ROBERTO POMPEU DE TOLEDO
Brasília chega aos 52 anos, no próximo sábado, 21, malfalada e cansada de guerra. Nem parece, mas já teve uma era da inocência. A poeta americana Elizabeth Bishop a visitou em 1958, dois anos antes da inauguração. Bishop morava no Rio de Janeiro, com sua amada Lota Macedo Soares, e viajou para Brasília numa pequena comitiva organizada pelo Itamaraty, cujo integrante mais ilustre era o escritor inglês Aldous Huxley. O pouco conhecido (e, ao que consta a este colunista, não traduzido) relato de viagem que a poeta escreveu em seguida lembra certos filmes que tentam reconstruir o mundo antes da criação, com os mares reclamando seus espaços, continentes em formação e dinossauros. Bishop flagra Brasília na véspera de si mesma. O equivalente aos dinossauros eram a “confusa e barulhenta cena” dos caminhões e tratores que, noite e dia, se empenhavam em fazer brotar do solo as futuras Praça dos Três Poderes e Esplanada dos Ministérios.
A poeta americana Elizabeth Bishop descreve a incipiente cidade que visitou em 1958: em local "notavelmente pouco atrativo e pouco promissor" (Foto: divulgação)
A Brasília de Bishop é calor, suor e poeira – uma poeira vermelha, que se levanta em nuvens à passagem dos veículos e impregna as roupas e os tapetes do Brasília Palace Hotel, onde ela ficou hospedada. A poeta se surpreende com a secura e a desolação do local. Comparado com qualquer outro espaço habitável deste país “fantasticamente bonito”, escreve, o lugar parece “notavelmente pouco atrativo e pouco promissor”. Não há “nem montanhas, nem colinas, nem rios, nem árvores”, tampouco “o sentimento de grandeza, de segurança, de fertilidade, do pinturesco” ou qualquer outra das qualidades “que se imagina capazes de dar beleza e caráter a uma cidade”. Mundo em criação que era, Brasília não tinha ainda o seu lago. As únicas dádivas que a “Mãe Natureza” proporcionou ao lugar, conclui a poeta, são “o céu e o espaço”.
Havia apenas dois prédios prontos – o Brasília Palace Hotel e o Palácio da Alvorada. As colunas do Palácio da Alvorada deslumbraram os visitantes. Huxley deslocou-se para examiná-las de vários ângulos. Outros membros da comitiva as tocaram e fotografaram à exaustão. Bishop as descreve com imagens de poeta: “Se alguém imagina uma fileira de enormes pipas brancas, postas de cabeça para baixo, e então agarradas por mãos gigantes e apertadas em todos os seus quatro lados, até que sejam elegantemente atenuados, pode ter uma ideia delas razoavelmente acurada”. Já o interior do palácio não lhes agradou. Bishop critica a decoração e a falta de conforto. Alguém lhes conta que o secretário de Estado Foster Dulles, em recente visita, quase caíra da escada sem corrimão que conduz ao andar superior. Huxley já experimentara os perigos da notória ojeriza de Oscar Niemeyer pelos corrimões. Horas antes, escorregara na escada do hotel, e comentará que “é uma vergonha abandonar tão útil invenção” quanto o corrimão, conhecida há milhares de anos.
A comitiva foi conhecer a “Cidade Livre”, a improvisada cidade de madeira onde verdadeiramente transcorria a ação – ali moravam as pessoas que trabalhavam na construção da cidade, e ali se estabeleceram, para servi-las, os mercados, os bares, as farmácias, as lojas. Os homens andavam de jeans, botas altas e chapéus de aba larga. O Brasil, onde, segundo observa Bishop, raras são as construções de madeira, surpreendia-se com o cenário de faroeste, mostrado nas fotos das revistas. Para a poeta, tratava-se da “velha e familiar cidade de fronteira da Metro-Goldwyn-Mayer”. A comitiva foi informada de que, ao ser criada, no ano anterior, a Cidade Livre tinha 400 habitantes; agora tinha 45 000. Possuía até cinema, e personagens improváveis. A comitiva conheceu uma delas – uma condessa polonesa, ninguém menos do que isso, jovem e bonita, refugiada de seu país e dona de um inglês impecável.
