Jovens não sabem lidar com assédio moral no trabalho
quinta-feira, 17 de maio de 2012
Rachel Sciré
Abraço e Sucesso a Todos
Olimpia Pinheiro
Responsável Comercial E-Commerce PDG
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quinta-feira, 17 de maio de 2012
Rachel Sciré
Abuso de poder, ameaças, falta de respeito. Quem já passou por situações assim na empresa sabe o quanto é difícil encará-las. Imagine então se isso acontece logo no início da carreira? Em uma pesquisa realizada na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, entre 2009 e 2010, a psicóloga Samantha Lemos Turte avaliou situações de assédio moral vividas por jovens trabalhadores e chegou à conclusão de que eles não só estão expostos a situações de violência psicológica no trabalho, como não sabem lidar com elas. “Esses acontecimentos costumam ser naturalizados e banalizados no ambiente de trabalho, como se fossem parte da realidade profissional”, explica.
A violência psicológica no trabalho abrange manifestações como assédio moral, intimidações, ameaças, assédio sexual. Os abusos podem incluir a prática de injustiças, comportamentos hostis, preconceituosos ou obscenos. No caso dos 40 jovens com idade entre 15 e 20 anos que participaram da pesquisa, foram relatadas atitudes constrangedoras, humilhações, abuso de poder e exploração.
Na entrevista a seguir, a autora fala mais sobre o tema e comenta o estudo, disponível na íntegra no banco de teses da USP. Confira!
Como identificar o assédio moral no trabalho?
A violência psicológica e o assédio moral no trabalho costumam ser caracterizados por atos injustos ou ilícitos, com uso intencional de poder (incluindo ameaça de força física) contra outra pessoa ou grupo. Por exemplo, situações de agressão verbal com o intuito de humilhar ou comportamento ofensivo que desqualifica ou desmoraliza o trabalhador, além de assédio sexual. Estes abusos no local de trabalho envolvem, portanto, comportamentos hostis, tanto verbais quanto não-verbais.
Quais os comportamentos mais difíceis de identificar?
Os não-físicos,ou seja, psicológicos e emocionais, que, de acordo com os autores que são referência no estudo da violência psicológica, são mais frequentes, mais socialmente aceitáveis e geralmente sutis, mais difíceis de documentar, tendo um impacto cumulativo.
Quais as principais situações de violência entre os jovens profissionais?
Foram relatadas inúmeras situações de humilhação, abusos de poder, constrangimentos e, inclusive, assédio sexual pelos jovens participantes do estudo. Elas foram vividas ou presenciadas e partiam tanto de colegas de trabalho quanto de superiores hierárquicos.
Os trabalhadores jovens sabiam reconhecer a violência psicológica no cotidiano das empresas?
Dificilmente eles consideravam as situações abusivas vivenciadas e presenciadas como violência psicológica ou assédio moral porque eram termos novos ou desconhecidos para eles, mas quando perguntados diretamente sobre a ocorrência de alguma situação em que se sentiram humilhados, desrespeitados, constrangidos, surgiam os relatos.
Esses abusos estão relacionados a pouca experiência dos adolescentes com as práticas do universo corporativo? Eles são cometidos, da mesma maneira, com profissionais mais velhos?
Não acredito que estas situações ocorram apenas com trabalhadores que estão iniciando a vida profissional. A violência psicológica dissemina-se por todos os tipos de relações profissionais, por ser ainda um fenômeno tão pouco conhecido. Muitas vezes, com profissionais mais velhos, ela assume formas de expressão sistemáticas e intencionais, caracterizando o assédio moral. Tanto a violência psicológica quanto o assédio moral são extremamente nocivos à saúde dos trabalhadores.
Por que acontecem com tanta frequência?
Devido à naturalização e banalização das situações, que passam a ser encaradas como parte integrante da vida profissional. Ao questionar as ocorrências abusivas, muitas vezes os jovens ouviam respostas como “trabalhar é assim mesmo” ou “tem que aguentar, porque todo mundo aguenta”.
E o que eles faziam a respeito, quando se sentiam violentados ou abusados?
Fingir que nada estava acontecendo e não contar para ninguém foi a resposta mais frequente dos jovens. Alguns afirmaram que procurariam resolver a situação conversando ou levando o caso para a chefia. Outros disseram que não saberiam o que fazer, caso tivessem que lidar com um processo de assédio moral. O foco maior dos jovens ficou na postura que a pessoa deveria manter para afastar a possibilidade de assédio, especialmente “não dar liberdade” para que falassem da vida pessoal e respeitar a si mesmo e aos outros.
Quais as consequências para um profissional que passa por essas situações logo no início da carreira?
As primeiras consequências notadas entre os profissionais que passam por tais situações são a desmotivação com o trabalho, efeitos negativos sobre a autoestima e segurança. Com a recorrência de situações de violência psicológica ou a caracterização do assédio moral no trabalho, estudos científicos nacionais e internacionais sobre o tema revelaram que muitos dos trabalhadores que vivenciaram esta forma de violência desenvolveram sintomas de síndrome de estresse pós-traumático, insônia, melancolia, apatia, dificuldade de concentração, fadiga crônica, dores dispersas, sociofobia, depressão, compulsões, sentimentos de impotência, raiva, ansiedade e desespero.
Qual a recomendação para os jovens que precisam lidar com essa situação?
Embora nem sempre só falar o que está acontecendo resolva a situação, essa atitude fortalece o profissional para lidar com a violência psicológica, porque ele passa a sentir que tem apoio, sente-se mais confiante e não sofre tanto. Dessa maneira, ele tem força para ser mais criativo e encontrar saídas alternativas para o problema. Portanto, procurar ajuda de amigos, familiares, colegas de trabalho, chefes, ou profissionais como psicólogos pode ser uma forma de começar a resolver o problema. O que não se pode é ficar sofrendo sozinho!
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