ESTÉTICA REALISTA -- Isabeli Fontana posa toda simples, e deslumbrante, em uma casa em Santa Teresa. "Queria tomar uma taça de vinho e olhar para os olhos dela", diz o fotógrafo de guerra Steve McCurry
(Reportagem de Dolores Orosco publicada na edição impressa de VEJA)
As garotas da laje
Steve McCurry, famoso pelas fotos em áreas de conflito, assina o novo e despojado calendário Pirelli. As modelos foram convocadas porque são engajadas – e, claro, lindas
O que acontece quando o mais famoso calendário de garotas lindas com nenhuma roupa em paisagens deslumbrantes convoca um fotógrafo de guerra? Garotas lindas com roupa são fotografadas em ambientes com clima de neorrealismo italiano, como as famosas lajes das casas nos morros do Rio de Janeiro.
CENÁRIO INUSUAL -- McCurry clicou a modelo Petra Nemcova numa laje no morro do Cantagalo
Ah, sim, e as beldades precisam apoiar alguma causa social. Assim quis Steve McCurry, e assim concordou a Pirelli, a marca italiana de pneus que há quase cinquenta anos se esmera em produzir calendários com mulheres deslumbrantes, mas sem nada de apelações.
O fotógrafo americano é o autor de uma das imagens de maior impacto da iconografia recente, o retrato da menina afegã de assombrados olhos verdes que virou símbolo máximo do sofrimento das populações civis que precisam fugir das zonas de guerra. Na cobertura de conflitos em outros lugares conturbados, como Líbano, Camboja ou Iraque, McCurry sempre seguiu a mesma linha de trabalho, de buscar menos as cenas de guerra em si e mais os efeitos sobre os não combatentes.
Foi preciso um certo poder de convencimento para levar um sujeito assim a se envolver, aos 62 anos, com o calendário chique, na companhia honrada mais habitualmente voltada para o glamour de fotógrafos como Richard Avedon, Mario Testino ou Annie Leibovitz.
A Pirelli abriu mão da tradição das modelos despidas, exceção feita apenas em 2008, quando o calendário foi fotografado na China, onde a nudez ainda é considerada inconveniente. McCurry também ajustou o foco. “Foi um risco. Sei que muita gente vai me odiar por isso”, disse ele a VEJA durante uma das sessões no Rio (as fotos são dele em ação, não o resultado final, guardado para novembro).
“Apostei no olhar e na atitude de mulheres lindas, que usam a fama e odinheiro para fazer algum tipo de contribuição.” Entram aí as causas humanitárias das modelos. Isabeli Fontana, por exemplo, colabora com uma organização que doa instrumentos musicais a escolas em áreas carentes. Ela foi fotografada em uma casa antiga do bairro de Santa Teresa, com uma estética que fica entre o filme Duas Mulheres, clássico de 1960 de Vittorio de Sica com Sophia Loren, e a série Gabriela.
O poder de fogo da paranaense abalou até as nobres estruturas de McCurry, que reconheceu: “Havia momentos em que eu só queria pegar uma taça de vinho e olhar para os olhos dela”.
GUERRA E PAZ -- Cenas clássicas de McCurry fora das zonas de conflito: mulheres de uma tribo de Mianmar, a antiga Birmânia, cuja beleza é medida pelo tamanho do pescoço, esticado por argolas de metal (Foto: Steve McCurry)
O figurino, as locações e até a suave maquiagem usada pelas modelos compunham um ambiente levemente perfumado pela trajetória profissional de McCurry. Em vez de ir às praias ensolaradas do Rio, ele visitou becos escuros de Santa Teresa, lajes de casas no Morro do Cantagalo e a estação de trem da Central do Brasil.
McCurry mesmo preparou a luz e a disposição de móveis expostos nos retratos. Durante uma sessão, dentro de um boteco no Largo das Neves, fotografou em silêncio absoluto a esguia Hanaa Ben Abdesslem (causa: hospitais carentes em seu país natal, a Tunísia).
O pagodão que tocava por perto e a ambulante que anunciava suas quentinhas não tiraram sua concentração, toda dirigida aos olhos negros de Hanaa, seguidamente ampliados no visor de uma Hasselblad H4D-60, a mesma câmera que usa em suas andanças por regiões de conflito.
O TRABALHO quase bíblico de pescadores do Sri Lanka (Foto: Steve McCurry)
Como todo grande fotógrafo, além do domínio técnico e da extrema dedicação, McCurry tem sorte. Entrou no Afeganistão pouco antes da invasão soviética, em 1979. Saiu de lá com filmes costurados no forro da túnica típica que usava, para não chamar atenção.
Em 11 de setembro de 2001, subiu à cobertura do prédio onde tinha seu escritório para fotografar o que achava ser um incêndio e flagrou a hecatombe do World Trade Center. Para as fotos no Rio, ele só pediu a participação da atriz Sonia Braga, cuja “arrebatadora atuação” no filmeO Beijo da Mulher Aranha estava gravada em sua vasta memória visual.
A DELICIOSA FUTILIDADE do dono do conversível amarelo na Sunset Boulevard, em Los Angeles. "Gosto de fotografar gatos e gente dormindo", diz. (Foto: Steve McCurry)
“Ah, Sonia. Só por este momento com você a viagem toda já valeu a pena”, suspirou quando a encontrou frente a frente. “Nem sei como eles se lembraram de mim”, emocionou-se Sonia. A cantora Marisa Monte entrou a pedido da Pirelli, e modelos como a americana Karlie Kloss e a checa Petra Nemcova (causa de ambas: ajuda a vítimas do tsunami de 2004, do qual Petra, em férias na Tailândia, escapou agarrada a um tronco de árvore) porque são lindas. “Alguns podem achar esse projeto frívolo, mas nem todas as minhas fotos são políticas. Fotografo pessoas dormindo, só por diversão. E gatos”, diz McCurry.
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Esses camaradas são os maiores propagadores do comunismo no mundo (aqui)
Osvaldo Aires Bade Comentários Bem Roubados na "Socialização" - Estou entre os 80 milhões Me Adicione no Facebook
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