"Por Olavo
de Carvalho"
O Globo, 27 de abril de
2002
Na Grécia e no Império
Romano, o uso de menores para a satisfação sexual de adultos foi um costume
tolerado e até prezado. Na China, castrar meninos para vendê-los a ricos
pederastas foi um comércio legítimo durante milênios. No mundo islâmico, a
rígida moral que ordena as relações entre homens e mulheres foi não raro
compensada pela tolerância para com a pedofilia homossexual. Em alguns países
isso durou até pelo menos o começo do século XX, fazendo da Argélia, por
exemplo, um jardim das delícias para os viajantes depravados (leiam as memórias
de André Gide em “Si le grain ne meurt” e sobre a vida dele aqui, e pederastia aqui).
André Paul Guillaume Gide em 1893
Por toda parte onde a
prática da pedofilia recuou, foi a influência do cristianismo — e praticamente
ela só — que libertou as crianças desse jugo temível e trouxe proteção as mulheres.
Mas isso teve um preço.
É como se uma corrente subterrânea de ódio e ressentimento atravessasse dois
milênios de história, aguardando o momento da vingança. Esse momento chegou.
O movimento de indução
à pedofilia começa quando Sigmund Freud cria uma versão caricaturalmente erotizada
dos primeiros anos da vida humana, versão que com a maior facilidade é
absorvida pela cultura do século. Desde então a vida familiar surge cada vez
mais, no imaginário ocidental, como uma panela-de-pressão de desejos
recalcados. No cinema e na literatura, as crianças parecem que nada mais têm a
fazer do que espionar a vida sexual de seus pais pelo buraco da fechadura ou entregarem-se
elas próprias aos mais assombrosos jogos eróticos.
Enquanto isso, o
Relatório Kinsey, que hoje sabemos ter sido uma fraude em toda a linha, demole
a imagem de respeitabilidade dos pais, mostrando-os às novas gerações como
hipócritas sexualmente doentes ou libertinos enrustidos. (aqui)
O advento da pílula e
da camisinha, que os governos passam a distribuir alegremente nas escolas, soa
como o toque de liberação geral do erotismo infanto-juvenil. Desde então a
erotização da infância e da adolescência se expande dos círculos acadêmicos e
literários para a cultura das classes média e baixa, por meio de uma infinidade
de filmes, programas de TV, “grupos de encontro”, cursos de aconselhamento
familiar, anúncios, o diabo. A educação sexual nas escolas torna-se uma indução
direta de crianças e jovens à prática de tudo o que viram no cinema e na TV.
Alfred Kinsey (aqui)
Organizações feministas
ajudam a desarmar as crianças contra os pedófilos e armá-las contra a família,
divulgando a teoria monstruosa de um psiquiatra argentino segundo a qual pelo
menos uma entre cada quatro meninas é estuprada pelo próprio pai.
A consagração mais alta
da pedofilia vem num número de 1998 do “Psychological Bulletin”, órgão da
American Psychological Association. A revista afirma que abusos sexuais na
infância “não causam dano intenso de maneira pervasiva”, e ainda recomenda que
o termo pedofilia, “carregado de conotações negativas”, seja trocado para
“intimidade intergeracional”.
Seria impensável que
tão vasta revolução mental, alastrando-se por toda a sociedade, poupasse
miraculosamente uma parte especial do público: os padres e seminaristas. No
caso destes somou-se à pressão de fora um estímulo especial, bem calculado para
agir desde dentro. Num livro recente, “Goodbye, good men”, o repórter americano
Michael S. Rose mostra que há três décadas organizações gays dos EUA vêm
colocando gente sua nos departamentos de psicologia dos seminários para
dificultar a entrada de postulantes vocacionalmente dotados e forçar o ingresso
maciço de homossexuais no clero. Nos principais seminários a propaganda do
homossexualismo tornou-se ostensiva e estudantes heterossexuais foram forçados
por seus superiores a submeter-se a condutas homossexuais.
Acuados e sabotados,
confundidos e induzidos, é fatal mais dia menos dia muitos padres e
seminaristas acabem cedendo à geral gandaia infanto-juvenil. E, quando isso
acontece, todos os porta-vozes da moderna cultura “liberada”, todo o
establishment “progressista”, toda a mídia “avançada”, todas as forças, enfim,
que ao longo de cem anos foram despojando as crianças da aura protetora do
cristianismo para entregá-las à cobiça de adultos perversos, repentinamente se
rejubilam, porque encontraram um inocente sobre o qual lançar suas culpas.
Cem
anos de cultura pedófila, de repente, estão absolvidos, limpos, resgatados ante
o Altíssimo: o único culpado de tudo é... o celibato clerical! A cristandade
vai agora pagar por todo o mal que ela os impediu de fazer.
Não tenham dúvida: a
Igreja é acusada e humilhada porque está inocente. Seus detratores a acusam
porque são eles próprios os culpados. Nunca a teoria de René Girard, da
perseguição ao bode expiatório como expediente para a restauração da unidade
ilusória de uma coletividade em crise, encontrou confirmação tão patente, tão
óbvia, tão universal e simultânea (aqui).
Mas a própria Igreja,
se em vez de denunciar seus atacantes preferir curvarem-se ante eles num
grotesco ato de contrição, sacrificando pró-forma uns quantos padres pedófilos
para não ter de enfrentar as forças que os injetaram nela como um vírus, terá
feito sua escolha mais desastrosa dos últimos dois milênios.
Osvaldo Aires Bade Comentários Bem Roubados na
"Socialização" - Estou entre os 80 milhões Me Adicione no Facebook
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- URGENTE: PLC 122 PODE SER APROVADO NESTA QUARTA-FEIRA, DIA 20 (aqui)
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