quinta-feira, 12 de junho de 2014

NOVA ORDEM MUNDIAL POR OLAVO DE CARVALHO

 Olavo e Fidel

"Por Olavo de Carvalho"
 Tradução e ilustrações Osvaldo Aires.

Oscar Terán Terán, Filho do ex-ministro das Relações Exteriores do Equador, o Falecido Edgar Teran está distribuindo em tradução espanhola essa minha entrevista de 2013, da qual ele diz:

Amigos, é uma entrevista com um historiador brasileiro feito ano passado e é incrivelmente atual. Condição para superar o atual estado de coisas é entender por que ele foi atingido.
Espero que se interessem ​​pela leitura.
Saudações,
Oscar


Edgar Teran pai

NOVA ORDEM MUNDIAL

Aqui está uma entrevista em profundidade com o historiador e jornalista Olavo de Carvalho, sobre o mérito dos governos atuais na América Latina.
Esperamos que se interessem.
"O Intelligencer", uma revista publicada pela Patrick Henry College, em Purcellville, Virginia.
Entrevista com Olavo de Carvalho por Alexander James Biermann, na Primavera de 2013.

I. As causas do socialismo

- O que você acha que são as causas subjacentes da mudança na América Latina para o socialismo/comunismo após a região ter pelo menos implementado algumas formas de capitalismo?
- A história da América Latina na última metade do século pode ser dividido em três etapas. Em primeiro lugar, as ditaduras militares e da derrota da esquerda armada. Em segundo lugar, o retorno da democracia e uma fase passageira e entusiasmo superficial para o capitalismo de livre mercado, coincidindo com a queda do comunismo na Europa Oriental. Finalmente a terceira etapa, o aumento global da esquerda.
Claramente, a terceira fase foi preparada na segunda, quando o público ainda hoje acredita que o comunismo estava morto e enterrado para sempre, quando na realidade ele estava apenas se fingindo de morto para pegar seus inimigos de surpresa. O que aconteceu foi que, naquela época, não entenderam direito todo o processo de transformação interior do movimento comunista.
Em primeiro lugar, o exército tinha se centrado na luta contra a esquerda armada sem fazer praticamente nada contra o comunismo nos níveis ideológicos e culturais, justamente no momento de maior repressão, foram silenciosamente assumido por esquerdistas. Na maioria dos países latino-americanos, o esquerdista dominou o dispositivo cultural e jornalística, precisamente no momento em que a queda da URSS criou entre eles um estado de confusão ideológica que é muito propício para uma revisão estratégica completa, o que ocorreu com notável rapidez. Os "capitalistas "estavam tão bêbado pelas ilusões triunfalistas que não entenderam nada.
Esta avaliação consistiu no seguinte:
(1) uma reforma organizacional dos partidos comunistas, que deixou a cadeia vertical de comando por idade e adotou uma forma mais flexível de organização com base em estruturas de rede, a fim de garantir a coordenação estratégica entre todas as facções da esquerda, acima de velhas divisões ideológicas.

   Fidel Castro, Frei Betto e Olavo de Carvalho ao fundo

(2) Uma mudança radical no discurso ideológico da esquerda, que em vez de se concentrar em uma transformação estrutural da economia, ganhou destaque cada grupo de interesse que foram antagonistas do sistema contra o qual a esquerda travaram uma guerra aberta para lançar ataques em mil bairros, criando confusão total na sociedade. Essas mudanças refletem o que Augusto del Noce chamou, ironicamente, O suicídio da Revolução: "Uma visão clara de um futuro socialista foi dissolvida, a luta revolucionária em colapso aparentemente não relacionando mil frentes de batalhas que ostensivamente não avançava a causa socialista, mas serviu para minar os valores morais e culturais da sociedade capitalista, portanto, gerando cada vez mais mal e ódio às novas gerações. 
Os defensores do capitalismo, sem os devidos valores morais e culturais pelos quais são mantidos o regime de livre mercado contribuíram negativamente para este processo, dando um pragmatismo amoral que fez o capitalismo precisamente o monstro que os esquerdistas desejaria que fosse. Enquanto isso, os esquerdistas aproveitaram isso para promover e expor a corrupção, ao colocar toda a culpa sobre o capitalismo. Toda a situação tornou-se tão confuso que o direito não entendia o que estava acontecendo. Paralisados, os conservadores e os liberais de livre mercado deixaram de lado seus princípios servidos aos seus interesses. 
Foi assim que uma facção esquerdista que parecia quase extinta na década de 1990 tornou-se força política dominante em quase por absoluto no continente americano.

