sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

CHINA CELEBRA 120 ANOS DE MAO TSE-TUNG

Mao representa a revolução e a libertação na China, mas também grande sofrimento devido a experiências sociais que terminaram em catástrofe. Até hoje, PC chinês depende da imagem do líder para se manter no poder.

O presidente e chefe do Partido Comunista chinês, Xi Jinping, havia pedido modéstia nas comemorações do aniversário de 120 anos do primeiro chefe do partido, Mao Tse-tung. Porém, em Shaoshan, cidade natal de Mao, parece que o pedido foi ignorado.

De acordo com a imprensa local, vários projetos relacionados ao aniversário de Mao consumiram quase 2 bilhões de euros. Entre eles, inclui-se a reforma de um centro de informações turísticas e da casa onde o líder nasceu, além da construção de rodovias e estações de trem. Localizada na província de Hunan, região central da China, a cidade planeja claramente fazer negócios com o culto a Mao Tse-tung.

Onipresença na vida chinesa

Retratos de Mao são pendurados como amuletos nos espelhos retrovisores de táxis ou são impressos em calendários de parede. Cartazes da época da Revolução Cultural Chinesa são negociados como antiguidades por algumas centenas de yuans. No famoso Mercado da Seda em Pequim, turistas podem adquirir versões originais ou reimpressas da "Bíblia Vermelha de Mao", com textos selecionados.

Naturalmente a imagem de Mao estampa o dinheiro chinês, e um retrato de 12 metros quadrados do líder tem lugar garantido na Praça da Paz Celestial, em Pequim. Lá também fica exposto o corpo de Mao, embalsamado, num sarcófago de vidro.

Uma popular anedota chinesa diz que, certa vez, o "grande timoneiro" acorda em seu sarcófago e, preocupado, pergunta: "o que os chineses estão fazendo agora?". O guarda lhe responde que "o povo chinês luta contra o latifúndio", ao que Mao volta a se deitar, tranquilo. A piada é que, há alguns anos, um jogo online chamado "Luta contra o latifúndio" foi um grande sucesso no país.

70% bom, 30% ruim

Historicamente, a luta contra os latifundiários foi um dos principais motores do movimento comunista chinês, sendo Mao seu principal ator. Oskar Weggel, em seu livro de referência sobre a história da China no século 20, escreveu que, mesmo com a miséria dos camponeses e a libertação destes das estruturas feudais, "julgamentos em massa e execuções sumárias durante a reforma agrária (1950/51) fazem parte de um dos capítulos mais sombrios" do PC chinês.

Porém, há também outros capítulos sinistros na história da China. Mao desencadeou campanhas que custaram a vida de milhões chineses. Quase dez anos depois da fundação da China comunista, a tentativa de Mao de industrializar a nação com o chamado "Grande Salto Adiante" causou uma das maiores fomes da história e deixou cerca de 30 milhões de mortos.

No ano de 1966, Mao iniciou a Revolução Cultural para tirar do caminho seus adversários dentro do próprio partido. A consequência foi uma década de caos, milhares de mortos e incontáveis famílias destruídas.

Mesmo assim, os poderosos do país e do partido continuam dependendo da figura de Mao. Seu extraordinário papel na vitória contra os agressores japoneses e seus adversários políticos internos de Kuomintang – que governa Taiwan desde a década de 1970 – tornaram-no um líder incontestável do PC chinês até sua morte, em 1976. A estimativa do ex-presidente Deng Xiaoping, de que as medidas de seu antecessor "foram 70% boas e 30% ruins", é uma linha ainda em vigor no partido.

Xi Jinping e o novo culto a Mao

Atualmente, a quinta geração de líderes do Partido Comunista não apresenta nenhuma disposição em passar a limpo a história da China no período de Mao. "Uma reavaliação abalaria a legitimidade e, assim, o poder do partido", analisou o historiador chinês Zhang Lifan, numa entrevista à agência de notícias dpa. Pelo contrário, observadores veem até mesmo um novo culto a Mao.

