"Nossa juventude estará mal preparada para a sociedade civilizada se insistirmos em uma educação que produz uma competência linguística pouco melhor do que a de meninos-lobo"
No
velho conto de Rudyard Kipling Mogli, o Menino-Lobo, o autor
descreve uma criança que, adotada por uma loba, cresce sem jamais haver usado
uma só palavra humana, até ser encontrada e se integrar à sociedade. O conto é
atraente, mas cientificamente absurdo. Porém, houve outros casos, supostamente
reais, de crianças criadas por animais. E também casos reais (até recentes) de
crianças que cresceram isoladas e sem oportunidades de aprender a falar.
Faz tempo, meninos-lobo e outros jovens
criados sem interação humana despertaram o interesse da psicologia cognitiva e
da linguística. A razão é que seriam um experimento natural que permitiria
responder a uma pergunta crucial: esses jovens, sem conhecer palavras, poderiam
pensar como os demais humanos?
A questão em pauta era decidir se pensamos
porque temos palavras ou se seria possível pensar sem elas. Como os
meninos-lobo não conheciam palavras, se podiam pensar, teria de ser sem elas.
Nos diferentes casos de crianças criadas em isolamento, ficou clara a enorme
dificuldade de ajustamento que elas encontraram ao ser reabsorvidas pela
sociedade. Muitas jamais se ajustaram, fosse pelo trauma do isolamento, fosse
pela impossibilidade de pensar humanamente sem palavras. Mas o fato é que não
desenvolveram um raciocínio (abstrato) classicamente humano.
O interesse pelos meninos-lobo feneceu. Mas
se aprendeu muito desde então, e hoje não se acredita que o pensamento sem
palavras seja possível – pelo menos, o pensamento simbólico que é a marca dos
seres humanos. Ou seja, Mogli não seria capaz de pensar.
"Vivemos em um mundo de
palavras", diz o celebrado antropólogo Richard Leakey. "Nossos
pensamentos, o mundo de nossa imaginação, nossas comunicações e nossa rica
cultura são tecidos nos teares da linguagem... A linguagem é o nosso meio... É
a linguagem que separa os humanos do resto da natureza." Para o
neuropaleontólogo Harry Jerison, precisamos de um cérebro grande (três vezes
maior do que o de outros primatas) para lidar com as exigências da linguagem.
Portanto, se pensamos com palavras e com as
conexões entre elas, a nossa capacidade de usar palavras tem muito a ver com a
nossa capacidade de pensar. Dito de outra forma, pensar bem é o resultado de
saber lidar com palavras e com a sintaxe que conecta uma com a outra. O
psicólogo Howard Gardner, com sua tese sobre as múltiplas inteligências, talvez
diga que Garrincha tinha uma "inteligência futebolística" que não
transitava por palavras. Mas grande parte do nosso mundo moderno requer a
inteligência que se estrutura por intermédio das palavras. Quem não aprendeu
bem a usar palavras não sabe pensar. No limite, quem sabe poucas palavras ou as
usa mal tem um pensamento encolhido.
Talvez veredicto mais brutal sobre o
assunto tenha sido oferecido pelo filósofo Ludwig Wittgenstein: "Os
limites da minha linguagem são também os limites do meu pensamento".
Simplificando um pouco, o bem pensar quase que se confunde com a competência de
bem usar as palavras. Nesse particular não temos dúvidas: a educação tem
muitíssimo a ver com o desenvolvimento da nossa capacidade de usar a linguagem.
Portanto, o bom ensino tem como alvo número 1 a competência linguística.
Pelos testes do Sistema Nacional de
Avaliação da Educação Básica (Saeb), na 4ª série 50% dos brasileiros são
funcionalmente analfabetos. Segundo o Programa Internacional de Avaliação de
Alunos (Pisa), a capacidade linguística do aluno brasileiro corresponde à de um
europeu com quatro anos a menos de escolaridade. Sendo assim, o nosso processo
educativo deve se preocupar centralmente com as falhas na capacidade de
compreensão e expressão verbal dos alunos.
Ao estudar a Inconfidência Mineira, a
teoria da evolução das espécies ou os afluentes do Amazonas, o aprendizado mais
importante se dá no manejo da língua. É ler com fluência e entender o que está
escrito. É expressar-se por escrito com precisão e elegância. É transitar na
relação rigorosa entre palavras e significados.
No conto, Mogli se ajustou à vida
civilizada. Infelizmente para nós, Kipling estava cientificamente errado. Nossa
juventude estará mal preparada para a sociedade civilizada se insistirmos em
uma educação que produz uma competência linguística pouco melhor do que a de
meninos-lobo.
- Brasil se distancia de média mundial em ranking de educação. CURITIBA PROVA QUE QUEM MANOBRA A VIOLÊNCIA É O PETISMO! (aqui)
Esses camaradas são os maiores propagadores do comunismo no mundo (aqui)
Osvaldo Aires Bade Comentários Bem Roubados na "Socialização" - Estou entre os 80 milhões Me Adicione no Facebook
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