- Você acha que o presidente Chávez foi o grande responsável por esse movimento?
- Nem um pouco. Chávez foi um chamariz usado pela esquerda para distrair os observadores americanos, que concentram a sua atenção sobre ele, enquanto as empresas muito maiores orquestraram no Brasil o Foro de São Paulo e assim se consolidou a posição da esquerda no continente. O governo dos EUA e os meios de comunicação norte-americanos estavam tão fora de contato com a realidade que eles passaram a acreditar que existem duas esquerdas na América Latina, uma totalitária, ameaçando, representado por Hugo Chávez, e uma sociedade mais democrática e até pró-americano, personificada pelo ex-presidente brasileiro Lula.
Bem, a verdade é que Lula fundou o Foro de São Paulo e o dirígio por doze anos como seu líder supremo. E também, a verdade é que as Farc, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, considerou essa organização de uma forma bem mais realista do que os americanos, e eles logo percebem que a fundação do Foro de São Paulo era a salvação e o futuro do movimento comunista. Chávez tornou-se apenas um membro do Fórum, em 1995, depois que a organização já tinha sido executada por 5 anos, e quando seus planos estratégicos para a tomada de posse continental já estavam em pleno andamento. Nunca houve a menor discrepância entre Chávez e o Fórum, ou entre Chávez e Lula. O próprio Lula, em dois discursos oficiais como presidente do Brasil que veio a ser publicado no site oficial da presidência brasileira, reconheceu que o Fórum tinha colocado e mantido Hugo Chávez no poder. Chávez sempre foi um instrumento dócil do Fórum e portanto se prestou a ser acusado de todos os medos internacionais, a fim de fornecer uma cobertura para as operações de grande escala do Fórum no resto do continente Sul Americano.

- Qual o papel que organizações como o Fórum de São Paulo, CELAC, e a Aliança Bolivariana tem no movimento socialista na América Latina?
- O Fórum de São Paulo era a ideia original e Lula o seu mentor foi Frei Betto, que a apresentou a Fidel Castro em 1990, que entusiasticamente aprovou. A ideia central era unificar a esquerda continental sob uma estratégia mais flexível e diversificada, neutralizando ou adiando as definições ideológicas que poderiam levar a conflitos internos. O Fórum é, sem dúvida, o centro de comando da revolução comunista no continente. Nenhum dos governos socialistas que dominam a América Latina não fazem nada que não tenha sido previamente aprovado pelas Assembleias Gerais do Fórum. Por inépcia ou mesmo consciente, os meios de comunicação dos EUA e a maioria dos políticos nos Estados Unidos têm ajudado a manter a invisibilidade do Foro de São Paulo, precisamente durante os anos em que eles precisavam desesperadamente da cumplicidade secreta para se desenvolverem em paz, sem chamar a atenção, como Lula mesmo disse. O maior grupo de reflexão, nos Estados Unidos, o Conselho de Relações Exteriores, por meio de seus "especialistas" em latim, Kenneth Maxwell e Luis Felipe de Alencastro, ele mesmo negou a existência do Fórum, no momento em que eu divulgava amplamente os procedimentos completos de assembleias gerais da organização. Quem leu a ata do Foro há dez anos, teve conhecimento com antecedência do modelo de tudo o que aconteceu na política da América Latina. A Aliança Bolivariana e a CELAC são ramos simples do Foro de São Paulo, e nada mais.


Olavo de Carvalho no Foro de São Paulo é o quinto a direita.

