais assim graças à globalização e especialmente à grande revolução das comunicações, que abriu os olhos dos mais desvalidos e marginalizados sobre o que sucede no resto do planeta.
Essas multidões exploradas e sem esperança sabem hoje que em outras regiões do mundo existe paz, coexistência pacífica, um alto nível de vida, segurança social, liberdade, legalidade, oportunidades para trabalhar e progredir. E, com toda razão, estão dispostas a empreender todos os sacrifícios, até arriscar sua vida, para chegar a esses países. Essa migração jamais será contida com muros ou cercas de arame farpado como as que, ingenuamente, a Hungria erigiu e outros países se dispõem a construir. 
Os imigrantes passarão por baixo ou por cima desses muros e sempre encontrarão máfias que lhes facilitarão o trânsito, embora, às vezes, os enganem e os conduzam não ao paraíso, mas à morte, como os 71 infelizes que morreram há algumas semanas asfixiados em um caminhão frigorífico numa rodovia austríaca. 
A capacidade de um país desenvolvido receber refugiados tem um limite que não convém extrapolar, porque pode ser contraproducente e, em vez de resolver o problema, provocará outro, o de favorecer movimentos xenófobos e racistas, como a Frente Nacional, na França. É algo que vem ocorrendo também em países tão avançados como a Suécia, onde recente pesquisa de opinião coloca um partido anti-imigração como o mais popular. 
Não há dúvida que a imigração é algo indispensável para os países desenvolvidos que, sem ela, jamais poderiam conservar no futuro seu alto padrão de vida. Mas, para ser eficaz, essa imigração deve ser organizada e ordenada de acordo com uma política comum inteligente e realista, como propõe a chanceler alemã, Angela Merkel, que deve ser felicitada pela lucidez e energia com que enfrenta o problema.
Na verdade, o problema só será resolvido onde nasceu, ou seja, na África e no Oriente Médio. Não é impossível. Há duas regiões no mundo que eram, como estas agora, grandes propulsoras de imigrantes clandestinos para o Ocidente: uma grande parte da Ásia e América Latina. Esta corrente migratória diminuiu sensivelmente à medida que a democracia e políticas econômicas sensatas se instalaram nessas regiões, os Estados de direito substituíram as ditaduras e suas economias começaram a crescer e a criar oportunidades e trabalho para a população local.
A maneira mais eficaz de o Ocidente contribuir para reduzir a imigração ilegal é colaborar com aquelas pessoas, nos países africanos e do Oriente Médio, que lutam para extinguir as ditaduras que os governam e instituir regimes representativos, democráticos e modernos que criem condições favoráveis ao investimento e atraiam esses capitais (abundantes) que circulam pelo mundo procurando se estabelecer.
Lembro-me de ter lido, ainda estudante universitário no Peru, uma pesquisa que me fez entender porque milhões de famílias indígenas trocavam o campo pela cidade. O objetivo era saber o que atraía essas famílias a ponto de elas abandonarem as aldeias andinas que o indigenismo literário e artístico embelezava, para viverem na promiscuidade insalubre dos bairros periféricos de Lima. A conclusão foi enfática: por mais triste e suja que era sua vida nessas periferias, aqueles ex-camponeses viviam muito melhor do que no campo, onde o isolamento, a pobreza e a insegurança pareciam invencíveis. A cidade, pelo menos, lhes oferecia uma esperança. 
Qualquer pessoa que sofra sob a ditadura homicida de um Robert Mugabe, no Zimbábue, o inferno de bombas e o machismo patológico do Taleban, no Afeganistão, ou o horror quotidiano que vi no Congo, trataria de fugir dali, atravessando selvas, montanhas e mares, expondo-se a todos os perigos para chegar a um lugar onde fosse possível ter esperança. 
Essas massas que chegam à Europa, demonstrando um heroísmo extraordinário, rendem, sem saber na maioria dos casos, uma grande homenagem à cultura da liberdade, dos direitos humanos e à coexistência na diversidade, princípios que trouxeram desenvolvimento e prosperidade para o Ocidente. Quando esta cultura se propagar também - como ocorreu na América Latina e na Ásia - pela África e pelo Oriente Médio, o problema da imigração clandestina irá se diluindo, pouco a pouco, até atingir níveis que podem ser administrados. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO 
É ESCRITOR E GANHADOR DO PRÊMIO NOBEL DE LITERATURA

Setembro 2015



Publicado em 19 de set de 2015

Publicado em inglês em 23 de ago de 2015

Um notável número de eventos potencialmente significativos que estão agendados para ocorrer nesse setembro de 2015.

Conheça-os e esteja atento ao desenrolar de fatos que podem estar conectados à chegada da Grande Tribulação.

Palestra apresentada pelo pastor Jim King em 22 de Agosto de 2015 no HalleluYah Fellowship em Jenks, Oklahoma/USA.

Primeira parte da aula 308 do Curso Online de Filosofia




Publicado em 20 de set de 2015


Primeira parte da aula 308 do Curso Online de Filosofia, transmitida em 19 de setembro de 2015.

Brasil contra Israel: Dilma rejeita nomeação de embaixador Dani Dayan que teve nome rejeitado por pressão de movimentos esquerdistas


Benjamin Netanyahu e Dani Dayan.

A presidente Dilma Rousseff avisou o governo de Israel neste domingo (20), rejeitando a nomeação de Dani Dayan como embaixador. A justificativa é que ele é um antigo dirigente colono em territórios que o governo brasileiro acredita pertencer aos palestinos.

Dilma rejeita nomeação de embaixador israelense

Dayan vive em um assentamento nos chamados “territórios ocupados”. Por isso, os petistas entendem que ele seria o máximo representante de um movimento que a comunidade internacional rejeita plenamente.
Como a nomeação de Dayan foi aprovada dia 6 de setembro, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, está em uma posição delicada.
Segundo noticiou o jornal Yedioth Ahronoth, 40 movimentos esquerdistas brasileiros questionaram a nomeação do representante israelense. Acusam-no de violar o direito internacional nas comunidades palestinas. Alguns desses mesmo movimentos apoiam a Coreia do Norte, por exemplo.
Dayan é empresário, nascido na Argentina e tem 59 anos, tendo mudado para Israel aos 15. É formado em Economia, tinha uma empresa de software e foi presidente do Conselho Yesha de assentamentos judaicos na Cisjordânia, entre 2007 e 2013.

