Eles lutaram. Mas, do ponto de vista de seus líderes, não o suficiente. Quando os combatentes do movimento jihadista "Estado Islâmico" (EI) retornaram no último final de semana da batalha pela cidade de Sindchar, no norte do Iraque, seus líderes não mostraram paciência alguma. Meios de comunicação informaram que várias dezenas de homens do EI foram executados pelo próprio grupo jihadista.
Na opinião dos comandantes do grupo, isso foi uma punição justa pela derrota do grupo na luta contra a milícia curda pershmerga. Os pershmergas obtiveram sucesso ao reconquistar partes da cidade antes controladas pelos jihadistas.
Da mesma forma brutal procederam os comandantes do EI também na Síria. De acordo com relatos da mídia, cerca de 100 combatentes predominantemente europeus foram executados. Depois de lutar, eles queriam voltar para seus países de origem. De acordo com a mídia, centenas de outros combatentes ainda são vigiados, já que eles queriam abandonar as zonas de combate.
"As execuções têm o objetivo de servir como dissuasão e como um alerta para todos que não querem mais lutar pelo EI", afirma a cientista política Gülistan Gürbey, da Universidade Livre de Berlim. A punição atinge principalmente os combatentes que não teriam se engajado pelo EI por convicções ideológicas, mas por outros motivos – como a esperança de receber vantagens materiais.
"Já aqueles que se juntaram ao movimento por convicção ideológica não se opõem a essas ações. Eles até mesmo a saúdam", diz Gürbey.
EI perde sua dinâmica
O ritmo no qual o EI tinha tomara parte considerável da Síria e do Iraque parece ter perdido impulso em muitos lugares. Em parte, a marcha se estagnou de forma completa – como na cidade de Kobane, no norte da Síria. Lá, há meses os terroristas do EI promovem grandes batalhas contra o exército curdo.
A ajuda da aliança internacional, por meio de seus ataques aéreos, foi decisiva para deter a marcha do EI. Porém, tudo tem seu preço: até agora, centenas de curdos morreram nos combates. Ainda maior é o número de vítimas do lado do EI. De acordo com informações do Observatório Sírio dos Direitos Humanos, mais de mil jihadistas morreram em Kobane.
Na cidade iraquiana de Sindchar, o EI teve até mesmo que recuar. Os jihadistas fracassaram perante os curdos, que equipados também com armas alemãs, conseguiram resistir fortemente no norte do Iraque. No resto do país, árabes xiitas e sunitas moderados ainda não se juntaram numa aliança conjunta. Porém, conversações já ocorrem e avançam.
Entretanto, o jornal iraquiano Al Mada considera possível uma solução política para o conflito. "Pela primeira vez, conseguimos dar uma resposta à catástrofe e ter uma solução em vista", afirma o periódico em sua edição de 22 de dezembro.
"O EI poderia se responsabilizar pelo seu mais recente fracasso", afirma Stefan Rosiny, especialista em Oriente Médio do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (Giga), em Hamburgo. Ele lembra que até o momento, os jihadistas se concentraram em "regiões mais indefesas" – áreas onde, principalmente, vivem minorias, como os yazidis ou curdos.
Jihadistas ainda são desafio
E, agora, a organização teria assumido o erro. E isso terá consequências, alertou Rosiny, em uma entrevista para o jornal alemão Sächsische Zeitung. "O EI vai perder atratividade, caso sua promessa de um califado universal se tranforme numa bolha de sabão."
Contudo, o desafio contra os jihadistas continua existindo. Talvez ele até mesmo cresça. Atualmente, existem movimentos radicais islamistas em quase todos os países ou regiões muçulmanas. De Abu Sayyaf, nas Filipinas, até o Al Qaeda recentemente fundado na Índia; passando ainda pelo Talibã no Paquistão e Afeganistão, até os jihadistas no Oriente Médio e no norte da África: por toda a parte, grupos jihadistas estão presentes.
"O Islã político se radicalizou fortemente nas últimas duas décadas", afirma Gülistan Gürbey. Por isso, esses grupos continuam a ser uma ameaça regional e global. "Mesmo se o EI for militarmente restringido, ele permanecerá, politicamente, um grande desafio. Superá-lo deve durar anos."
Autor: Kersten Knipp (fc)
Edição: Marcio Damasceno
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