- E o papel dos parceiros externos, como a Rússia, o Irã ou a China?
- Toda a estratégia do Foro de São Paulo atende claramente os planos da Rússia e da China para criar uma "Nova Ordem Mundial", a ser construído na desvalorização do dólar e da queda da economia dos EUA. O certo seria dizer que a sigla BRICS poderia ser reduzida a apenas RC, tão grande é a disparidade de poder militar e visão estratégica, entre a Rússia e a China, e todos os outros membros do bloco. Os acordos comerciais que deixam o dólar em favor de moedas locais, um grupo de várias moedas, ou mesmo em favor de uma nova moeda internacional vai intensificar nos próximos meses e quebrar a espinha dorsal dos EUA, a não ser que se realize a hipótese que a economia dos EUA consiga uma espetacular recuperação econômica através da exploração maciça de novas reservas de petróleo.
O maior de todos os estrategistas russos, Professor Aleksandr Dugin, descreve a política global de hoje como uma competição entre países emergentes e a elite bancária que domina o Ocidente. Mas, na minha opinião, isso é apenas desinformação pura.
O apelo do vice-presidente Joe Biden para uma "Nova Ordem Mundial" mostra claramente que a elite bancária, a base de apoio da administração Obama, não tem nada contra a queda do dólar e a queda dos Estados Unidos. Note-se que, no momento em que os Estados Unidos estão sob a ameaça de guerra, o governo Obama tem enfraquecido as forças armadas dos EUA e o reforço das forças de segurança nacionais (até mesmo armá-los com o tipo de equipamento militar), ao mesmo tempo que promove a destruição da economia dos EUA por meio de empréstimos e gastos faraônica. 

Parece-me que o BRICS "Brand New World Order" já está no poder em Washington e vê como inevitável, se não desejável, a crise social que permite limitar severamente as liberdades democráticas.
Você acha que a maioria dos cidadãos dos países da América Latina socializado realmente acreditam em política socialista, ou demagogia e/ ou movimento de corrupção?
- Você não tem ideia do estado de confusão mental e desconexão da realidade que a opinião pública na América Latina possui, especialmente no Brasil. Nenhum dos problemas que eu mencionei aqui já foi discutido na mídia ou no Parlamento. A maioria das pessoas acreditam que ainda vivemos em uma democracia capitalista e não vê o menor perigo de uma ditadura comunista. É como se o último dia que chegou a suas mãos estavam por volta de agosto de 1990. Absolutamente nenhum debate público reflete tudo o que está realmente acontecendo.
Além disso, é preciso entender que muitas das profundas alterações que foram introduzidas na vida social, economica, cultural e educacional na América Latina foram estabelecidos por: diretrizes administrativas, decretos, decisões ministeriais e julgamentos. Eles nunca passaram pelo debate legislativo, e raramente recebeu cobertura da mídia. Em todos os lugares as pessoas entendem a democracia apenas como um processo eleitoral, sem perceber que, sem acesso à informação essencial, este processo é apenas uma fachada sem nenhuma realidade interior. O estado de ignorância política em que as pessoas vivem hoje na América Latina, especialmente no Brasil, mostra que a diferença entre democracia e ditadura tornou-se irrelevante. Nos EUA, as coisas não têm chegado a esse ponto, mas as condições se fecham muito rapidamente.

II. O futuro do socialismo

- Que ideologia política você acha que vai dominar a América Latina no futuro?
- Em todos os lugares do continente, a política de "direita" é desarticulada e desorientada. No Brasil, a única que existe sob o nome de "lei" é a mais moderada da esquerda. Nas próximas décadas, é possível ressurgir algumas ideologias corretas, não tanto inspirados pelo discurso conservador tradicional por razões morais e religiosas, como a insistência da esquerda dominante modificar rapidamente os quadro de valores morais do país mesmo que em conflito direto com as crenças religiosas da maioria da população. O que eu acho que vai acontecer não é uma luta entre o socialismo e o capitalismo, mas sim entre o espírito revolucionário e  o cristianismo.
- Como será seguir o socialismo do século 21 sem a liderança do presidente Chávez?
- Hugo Chávez nunca, repito nunca foi o líder da esquerda continental. A Assembleia Geral do Foro de São Paulo toma todas as decisões importantes e execução total - um verdadeiro show, e nunca existiu o menor sinal de discordância grave entre os membros do Fórum. Chávez nunca foi mais do que um chamariz. Ele foi criado e usado pelo Fórum de São Paulo, que, por sua vez, vai saber como criar muitos outros como ele.
- Se sim, quem você vê tomando o manto da liderança para o socialismo do século 21, na era pós-Chávez?
- Eu acho que o desaparecimento de Chávez da cena política é muito benéfico para o Fórum de São Paulo, que pode agora continuar as operações, mantendo um perfil baixo até que seja apropriado para criar um novo garoto-propaganda.