Ele está envolvido na diplomacia pública israelense dentro e fora do país nos últimos anos.  Como lembrou o jornal israelense Yedioth, quando se nomeia um embaixador “o governo transfere seu nome ao país”.“A rejeição à nomeação é um fato quase insólito, embora se o país anfitrião não o deseja, costuma enviar mensagens por canais diplomáticos para evitar uma rejeição oficial que provoque uma crise entre os dois países”.
Netanyahu se vê num dilema. Pode ceder e nomear outra pessoa, o que geraria críticas dentro de Israel, ou insistir na nomeação e ver surgir uma barreira para seu governo de maneira aberta e oficial no Brasil.
Israel considera o Brasil um país estratégico nas suas relações com a América Latina. Além disso, no governo petista vem sendo censurado por conta de suas políticas relacionadas ao conflito com os palestinos.
O episódio do embaixador rejeitado é mais um episódio que mostra o enfraquecimento das relações entre os dois países.
Ano passado, o Brasil condenou Israel por ter revidado os ataques palestinos e bombardeado Gaza. Na época, o porta-voz do Ministério do Exterior, Yigal Palmor chamou o Brasil de “anão diplomático”. Este ano, o governo brasileiro oficialmente se negou a continuar reconhecendo Jerusalém como capital de Israel.
A postura do governo Dilma contra Israel já rendeu críticas severas de deputados brasileiros como Marco Feliciano (PSC/SP), que assinou um artigo onde criticava a incoerência petista. Enquanto no Brasil apoia política e economicamente movimentos como o MST, conhecido por suas invasões, no exterior “acostumou-se a flertar com terroristas, ditadores, golpistas, a negociar com governos ditatoriais, dar apoio a facínoras que investem mais em bombas atômicas do que em saúde, educação e infraestrutura para o povo”. Com informações de Times of Israel
Pronto, agora vamos fazer guerra contra Israel. O Brasil é mesmo um país condenado.
- ISRAEL FOREVER!!! (aqui)

Garoto sírio chutado por cinegrafista na Hungria entra em campo ao lado de Cristiano Ronaldo


By: Francisco Castro 

A família Abdul Mohsen busca vida nova na Espanha. Depois da imagem que rodou o mundo, em que pai e filho são chutados por uma cinegrafista enquanto fugiam da polícia na Hungria, eles tiveram as portas abertas pelas autoridades espanholas.

Ex-técnico de um time de primeira divisão na Síria, Osama Abdul Mohsen conseguiu um emprego no Centro Nacional de Formação de Treinadores. Enquanto isso, seu filho mais novo, Zaid, pôde realizar o sonho da maioria dos meninos de sete anos. Ele entrou em campo com o Real Madrid neste sábado, ao lado de Cristiano Ronaldo, antes da vitória por 1 a 0 sobre o Granada.

COMENTÁRIO DO BLOG:

Ha claro, o Real Madrid teve que tirar a cruz do seu emblema a Espanha é chamada de terras de Andaluzia pelos islâmicos que a consideram sua propriedade até hoje.
O seu nome provém de Al-Andalus, nome que os muçulmanos davam à Península Ibérica no século VIII. 

E, o Cristiano Ronaldo vai voltar a pagar o imposto de escravo islâmico, Jizya, que foi pago por 800 anos de domínio islâmico, também, em Portugal.

- Real Madrid tira a cruz do escudo: intolerância religiosa no esporte?(aqui)


Jizya, dhimmīs e zakat (aqui)

Estado Islâmico vende, crucifica e enterra crianças vivas no Iraque


Crianças da minoria yazidi que fugiram da cidade iraquiana de Sinjar, refugiam-se na província de Dohuk, no Iraque(Ari Jalal/Reuters)

Agência da ONU denuncia barbáries cometidas por grupo terrorista contra menores, também usados em ataques suicidas e como escudos humanos
 - Atualizado em 
A cada dia surgem novas informações sobre o vasto leque de atrocidades cometidas pelos terroristas do Estado Islâmico. Nesta quarta-feira, a ONU denunciou mais barbáries contra crianças iraquianas sequestradas: elas são vendidas em mercados como escravas sexuais e muitas são mortas, crucificadas ou enterradas vivas, segundo o Comitê das Nações Unidas para os Direitos da Criança.
Meninos iraquianos menores de 18 anos estão cada vez mais sendo usados pelos jihadistas em ataques suicidas, como fabricantes de explosivos, informantes ou escudos humanos para proteger instalações contra ataques aéreos.


LEIA TAMBÉM:

A agência da ONU denunciou "a matança sistemática de crianças pertencentes a minorias religiosas e étnicas cometida pelo assim chamado Estado Islâmico, incluindo vários casos de execuções coletivas de meninos, assim como relatos de crianças decapitadas, crucificadas e enterradas vivas".
"Estamos profundamente preocupados com a tortura e o assassinato destas crianças, especialmente daquelas que pertencem a minorias, mas não só das minorias", disse Renate Winter, especialista do comitê, em boletim à imprensa. "A abrangência do problema é enorme".
Crianças da minoria yazidi ou de comunidades cristãs, e também xiitas e sunitas, têm sido vítimas da selvageria do EI. "Temos tido relatos de crianças, especialmente crianças com problemas mentais, que foram usadas como homens-bomba, muito provavelmente sem sequer entender a situação", declarou a especialista à agência de notícias Reuters. "Foi publicado um vídeo [na Internet] que mostrava crianças de muito pouca idade, aproximadamente 8 anos ou mais novas, já sendo treinadas para serem soldados."
Um grande número de crianças foi morto ou ficou seriamente ferido durante ataques aéreos ou bombardeios das forças de seguranças iraquianas, e outras morreram de "desidratação, inanição e calor", acrescentou o comitê. Além disso, o Estado Islâmico cometeu "violência sexual sistemática". "Crianças de minorias têm sido capturadas em vários lugares... vendidas no mercado com etiquetas, etiquetas de preço nelas", disse Renate Winter.
Um relatório elaborado por dezoito especialistas independentes pede às autoridades iraquianas que adotem todas as medidas necessárias para "resgatar as crianças" sob controle do grupo terrorista e processar os criminosos.
Queimado vivo - O Estado Islâmico divulgou nesta terça-feira um novo vídeo macabro mostrando o piloto jordaniano Moaz Kesasbeh sendo queimado vivo dentro de uma jaula. Ele foi levado pelos terroristas no final de dezembro, depois que o avião que pilotava caiu na região de Raqqa, na Síria. Antes do piloto, os jihadistas haviam decapitado vários reféns, incluindo dois japoneses executados em janeiro.


Cristãos

O número de cristãos no Iraque caiu de aproximadamente 1,5 milhão em 2003 para algo entre 350.000 e 450.000 atualmente, estimativa que corresponde a menos de 1% dos habitantes do país. A maioria vive na província de Nínive, no norte do país. Além de Qaraqosh – a maior cidade cristã do país, tomada pelos jihadistas em 7 de julho –, outros locais como Bartella, Al Hamdaniya e Tel Kef também abrigam cristãos.
Os cristãos no país são de diversas etnias e denominações, mas a maioria é de católicos assírios ou caldeus – uma das várias igrejas iraquianas com nomes que remontam às origens do cristianismo –, descendentes de povos da Mesopotâmia que falam aramaico.