"nem montanhas, nem colinas, nem rios, nem árvores" (Foto: Joseph Breitenbach)
A condessa Tarnowska lhes serviu de cicerone e anfitriã na Cidade Livre. Ela era, justamente, a dona do cinema local. Disse que “amava” viver ali. E contou-lhes uma história que ocorrera em seu cinema, pouco tempo antes, quando estava em cartaz o filme E Deus Criou a Mulher, com Brigitte Bardot. A projeção caminhava normalmente, até que, na mais esperada cena, no momento mesmo em que a Bardot desfazia o primeiro botão da roupa, parava. As luzes então se acendiam e o projetista avisava: “Queiram as senhoras e senhoritas, por favor, deixar a sala”. As mulheres saíam e aglomeravam-se lá fora, na rua de terra, sem calçada. A projeção continuava só para os homens. Terminada a cena de nudez, parava de novo, e as senhoras e senhoritas eram avisadas de que estavam liberadas para voltar. Pudor era o que não faltava, na Brasília daquele tempo.
LOBÃO FALA DE CAETANO, CHICO BUARQUE E GILBERTO GIL
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Osvaldo
Aires Bade Comentários Bem Roubados na "Socialização" - Estou entre
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Acabou na mão dos
comunistas que planejaram uma cidade onde o povo não poderia chegar perto do
poder para se manifestar para isso só com financiamento de dinheiro público –
MST e similares. JK já naquela altura tinha sua estreita relação com o partidão
(PC), o projeto de uma cidade assim, comunista, esta em todos os cânones
comunistas ou vocês acham que Oscar Niemeyer foi um acidente. As evidencias
estão aí para provar que a conspiração é de muito tempo e existem muitos livros
comunistas explicando como fazer uma cidade assim.
Para muitos dos que
cresceram combatendo regimes de exceção, falar mal de suas estrelas chega a ser
uma heresia. Chicos Jabutis de Holanda e o Oscar da arquitetura mambembe que o
digam.
Faço uma ressalva; como
conhecedor de arquitetura, o Tartaruga Ninja Oscar
Niemeyer do comunismo ralé é um excelente escultor. Seus troféus, por
exemplo, são um primor de leveza e contundência. Já na área da convivência
arquitetônica mesmo, o camarada centenário é um desastre.
Não sabe colocar
gente em suas obras faraônicas, pesadelos de todos os engenheiros que tem que
calcular seus desvarios sem função.
É uma síntese do
comunismo de qualquer época; gigante sem rosto, feito para impressionar e
oprimir, centralizador, desprovido de vida interna e com um solene desprezo ao
habitante que o ocupa. Obras feitas “de fora pra dentro” – para serem
apreciadas a uma distância segura de suas operacionalidades – as “coisas” do
pretenso Neymar do século passado não passam de desvarios de um financiamento
soviético.
Me engana que eu gosto.
Tente morar num dos prédios deste senhor; aquele onde passa um viaduto dentro,
no Rio, por exemplo. Ou aquela salsicha em São Paulo, sem uma parede reta
sequer para acomodar um armário. Não é sinônimo de arquitetura visionária não.
É sinônimo de burrice mesmo. Vigarice conceitual. Desperdício. Incrível como os
“humanistas” do politburo são desprovidos de alma e substância.
Versado em palácios, o
Dercy Gonçalves das paredes, pela longevidade e pelo exotismo de suas
construções, sempre incensadas como um palavrão na boca da Diva, o tartaruga
Ninja das artes com tijolos fez um belo teatro no Ibirapuera, para lhe ser
honesto.