Daniel Leese, da Universidade de Freiburg, na Alemanha, disse estar "admirado com o que acontece atualmente no plano ideológico". A televisão pública mostra como Xi Jinping participa das "reuniões de autocrítica" dos membros do partido, o que representa "um retorno aos rituais de liderança maoístas."

Sebastian Heilmann, também especialista em China, constata uma volta ao pensamento maoísta. "A liderança política quer ganhar o apoio da parcela de esquerda da sociedade", disse o pesquisador de Berlim em entrevista à DW. "Até mesmo na província chinesa Guangdong, onde há um boom econômico, 38% da população se identificam com o pensamento de esquerda, também por uma certa nostalgia em relação a Mao. Trata-se de questões ligadas à justiça social: forças potentes que nenhuma liderança chinesa pode ignorar."

Questões de justiça social parecem não ter inspirado os artistas que fizeram a estátua coberta de ouro e jóias para o aniversário de 120 anos do revolucionário. Em todo caso, uma coisa é certa: Mao chegou ao auge do capitalismo na China. 

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A Grande Fome na China Comunista (1958-1962)


Da série: “Horrores do Comunismo”
Sob o domínio da figura tacanha e egocêntrica de Mao Tsé-tung, seu “Líder Supremo”, a China passou pelo período mais obscuro do século XX e do qual se tem registro até a atualidade.
Mao (cujo nome serve como uma luva) estava impaciente pela demora no processo de industrialização da China e revoltado com a resistência dos camponeses à coletivização do campo, dos meios de produção, de sua mão de obra e suas propriedades. “Como ousam se recusar a entregar tudo pelo qual trabalharam a vida toda ao Estado?

Como ousam se recusar a trabalhos forçados e tentar proteger suas propriedades privadas? Que absurdo!” Provavelmente seja este o pensamento de Mao.

Então, em 1958, Mao Tsé-tung iniciou seu plano de coletivização forçada ao qual chamou de “O Grande Salto em Frente”, mas que se mostrou o “Grande Salto para a Fome”. Assim como Stalin causou o Holodomor na Ucrânia entre 1933-1934 com seu plano de coletivização, o mesmo ocorreu com a China entre 1958-1962 com a coletivização forçada de Mao. 
Os governos comunistas parecem ter um padrão histórico e hediondo de comportamento, mas falarei disso em outro artigo.

O Professor Frank Dikötter, da Universidade de Hong Kong, obteve acesso a documentos do Partido Comunista Chinês, até então secretos, os quais revelaram os horrores do período do “Grande Salto em Frente”. Foram quatro anos sombrios, de calamidade e desespero.

Segundo o Livro publicado pelo professor Dikötter (A Grande Fome de Mao) as estatísticas compiladas pelo Gabinete de Segurança Pública na época (1958-62) apontam para 45 milhões de mortes prematuras. A maioria das mortes causadas pela fome que se instalou com as políticas impraticáveis de Mao que atendiam à sua personalidade narcisista, não ao povo da China.

Falo em “personalidade narcisista” sem titubear, pois não foi apenas a impaciência de Mao (então há 10 anos no poder) com a marcha lenta do desenvolvimento econômico e a resistência à coletivização que o levaram a lança o “Grande Salto em Frente”, mas, principalmente, seu desejo de se tornar o Grande Líder do Campo Socialista. Seu desejo em ser maior que os demais levaram 45 milhões de pessoas à morte em apenas quatro anos.

O slogan do plano de Mao era: superar a Inglaterra em 15 anos. A Inglaterra era a maior potência industrial da época. Realmente a China de hoje ultrapassou os ingleses e faz frente aos Estados Unidos, porém, sem que qualquer mérito possa ser atribuído a Mao, pelo contrário, políticas mais “liberais” como a criação de zonas especiais e maior abertura econômica, atraindo multinacionais com mão de obra barata (devido a imensa oferta de mão de obra acima da demanda) e incentivos fiscais. 

Se no campo social a China de hoje continua com seu comunismo repressivo, no campo econômico a liberalização está em gradual expansão, mantendo nas mãos do Estado “apenas” setores considerados estratégicos para a economia do país (mas principalmente para a manutenção do Partido Comunista no poder e a expansão da riqueza de seus pares), o que não é ideal (pois a iniciativa privada pode sempre fazer melhor com menos custo, gerando mais empregos de melhor qualidade e renda maior), mas já é um avanço importante.

