Anísio Teixeira

Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB), Anísio Teixeira era um pensador independente e suas opiniões desagradavam pessoas de diferentes ideologias. Assim o descrevem seu filho, o psiquiatra Carlos Antônio Teixeira, e o biógrafo João Augusto de Lima Rocha, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
O espírito crítico de Anísio Teixeira causava desconforto a pessoas de diferentes orientações ideológicas. 'Meu pai incomodaria até em um regime de esquerda. Ele era antidogmático por excelência', disse à Agência Brasil Carlos Antônio. 'Ele era um livre pensador, mas para a repressão era visto como um educador comunista', lembra. Anísio também era criticado por setores conservadores da Igreja Católica porque defendia o ensino público laico.


Veja entrevista com Carlos Teixeira (aqui)

Carlos Teixeira

Na semana passada, veio a público a suspeita que o ex-reitor foi assassinado em março de 1971, por agentes do Estado, após ser sequestrado e levado para uma unidade da Aeronáutica, quando se dirigia à casa de Aurélio Buarque de Holanda, no Flamengo, no Rio de Janeiro. A versão será investigada pela Comissão de Memória e Verdade da UnB.
'Ele estava com 70 anos quando morreu e preparava-se para ingressar na Academia Brasileira de Letras (ABL). Sua candidatura não era bem acolhida pelos militares', salienta João Augusto Rocha.
Anísio Teixeira foi encontrado morto no fosso de elevador do prédio onde morava o 'imortal' Aurélio Buarque de Holanda que, como era de praxe, o aguardava para o almoço para apresentação da candidatura. Aurélio era o último membro da ABL que Teixeira iria encontrar antes da eleição. Teixeira era o único candidato.
'Era uma pessoa perigosa porque pensava e resolvia os problemas da educação no Brasil', resume João Augusto, que recentemente escreveu o livro Anísio e a Cultura, ainda não publicado. O biógrafo lembra de polêmicas, como uma vez em que o ex-reitor disse na Bahia que 'o projeto político da União Soviética era o mesmo que o do Ocidente: a procura da democracia, mas por outros caminhos'. A opinião rendeu pelo menos três editoriais na imprensa local criticando Anísio Teixeira.
Taxado de esquerdista pelos militares, Anísio Teixeira foi interrogado após a invasão da UnB (agosto de 1968) sobre educação na União Soviética. 'Meu pai disse: 'eu tenho muito interesse em conhecer, mas nunca estive lá'', lembra Carlos Antôni
A imagem de comunista não o impediu de ir aos Estados Unidos, mesmo durante a Guerra Fria. 'Ele não era visto como comunista pelo FBI [Federal Bureau of Investigation, a Polícia Federal dos Estados Unidos]. Quando havia alguma coisa aqui que o perseguia, era convidado para ensinar em universidade americana', compara o filho ao se referir, por exemplo, quando Anísio Teixeira foi lecionar nas universidades de Columbia e da Califórnia, depois de ter sido destituído do cargo de reitor da UnB e expulso da universidade.
'Era um sujeito com capacidade e independência intelectual muito grande. E nunca foi ligado a partido por opção', disse João Augusto, ao lembrar que Teixeira era de uma família de políticos (um irmão foi deputado federal). Antes da ditadura militar, Anísio Teixeira já havia sido perseguido pelo Estado Novo (1937-1945) e, afastado de postos na educação na prefeitura do Rio de Janeiro, quando acabou se tornando empresário na Bahia (exportador de manganês).
Além de reitor da UnB, Anísio criou a Universidade do Distrito Federal (na década de 1930, quando a capital era no Rio), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Ensino Superior (Capes) e o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep). Ele foi pioneiro em estabelecer exames para testes e medidas pedagógicas. Quando esteve à frente da educação no governo da Bahia, criou os conselhos municipais de educação. Apesar da morte, agora posta sob suspeita durante a ditadura militar, Anísio recebeu em julho de 1973 (no governo Médici) a Comenda Nacional do Mérito Educativo no Grau de Grande Oficial.
O acervo pessoal de Anísio Teixeira é guardado pelo Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getulio Vargas.
Edição: Carolina Pimentel
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