Yazidis

Os yazidis são de etnia curda e seguem uma antiga religião pré-islâmica com ligações com o zoroastrismo. Suas crenças, que incorporam elementos de várias tradições, do cristianismo ou islamismo, incluindo até mesmo o zoroastrismo – antiga religião monoteísta da Pérsia. Os yazidis acreditam que um ser supremo criou o mundo, mas não o comanda. Sua vontade é realizada por sete anjos, o principal deles o Anjo Pavão, conhecido como Malak Taus ou 'shaytan', que é a palavra árabe que os muçulmanos usam para se referir ao diabo. Esse mal-entendido é um dos motivos para eles serem considerados pelos terroristas sunitas como “adoradores do demônio”. O Iraque abriga cerca de 500.000 yazidis e a maioria deles vive na província de Nínive. A cidade de Sinjar – localizada numa região onde há vestígios de presença humana que datam de 4.000 a.C. – era considerara a capital dos yazidis. Após a tomada de Sinjar pelos jihadistas sunitas, no início de julho, cerca de 50.000 yazidis fugiram para uma área montanhosa, onde não têm alimentos nem água e o calor é forte.

Shabaks

Os shabaks são um grupo minoritário de origem árabe que tem língua (uma mistura de turco, farsi, curdo e árabe) e costumes próprios. A maioria dos shabaks segue uma fé considerada um desdobramento do xiismo, e uma minoria é sunita. No Iraque há entre 250.000 e 400.000 shabaks, quase todos em Nínive. Eles são acusados pelos jihadistas sunitas de serem uma fação “xiita extrema”, enquanto outros os consideram como apóstatas do islã (traidores da fé muçulmana). Em ambos os casos, as acusações servem de motivo para ataques violentos contra os shabaks. Habitantes de uma área disputada por curdos e árabes do Iraque, os shabaks enfrentaram perseguição de ambos. Os primeiros sinais da presença de shabaks no Iraque datam do início do século XVI.

Turcomanos

Os turcomanos são o terceiro maior grupo étnico no Iraque, atrás dos árabes e dos curdos, com uma população estimada entre 500.000 e 2,5 milhões de pessoas. Eles são majoritariamente muçulmanos, divididos entre as tradições sunitas e xiitas. Uma pequena minoria é católica. O que os difere, porém, é sua cultura, com uma língua própria – da mesma origem etnológica do turco. Eles vivem principalmente ao longo da linha divisória entre as regiões árabe e curda do Iraque, nas províncias de Nínive (principalmente na cidade de Tal Afar), Kirkuk e Diyala, mas também em outras partes do país.

Sabeus

Os sabeus são um dos antiquíssimos povos indígenas pré-islâmicos da Mesopotâmia remanescentes nos dias de hoje, com raízes no povo aramaico. Hoje, a pequena comunidade dos sabeus (cerca de 5.000 pessoas), sua religião, língua e cultura estão em extinção. Calcula-se que desde a invasão americana, em 2003, cerca de 90% dos sabeus já deixaram o Iraque e se dispersaram pelo Oriente Médio. A religião dos sabeus é politeísta e os obriga a morar perto de uma fonte de água limpa, de preferência natural, para ritos de batismo. Como resultado, eles historicamente se instalaram perto das nascentes de rios do sul do Iraque. Pacifistas e sem clãs ou milícias para protegê-los, os renascentes sabeus migraram para o norte do Iraque, na província de Nínive e na região curda, em busca de segurança, mas continuam sendo ameaçados, segundo a rede britânica BBC.

Dinamarca publica anúncio desencorajando refugiados

Anúncio dinamarquês desencorajando refugiados a viajar ao país. Crédito Reprodução

POR DIOGO BERCITO
07/09/15  13:09

O governo da Dinamarca publicou nesta segunda-feira (7) anúncios em jornais libaneses alertando refugiados sobre as restrições ao asilo no país. O texto afirma, por exemplo, que benefícios sociais para refugiados recém-chegados serão reduzidos em até 50%. A reunificação de famílias não será permitida durante o primeiro ano, para quem tenha permissão temporária de residência.

Na interpretação do jornal americano “Washington Post”, a mensagem é clara: Não venham para a Dinamarca.
O anúncio foi recebido com desagrado, enquanto países como Alemanha e Áustria têm divulgado diversas medidas na direção oposta. Ao publicar esse aviso em ao menos quatro jornais em árabe e em inglês, o governo dinamarquês somou-se àquelas nações europeias –como a Hungria– criticadas durante essa grave crise humanitária.

Quem assistiu à série dinamarquesa “Borgen” –uma espécie de “House of Cards” escandinava— se lembra que a terceira temporada discute justamente esse tema em alguns de seus episódios. A postura de alguns partidos de direita em relação a refugiados leva a uma reviravolta na política do país, durante o enredo.

Neste caso, realidade se parece bastante com a ficção. “Como prometido, publiquei anúncios em quatro jornais libaneses informando sobre mudanças nas condições para as pessoas que peçam asilo na Dinamarca”, afirmou Inger Stojberg, ministra da Imigração e Integração, do partido de extrema-direita Venstre.

Segundo o “Washington Post”:
A Dinamarca adotou uma posição mais rígida em relação à imigração desde que o Partido Liberal –de centro-direita– formou um governo de minoria em junho. Enquanto Alemanha e Suécia receberam um grande número de refugiados no ano passado, a Dinamarca fez cortes, impondo leis designadas para desencorajar migrantes de viajar ao país.

A falta de solidariedade de países como a Dinamarca são especialmente inquietantes diante da realidade de nações como Líbano, Turquia e Jordânia, onde refugiados sírios foram acolhidos aos milhões. Cerca de 95% de todos os refugiados sírios estão em cinco países do Oriente Médio, como escrevi mais cedo no Mundialíssimo blog.

Wagner Moura por Jean Wyllys



Estava toda a turma concentrada na aula de Fundamentos da Comunicação Humana quando adentrou a sala, apressado, um rapaz bonito com leves mas aparentes olheiras no rosto branco e com uma cabeleira castanha cacheada e molhada de um banho recente.



Seu carisma sem esforço atraiu a atenção de todos e todas, inclusive a do professor, que não perdeu tempo em fazer piada do que ele chamou de "frequentes atrasos" do aluno.

Assim se deu meu primeiro encontro com Wagner Moura, que, naquele ano de 1995, já estava envolvido com o teatro – motivo de ele muitas vezes se atrasar para as aulas na Faculdade de Comunicação (a Facom) da Universidade Federal da Bahia, onde cursamos e nos formamos em Jornalismo.