- Você acha que sem Chávez na política a Venezuela vai continuar sem grandes alterações?

- Qualquer governo antichavista que chegar ao poder na Venezuela será cercado, isolado, e impiedosamente atacado por seus vizinhos até que se torne completamente inoperante.

Osvaldo Aires Bade Comentários Bem Roubados na "Socialização" - Estou entre os 80 milhões  Me Adicione no Facebook 


O “MURO DE BERLIM” DA FOLHA DE S. PAULO


A Folha de S. Paulo comparou a proteção policial da seleção alemã em um trecho de 500 metros de uma rua na Bahia ao Muro de Berlim. A comparação é de péssimo gosto - e reveladora de desconhecimento histórico.

A seleção alemã de futebol está em concentração na Bahia, usando um campo na Vila Santo André. É o “campo de concentração” da seleção alemã. Piada que exagera no péssimo gosto – nojenta de verdade, não? Pois a Folha de S. Paulo escreveu uma não menos infeliz.
Os alemães já ficaram famosos na Copa de 2014 por construírem por si próprios um alojamento em 5 meses, por insatisfação com os hotéis e as condições no Brasil. Um recorde – e sem custos para o erário e o pagador de impostos brasileiro. Uma seleção que veio apenas para jogar futebol – e contra o Brasil – deixou um legado maior para o país do que os 7 anos de gestão do PT desde que o Brasil foi recrutado para sediar a Copa.
Como disse a voz da razão em anacolutos, Dilma Rousseff, os turistas não levarão daqui os aeroportos, os estádios ou os alojamentos que eles próprios se encarregam de construir para poder treinar.
Ou seja, não é uma notícia muito feliz para o PT. A militância petista, travestida de jornalistas em diversos pasquins que fazem as vezes do que se chama por estas paragens de “jornalismo”, precisava ter alguma notícia negativa para “compensar”. Como se sabe, do mensalão ao superfaturamento, o discurso do PT é sempre baseado no toi aussi – basta acusar que outro também fez coisas erradas (ainda que comparando elefantes com formigas, ainda que mentindo na acusação) e voilà, o mal se torna bem. Completamente justificável.
Escalado para a missão, o repórter da Folha em Santa Cruz Cabrália (BA) Fabio Victor encontrou motivo para reclamar: o alojamento isolou um trecho de 500 metros de uma ruazinha de terra no bairro Vila Santo André. O isolamento contou com a ajuda da PM.
Alguns jornalistas da Folha de S. Paulo, bastante empenhados em criticar a polícia per fas et per nefas, parecem crer que a polícia militar garantir a segurança de jogadores de seleções internacionais numa Copa do Mundo é algo digno de uma ditadura de coturnos em casernas. Citando outro jornalista, Fabio Victor dispara:
Jornalista que vive há dez anos na região, Léa Penteado faz um paralelo irônico. “Quando se comemoram os 25 anos da queda do Muro de Berlim, eles [os alemães] vêm pra cá e a PM comemora erguendo uma barreira que separa as duas partes da vila.”
Pior: o título da reportagem é Alemanha cria “muro de Berlim” na Bahia.
Afinal, parece que criar riquezas no país e garantir a segurança legal esperada para um evento como a Copa do Mundo é algo nocivo. Entregar crachás aos moradores da região para transitar pela rua é considerado humilhante (queríamos nós, paulistas, termos apenas de portar um crachá para trafegar pelas greves provocadas pelos amiguinhos da estrela vermelha para prejudicar eleitoralmente um governador tucano). Tudo com o estranho intuito de pintar os feitos (antes mesmo do início da Copa) da seleção alemã como negativos – nocivos mesmo.
Para isso, exageram morbidamente na comparação palavrosa. Já é um erro comparar negativamente com requintes de crueldade, como a famosa Lei de Godwin garantindo que discussões na internet sempre terminarão com associações ao nazismo.
