domingo, 4 de outubro de 2015

Mudando paradigmas na educação





Vivemos o ocaso de um modelo educacional, todavia ainda estamos sem um substituto para a vaga de titular. Sir Ken Robinson desconfia da epidemia de déficit de atenção e aponta mudanças do paradigma da educação tradicional.

Nomeado cavaleiro do reino pela rainha Elizabeth II em 2003, Sir Ken Robinson é especialista em criatividade, inovação e pessoas. Ele já esteve por aqui falando no TED sobre como as escolas matam a criatividade. Assista essa animação que resume uma de suas palestras e que dublamos para que mais pessoas tivessem acesso.


Sir Ken Robinson - Mudando Paradigmas

Todo país do mundo nesse momento, está reformando a educação pública. Há duas razões para isso: A primeira é econômica. As pessoas estão tentando resolver, como nós educamos nossos filhos, para assumirem seus lugares nas economias do século XXI.

Como fazemos isso? Já que nem sequer podemos antecipar como a economia vai estar no final da próxima semana. Como a recente crise demonstrou.

Como fazemos isso?

A segunda é cultural: Todo país do mundo está tentando entender como educamos nossos filhos para que eles tenham uma percepção de identidade cultural para que possamos passar os genes culturais de nossas comunidades. Enquanto fazendo parte do processo da globalização, como equacionamos isso?

O problema é que eles estão tentando chegar ao futuro fazendo aquilo que fizeram no passado. E no processo estão alienando milhares de crianças que não vêem nenhum propósito em ir para a escola.

Quando nós fomos para escola, éramos mantidos lá com a história de que se você estudasse bastante e tirasse boas notas e obtivesse um diploma universitário, você conseguiria um emprego. Nossos filhos não acreditam nisso. E a propósito, eles estão certos em não acreditar.

É melhor ter um diploma do que não ter um, mas isso não é mais uma garantia. Particularmente se o caminho para ele, marginalizar a maior parte das coisas que você pensa que são importantes para você.

Algumas pessoas dizem que temos que elevar or padrões - se isto representa algum avanço. Sabe. Claro que devemos elevá-los. Por que baixaríamos? Você sabe, eu ainda não encontrei nenhum doido que me persuadisse a baixar os padrões. Mas elevá-los, é claro que devemos elevá-los.

O problema é que o sistema educacional atual foi desenhado e pensado e estruturado para uma época diferente. Ele foi concebido na cultura intelectual do Iluminismo. E na circunstância econômica da Revolução Industrial.

Antes da metade do Século XIX não havia sistemas de educação pública. Não realmente. Você era educado por Jesuítas se você tivesse dinheiro.
Mas Educação Pública financiada pelos impostos. Obrigatória para todos e de graça, era uma idéia revolucionária.

E muitas pessoas foram contra isso. Elas disseram que não era possível para muitas crianças de rua e da classe operária, se beneficiarem da Educação Pública.
Elas são incapazes de aprender a ler e escrever, então por que estamos gastando tempo com isso? 

Então foi embutido nisso uma série de suposições a respeito da capacidade de estruturação social. Isto foi impulsionado por uma necessidade econômica da época.
Mas paralelamente a isso estava um Modelo Intelectual da Mente. O que essencialmente era a visão Iluminista da inteligência.

A inteligência real consistia nessa capacidade para certos tipos de deduções lógicas. E num conhecimento dos Clássicos. O que passamos a definir como habilidade acadêmica. E isto está implantado profundamente na cadeia genética da educação pública.

É que há apenas dois tipos de pessoas: Acadêmicos e não acadêmicos. Pessoas inteligentes e pessoas desprovidas de inteligência. E a conseqüência disso é que muitas pessoas brilhantes acham que não o são. Porque elas são julgadas com base nessa visão especifica da mente.

Então nós temos pilares gêmeos, econômico e intelectual. A minha visão é que esse modelo trouxe caos para a vida de muitas pessoas. Tem sido ótimo para alguns.

Há pessoas que se beneficiaram enormemente com isso. Mas a maioria das pessoas não. Elas ao invés sofreram isso.

Isto é a epidemia moderna. E é tão inapropriada como fictícia. Isto é a praga do TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade). 

Este é um mapa da incidência do TDAH nos EUA. Ou prescrições médicas para TDAH. Não me interprete mal. Eu não quero dizer que não há tal coisa como Transtorno do Déficit de Atenção. Eu não estou qualificado para dizer que não existe tal coisa. Eu sei que uma grande parte dos psicólogos e pediatras acreditam que exista tal coisa. Mas ainda é um assunto em discussão.

O que eu sei como fato, é que não é uma epidemia. Essas crianças estão sendo medicadas com a mesma frequência em que retiramos nossas amídalas. E pelos mesmos motivos caprichosos e pela mesma razão.... modismo médico. As nossas crianças estão vivendo no período mais intensamente estimulante da história da terra.


Elas estão sendo cercadas por informação e dividindo sua atenção entre várias plataformas. Computadores, iPhones e publicidade de centenas de canais de TV. E nós as estamos penalizando por se distraírem. De quê? Coisas chatas.... na escola. Na maioria das vezes.

Parece-me não ser totalmente uma coincidência que a incidência de TDAH tenha aumentado paralelamente ao crescimento da padronização dos testes. Estas crianças estão sendo medicadas com Ritalina e Adderall e todo o tipo de coisas. Drogas geralmente bastante perigosas para ajudá-las a se concentrarem e se acalmarem.


Mas de acordo com isto o TDAH aumenta a medida que você cruza o país em direção ao leste. 


