domingo, 7 de setembro de 2014

Quem são os “chefes” por trás do Foro de São Paulo?

O discurso começa quase sempre do mesmo jeito: “o Foro de São Paulo sempre decide tudo”, “tudo que ocorrer é por determinação do Foro”, “até nossas decisões são decisões do Foro”. O resultado é que o lema nosso acaba se tornando o “tá tudo dominado”.
Sempre lancei críticas em relação a este tipo de discurso, o que não quer dizer que eu ignore a ameaça chamada Foro de São Paulo. Minha crítica é bem clara: o nível de “controle” imputado à organização por parte da direita formadora de opinião é exagerado, injustificado e principalmente contraproducente.
Para início de conversa, quero falar sobre Olavo de Carvalho, que reputo como o maior intelectual vivo do Brasil. Se não fosse seu material, eu não teria tomado a decisão de fazer um blog. Simples assim. Quando eu percebi a quantidade de embustes, o nível de tramóia, a dimensão da desonestidade e demais fatores associados à esquerda, recebi um sinal de alerta: como formador de opinião, era o momento de fazer algo mais organizado e direcionado. Além de tudo, em linhas gerais, Olavo é uma das influências para meu sistema de pensamento. Tenho quase todos os livros do autor, sendo meus preferidos “A Nova Era e a Revolução Cultural” e “O Jardim das Aflições”.
Todavia, conforme Nietzsche nos diz, respeito não significa veneração. Não há um autor com o qual eu concorde em absoluto. Por exemplo, Schopenhauer já escreveu muita bobagem, mas sua linha de pensamento realista sobre a natureza humana é simplesmente fantástica. Ele também é uma influência para mim. John Gray possui em “Cachorros de Palha” e “Missa Negra” dois livros fundamentais, mas não acredito em tudo que ele fala. Uma amostra disso é quando ele compara projetos da esquerda e da direita, colocando-os como bolachas de um mesmo pacote. Isso é um equívoco, pois falamos de objetivos e padrões diferentes. Mesmo assim, sua análise sobre a religião política (pela ótica darwinista) é importantíssima e influenciou até o sub-título deste blog.
Espero ter deixado bem claro que o fato de eu fazer uma crítica a pontos importantes de algumas constatações de Olavo de Carvalho quando ao poder de determinação do Foro de São Paulo (é o que farei aqui) não desmerece seu conteúdo intelectual. Todos podem errar. Já apontaram erros meus e fiz retificações. Se alguém quiser criar futricas entre eu e ele o fará por conta de desonestidade intelectual particular. Por parte do futriqueiro, claro. E se surgirem futricas por esse tipo de desonestidade intelectual (que pode ocorrer), não responderei, em hipótese alguma.
Dentre muitos outros aspectos da obra de Olavo (especialmente no campo da política latino-americana), ele passou sua mensagem, fazendo uma denúncia contundente da existência do Foro de São Paulo. Felipe Moura Brasil resumiu bem esta denúncia aqui. Se não fosse esse tipo de levantamento das ações do Foro por parte de Olavo provavelmente estaríamos nas trevas. As táticas gramscianas do Foro já haviam sido muito bem abordadas por Olavo em “A Nova Era e a Revolução Cultural”, de 1995.
Desde suas primeiras obras, e especialmente em seu programa True Outspeak, há algumas características no discurso de Olavo: a contextualização compreensível em linguagem popular, a assertividade e a retórica do exagero. A primeira é com certeza elogiável, pois ele fornece exemplos que qualquer um é capaz de entender. A segunda pode envolver até o uso de palavrões para tratar coisas indignas. É um recurso muito útil. Ele faz muito bem ao dizer que algumas coisas merecem um “chute no cu”, por exemplo. Em relação ao que Lula fez com a educação do Brasil, ele disse que “não há quantidade de pés na bunda que paguem” tamanho desastre causado. É uma máxima de Santo Agostinho, lembrando que não se trata com dignidade aquilo que não tem dignidade. Já na terceira característica, a retórica do exagero, é onde a porca torce o rabo.
Nem sempre a retórica do exagero é problemática. Quando Olavo diz que uma ação de um determinado esquerdista é tão nojenta que “faria os porcos vomitarem”, ele acerta na mosca. Quando isso é usado para ridicularizar um oponente, o resultado tende a ser positivo. Mas e quando exageramos o poder do oponente? Neste caso, há um risco de sempre visualizarmos no adversário uma arquitetura de controle muito maior daquela que ele realmente possui. No caso do Foro de São Paulo, tenho notado este pensamento arquitetural mais como extrapolações do que Olavo de Carvalho diz do que repetições de seus discursos. Portanto, ele pode não ser culpado de todos esses discursos, talvez apenas de sua origem com o uso da retórica do exagero.