A partir dali, nós conviveríamos nas aulas de outras disciplinas, mas sobretudo na cantina da faculdade (a Cantina do Vovô!), onde as diferentes turmas se encontravam para estender os debates das aulas; trocar impressões sobre os autores estudados; emitir opiniões sobre produtos e personalidades da indústria cultural; debochar dos alunos e professores mais marcantes ou caricatos; cantar e tocar violão; e, claro, beber, que também sem a cerveja ninguém segurava aquele rojão (e a Facom era a única das unidades da UFBA a vender bebida alcoólica, o que atraía para lá alunos mais progressistas de cursos conservadores como Direito e Medicina, que costumavam nos ver como "exóticos").

Wagner Moura estudava jornalismo, mas já era um homem comprometido com as artes cênicas. Alguns anos depois, quando protagonizou o espetáculo Abismo de Rosas, escrito por Claudio Simões a partir de canções de Lupicínio Rodrigues e dirigido por Fernando Guerreiro, Wagner mostrou ao público do teatro baiano que era um ator de raro talento e que certamente ganharia o Brasil por isso. Não demorou muito para que acontecesse.

Por conta de sua arrebatadora atuação em A Casa de Eros (montagem especial de José Possi Neto para comemorar o aniversário da Escola de Teatro da UFBA), Moura foi convidado pelo roteirista e diretor pernambucano João Falcão a estrelar – ao lado de Lázaros Ramos, Vladimir Brichta e Gustavo Falcão – o espetáculo A Máquina, baseado no romance de Adriana Falcão. Graças ao estrondoso sucesso de público e de crítica dessa empreitada, o elenco foi parar na Globo, por meio do seriado Sexo Frágil, escrito e dirigida pelo mesmo João Falcão.

Na sequência, Wagner Moura protagonizou duas novelas – A Lua Me Disse e Paraíso Tropical – e uma minissérie (JK). Mas podemos dizer que seu talento se tornou conhecido mesmo em todo Brasil (e, a partir daí, em outras partes do mundo) com o fenômeno Tropa de Elite, em que fez de seu personagem (o Capitão Nascimento) o mais popular, controverso e memorável herói da história do cinema brasileiro até o momento. Não por acaso, o diretor da franquia, José Padilha, convidou-o a protagonizar sua série para a Netflix: em Narcos – que estreou recentemente – Wagner Moura aprendeu a falar fluentemente castelhano e engordou vinte quilos para encarnar o traficante colombiano Pablo Escobar.

Nós estivemos juntos na Colômbia durante as gravações. Na ocasião, Wagner me bombardeou de perguntas sobre a crise política no Brasil, interessado que é no tema.
Na entrevista que segue, realizada entre xícaras de café, bolo de chocolate, muitas risadas e as intervenções de seus três filhinhos (Bem, Salvador e José), ele fez sua própria avaliação da grave situação política e econômica que o Brasil enfrenta; revelou detalhes dos bastidores de Narcos; contou o motivo de não ter perfil em nenhuma rede social; fez considerações sobre as recentes expressões do ódio no país; explicou por que não fez novelas nesses últimos anos e disse em que ponto está seu filme sobre o guerrilheiro comunista Carlos Marighella e qual será seu próximo desafio artístico.

É sempre bom estar com Wagner Moura e com Sandra Delgado (fotógrafa, sua esposa e também minha amiga desde os tempos da Facom). Espero que nossa conversa lhes enriqueça tanto quanto me enriqueceu.


Jean: Qual o sentido de um filme como “Marighella”, nesse contexto de polarização no Brasil, em que "comunista" volta a ser xingamento, e a gente vê surgir uma espécie de patrulha, de um neomacartismo, na tentativa de desconstrução desses pensamentos de esquerda?

Wagner: Talvez por isso mesmo. Escrever um roteiro é uma coisa muito difícil. Talvez seja o processo mais difícil do filme, porque você precisa encontrar um recorte. Eu estava muito angustiado com isto, em ser honesto com  tudo o que aconteceu, com a história, e ao mesmo tempo fazer um filme de ficção. Mas pude ver uma palestra da Heloísa com a Lilian Schwarz, em que ela dizia que a escravidão e as revoltas são duas linhas que correm em paralelo no Brasil, e isso me ratificou a certeza de que eu preciso falar sobre esse tema.

Eu voltei agora da Alemanha depois de lançar o Narcos em Paris, em Londres e na Inglaterra, e eu dizia especialmente aos jornalistas alemães que eu vou fazer um filme sobre um guerrilheiro, sobre a ditadura no Brasil. Eu disse que na Alemanha, embora eles próprios não achem isso, há uma relação psicologicamente muito mais saudável com o passado deles, com o holocausto basicamente (claro que houve uma proporção imensamente maior que a ditadura no Brasil). Nossa tendência na América Latina, especialmente no Brasil, é o esquecimento, é você dizer “deixa pra lá”. A lei da anistia é ruim, eu acho que ela não faz bem psicologicamente para a nação porque não faz justiça. E mais que isso, ela não só não faz justiça, como ela é alienante, especialmente para a minha geração, ela é muito alienante.

A nossa geração não cresceu sabendo direito o que aconteceu. A história que nos foi contada fala de comunismo.... E eu,  como artista, não consigo ver essa história. Eu estou fazendo uma história de Pablo Escobar, nenhuma história deve ser contada de maneira maniqueísta. Nenhum personagem pra mim é bom, nenhum personagem pra mim é mau, eu tento fazer um filme pra gente adulta, com personagens complexos, entendendo aí as relações psicológicas, sociais e do momento em que as pessoas pensam de determinada maneira.

Jean: Em que ponto está o filme? 

Wagner: O roteiro está sendo encaminhado, mas estamos com muita dificuldade de captar recursos para um filme sobre um comunista no Brasil. E isso me dá muito mais vontade de seguir.
O que eu queria mesmo é justamente entender uma coisa que pra mim nunca foi bem contada:, entender o que fazia com que  as pessoas que estão tão próximas da gente, em termos de geração, tivessem uma atitude perante a política, a história, a vida, o país, tão diferente da nossa. Nós que nascemos e vivemos na ditadura...

O mundo caminhou para um lugar individualista, aquilo que vale é a sua carreira, a sua família. Já o pensamento coletivo e as utopias... (veja que o projeto na União Soviética mostou-se inviável, e em Cuba, com a ditadura de esquerda, tivemos que passar por um entendimento, um revisionismo do que é ser de esquerda). Hoje em dia, se pensamos que somos  de esquerda, teremos vários questionamentos, várias dúvidas serão levantadas até você dizer “eu sou uma pessoa de esquerda porque eu acredito na justiça social, eu acredito na liberdade individual, eu acredito que todo mundo é igual perante a lei”. Se isso é ser de esquerda, foda-se, eu sou de esquerda. 

Jean: Também gostaria de entender como as pessoas fazem uma opção política de resistência que as leva, por exemplo, a pegar em armas. Como se dá isso?

