Autor: Comunicação Millenium
14/03/2011
“Walter Williams é um
radical. Na juventude, preferia o incendiário Malcolm X ao pacifista Martin
Luther King. Hoje, aos 74 anos, Williams admira os dois líderes negros, repudia
a violência e se define como um libertário radical, como os americanos se
referem aos que se opõem ao excesso de ativismo do estado e propugnam mais
liberdade individual. Fiel ao seu ideário, é contra ações afirmativas e cotas
raciais, e diz que o melhor instrumento para vencer a desigualdade racial é o
livre mercado: “A economia de mercado é o grande inimigo da discriminação”.
Criado pela mãe na periferia de Filadélfia, Williams acaba de publicar uma
autobiografia em que narra sua trajetória da pobreza à vida de professor
universitário (desde 1980, leciona economia na Universidade George Manson, na
Virgínia). Com 1,98 metro de altura, voz de barítono, bom humor, ele demonstra
muita coragem nesta entrevista.
- Quem lê sua
autobiografia fica com a impressão de que ser negro nos Estados Unidos das
décadas de 40 e 50 era melhor do que ser negro hoje?
Walter Williams – Claro
que os negros estão muito melhor agora, mas não em todos os aspectos. Hoje, se
os negros americanos fossem uma nação à parte, seriam a 15ª mais rica do mundo.
Entre os negros americanos, há gente riquíssima, como a apresentadora Oprah
Winfrey.
Há famosíssimos como o ator Bill Cosby, que, como eu, vem de
Filadélfia. Colin Powell, um negro, comandou o Exército mais poderoso do mundo.
O presidente dos Estados Unidos é negro. Tudo isso era inimaginável em 1865,
quando a escravidão foi abolida. Em um século e meio, fizemos um progresso
imenso, ao contrário do que aconteceu no Brasil ou no Caribe, onde também houve
escravidão negra. Isso diz muito sobre os negros americanos e sobre os Estados
Unidos.
- Em que aspectos a
vida dos negros hoje é pior?
Williams – Cresci
na periferia pobre de Filadélfia entre os anos 40 e 50. Morávamos num conjunto
habitacional popular sem grades nas janelas e dormíamos sossegados sem barulho
de tiros nas ruas. Sempre tive emprego, desde os 10 anos de idade. Engraxei
sapatos, carreguei tacos no clube de golfe, trabalhei em restaurantes,
entreguei correspondência nos feriados de Natal. As crianças negras de hoje que
vivem na periferia de Filadélfia não têm essas oportunidades de emprego.
No meu
próximo livro, Raça e Economia, que sai no fim deste mês, mostro que em 1948 o
desemprego entre adolescentes negros era de 9,4%. Entre os brancos, 10,4%. Os
negros eram mais ativos no mercado de trabalho. Hoje, nos bairros pobres de
negros, por causa da criminalidade, boa parte das lojas e dos mercados fechou
as portas.
Outra mudança dramática é a queda na qualidade da educação oferecida
às crianças negras e pobres. Atualmente, nas escolas públicas de Washington, um
negro com diploma do ensino médio tem o mesmo nível de proficiência em leitura e
matemática que um branco na 7ª série. Os negros, em geral, estão muito melhor
agora do que há meio século. Mas os negros mais pobres estão pior.
- O estado de bem-estar
social, com toda a variedade de benefícios sociais criados nas últimas décadas,
não ajuda a aliviar a situação de pobreza dos negros de hoje?
Williams – Todos
os economistas, sejam eles libertários, conservadores ou liberais, concordam
que sempre cai a oferta do que é taxado e aumenta a oferta do que é subsidiado.
Há anos, os Estados Unidos subsidiam a desintegração familiar. Quando uma
adolescente pobre fica grávida, ela ganha direito a se inscrever em programas
habitacionais para morar de graça, recebe vale-alimentação, vale-transporte e
uma série de outros benefícios. Antes, uma menina grávida era uma vergonha para
a família. Muitas eram mandadas para o Sul, para viver com parentes.
Hoje, o
estado de bem-estar social premia esse comportamento. O resultado é que nos
anos da minha adolescência entre 13% e 15% das crianças negras eram filhas de
mãe solteira. Agora, são 70%. O salário mínimo, que as pessoas consideram uma
conquista para os mais desprotegidos, é uma tragédia para os pobres. Deve-se ao
salário mínimo o fim de empregos úteis para os pobres. A obrigação de pagar um
salário mínimo ao frentista no posto de gasolina levou à automação e ao
self-service.