Enquanto conjunto de indivíduos e organizações com foco no mesmo uso de técnicas para conquista de poder pela extrema-esquerda na América Latina, é óbvio que o Foro de São Paulo está por trás de várias conquistas de governos. Não significa que eles são donos do destino da América Latina. Apenas que possuem maior poder de reação em relação aos eventos do mundo e, mais preparados para reagir a esses eventos, conseguem muito mais resultados. Infelizmente, com a retórica do exagero pode-se chegar à conclusão de que o Foro decide muito mais coisas do que realmente decide. Não demora para que muitos da direita passem a percebê-los como uma organização invencível, capaz de determinar a maior parte dos eventos, com alto nível de precisão. E, caso esta precisão não se verifique em determinados momentos, eles seriam capazes de recompor sua arquitetura de poder em condições adversas. Ou seja, eles vencem sempre que quiser. Se é assim, não faz diferença alguma votar em Marina ou Dilma.
Mas será que isso é realmente verdade? Será que os fatos comprovam isso? Se eles possuem tanto nível de controle, por que não controlaram os eventos a ponto de não terem que se preocupar com um “plano B” tão trabalhoso quanto Marina Silva, que os tem feito apelar à uma baixaria tão grande que pode até os prejudicar com sua base apoio? Para que isso tudo funcione, é preciso controlar empresários, dirigentes de ONG’s (o que o PT já faz, mas o controle viria do Foro), todos os principais políticos não apenas da base aliada como dos adversários próximos, e daí por diante. Mas há um detalhe: a criação de cartéis de partidos resultaria em riscos desnecessários. Para termos uma ideia, veja o problema que está agora nas mãos do PT com a delação de Paulo Roberto Costa. Imagine se eles incluíssem adversários nesse esquema a ponto de simularem uma falsa eleição. Enfim, para as conspirações serem válidas é preciso controlar cada vez mais fatores.
Me impressiona a facilidade com que se diz que “o Foro organizou tudo”. Mas se organizou tudo, por que caiu o avião de Eduardo, que seria o “aliado” da organização? Alguns dizem: “mas foi tudo combinado para Marina ser o plano B”. Mas por que não manter o plano A, muito mais fácil, em um período em que eles caminhavam para vencer o PSDB com um braço amarrado às costas? Daí surgiu Marina no cenário, criando “a combinação do PT com o PSB”. Mesmo com muita gente dizendo que o Rede está apenas usando o PSB. Mas talvez já estivesse tudo combinado. Mas e a delação do Paulo Roberto Costa? Talvez estivesse tudo combinado, pois isso daria mais “veracidade” à história. E assim sucessivamente são criados “branches” da teoria sempre em prol de validar a conspiração maior. Ou a mãe de todas as conspirações.
Está criada a noção de um Foro de São Paulo ultra-cerebral, ultra-arquiteto e ultra-determinador, capaz de convencer uma boa parte da direita a desistir de lutar contra ele. Já não discutimos aqui política, mas a mistura de espanto e horror diante de tamanho nível de poder e controle de um oponente. Claro que restam dúvidas: se eles possuem tanto controle, por que não controlaram os eventos a ponto de terem tanto trabalho com Marina? Mas se algumas coisas ficam sem explicação, basta criar uma nova arquitetura “ligando os pontos” e dizer que o questionador é ingênuo por não perceber a grande maestria do Foro em combinar e controlar tudo o que quiser.
Mas de onde vem esse costume de usar o discurso dizendo que “tá tudo dominado” (pelo oponente, claro) sem termos a certeza de todo esse potencial de dominação? Preciso recobrar um texto onde falei sobre a padronicidade e a agencialidade, com foco nesta última:
Shermer explica de forma muito simples o que são os dois conceitos: padronicidade e agencialidade.
Primeiramente, a padronicidade.
Basta imaginar-se como um sujeito, hominídeo, vivendo a três milhões de anos atrás em uma savana africana. De repente, você houve um ruído no matagal. O ruído é um evento do mundo recebido por você. Este ruído pode estar relacionado ao vento ou a um predador. Se você associar o ruído ao vento, e realmente for o vento, então não haverá danos. Mas se você associou o ruído ao vento, e na verdade era um predador, você virou almoço.