Wagner: Ah, isso é tortura, a pessoa não tem uma vida. A vida dela é aquela, você perde seus amigos, você não tem contato com os seus pais, alguns tinham filhos e deixavam de ver seus filhos e podiam ser são torturados e mortos.

Jean: Mas como são feitas essas escolhas? Como elas se impõem pelo coletivo e não pelo indivíduo? E em que medida essa escolha está necessariamente certa? Nessa onda de polarização, em que o Brasil está vivendo essa divisão política, que começou em 2010 e recrudesceu nas eleições de 2014, permanece agora uma espécie de “terceiro turno”, com muito xingamento e pouco diálogo. E os episódios são utilizados emblematicamente, como o helicóptero com meia tonelada de pasta de cocaína, um avião que pertence a uma família de políticos.
E eu te pergunto, você está fazendo agora um seriado  sobre tráfico de drogas e sobre a figura do Pablo Escobar. Você já disse que não julga o personagem, mas eu queria que você me dissesse: fazer esse personagem te ajudou a entender, te colocou no outro lado, inclusive? Porque você fez um personagem que se tornou muito popular, o Capitão Nascimento, que está ao lado das forças de repressão. O cara que, sobretudo no primeiro filme - no segundo de maneira mais crítica -, está convicto de que uma guerra às drogas tem que ser estabelecida. Fale um pouco dessa mudança, a partir desses dois personagens.

Wagner: É engraçado porque o Escobar, assim como o Nascimento, também era um factóide, uma caricatura da direita, errada.  E ele se dizia o Robin Hood colombiano. O que eu acho que acontece hoje no Brasil é muito pobre das duas partes, tanto da direita quanto da esquerda. É pobre demais a conversa, sabe?! “Petralha”, “coxinha”...

Eu dei uma declaração que gerou polêmica, que foi uma declaração mal escrita pelo jornalista Merten. Segundo ele eu teria dito que não dá mais pra viver no Brasil. Eu nunca disse isso! Se eu quisesse ir embora do Brasil, já teria ido há muito tempo. Eu moro no Brasil, minha família mora no Brasil, meus filhos moram aqui, moram na Bahia. Mas eu disse que estava feliz de não estar aqui durante a eleição e tudo que está acontecendo agora. E essas declarações que eu dei quando lancei o “Praia do Futuro” repercutiram tanto de um lado quando de outro. Eu tomei porrada dos dois lados, tanto do Rodrigo Constantino quanto do Jorge Furtado. E as duas porradas, as duas punições, me pareceram burras. As duas me pareceram pobres, porque na época eu denunciava... a direita já começava a ficar burra, o governo já apresentava fragilidades, mas foi antes do chamado “Petrolão”, antes dessa crise toda. E eu dizia que o Brasil caminhava pra um conservadorismo que hoje em dia é muito mais forte do que estava em 2014. Eu falava do recrudescimento da direita no Brasil, mas falava também desse maniqueísmo burro que se instalou no Brasil.

Como eu disse, se algumas posições definem uma pessoa de esquerda, então eu sou de esquerda, mas não sou ideologicamente imbecil, eu não sou um idiota. Só uma pessoa idiota, mesmo - talvez agora eu deva estar pegando pesado -, só um imbecil ideologicamente cego não está vendo que existe um evidente problema no governo, que existe uma crise violenta de corrupção, de valores. Eu sempre me lembro daquele livro Corações Sujos, aquele livro dos japoneses que se recusavam a acreditar que o Japão havia perdido a guerra. Quando alguém me diz “o mensalão é uma invenção”, eu não sei o que dizer. E ao mesmo tempo não posso compactuar com esse golpismo, esse movimento de ultra-direita, de elite, de gente rica. Outro dia ouvi uma frase ótima: “felizes das pessoas que acham que a corrupção mora num partido”, ou seja, há quem acredite que assim que se tirar esse partido do poder a corrupção vai acabar.  Que pessoas felizes, que coisa boa! Mas a pessoa que reflete, a pessoa que pensa, a pessoa que faz esforço pra pensar, ela não é feliz.

Jean: Wagner, você acha que a popularidade do Capitão Nascimento, em parte, é a rejeição pela Praia do Futuro? A rejeição homofóbica?

Wagner: Eu acho que sim. Quando lançamos o filme em Berlim, eu não queria que a homossexualidade fosse um tema, porque era uma posição muito particular minha, eu acho que quando existe um casal, um homem e uma mulher, isso não é um tema; então não deveria ser um tema quando são dois caras. Talvez tenha sido uma postura errada, talvez a gente devesse ter falado mais, porque isso ainda é uma questão. Talvez eu estivesse prevendo um momento, ou querendo, e infelizmente não é assim. E muita agente foi ver o “Praia do Futuro”  querendo ver o “Tropa de Elite” dos bombeiros, e em cinco minutos de filme o bombeiro estava "dando" no carro.


Jean: O João Ubaldo Ribeiro dizia que as pessoas sempre perguntavam a ele como era possível um homem hétero, com a vida hétero, ter escrito cenas tão verossímeis, tão verdadeiras de homossexualidade em “A casa dos Budas Ditosos”.O Heath Ledger também, muita gente perguntava pra ele sobre aquela cena de “Brokeback Mountain” com o Jake Gyllenhaal. Curioso as pessoas perguntarem sobre isso, né? Já lhe fizeram esse tipo de pergunta? Como é possível você ter feito aquela cena não sendo um ator gay, sendo um ator hétero? 

Wagner: Eu entendo de amor, de tesão, eu sei o que é sentir tesão por alguém, eu sei o que é ter vontade de transar com uma pessoa. É da natureza do ator se colocar em situações nas quais você habitualmente não vive na sua vida normal.


Jean: Mas também é da natureza do grande público não compreender essa natureza do ator. Tanto é que, muita gente te confunde com o Capitão Nascimento. Muita gente rejeitou o filme porque esperava ver o Capitão Nascimento. Muita gente faz patrulha na vida privada dos atores por não compreender que o ator está ali pra se jogar no personagem. Fale um pouco de como resistir ao canto da sereia da indústria cultural em contraponto à necessidade material de se ter uma vida confortável.  Da escolha de não se fazer determinados papéis que possam render prejuízo no mercado publicitário, por exemplo... Como conciliar isso?

Wagner: Eu nunca fiz uma opção na vida pensando no mercado.  Nem pensava no quanto eu ganharia, quanto iam me pagar. Quando eu quero fazer uma coisa, eu vou e eu faço. Claro que eu tenho três filhos e eu preciso sustentá-los. E graças a Deus eu estou num momento da minha carreira em que sou bem pago. Mas não escolho uma coisa pensando como é que vai ficar a minha imagem, ou o que é que as pessoas vão pensar.

