O Jardim da Morte - Hugo Simberg
"Dia dos Mortos" é o título de um documentário espanhol que passou no Canal de História - um exemplo de documentário de boa qualidade não anglo-saxônico que por lá vai aparecendo.
Este trabalho documental apresenta alguns eventos históricos e heranças culturais em torno da Morte e da criação e um dia (e noite) a ela dedicada. Na "Noite dos Mortos" envereda-se, através de uma retrospectiva histórica dos costumes, por tentar transmitir qual o significado e impacto que a Morte teve, e ainda tem, no imaginário individual e colectivo, no modo como esse medo/fascínio foi moldado e moldando as sociedades ao longo dos séculos até às tradições de hoje.
As celebrações em torno da Morte variaram e alteraram-se conforme a cultura ou a religião dominante num determinado período histórico/sociológico. O documentário trata o tema tendo principalmente as terras da Espanha (da atualidade) como pano de fundo, mas acaba também por permitir tecer alguns paralelismos com a nossa realidade [portuguesa] e até com todos os restantes países Ocidentais.
Vamos à Historia e as histórias propriamente ditas sobre a Morte. O documentário começa por referi a herança celta. O dia 1 de Novembro era o dia de ano novo celta - Samhain - o , onde terminava o ano da luz (Primavera e Verão) e começava o ano das trevas (Outono e Inverno). Nesse dia consultavam os antepassados, através de médiuns para pedir conselhos. Ao que parece, pelo menos em Espanha (havendo há provas escritas da idade média), faziam-se nessa noite cabeças de nabo com velas no interior para assustar os desprevenidos da noite e as crianças iam em grupo pedir comida às casas dos vizinhos. Dai a relação com o actual Halloween. Quem nunca viu estes costumes, ainda que seja com abóboras, num filme made in USA?
Mais tarde, com o advento do cristianismo, depois das perseguições do século IV, por parte do imperador Diocleciano, e por terem morrido tantos mártires pela sua fé, criou-se um dia para os honrar a todos - na prática não havia já dias de calendário para tantos santos. Criou-se assim o dia de Todos os Santos, na altura celebrado no dia 13 de Maio. No entanto, no século VIII o dia de todos os santos passa a celebrar-se no dia 1 de Novembro, isto com o claro objectivo de suplantar e acabar com a importante e popular celebração celta Samhain, anteriormente descrita. Esta "usurpação" foi muito semelhante ao que aconteceu no dia 25 de Dezembro (ver mais aqui).
À medida que o documentário vai rolando vão sendo referidas muitas tradições associadas ao culto da morte que ainda se praticam por Espanha nos nossos dias. Uma delas parece-me digna de referir por ser verdadeiramente bizarra. Na localidade galega de As Neves todos os anos se realiza uma procissão em honra de Santa Marta Ribarteme, que acontece em 29 de Junho na localidade galega, onde, desde o século XVIII, pessoas que passaram por experiências dequase-morte desfilam em caixões abertos como pagamento de promessas.
Mas nem tudo é mórbido neste documentário. Aliás, eu diria até que o documentário de mórbido tem pouco, pois está elaborado de tal modo que o tema, apesar de sério e potencialmente pesado, acaba por se tornar leve e agradável, mesmo para os mais susceptíveis. Será algo que espanhóis conseguem mas que aos portugueses fica vedado por estarmos tão habitados afados e a um modo melancólico de ver a vida e a morte?
Vejam-se então alguns exemplos de epitáfios gravados em lápides que se podem encontrar pelos cemitérios de Espanha, comprovando o bom humor (negro) de "nuestros hermanos":
• "que conste que eu não queria";
• "estou aqui contra vontade";
• "estou morto, volto já";
• "o meu ultimo desejo: vão-se lixar";
• "aqui jazes e fazes bem, descansas tu e eu também";
• "perdoem que não me levante";
• "volto mais tarde";
• "quando nasci todos riam e eu chorava, quando morri todos choravam e eu ri - é o que dá a marijuana";
Créditos do documentário "A Noite dos Mortos":
Produtor - Pedro Lozano,
Produção - Maureen audetto
Acessória histórica - Mercedes rico
Câmara e fotografia - Sergio acero e David Arasa
Guião e realização - Regis Francisco López
Osvaldo Aires Bade Comentários Bem Roubados na
"Socialização" - Estou entre os 80 milhões Me Adicione no Facebook
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