O lanterninha do cinema deixou de existir não porque adoramos
tropeçar no escuro do cinema. É por causa do salário mínimo. Na África do Sul
do apartheid, os grandes defensores do salário mínimo eram os sindicatos
racistas de brancos, que não aceitavam filiação de negros. Eles não escondiam
que o salário mínimo era o melhor instrumento para evitar a contratação de
negros, que, sendo menos qualificados, estavam dispostos a trabalhar por menos.
O salário mínimo criava uma reserva de mercado para brancos.
- As ações afirmativas
e as cotas raciais não ajudaram a promover os negros americanos?
Williams – A
primeira vez que se usou a expressão “ação afirmativa” foi durante o governo de
Richard Nixon (1969-1974). Os negros naquele tempo já tinham feito avanços
tremendos. Um colega tem um estudo que mostra que o ritmo do progresso dos
negros entre as décadas de 40 e 60 foi maior do que entre as décadas de 60 e
80. Não se pode atribuir o sucesso dos negros às ações afirmativas.
- As ações afirmativas
não funcionam?
Williams – Os
negros não precisam delas. Dou um exemplo. Houve um tempo em que não existiam
jogadores de basquete negros nos Estados Unidos. Hoje, sem cota racial nem ação
afirmativa, 80% são negros. Por quê? Porque são excelentes jogadores.
Se os
negros tiverem a mesma habilidade em matemática ou ciência da computação,
haverá uma invasão deles nessas áreas. Para isso, basta escola, boas escolas,
grandes escolas. Há um aspecto em que as ações afirmativas são até
prejudiciais. Thomas Sowell, colega economista, tem um estudo excelente sobre o
assunto. Mostra como os negros se prejudicam com a política de cotas raciais
criada pela disputada escola de engenharia do Instituto de Tecnologia de Massa-chusetts
(MIT), uma das mais prestigiosas instituições acadêmicas dos Estados Unidos.
Os
negros recrutados pelo MIT estão entre os 5% melhores do país em matemática,
mas mesmo assim precisam fazer cursos extras por alguns anos. Isso acontece
porque os brancos do MIT estão no topo em matemática, o 1% dos melhores do
país. Os negros, mesmo sendo muito bons, estão abaixo do nível de excelência do
MIT. Mas eles podiam muito bem estudar em outras instituições respeitáveis,
onde estariam na lista dos candidatos a reitor e sem necessidade de cursos
especiais.
Por causa de ações afirmativas, muitos negros estão hoje em posição
acima de seu potencial acadêmico. Se você está aprendendo a lutar boxe e sua
primeira luta é contra o Mike Tyson, você está liquidado. Você pode ter
excelente potencial para ser boxeador, mas não dá para começar contra Tyson. As
ações afirmativas, nesse sentido, são cruéis. Reforçam os piores estereótipos
raciais e mentais.
- O senhor já teve
alguma experiência pessoal nesse sentido?
Williams – Quando
eu dava aula na Universidade Temple, em Filadélfia, tive uma turma com uns
trinta alunos, todos brancos, à exceção de um. Nas primeiras aulas, eles me
fizeram uma bateria de perguntas complexas. Você pode achar que era paranoia
minha, mas eu sei que o objetivo deles era testar minhas credenciais.
A cada
resposta certa que eu dava, eu podia ver o alívio no rosto do único aluno negro
da classe. De onde vinha esse sentimento, esse temor do aluno negro de que seu
professor, sendo negro, talvez não fosse suficientemente bom? Das ações
afirmativas. Não entrei na universidade via cotas raciais. Por causa delas, a
competência de muitos negros é vista com desconfiança.
- Num país como o
Brasil, onde os negros não avançaram tanto quanto nos Estados Unidos, as ações
afirmativas não fazem sentido?
Williams – A
melhor coisa que os brasileiros poderiam fazer é garantir educação de
qualidade. Cotas raciais no Brasil, um país mais miscigenado que os Estados
Unidos, são um despropósito. Além disso, forçam uma identificação racial que
não faz parte da cultura brasileira. Forçar classificações raciais é um mau
caminho.
A Fundação Ford é a grande promotora de ações afirmativas por partir
da premissa errada de que a realidade desfavorável aos negros é fruto da
discriminação. Ninguém desconhece que houve discriminação pesada no passado e
há ainda, embora tremendamente atenuada. Mas nem tudo é fruto de discriminação.
O fato de que apenas 30% das crianças negras moram em casas com um pai e uma
mãe é um problema, mas não resulta da discriminação. A diferença de desempenho
acadêmico entre negros e brancos é dramática, mas não vem da discriminação. O
baixo número de físicos, químicos ou estatísticos negros nos Estados Unidos não
resulta da discriminação, mas da má formação acadêmica, que, por sua vez,
também não é produto da discriminação racial.
- Qual o meio mais
eficaz para promover a igualdade racial?