Mas busco fazer coisas que me acrescentem algo. Eu não gosto do termo "carreira", eu não sei o que é carreira, eu sei o que é a minha vida, isso é a minha vida. No campo internacional é o mesmo, as escolhas que eu farei vão fazer sentido pra mim, me farão entender alguma coisa, vão acrescentar algo na minha vida.

Jean: E você queria muito trabalhar com Karim, eu lembro disso...

Wagner: Eu sempre quis trabalhar com Karim, com o que quer que fosse. E eu tenho outro projeto com Karim, que é sobre a intolerância religiosa. Meu próximo projeto com ele é uma tentativa de entender, e eu quero muito fazer isso, o fenômeno dessas igrejas pentecostais. 

Eu também não aceito a redução, a redução me parece classe média. Eu resisti muito, até conversando com você, com relação à Marina, há muito tempo. Eu realmente entreguei os pontos quando a vi capitulando com relação ao projeto de governo dela, com relação à homossexualidade. Mas não por ela ser evangélica, porque isso me parece um preconceito às avessas. Parece coisa de gente que faz troça de música brega, elitismo, aquela coisa de religião de empregada. Isso eu não acho legal, porque nas manifestações contra Marcos Feliciano das quais nós dois participamos, eu encontrei alguns pastores muito legais, gente legal, com quem eu não tive tempo de conviver. E acho também que as religiões cumprem um papel social.
 
Agora, é claro que a gente vê na televisão, a gente vê de um modo geral a força que esses caras têm no Congresso. Eles se tornaram uma força política determinante, eles têm muita força, mas a agenda deles é muito atrasada... Isso sim, a isso eu me oponho e vou me opor  sempre. Mas eu quero entender as pessoas. E voltando a Pablo, o que mais perguntam -  engraçado, muito parecido com o Nascimento - é: "como você humaniza um cara?" E eu digo “mas ele é uma pessoa, ele foi um ser humano, ele nasceu, não brotou, não é uma medusa”.

Jean: Arnaldo Antunes fala: “Saiba, tudo mundo já foi criança, Maomé já teve infância”. E é isso, humanizar...

Wagner: Porque não quer dizer que eu não tenho juízo crítico sobre o Nascimento, mesmo sendo um personagem de ficção, e sobre o Pablo Escobar, evidentemente.

Jean: Narcos terá uma segunda temporada?

Wagner: A Netflix faz um jogo de cena, eles não dizem oficialmente que haverá. Eu imagino que eles queiram anunciar isso, e esse anúncio gera expectativa. Acho muito difícil não haver, mas eu não sou autorizado a dizer que haverá.

Jean: Mas você está disposto a continuar?

Wagner: Estou. Porque foi a coisa mais difícil que eu já fiz na vida, e eu quero fazer.
Li um texto hoje, de Adriana Calcanhotto, sobre o tempo, sobre a velocidade das informações. A gente fala em voltar a viver em Salvador, por exemplo. Eu quero cada vez mais atrasar o meu passo, andar mais devagarzinho, embora eu esteja ficando mais velho, numa época em que se está querendo correr pra tudo. Eu não, quero aguentar tudo isso e andar mais devagar. Por isso eu não tenho mídia nenhuma, não tenho Facebook, não tenho Instagram, não tenho Twitter, eu não tenho nada disso, se pudesse eu não teria celular. Eu quero andar com mais espaço, e Narcos foi uma coisa que eu fiz - e quero fazer tudo assim - e eu tive tempo pra fazer,  fiquei muito orgulhoso do que eu fiz. 

Eu aprendi a falar uma língua pra fazer um personagem. Eu fui para a Colômbia, eu fiquei lá, estudei, engordei 20 quilos. Um ator brasileiro, magro, que não fala espanhol, vai fazer Pablo Escobar... É como chamar um ator da Colômbia e dizer “você vai ser o Pelé”, e o cara é branco. E foi pra mim um caso muito desafiador, contracenando com atores colombianos, então eu tenho muito orgulho disso, dessa série, e quero fazer outra temporada, porque o Pablo Escobar vai ter que morrer, a gente não terminou isso nessa primeira temporada.

Jean: Durante o estudo para o personagem, conhecendo a realidade da Colômbia, que é bastante complexa, a política colombiana, o papel do narcotráfico inclusive na política mundial, você reavaliou sua posição em relação à legalização das drogas?

Wagner: Eu ratifiquei. É isso mesmo. As drogas precisam ser legalizadas. Eu estava falando com uma americana, essa semana, e ela falou: “cara, eu não sei se eu quero... todas as drogas?” E eu falei "todas as drogas, porque cada droga tem a sua dinâmica, não é tipo 'legalizou, aí tem no supermercado cocaína, heroína'... não é assim não é uma liberação, é uma legalização". 

Daí ela disse “eu não sei se eu quero estar na rua e encontrar alguém que vomite na minha frente”. E eu disse "bom, antes a pessoa vomitar na sua frente na Califórnia do que no México 50 pessoas serem assassinadas de uma vez só por causa disso. Eu acho que uma pessoa vomitar na sua frente é um preço que você tem que pagar".

E é ruim porque a política antidrogas é uma política subvencionada pelos Estados Unidos e a relação que os americanos têm com as drogas dentro do próprio país é de absoluta tolerância. As drogas são quase legais em vários estados. Na Califórnia você pode comprar maconha tranquilamente se você tiver uma receita médica, que é oferecida nas ruas de Vennes. No entanto, eles apoiam uma política repressora nos países produtores e nos países da América Latina em geral, em que as pessoas te revistam, entra cachorro dentro do seu carro. Vai ver se entra cachorro no carro em Nova York.

Jean: E eles não levam em conta os insumos, os refinos... o da cocaína, vem todo dos Estados Unidos. A coca pode ser plantada aqui na América do Sul, mas os insumos químicos vêm todos dos Estados Unidos.

Wagner: E as armas, que estão nesses grupos armados, inclusive, também  vêm de lá. Então não há como você não se opor à política de repressão por um fato muito evidente: ela se mostrou ineficaz nos últimos 40 anos, ela é ineficaz e ela tem servido muito pra matar gente pobre em países pobres, em país de terceiro mundo.

Jean: Wagner, eu te conheço de longas datas, e sei que o seu compromisso é de fato com a arte, com o que te faz feliz, com o que acrescenta ao mundo. Sempre foi o seu critério. Ainda assim, você aconteceu na indústria cultural: você foi parar em Hollywood. O talento ainda faz diferença, não faz? Numa indústria tão complexa, em que as pessoas que fazem essa indústria são de origens tão diversa, em que são muitos os critérios para que as pessoas a alcancem, o talento ainda faz uma diferença, não faz?

Wagner: Eu acho que faz, Jean, mas eu acredito também, e mais ainda, em dedicação e entrega. Em você se entregar mesmo ao que está fazendo.