Mas aí há também um movimento reverso: acredita-se que comparar uma demarcação temporária por pura segurança (apenas exigindo-se um crachá, o que acontece em qualquer evento usando vias públicas neste país há décadas sem mimimi e siricutico) pode ser feita com o Muro de Berlim.
Ninguém aceitaria de bom grado grado uma comparação com um campo de concentração como na “piada” forçada do primeiro parágrafo, comparando qualquer forma de segregação com os lugares mais parecidos que o planeta Terra já teve do inferno: os campos de concentração nacional-socialistas de Hitler (Auschwitz-Birkenau, Dachau, Sobibór, Treblinka etc), por ser uma comparação de extremo mau gosto – e falta de respeito pelos que morreram, sofreram, tiveram a vida, o espírito, as posses, a razão de viver tomada pelos nazistas.
Todavia, parece ser normal fazer “piadinha” com os campos socialistas de Pol-Pot, Mao Tsé-tung, Lenin, Stalin e afins. Ou com o “legado” do socialismo para o mundo.
A Folha de S. Paulo compara uma demarcação temporária em uma rua de terra de 500 metros não com “um muro”. O Muro de Berlim não foi só uma parede colocada em Berlim para delimitar uma linha imaginária dividindo um país, na qual se exigia um “crachá” para passar de um lado para outro.
Não: foi uma idéia do maior genocida de toda a história mundial, o líder comunista chinês Mao Tsé-tung, que sugeriu ao dirigente sociopata da Alemanha Oriental (a de esquerda, que não se livrou do totalitarismo e até hoje é mais pobre e com ranços xenofóbicos) Walter Ulbricht que construísse um muro “como a Muralha da China” para impedir que os pobres alemães, vigiados pela polícia política socialista, a assassiníssima Stasi, fugissem para a liberdade capitalista do outro lado.
Walter Ulbricht (que, como quase todo dirigente socialista fora Kruschev, morreu no cargo sem dividir ou disputar o poder completo sobre cada vida na Alemanha Oriental) não é estudado nos livros de história moderna entre os tiranos mais assassinos, genocidas, ricos e esquisitos do planeta. Seu sucedâneo, Erich Honecker, adorava luxos ocidentais (não largava um Nescafé por um minuto, amava cerveja ocidental e dava cigarros HB à sua esposa, todos proibidos à população do país), mas chamava o Muro de Berlim de “muro antifascista”, na velha retórica da esquerda de associar liberalismo contrário à concentração de poder no Estado com o poder de Estado completo, o fascismo.
Qualquer pessoa que se aproximasse do Muro passava a ser vigiada pela polícia. Tentativas de escalá-lo ou cavar túneis por baixo resultavam em fuzilamento imediato – ou com a polícia forçando asfixia nos túneis de maneira cruel. Até hoje há desaparecidos que tentaram enfrentá-lo, cujos corpos estão soterrados onde antes ficava esta pavorosa construção.
Quando se aprende sobre o Muro de Berlim, lembra-se apenas da sua queda, como se fosse apenas uma parede qualquer que foi “simbolicamente” derrubada, marcando o fim da Guerra Fria. Não foi. O muro era uma realidade concretíssima na Alemanha Oriental socialista. Não foi a queda de um símbolo: foram as paredes de uma prisão real sendo destruídas.
Se a esquerda tropical adora justificar a miséria cubana não colocando a culpa no socialismo monástico de Fidel Castro, mas no “embargo estadunidense”, deveria se lembrar do Muro de Berlim, uma das coisas mais bizarras do mundo: um muro feito pela própria esquerda para impedir que os cidadãos fugissem para o lado capitalista com sua liberdade e riqueza. Alguns destes mesmos esquerdistas reclamando do embargo hoje defenderiam com unhas e dentes o Muro de Berlim, se suficientemente em contato com a propaganda ditatorial que o justificava.