Voltando a Mao. O então Líder Supremo da China utilizou o que ele achava ser sua principal “arma” na perseguição ao desenvolvimento econômico e que permitisse ultrapassar a União Soviética e a Inglaterra: a mão de obra de milhões de trabalhadores, homens e mulheres (adultos) e crianças. Para tanto, coletivizou tudo que estava ao seu alcance e amontoou os camponeses em enormes comunas, que surgiram no lugar das propriedades privadas dos agricultores (fossem grandes ou micro).

Mas o grande problema não foi a falta de comida, mas o confisco dos alimentos pelo Estado para destiná-los à exportação e a utilização da comida como política de extermínio dos opositores e “inimigos” (reais e irreais), de repressão ao povo e eliminação dos considerados mais fracos e menos produtivos. Por exemplo, indivíduos conservadores e de direita foram deliberadamente levados à fome para que morressem, através do não repasse de alimentos, ou repasse de comida podre e em quantidade abaixo do mínimo. O mesmo foi feito aos que dormiam no serviço, os doentes, debilitados, deficientes e muito idosos. Todos propositalmente levados ao limite da fome para que morressem.

No período houve ao menos 3 milhões de execuções, por todo tipo de banalidade. No livro do professor Dikötter, há o relato de um pai que foi obrigado a enterrar vivo o próprio filho como punição por este ter roubado um punhado de grãos de uma das cantinas públicas existentes nas gigantescas comunas, onde a comida era distribuída “a colheradas”. Assim como durante o Holodomor causado por Stalin na Ucrânia, pessoas foram executadas por roubarem alimentos como uma batata, ou uma maça, durante os quatro anos do “Grande Salto em Frente”. Outro padrão histórico de comportamento dos ditadores comunistas.

Logo que o fracasso se mostrasse iminente, Mao criaria todo tipo de bodes expiatórios nos quais colocar a culpa (como hoje faz Cuba, Venezuela e Coreia do Norte, outro padrão). Claro, a culpa não poderia ser de suas políticas desprovidas do mínimo de ciência econômica, pois Mao com certeza era capaz de controlar a economia e jogá-la de um lado ao outro de acordo com suas vontades, independente dos fatores econômicos que geram escassez, como sucateamento dos serviços, demanda maior que a oferta e balança comercial muito desfavorável (como a causada pela exportação de alimentos em grande escala, causando o desabastecimento interno) e o cálculo dos preços, impossível no comunismo (e no socialismo). O Grande Líder se mostra um Grande Idiota.

No desespero de impedir a descoberta da verdade, muitas fotos e documentos foram destruídos pelos comunistas maoístas quando a Ditadura Comunista (desculpe o pleonasmo) de Mao entraria em crise durante seus 10 últimos anos, de 1966 até 1976 (quando morre o ditador), devido a insatisfação de diversos membros quanto aos nefastos resultados das políticas utópicas de Mao e seu novo plano de “Revolução Cultural”.

Porém, além de diversos documentos, o professor Dikötter encontrou nas mãos de um pesquisador chinês uma foto de um caso de canibalismo desencadeado pela fome (outros documentos, descobertos por ele, mostram que casos assim ocorrerão em todo o país) onde um rapaz está parado em frente uma “bacia” com uma criança (seu irmão) desmembrada. Casos extremos como comer lama e fezes também estão registrados. Os chineses foram levados ao fim da moralidade humana.
Mao ficou no poder entre 1949 e 1976 (27 anos) e em apenas quatro anos obteve um saldo impressionante de 45 milhões de mortos, qual será o número total (certo ou aproximado), somados esses 4 anos aos demais 23, da Ditadura Comunista?
Responderei a isso em breve, em artigo futuro desta mesma série.

Por Roberto Lacerda Barricelli
Fontes:
Livro – A Grande Fome de Mao (Dikötter, Frank. Dom Quixote, 564 páginas. Ano: 2010)
Jornal Data Basejournaldatabase.org/articles/grande_salto_para_frente_grande_fome.html


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