BRICKMANN: “NINGUÉM GOSTA DE NÓS, JORNALISTAS. PUBLICAMOS
NOTÍCIAS QUE OS PODEROSOS NÃO QUEREM VER E FAZEMOS PERGUNTAS QUE ELES NÃO
QUEREM OUVIR”
13/03/2013
às 16:21 \ Política & CiaO O prefeito de Barra do Bugres (150 km de Cuiabá), Wilson Francelino (PSD), segurou pelo pescoço uma repórter de TV que tentava entrevistá-lo (Foto: Folha)
A nota que publico abaixo, com o respectivo título, integra a coluna desta semana do jornalista Carlos Brickmann no Observatório da Imprensa.
NINGUÉM GOSTA DE NÓS, JORNALISTAS. PUBLICAMOS NOTÍCIAS QUE OS PODEROSOS NÃO QUEREM VER E FAZEMOS PERGUNTAS QUE ELES NÃO QUEREM OUVIR
Há muitos e muitos anos, durante a ditadura militar, uma cerimônia anual da Aeronáutica era coberta por todos os meios de comunicação: a entrega dos espadins aos cadetes. O presidente da República, sempre um general ou marechal, ia de Brasília a Piraçununga, comandava aquela cerimônia chatíssima (como toda festa de formatura, destinava-se aos formandos, sua família e seus amigos, jamais a quem não tinha nada com isso), cumprimentava os melhores alunos, militares de várias patentes batiam continência uns para os outros.
Para os militares, havia um coquetel num salão coberto; para os jornalistas, todos de terno e gravata, um cercadinho ao sol, com soldados armados tomando conta e nem um copo d’água. Um horror. Mas – e aí estava o motivo da cobertura jornalística – os presidentes costumavam fazer discursos políticos.
Não dava para não cobrir.
Certa vez, terminada a cerimônia, anotado o discurso, o ditador de plantão tomou seu avião e decolou de volta para Brasília. Os jornalistas, imóveis, ficaram no cercadinho.
O comandante da base aérea, gentilíssimo para os padrões da época, disse que a cerimônia tinha terminado e que podíamos ir embora. Não, não podíamos: se algo acontecesse com o avião presidencial, tínhamos de estar por perto. Fomos então postos para fora, devidamente escoltados.
João Russo, um dos astros da reportagem política, comentou com este colunista: “É por isso que eles não gostam de nós. Eles estão festejando e nós ficamos prestando atenção, para ver se o avião não cai”.
Como de hábito, João Russo tinha razão. Os militares jamais conseguiram entender que um jornalista não podia voltar para a redação sem ter certeza de que o presidente tinha mesmo sumido de vista, sem nenhum acidente na decolagem. Mas eles, pelo menos, tinham a desculpa de ser militares.
E hoje, qual a desculpa para a hostilidade aos repórteres?
O fato é que ninguém gosta de nós, jornalistas.
A repórter da Folha foi agredida por militantes petistas, o mesmo acontecendo com um colunista de O Globo.
Cafajestes organizados tentaram impedir a jornalista cubana Yoani Sánchez de falar no Brasil.
O PT quer um tal controle social da mídia, que em português claro é chamado simplesmente de censura.
O ministro do Supremo Joaquim Barbosa, endeusado por boa parte dos meios de comunicação e dos jornalistas, nem ouve a pergunta que lhe seria feita e manda o repórter chafurdar no lixo (e ainda saiu xingando, “palhaço!”).
O governador tucano Marconi Perillo conseguiu na Justiça uma liminar proibindo a repórter Lênia Soares de citar seu nome. Irritou-se, ao que tudo indica, com as matérias que ela publicou no Diário de Goiás e em seu blog a respeito de Carlinhos Cachoeira e seus múltiplos e bons relacionamentos com gente de dentro e de fora do Estado, com gente de dentro e de fora do governo.
O ministro Joaquim Barbosa pediu mais tarde que sua assessoria de imprensa atribuísse seu destempero a “cansaço” e “dores nas costas”. Mas se o cansaço e as dores nas costas o deixam tão irritado, tão agressivo, como pode analisar processos que lhe exigem esforço intelectual e físico?
O fato é que todos gostam da imprensa na hora em que dá notícias contra seus adversários, ou quando faz elogios.
O problema é que notícia é exatamente aquilo que seus protagonistas não querem ver publicado. O que eles querem ver publicado – e detestam quando não é – se chama propaganda.
Tags: Aeronáutica, agressão a jornalistas, Carlinhos Cachoeira, Carlos Brickmann, censura, controle social da mídia, discursos políticos, ditadura militar, imprensa, João Russo, Joaquim Barbosa, Marconi Perillo, militantes petistas, PT, Supremo Tribunal Federal, Yoani Sánchez
Osvaldo
Aires Bade Comentários Bem Roubados na "Socialização" - Estou entre
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