A Alemanha Oriental legou mais de 70 mil mortes de 1948 a 1987, com uma população de 16 milhões de pessoas (pouco menos do que a grande São Paulo – algo como assassinar quase inteiramente a população de Mairiporã). Em termos comparativos, em 21 anos de ditadura militar, o Brasil teve pouco mais de 500 mortos e mil desaparecidos. Alguém ousa fazer piadinha e comparação desnecessária com a ditadura brasileira – como quando a Folha foi criticada por anos pelo termo “ditabranda”?
Anne Applebaum, a autora do riquíssimo livro Gulag: Uma História dos Campos de ConcentraçãoSoviéticos (todos sabem o que foi Auschwitz, mas quantos sabem o que é um Gulag socialista, de onde muitas vezes os nazistas tiraram “inspiração” para suas máquinas de trabalho forçado e morte?), conta que teve a idéia de contar ao Ocidente a não-estudada história do Gulag por ver, em uma ponte em Praga, turistas ocidentais achando graça de comprar velhas bugigangas com símbolos socialistas, como a foice e o martelo, e usarem aos risos. Qualquer uma dessas pessoas teria nojo até mesmo de encostar em um broche com uma suástica – mas tratam como um mero arcaísmo um regime ainda mais assassino, xenófobo, racista, homofóbico e totalitário.
O problema não é nem a Folha de S. Paulo permitir uma matéria com um verdadeiro descoco de comparação, típica de “inocentes” acreditando-se informadores, crendo-se apenas exagerada ou de mau gosto. O problema é que o maior jornal do país, que tem um cabedal de jornalistas das mais variadas estirpes e tendências (o que causa o efeito colateral de não evitar críticas de simplesmente nenhum lado), deveria se informar mais ele próprio antes de dizer uma coisa dessas.
Afirmar que a seleção alemã fez um “Auschwitz” ao pedir proteção da polícia em uma rua (quando, por exemplo, membros da seleção da Bósnia já quase sofreram um assalto no Guarujá) seria considerado ofensivo até a última gota – não com os pobres moradores da Vila Santo André com seus crachás, mas aos judeus que sofreram e morreram no campo de concentração polonês, cujas horrendas mortes devem ser lembradas pelo que foram, para não serem repetidas por eufemistadores e revisionistas de plantão.
Foi um dos maiores guerreiros da liberdade de todos os tempos, o presidente republicano americano Ronald Reagan, que fez o discurso que mais animou alemães de ambos os lados que tiveram suas famílias separadas, sua esperança destruída mesmo depois da ameaça nazista e seu sonho de ver um mundo livre da tirania do “Estado corretor em busca da sociedade perfeita” destruído pelos socialistas que criaram o Muro de Berlim. É dele a célebre frase que virou expressão corrente de libertação na língua inglesa: Tear down the wall.


Ao comparar uma proteção policial com o Muro de Berlim, a Folha de S. Paulo parece cair na esparrela em que cai o jornalismo brasileiro pela zilionésima vez em uma semana: comparar tudo o que é ruim no mundo ao nazismo, mas “esquecer” ou tratar com muito menor importância as mortes do socialismo, infinitamente mais presente em nossas vidas (inclusive no Brasil) e cujas mortes são contadas numa montanha de cadáveres no mínimo 5 vezes maior.
Mais respeito com as vítimas do comunismo e do Muro de Berlim, para que a esquerda não use novamente de linguagem eufemística para suas tentações de concentração de poder “corretivo e distributivista” no Estado e novamente justifique medidas assassinas como essa com base no toi aussi - “se eles podem fechar uma rua por um mês, nós podemos construir um muro para impedir que as pessoas fujam de nosso paraíso igualitário”.

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