Gostaria de saber a origem da palavra DÍZIMO.
“Dízimo”
vem do Latim DECIMUS, “a décima parte”, de DECEM, “dez”
Entrei no gabinete do meu avô e vi que
ele bufava de raiva.
- Epa, o que foi, meu caro antepassado,
que o senhor está tão furioso?
- Houve, meu caro descendente de uma
geração perdida para o intelecto, que encontrei umas anotações de frases que vi
escritas ou ouvi pela TV e estou exercendo o sagrado direito de me indignar até
a embriaguez por uma reação alérgica à besteira, à preguiça e à
ignorância que ora reinam em nosso idioma!
- Ih, Vô, acalme-se e me conte mais –
disse eu, tratando de me acomodar, pois sabia que era hora de aprender.
O velho cavalheiro pegou uma folha de
papel embolada do chão, desamassou-a e olhou:
- Por exemplo, determinado filme
proclamava que certo povo antigo tinha sido totalmente dizimado pelos romanos.
Ora, dizimar vem do Latim decimare, “remover ou destruir um décimo”, de decem, “dez”. Era um castigo muitas vezes aplicado a
cidades rebeldes ou a unidades do exército que não atendiam direito às ordens
dos oficiais.
- E como se fazia, Vô?
- Fazia-se um sorteio e, a cada dez
pessoas, uma era escolhida para morrer.
- Puxa, que radicais!
- Outros tempos, meu
filho. Ainda não haviam resolvido que a impunidade reinaria. Mas, enfim, o que
sei é que agora se usa a palavra dizimar com o
sentido de “destruir tudo”.
- Nossa vizinha do
lado, D. Elvira, que é muito religiosa, uma vez estava falando sobre um tal de dízimo, mas não creio que estivesse
falando em mortes.
- Eis outro exemplo
com a mesma origem. dízimo era
o nome de uma contribuição que os fiéis deviam entregar à Igreja. Inicialmente
eles pagavam um décimo do que ganhavam por mês, mas depois eles ficaram livres
para pagar o que podiam.
Passando para outro motivo de minha
indignação…
- Um momento, Vô! E essa palavra, de
onde veio?
- Ela deriva do Latim indignari, “estar irritado ou desagradado com alguém,
considerar uma pessoa como sem valor”, de in-, negativo, mais dignus, “de valor, apropriado, adequado”. Logo,
quando manifesto estar incomodado com certas manifestações da falta de cultura,
estou querendo torcer algum pescoço.
- Mas não o meu, né?
- Por enquanto eu o manterei no lugar,
com tal que você evite besteiras.
- Certo. Mas o senhor ia começar a
esbravejar contra o que mesmo?
- Ah, sim. Agora era
contra mais uma tradução besta que a gente vê nas dublagens e legendas de
filmes em Inglês: sucker, “sugador”, da palavra
arcaica sucan, de origem onomatopaica.
- Ei, isso eu conheço. Quer dizer
“trouxa” ou algo assim, né?
- Exatamente. Sua origem é
interessante. Esse é o nome usado para o bagre e outros peixes do gênero.
- Um peixe, Vô? Como é isso?
- Pois veja só, esses bichos se
alimentam de pequenos animais que vivem no fundo das águas. É por isso que eles
têm aquelas bocas grandes, para poderem engolir suas refeições.
E parece que eles são
meio ingênuos; dizem que eles podem ser apanhados com certa facilidade. Daí
que, lá por 1750, começaram a chamar uma pessoa com pouco preparo para as
situações de vida de sucker.
E vai daí que, no outro dia, vi um
filme legendado em que um vigarista prometia que ia trazer “uma porção de
bagres” para outro. E ele não falava de pescarias, era de gente mesmo!
- Uma vez o senhor estava resmungando
contra umas fitas vermelhas, como era isso?
- É, trata-se de mais
uma besteira de tradutores despreparados. Em Inglês existe a expressão red tape, literalmente “fita vermelha”, usada como
sinônimo de “burocracia”. Ela se referia ao uso antigo de unir folhas de
processos legais com fitas vermelhas e também de colocar selos oficiais na
extremidade delas. Um conjunto de folhas assim ligadas muitas vezes ostentava
uma boa quantidade de fitas destas.
Aí, um dia, vejo uma famosa atriz num
filme dublado dizendo, indignada, – “Chega de fita vermelha! Libertem nossos
familiares”!
- Essa foi boa!
- E quando resolvem
fazer confusão entre gaulês e galês, então?
- Ããh… O senhor se incomodaria em me
ajudar a lembrar, Vô?
- “Lembrar”, sei. O
que acontece é que gaulês vem do
Latim gallus, “membro da tribo dos Galos, que habitavam boa
parte da França” e que tiveram grandes confusões com os romanos.
E galês vem do anglo-saxão waelisc, “estrangeiro”. Mas, como o
País de Gales, uma parte a sudoeste do Reino Unido, é pouco conhecido por aqui,
os irresponsáveis fazem uma mixórdia terrível.
E mudando da terra
para a água, noutro filme alguém explicou a outra pessoa que “Fulano está ali
no surf“. O tradutor usou essa palavra, que não tinha nada
a ver com o assunto, sem saber que o diálogo original se referia a surf no sentido de “arrebentação das ondas” e não
no esportivo.
- E essa palavra foi inventada no
Havaí?
- Não, ela provavelmente tem
origem na Índia. O que me lembra outro filme que vi, ambientado lá,
mostrando a época em que os soldados da Rainha Vitória mandavam no país. Tinha
ocorrido uma revolta contra os dominadores europeus e um oficial do Exército
estava contando a outro que eles tinham sofrido “Vinte e uma fatalidades”.
Ora, em Inglês fatality tem, desde o século XV, o sentido básico
de “aquilo que causa morte”. Deriva do Latim fatalitas, de fatum, “predição, declaração profética”, literalmente
“coisas ditas pelos deuses”, que veio de fari, “falar”.
Em nosso idioma predominou o sentido
original, que não implica necessariamente em “morte”. Mas, na hora de se fazer
a tradução, os mal-preparados irresponsáveis repassam o conteúdo do texto, sem
ter ideia da besteira que estão fazendo.
Enfim, meu neto, vamos deixar tamanha
indignação de lado. Tente aprender com isso: traduzir é assunto muito sério.
/ dutch /
Origem da palavra abominação.
Resposta:
Ela vem do Latim ABOMINATIO, “ato de odiar, de
detestar, sentimento de desgosto”, de AB-, “para fora”, mais OMEN, “ameaça,
predição”.
O Professor Olavo
discorre sobre a reforma ortográfica e as ideias do Sr. Marcos Bagno.
O que seria preconceito linguístico?
.
Osvaldo Aires Bade Comentários Bem Roubados na
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