Jean: É a distinção que eu faço entre talento e vocação, porque muitas vezes a pessoa tem talento mas não tem vocação, no sentido da vontade de burilar, de levar adiante. E tem gente que tem vocação e descobre o talento nessa vocação.

Wagner: Sim, embora minha profissão seja tão louca e eu não tenha vocação pra várias coisas que são atributos dela.

Jean: Como o quê, por exemplo?

Wagner: Lançar um filme, explicar o filme para as pessoas, dar uma pinta, tirar foto, aparecer na revista. Sem nenhuma falsa modéstia, eu não tenho vocação pra isso. Os americanos têm muita coisa de network. Você é convidado pra uma festa, mas não é pra você se divertir, é pra você conhecer alguém. 

E lá eles me dizem: aqui a gente faz um filme pra pegar outro. Ora, eu vou fazer um filme se eu quiser fazer um filme, se eu não quiser eu não vou fazer. E é uma dinâmica que eu tenho estabelecido com os meus agentes, que é difícil, que eles não conseguem entender, parece petulante que um ator brasileiro  se recuse a fazer um filme com um ator “x”. Agora, quando eu estou entregue ao fundamento da profissão de ator, eu faço com muita entrega, inclusive sacrificando o tempo com a minha família.
 
Jean: Exatamente por defender isso, o espaço da privacidade, por não dar estímulo pra certas coisas, pra certa exposição, você teve um tempo aí de entrevero com a mídia de celebridades. Ela lhe deu trégua?

Wagner: Ela não quer saber de mim mais, o que eu acho muito bom. Eu deixei de interessar a eles num sentido... eu tenho gerado polêmica pelas escolhas profissionais que eu faço, algumas, o própria “Praia”, o show com a Legião Urbana, o Tropa de Elite... Isso gera polêmica, e sei que eles gostam, porque eu gosto também. E ainda no posicionamento político, que nesse Brasil de “Fla x Flu” rapidamente se vira uma escória social pra um determinado grupo.

Jean: Mas não é porque você está usando a roupa “x”, nem está jantando no restaurante “y”.

Wagner: Exatamente! Isso eles não terão nunca.

Jean: Você é muito musical, não só porque gosta de música, e faz intertextualidade com a música... Você tem a banda, "Sua Mãe". Vai se dedicar à banda mais do que tem se dedicado?

Wagner: Essa banda é uma brincadeira, uma coisa que me faz bem, eu gosto dela, eu gosto da música que a gente fez, que a gente faz. Em 2010, quando completamos 18 anos de banda - agora nós temos 23 - lançamos esse disco, um coletivo  que foi  The very best of the greateast hits, que era o nome brega, a gente está sempre compondo. A gente se encontra e compõe. E agora é tenso, porque tem dois morando na Bahia, um morando no Rio, e fica mais difícil de a gente se encontrar. Quando todo mundo morava em Salvador, eu ia pra lá e a gente ia tocar. É difícil operacionalizar, mas eu adoro música.

Jean: E faria um novo show com a Legião? Faria mesmo, apesar de toda...

Wagner: Total! Claro, Jean, você acha que eu fui fazer um show com a Legião esperando que a crítica dissesse: “Oh, Wagner Moura, que cantor do caralho”? Não, eu fiz porque, como eu te disse antes, fez sentido na minha vida. Porque agora eu posso dizer que eu fiz isso, foi uma das coisas mais extraordinárias que eu já fiz na minha vida. Duas coisas que eu fiz que eu acho incrível: Hamlet e aquilo. E Dado Villa Lobos é meu amigo.

Jean: Eu confesso que queria estar lá no seu lugar, cantando no lugar do meu ídolo. Aquilo foi surreal, pra mim, pra nossa geração. Você indicou uma música de Roberto Carlos para a trilha sonora de Narcos, e qual foi a música especificamente, você lembra?

Wagner: Detalhes. Era alguma cena em que eu estava dançando, e eu pedi Roberto. O Roberto é muito conhecido na América Latina, gravou em espanhol, muito querido na Colômbia. Eu fiquei muito triste, mas eu soube que ele não quis o nome dele envolvido com uma série que fala de um traficante. Eu sou muito fã de Roberto, muito fã dele, do artista que ele é, mas ele tem constantemente se posicionado de público de uma  forma que eu lamento. E ainda mais ele sabendo que eu sou um artista brasileiro, que o Padilha é um artista brasileiro, me pareceu boba a recusa. Eu fiquei chateado, o que nunca vai mudar a minha relação de fã absoluto da música dele, mas achei que ele foi bobo. 

Jean: Não levou em conta nem a sua sensibilidade ali, de perceber que tinha tudo a ver. Mas o Pablo era fã dele. E depois de Hamlet, tem algum personagem no teatro que queira fazer? Você é um animal de teatro...

Wagner: Eu quero dançar. Hamlet deu uma ressaca grande... realmente foi o que mais impactou na minha vida. É difícil pensar agora em outra coisa, eu não me interesso por outra coisa, e as palavras que estão ali, em Shakespeare... Claro que existem outros autores maravilhosos. E eu sempre gostei de um certo tipo de teatro muito físico, eu gosto de usar o palco pra ser expressivo, de uma forma que cinema não nos deixa ser.

Eu nunca gostei de teatro que tem uma lareira... embora eu ache Tchekhov gênio, Ibsen... e tem a nova dramaturgia americana. Eu acho que o teatro se presta a uma outra linguagem, e Shakespeare é puro, ele é o anti teatro tipológico; o que Brecht descobriu na revolução, e trouxe para o teatro no século vinte, Shakespeare já havia descoberto em 1600. É lindo isso, eu adoro isso, já estava lá, ele descobriu aquilo tudo. Você fala com a plateia, não tem cenário, o cara fala “estamos numa floresta”, não precisa ter um cenário. E essa expressividade física é uma coisa que eu queria muito fazer.
 
Jean: Engraçado que Lars von Trier levou isso para Dogville, para a experiência dele, que é o cinema se valendo dessa possibilidade que o teatro dá, da imaginação. Então por isso você quer dançar agora?

Wagner: Sim, agora eu quero dançar, e expressar mais, claro que com algum texto. Pina Bausch e Caetano são os dois artistas que eu mais admiro na minha vida. São os dois artistas que mais me dizem, que me comunicam...

Jean: Você tem visto alguma coisa? Tem dado tempo de ir ao teatro ver as coisas? Nem fora?

Wagner: Não.

Jean: Lá na Colômbia você não chegou a ver?

Wagner: Lá na Colômbia a gente chegou a ver uma peça argentina, de um grupo argentino muito bom, chamado Timbre 4. Eu já tinha visto uma peça dele em Buenos Aires, muito boa, chamada A Maldição da Família Coleman, e ele estava em Bogotá com uma peça sobre a relação de uma babá de família, dessas babás-mães, que educam o menino, e que o hiperprotegem, e de repente eles se reencontram, a babá já velha e ele já tinha formado uma família. É um embate sobre a vida, sobre essas questões de “a intimidade e a não intimidade”, a relação que ela projetou ali e o que ele sente, no que ele se transformou; ela ainda o via como aquele menino, mesmo porque não é filho dela. É muito, mas muito interessante.