Williams – Primeiro,
não existe igualdade racial absoluta, nem ela é desejável. Há diferenças entre
negros e brancos, homens e mulheres, e isso não é um problema. O desejável é
que todos sejamos iguais perante a lei. Somos iguais perante a lei, mas
diferentes na vida. Nos Estados Unidos, os judeus são 3% da população, mas
ganham 35% dos prêmios Nobel. Talvez sejam mais inteligentes, talvez sua
cultura premie mais a educação, não interessa. A melhor forma de permitir que
cada um de nós — negro ou branco, homem ou mulher, brasileiro ou japonês —
atinja seu potencial é o livre mercado. O livre mercado é o grande inimigo da
discriminação. Mas, para ter um livre mercado que mereça esse nome, é
recomendável eliminar toda lei que discrimina ou proíbe discriminar.
- O senhor é contra
leis que proíbem a discriminação?
Williams – Sou um
defensor radical da liberdade individual. A discriminação é indesejável nas
instituições financiadas pelo dinheiro do contribuinte. A Universidade George
Manson tem dinheiro público. Portanto, não pode discriminar. Uma biblioteca
pública, que recebe dinheiro dos impostos pagos pelos cidadãos, não pode discriminar.
Mas o resto pode. Um clube campestre, uma escola privada, seja o que for, tem o
direito de discriminar. Acredito na liberdade de associação radical. As pessoas
devem ser livres para se associar como quiserem.
- Inclusive para
reorganizar a Ku Klux Klan?
Williams – Sim,
desde que não saiam matando e linchando pessoas, tudo bem. O verdadeiro teste
sobre o nosso grau de adesão à ideia da liberdade de associação não se dá
quando aceitamos que as pessoas se associem em torno de ideias com as quais
concordamos. O teste real se dá quando aceitamos que se associem em torno de
ideais que julgamos repugnantes. O mesmo vale para a liberdade de expressão. É
fácil defendê-la quando as pessoas estão dizendo coisas que julgamos positivas
e sensatas, mas nosso compromisso com a liberdade de expressão só é realmente
posto à prova quando diante de pessoas que dizem coisas que consideramos
absolutamente repulsivas.
- O senhor exige ser
chamado de “afro-americano”?
Williams – Essa
expressão é uma idiotice, a começar pelo fato de que nem todos os africanos são
negros. Um egípcio nascido nos Estados Unidos é um “afro-americano”? A África é
um continente, povoado por pessoas diferentes entre si. Os vários povos
africanos estão tentando se matar uns aos outros há séculos. Nisso a África é
idêntica à Europa, que também é um continente, também é povoada por povos
distintos que também vêm tentand se matar uns aos outros há séculos.
- A presença de Obama
na Casa Branca não ajuda os negros americanos?
Williams – Na
autoestima, talvez. Mas não por muito tempo, o que é lamentável. Em 1947,
quando Jackie Robinson se tornou o primeiro negro a jogar beisebol na liga
profissional, ele tinha a obrigação de ser excepcional. Hoje, nenhum negro
precisa ser tão bom quanto Robinson e não há perigo de que alguém diga “ah,
esses negros não sabem jogar beisebol”. No caso de Obama, vale a mesma coisa.
Por ser o primeiro negro, ele não pode ser um fracasso. O problema é que será.
Aposto que seu governo, na melhor das hipóteses, será um desastre igual ao de
Jimmy Carter. Vai ser ruim para os negros.
Fonte: revista “Veja”,
09/03/2011
. Ocupações Urbanas de Belo Horizonte ocupam supermercado por um #NatalSemFome!! .
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Osvaldo Aires Bade
Comentários Bem Roubados na "Socialização" - Estou entre os 80
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Sou Brasileiro, filho de Alemão e uma Mineira, descendentes de Poloneses e índios, mas nasci branco, minha filha nasceu branca, azar da pobre da minha filha, que não é índia e nem negra, o que Ela fez para pagar por isso??? Nasceu branca?????
É fácil chamar um branco de preconceituoso, mas meu pai nasceu numa fazenda de serviços forçados na Alemanha, meus avós eram Poloneses prisioneiros, vítimas do Holocausto.
Vieram para o Brasil após a guerra com quatro filhos, um deles, a única filha, morreu no navio fugindo da sua terra natal, trabalharam duro e venceram aqui no Brasil, chegaram sem falar a língua, discriminados por serem “branquelos azedos”, e nem por isso estão reinvidicando “cotas”, “favorecimentos governamentais e sociais”, simplesmente batalharam livremente e venceram na vida. Agora vem essas “cotas”, que nada são além de novos “currais políticos”, de gente que quer voto para defender uma classe ou uma suposta etnia (que verdadeiramente não existe e não é possível no Brasil).
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