RODRIGO RANGEL – Agência Estado
Um relatório sigiloso
produzido pela inteligência da Polícia Federal joga por terra o discurso do
governo brasileiro de que as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc)
não agem do lado de cá da fronteira.
De acordo com o
documento, datado de 28 de abril, a guerrilha colombiana não só tem violado
sistematicamente a fronteira Colômbia-Brasil como tem utilizado o território
brasileiro para seus negócios, especialmente o narcotráfico.
A conclusão faz parte
do relatório final da investigação que levou à prisão, no dia 6, de José Samuel
Sánchez, o “Tatareto”, apontado pela Polícia Federal como integrante da
comissão de logística e finanças da 1.ª Frente das Farc, um dos mais
importantes destacamentos da guerrilha colombiana.
O grupo que trabalhava
na base brasileira utilizava conhecidas técnicas das Farc. O sistema de
comunicação que Tatareto mantinha em seu sítio, perto de Manaus, era acionado
em horários predeterminados para contatos com a guerrilha na Colômbia: às 7
horas , às 12 horas e às 17 horas. Na maioria das vezes, os diálogos eram codificados.
A exemplo do que as
Farc fazem na selva colombiana para esconder armas e drogas, os dois aparelhos
de rádio-comunicação ficavam enterrados, dentro de um tonel. A antena
utilizada, que não costuma ser discreta, repousava, cuidadosamente camuflada,
entre as copas de duas árvores.
Tatareto – “gago”, em
espanhol – foi preso com mais sete pessoas. Ele é acusado de comandar uma
importante rota do tráfico que usava rios da Amazônia para fazer chegar a
Manaus carregamentos de cocaína produzida na selva colombiana pelas Farc. Da
capital do Amazonas, a droga era distribuída para outros Estados brasileiros e
para a Europa.
A PF afirma que a
guerrilha, encurralada na Colômbia pelas operações militares do governo de
Álvaro Uribe, chegou a estabelecer bases na Amazônia brasileira. Encarregado da
arrecadação de recursos para as Farc, diz o relatório, Tatareto “transferiu sua
base operacional para o território brasileiro, de onde poderia coordenar (as
atividades) com mais tranquilidade, sem o perigo do confronto armado frequente
com as forças oficiais da Colômbia”. As informações são do jornal O Estado de
S.Paulo
Osvaldo Aires Bade
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