Agora, questione a si próprio, de acordo com o paradigma darwinista: o que é melhor para você, em termos de sobrevivência. Você achar que o ruído se relaciona ao vento (e em caso de erro, morrer), ou achar que o ruído se relaciona a um leão (e em caso de erro, sobreviver)? Pois bem, o primeiro caso se relaciona do Erro Tipo I, ou falso positivo (achar que algo é real, quando não é), e o segundo se relaciona ao Erro Tipo II, ou falso negativo (achar que algo não é real, quando na verdade é).
Enfim, nós evoluímos não como uma máquina de detecção de “verdades”, mas como uma máquina que busca a sobrevivência.
Shermer, define uma fórmula de paternicidade, composta por: P = CTI < CTII. A padronicidade (P) vai ocorrer todas as vezes que o custo (C) de cometer um Erro Tipo I (TI) é menor que o custo (C) de cometer um Erro Tipo II (TII). A posição padrão da máquina humana é assumir que todos os padrões são reais. Esta teoria, aliás, não é feita apenas para explicar por que as pessoas acreditam no sobrenatural, mas sim por que as pessoas acreditam em coisas.
Agora, vamos à agencialidade.
Novamente, Shermer retorna ao cenário da savana africana. Agora, o hominídeo tem que interpretar o som, que pode representar um predador perigoso ou o vento. O vento é uma força inanimada, enquanto o predador é um agente intencional. Existe uma enorme diferença entre os dois. Um agente intencional representa um perigo muito maior, pois este agente tem uma intenção determinada. É totalmente diferente de uma força inanimada. Imagine que você está no sopé de uma montanha, e vê uma rocha caindo em sua direção. Agora, imagine que esta rocha possui uma intenção clara, de lhe matar. Neste caso, você precisa de muito mais agilidade e perspicácia para escapar da morte.
Este processo, a tendência de aceitar padrões com significado e intenção é aquilo que Shermer define como agencialidade. Assim, em relação aos eventos do mundo, a padronicidade e agencialidade são poderosos mecanismos explicativos para as nossas crenças, mesmo aquelas que estão erradas. E mesmo que estejamos errados, padronicidade e agencialidade explicam por que em termos evolutivos alguns erros são aceitáveis e aumentam nossas chances de sobrevivência.
É evidente que essa mania de dizer que “está tudo definido” (pelo oponente) é uma manifestação do fenômeno da agencialidade. Para piorar, a agencialidade pode levar a criação de crenças que se internalizam dentro de nós que, devido ao investimento emocional, dificilmente serão abandonadas.
Já usei o exemplo de Jorge Kajuru, que garantiu que a Copa estava “comprada”. Ele sabia de tudo. Será que ele assistiu alguma reunião? Não. Mas que sabia, sabia. Mas estava errado. Mas quantas pessoas já não disseram que todas as copas do mundo estavam previamente compradas. Muitos se esquecem que o número de pessoas para se subornar é tão grande que novos fatores seriam inseridos a ponto de aumentar todo o risco da operação. Não seria melhor o conspirador investir seu dinheiro em outro lugar? Mas isso são detalhes. O agencialismo, quando se torna implacável, consegue determinar tudo que ocorreu em reuniões a portas fechadas, mesmo sem ter participado delas.
Ao invés de criar tais arquiteturas (que demandam sempre muita criatividade para argumentar por que os arquitetos agem assim), pode-se optar por alternativas mais parcimoniosas, como a Janela de Overton, que serve para todos os contextos e questões, inclusive a seleção por partidos políticos, de forma muito mais abrangente que a tal “estratégia das tesouras”, para a qual as fontes rareiam. Pela Janeta de Overton, é claro que podemos “puxar” a opinião pública em direção a uma ideia, um conjunto de ideias ou mesmo um partido ou vários deles. Neste caso, podemos levar as pessoas a “aceitar mais” a votação em partidos de diferentes matizes de esquerda. Assim como poderíamos fazê-lo para diferentes matizes de direita. Mas coordenar com esses partidos os resultados que eles obterão é algo muito mais complicado. Mais um motivo para eu optar por uma explicação mais parcimoniosa como o melhor uso da Janela de Overton pelos esquerdistas (do Foro de São Paulo), ao invés de dizer que “tudo foi planejado e controlado para atender aos desejos do Foro”.
Para piorar, todo esse “nível de controle” do Foro está longe de ser comprovado. E ainda resulta em um problema que essa parte da direita não foi capaz de perceber: a esquerda jamais tratou seus oponentes como donos de um poder imbatível, mas sempre como grupos que podem ser derrubados por vias práticas. Enquanto historicamente a esquerda criou sobre seus oponentes a visão de que estes poderiam ser derrotados, uma parte da direita criou uma visão diametralmente oposta, dizendo que os oponentes não podem ser derrotados. Muitos do lado de cá discursam orgulhosos, enquanto não tem a menor noção de que desanimam a própria tropa a lutar. E tudo com base em teorias carecendo de evidências.