Jean: Engraçado, eu li um texto recentemente, de uma relação entre babá e filho, sobre um sistema de castas, na Índia, e ele é um cara que sempre conviveu com ela em casa, os pais liberais. Então a tinham como uma pessoa da família, mas ela foi a criada, fazia comida. Quando ele cresce, vai para a escola e adquire todos os valores dos sistemas de castas de anos, então ele começa a rejeitá-la, a dizer que não quer que ela apareça em público ao lado dele. Daí a mãe fala: "você sempre comeu da comida dela, você sempre gostou dela". Pra mostrar que essas coisas do ódio, da rejeição, são construídas, são partes de um processo de socialização.

Wagner: E sobre a socialização, quando esses caras aí falam que nós somos hipócritas, porque passamos de uma classe social a outra... tanto essa esquerda burra quanto essa direita radical, é como se sua classe social determinasse o seu olhar. Você só tem o direito de olhar de determinada maneira se você pertencer a determinada classe social. Ou seja, quando eu estava na Bahia, sem dinheiro pra comprar uma cerveja, aí eu podia pensar “assim, assado”, mas como eu prosperei na minha vida... é até difícil discutir isso.

Jean: Há liberais que eu respeito pra caramba, mas o que os liberais pregam é um mundo que não existe, porque ninguém no mundo parte das mesmas condições. Entendeu?! Ninguém parte das mesmas posições, isso é fato. As pessoas partem de condições distintas, e determinada posição que você ocupa na sociedade lhe trás vantagens evidentes em relação aos outros. 

Então você partir da ideia de que os pobres são pobres por incompetência, defender a meritocracia, a ideia de que você é bem sucedido por pura competência, é você desconsiderar a história, o papel da história e de como essas pessoas são posicionadas nessas relações assimétricas de poder. Nesse sentido eu sou de esquerda, não da esquerda burra, tradicionalmente, antes mesmo do marxismo, a esquerda anterior ao marxismo. 

A posição de direita e esquerda não começa com o marxismo, o marxismo se identifica com a esquerda, mas eu falo da esquerda anterior. Ser de esquerda é entender que o mundo não está dado, que as coisas não são como são por obra da natureza ou por obra divina; as relações são o fruto de uma disparidade de condições. Não podemos achar que as pessoas são pobres porque elas são incompetentes, que o menino não está na escola, e está vendendo nas ruas, porque não teve competência para estar na escola; que uma pessoa negra é desprestigiada no mercado de trabalho porque ela é incompetente, e não por causa do preconceito racial. Quer dizer, os liberais não levam em conta essas posições de sujeito. Ser de esquerda é você entender, sim, que existe essa disparidade, essa desigualdade, essa desvantagem, e a gente quer minimizá-la.
 
Wagner: Exatamente, é minimizar isso e possibilitar ascensão social. Eu não quero que quem é rico vire pobre, eu quero é que o pobre se levante.

Jean: E que a gente compreenda que há desvantagens. A própria rede de relações que você estabelece já lhe dá uma série de vantagens em relação aos outros. A pessoa é vítima de uma desigualdade material mesmo, social, ela está excluída na pobreza, ela foi impedida de entrar no sistema escolar, portanto de ter a formação que lhe permitiria chegar ao mercado de trabalho de outra maneira. E, além disso, ela tem uma desvantagem existencial, que está ligada à existência dela, que são os negros, os gays, as pessoas com deficiência... Defender essas pessoas, para mim, é ser de esquerda.

Mas olha, por fim, boa parte do público brasileiro não tem acesso a sua arte e sente falta de você fazer um produto tão popular, que é a novela. Existe algum convite, você pensa em voltar a fazer? Sei que você não vê muito, não tem muito tempo de ver...

Wagner: Eu não costumo, eu não vejo mesmo. Eu lembro que “Avenida Brasil” foi uma novela que eu achei incrível, que eu adorei, mas eu não tenho visto, e quando eu vejo, eu não gosto. Mas eu acho que a minha decisão de não fazer novela tem a ver com a minha excitação com os projetos de filmes, cinema, e coisas com o momento do cinema brasileiro - que hoje nem está tão bom, mas foi durante pouco tempo atrás, ainda bem!-, e a novela é um comprometimento de tempo muito grande, toma muito tempo do ator. 

Eu agora estou envolvido com televisão, com a Netflix, e apesar de ser uma série, também tem o tempo de uma novela, que é um tempo muito gigante, e sinceramente, também não é essa estética artística que eu estou buscando pra eu me expressar.
 
Jean: Tem uma coisa de opção estética, também né? 

Wagner: É, quando eu vejo Avenida Brasil, eu falo: “Ah isso eu queria ter feito!” Agora o que está acontecendo na televisão, especificamente na TV Globo, é uma valorização das séries, da dramaturgia de série que eu acho muito boa, que você vê hoje em dia. Tem muito mais séries sendo produzidas pela TV Globo, com padrão de qualidade que está cada vez mais vai se elevando, com a chegada das TV’s a cabo.

Jean: E a própria tecnologia mesmo, das câmeras...

Wagner: Mas mais que isso, mais que além das câmeras, eu acho que há uma tecnologia humana. O investimento em dramaturgia, em cursos e palestras... Mas a gente tem que pensar que é recente o fato de a gente ter acesso de forma tão rápida, e também tem a ver com essa área de ouro da televisão americana. 

Hoje em dia a televisão americana é a reserva criativa para o audiovisual mundial, não está mais no cinema americano, mas na televisão feita nos Estados Unidos, pelos americanos, e isso está chegando pra gente de uma forma muito rápida. Antigamente havia um delay, hoje em dia você vê na mesma hora, e você vê tudo de uma vez, tem a Netflix...

Então eu acho que isso  faz com que a TV Globo entenda que ela não disputa com a Record, com o SBT, com a Band, ela disputa com a HBO, com a Netflix... Tem um padrão estético, eu acho, da TV Globo, como uma  grande empresa mundial de televisão... 

Eu quase fiz agora o “Dois irmãos”, do Luiz Fernando Carvalho, quase fiz. Não fiz porque eles demoraram. Eu fiquei um tempão querendo fazer, querendo voltar, mas quero fazer também uma coisa que me instigue. 

Não sei se eu ainda quero contar a história do mocinho, da menina e do vilão, o folhetim. E a não ser que ele seja subvertido de uma forma muito boa, como o que o João Manoel Carneiro fez, eu não tenho mais interesse no que eu estou assistindo. 

Jean: Obrigado, nego. É isso...