De resto, sua Brasília é uma lápide de um tempo. De um tempo onde o poder se queria distante de seus representados. Uma praça vermelha de vergonha. Um Kremlin de Chantilly, enfeitando o vazio de propósitos e de ideias de uma época. Um avião que nunca decola. Nada mais oportuno para celebrar o quanto o poder é efêmero e volátil. A pressa passa e o “tartaruga Ninja” fica, cercado de aduladores. Conta outra.
Aliás, não são só dos
prédios que a arte de Niemeyer tange as pessoas: o que você acha daquela praça
no Memorial da América Latina, na Barra Funda? Uma praça sem árvores e sem
bancos? Gosto de praças como aquela da música do Ronnie Von.
Uma vez, o arquiteto
disse que essa crítica era uma estupidez, pois a Praça de São Marcos em Roma
não tem nada disso e é maravilhosa. Claro, sem contar, a multidão de pombos.
Está bem, é onde a multidão se reúne para ver o Papa, afinal, ir à Roma e não
vê-lo…
E foi para encher a Praça
do Memorial de multidões que Niemeyer diz tê-la deixado ‘livre’. Faltou
combinar com elas. Que, pelo visto, também não entendem nada dessa arquitetura
linda aos olhos e quase imprópria para consumo. Quanto ao pudor atestado por
Toledo na situação acontecida no cinema e narrada no último parágrafo, vê-se
que já não faltava também, na Brasília da era da inocência, abundante
hipocrisia.
Faz uns trinta anos, que
vi um documentário na tv mostrando com se faz uma praça, nas ditaduras da
Noruega. Os caras terraplenam o local e deixam um mês o espaço na terra, para
que os próprios usuários criem suas rotas de deslocamento. Com o mapa dessas
rotas devidamente analisado que eles começam o desenho da praça em questão.
Nunca antes. Questão de respeito com a vontade do cidadão.
Explica isso para o
idiota da equipe do prefeito piu-piu que inventou os “caminhos ondulantes” por
pracinhas de nossa cidade, achando que é para o deslocamento de bêbados. Os
caminhos, cheios de recortes e curvas nunca ligam dois pontos em linha reta,
para o desespero do apressado pedestre paulista.
E para o cadeirante?
Ficar levando a cadeira de um lado para outro, como se estivesse bêbado, é
coisa de quem respeita as restrições locomotivas? Conheço o Memorial, pois
trabalhei lá perto. E conheço estudos que demonstraram que aquele monstro de
cimento armado pelo “tartaruga ninja dos concretos” alteraram o microclima da
região em quase dois graus de temperatura.
Ninguém divulga isso,
não é mesmo? Esqueceu-se de contratar o Burle jardineiro para os matinhos e a
coisa ficou aquele deserto de concreto. Lembro que a única vez que lá estive
foi para ver uma maquete da cidade, de Gepp e Maia. Meu filho ia ao carrinho de
bebê. Levei quase dez minutos debaixo de um sol escaldante para chegar à porta
mais próxima, e o guarda, quase comovido com o meu esforço paternal, me avisou
que aquela era a saída; eu ainda tinha que andar mais dez minutos no sol para
achar a entrada daquela porcaria.
Na volta, prostituto da
vida com toda aquela merda de concreto, parei por instantes na frente da única
coisa apreciável daquele monumento à bizarrice dos comunas; aquela mãozona
sangrando numa América Latrina. Levei uma “apitada” de outro guarda, pois tinha
parado na droga da passarela, e minha atitude de observador poderia comprometer
o “bom andamento” dos andarilhos do local.
Achei tudo àquilo tão
idiota que me recuso a ir naquela droga comunista até hoje. Conheço quase o
Brasil todo, menos Brasília, que não é o Brasil nem outra coisa qualquer – e ninguém
pode dizer que conhece (já estive lá duas vezes). Que me desculpem os
brasilienses; nada contra eles.