Se o inimigo é tão poderoso a este ponto (a ponto de criar vários partidos e controlar todos), a reação típica do animal humano é dizer: “não vamos lutar mais”. Um amigo me disse que a direita precisa conquistar empresários denunciando o Foro de São Paulo. Mas se for usar esse discurso dizendo que o Foro define tudo e a todos, nenhum empresário que se preze vai investir qualquer coisa nisso. Ele perguntará: “qual o nível de poder do oponente?”. Diante da resposta “absoluto e inexorável”, ele desistirá. Ninguém será convencido a lutar contra um adversário indestrutível.
Eu sugeri um teste a esse pessoal. Nesse teste, alguém deveria selecionar um líder de equipe em qualquer organização. Este líder deveria fazer um experimento, no qual diria o seguinte para sua equipe, de forma incessante: “Os gerentes já estão todos mancomunados. Nossa área não tem futuro e não há nada a se fazer em curto ou médio prazo. Todas as avaliações serão negativas e não há nada a ser feito contra isso. O poder deles juntos é tanto que não há chances disso ser revertido, no máximo em um futuro muito longínquo”. Se você for hábil e incisivo na divulgação deste conteúdo, conseguirá que metade do time peça demissão e procure outro emprego. Você perderá os melhores do time, que possuem mais chance de conseguir recolocação. Imagine o que faz um discurso desses em âmbito político?
Dia desses fiz a pergunta a um deles: “Quem é o chefe do Foro de São Paulo?”. Ninguém conseguiu me apresentar esse chefe. Perguntei sobre as próximas ações do Foro daqui 3, 6, 9 e 12 meses, o que é o mínimo para quem conhece um projeto. Ninguém conseguiu me dizer. Ou seja, pela perspectiva agencialista muitos sabem dizer exatamente o que se falou nas reuniões fechadas do Foro, mas não conseguem dizer os próximos passos detalhados relacionados a este plano. Isso não é nem um pouco contraditório?
Decerto o Foro de São Paulo é fundamental para o sucesso da esquerda, mas apenas por que eles fizeram algo que a direita não fez (e deveria ter feito): se organizar, de acordo com as melhores estratégias e táticas possíveis, consolidando conhecimento entre aliados, sempre com um foco. Não significa que tenham o controle de tudo que acontece. Também não significa que se Marina se eleger, no dia seguinte, os chefões do Foro dirão: “Como sempre, tudo conforme o plano”. Não há evidência para isso.
Devíamos tratar o Foro de São Paulo tanto como uma ameaça como um “template” do que deveríamos fazer. Ou seja, deveríamos nos organizar, consolidar conhecimentos, compartilhar estratégias e táticas e fecharmos alianças. Se hoje não há espaço para isso na direita, poderia ocorrer entre democratas de todo tipo, ou seja, adeptos de direita, centro e de uma esquerda não-totalitária, como os socialistas fabianos. Mas para nos organizarmos precisamos de motivação para isso. E não é exagerando o poder do oponente que conseguiremos essa motivação.
Eu não sei ainda quem são os “chefes maiores” do Foro de São Paulo. Mas sei que o Foro de São Paulo existe por méritos da esquerda em se organizar, pensar estrategicamente e de forma pragmática. Parte deste mérito é compartilhado com uma direita desmotivada e desorganizada, que dificilmente pensa de forma estratégica. Como agravante, muitos que atribuem poder excessivo ao Foro podem até conhecer algo sobre estratégia política, mas desanimaram tanto a tropa que em muitos casos nem há mais o que liderar. Isso pode ser revertido, claro, mas o dano é grave e precisamos tomar alguma ação quanto a isso.
Para começar, podíamos lembrar do que Saul Alinsky disse: “poder não é o que você tem, mas o que o inimigo pensa que você tem”. Será que não caímos no jogo dos esquerdistas, acreditando que eles possuem um poder maior do que realmente possuem? Enfim, fica aqui minha reflexão quanto a isso. Pergunte-se sobre quem está levando vantagem com a crença de um Foro ultra-controlador e ultra-poderoso. Somos nós, da direita, ou eles, da esquerda?

  
Esses camaradas são os maiores propagadores do comunismo no mundo (aqui)


Osvaldo Aires Bade Comentários Bem Roubados na "Socialização" - Estou entre os 80 milhões  Me Adicione no Facebook 

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