As pessoas começam a perder o interesse em Oklahoma. (risos) Elas dificilmente conseguem pensar direito em Arkansas. E quando chegam a Washington já estão completamente perdidas. (risos) E eu creio que há razões diferentes para isso.... (risos)


É uma epidemia fictícia. Se você pensar nisso, as Artes. E eu não quero dizer que seja exclusivamente as Artes. Eu também acho que é o caso da Ciência e da Matemática. Eu menciono as Artes em particular, porque eles são as vítimas dessa mentalidade atualmente. Em especial.


As Artes tratam especialmente da idéia de experiência estética. 
Uma experiência estética é aquela em que os seus sentidos estão operando na sua capacidade máxima. 
Quando você está presente no momento atual.
Quando você está vibrando com o entusiasmo desse sentimento que você está experimentando.
Quando você está plenamente vivo.

E Anestésico é quando você fecha seus sentidos, e se anestesia para o que está acontecendo. E muitas dessas drogas fazem isso. Nós estamos conduzindo nossas crianças na sua educação escolar, anestesiando-as. E eu penso que deveríamos fazer exatamente o contrário. Não devemos colocá-las para dormir, mas sim despertá-las,para aquilo que elas tem dentro de si.

Mas o modelo que temos é esse. Eu acredito que nós temos um sistema educacional moldado nos interesses da industrialização e na sua imagem. Eu vou dar alguns exemplos:

Escolas ainda são organizadas como fábricas.

Com sinais tocando, diferentes instalações, especializada em diferentes matérias. Ainda educamos crianças por grupos. As colocamos no sistema por faixa etária. Por que fazemos isso?
Por que há essa suposição, de que a coisa mais importante que as crianças tem em comum é a idade? É quase como se a coisa mais importante sobre elas fosse a sua data de fabricação.

Eu conheço crianças que são muito melhores do que outras crianças da mesma idade em diferentes matérias. Ou em diferentes horas do dia. Ou melhores em grupos menores do que em grupos maiores, ou as vezes elas querem ficar sozinhas.

Se você está interessado no modelo de aprendizado, você não começa por essa mentalidade de linha de produção. Isto é essencialmente sobre normatização, é cada vez mais a respeito disso, quando você olha o crescimento dos testes padronizados e de currículo escolares padronizados. Eu acredito que devemos ir exatamente em direção oposta.

Há um excelente estudo feito recentemente sobre pensamento divergente. Publicado há dois anos. Pensamento divergente não é a mesma coisa que criatividade.

Eu defino criatividade como o processo de ter idéias originais que tem valor.
Pensamento divergente não é um sinônimo, mas é uma capacidade essencial para a criatividade. É a habilidade de enxergar muitas respostas possíveis para uma pergunta. Muitas formas possíveis de interpretar uma pergunta. Pensar, como Edward de Bono definiu publicamente de "lateralmente". Pensar não apenas de maneira linear ou convergente. Enxergar múltiplas respostas e não apenas uma.

Eu preparei um teste para isso. Num deles chamado de exemplo do bacalhau são feitas perguntas do tipo: Quantas utilidades você pode ver para um clipe de papel?
Uma das perguntas rotineiras. A maioria das pessoas pensa em 10 a 15. Pessoas boas nisso podem achar até 200 utilidades. E elas fazem isso dizendo: Você sabe... Precisa ser um clipse de papel como o conhecemos, Jim? 

O teste é esse: Eles foram dados para 1500 pessoas, num livro chamado "Breakpoint and Beyond". E pelas regras do teste, se você pontuasse acima de um certo nível, você seria considerado um gênio do pensamento divergente. Então a minha pergunta sobre isso é: Qual percentagem das 1500 pessoas testadas obteve pontuação de gênio em pensamento divergente? Eu preciso saber mais uma coisa sobre eles. Estas eram crianças do Jardim de Infância... Então o que você acha?

Qual foi a percentagem de gênios? -80? 80, Ok?, 98%. Agora a questão aqui é que este foi um estudo longitudinal. Então 5 anos mais tarde eles retestaram as mesmas crianças. Com idades de 8-10. O que você acha? -50%? Eles as testaram novamente 5 anos mais tarde. Idades 13-15. Você percebe uma modismo vindo por ai.

Agora isto nos conta uma história interessante. Porque você poderia imaginar que eles estariam indo em outra direção. Não é verdade?
Você começa não sendo muito bom, mas melhora com a idade. 

Mas isso mostra duas coisas: Uma é que todos nós temos essa capacidade. E duas: Ela predominantemente se deteriora. Muitas coisas aconteceram com essas crianças a medida que cresceram. Muitas.

Mas das coisas mais importantes que aconteceu, que estou convencido, é que agora elas foram educadas.

Elas passaram 10 anos na escola ouvindo: Há uma resposta. Está atrás[do livro]. E não olhe. E não copie. Porque isso é colar. Fora da escola isso é chamado de colaboração. Mas não dentro das escolas.

Isto não é porque os professores quiseram que fosse desse jeito. É simplesmente porque acontece dessa maneira.
É porque está na cadeia genética da educação.Nós temos que pensar de forma diferente a respeito da capacidade humana.
Temos que romper com a concepção antiga de acadêmico e não acadêmico, abstrato, teorético, vocacional. E vê-la pelo o que ela é. Um mito.

Em segundo lugar temos que reconhecer que o melhor aprendizado acontece em grupos.

Colaboração é a matéria do crescimento.

Se atomizarmos as pessoas separando e julgando-as separadamente. Nós criamos uma espécie de barreira entre elas e o seu ambiente natural de aprendizado.

E em terceiro lugar, isto é crucialmente sobre a cultura de nossas instituições. Os hábitos das instituições e os habitats que elas ocupam.
[Via BBA]

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