Tudo contra os idiotas
que incensam esses construtores de Titanics que não duram uma viagem. Ficam lá,
adernados no deserto, como uma pirâmide ou outra grande porcaria que sirva para
mostrar como o homem é um ser idiota, quando não tem o que fazer. Como a
opressão a uma sociedade cria a ilusão de utilidade de certas estupidezes
faraônicas.
Qual a utilidade de
Brasília? Levar os Mamonas pra Praia Grande, quando muito. Insisto; nada contra
a cidade e seus moradores. Tudo contra os políticos que a conceberam, como um
túmulo de seus desvarios. O dia que jogarem um
aviãozinho por lá, nas torres gêmeas tupiniquins, eles entenderão o que
pariram? O que esqueceram no projeto? O que não dimensionaram, de propósito?
Poder sem povo é um
poder fadado ao fracasso. Um modelo anencefálico. Vai morrer mais cedo ou mais
tarde, por falta de oxigênio. Pode durar 103 anos, mas morre.
E o cara acha ainda
hoje que os Jetsons são a mais bela referência de futuro que ele conheceu.
Ninguém explicou para ele que aquilo era uma piada. Um tênis Nike, na cabeça de
uma múmia paralítica.
Esses comunas, além de
dinossauros, são engraçadinhos.
É bom lembrar que o
Niemeyer teve verba e liberdade para construir a cidade dos seus (dele) sonhos,
mas preferiu continuar no Rio.
Já que o assunto ganhou
fôlego por aqui, gostaria de contar um “causo”. Tenho na família um engenheiro,
desses de cálculo pesado de estruturas.
Costuma dizer que ficaria rico com a
petralhada no poder, pois foi chamado inúmeras vezes para consertar estragos
causados por projetos mal feitos, mal acabados e mal planejados, especialidade
dessa gentinha chucra na administração pública.
Não vou mais longe a
sua descrição para não comprometer seu currículo. Mas a verdade é que sua fama
de dar “nós em pingos d’água” nas estruturas o levou a ser chamado para
discutir um dos projetos do grande tartaruga ninja das paredes. Lá chegando,
deparou-se com uma cena que é a síntese da idiotia ululante que permeou a visão
turva de seus aduladores até hoje. Era uma capela. A tal capela era
representada nos traços “enxutos” do comunistão como um trapézio e um “sorriso”
no meio. Nada mais.
E a equipe de
arquitetos tentava decifrar o que aquilo significava, já que custou tão caro aos
cofres públicos. Ninguém sabia. Foram perguntar ao mestre tartaruga, que também
não sabia. Nem ele. Mas era “aquilo” que ele queria ver realizado e pronto. Era
óbvio que dois riscos poderiam até fazer uma obra de arte, um quadro, uma
pichação na parede. Mas aquilo era algo que seria desenvolvido para uma função.
“Comunista desenhando templos não pode dar certo” – alguém na equipe sussurrou
o óbvio.
Muitas horas mais tarde
ficaram acertados que aquele “sorriso” no meio do trapézio seria detalhado como
uma grande calha de concreto, por onde uma cortina d’água ia verter da
elevação. Aos poucos, os dois traços milionários foram literalmente “tomando
forma” e abrigando as mínimas funcionalidades de um templo e sua liturgia.
Pagou muito bem toda
aquela equipe de milagreiros, chamados para transformar um gesto e dois riscos
numa obra completa. Esse é o grande gênio da arquitetura brasileira. Uma farsa
regada a fartas doses de dinheiro público, desprezo ao cidadão comum e vontade
de oprimir a tudo e a todos que habitam suas sandices faraônicas.
Mas é amigo dos reis,
certo? Fazer dos Jetsons uma referência da arquitetura tupiniquim tem lá seus
méritos. É preciso ser muito convincente para viver disso e fazer disso uma
referência profissional. Definitivamente não é para amadores.
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Osvaldo Aires Bade Comentários
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