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Temor de novo câncer perdura por muito tempo após a cura

Assistir a Robin Roberts desabafar na frente de milhões de telespectadores no programa "Good Morning America" no mês passado me fez chorar também.

| Por Steven Petrow- The New York Times News Service/Syndicate

Assistir a Robin Roberts desabafar na frente de milhões de telespectadores no programa 'Good Morning America' no mês passado me fez chorar também.

Em níveis semelhantes de coragem e medo, Roberts, apresentadora do programa e sobrevivente do câncer de mama, explicou que o tratamento que salva vidas que ela recebeu há cinco anos foi responsável por um novo diagnóstico, dessa vez a síndrome mielodisplásica (SMD), uma rara doença que afeta o sangue e a medula óssea, já chamada também de pré-leucemia.

A SMD é uma condição potencialmente fatal que pode ser causada por radioterapia e quimioterapia, dois tratamentos que Roberts recebeu no início do câncer. Em linguagem médica, pode-se dizer que é um 'câncer secundário'. Por eu ser um sobrevivente do câncer e da quimioterapia, sei que também tenho uma probabilidade de desenvolver esses tipos de câncer.

Quando recebi um diagnóstico de câncer de testículo em 1984, os cânceres secundários representavam maiores ameaças a sobreviventes de câncer pediátrico. Seus corpos jovens são mais vulneráveis à radiação e quimioterapia, e eles têm mais tempo ao longo dos anos para o desenvolvimento de novas malignidades. Também se encontravam em situação de risco aqueles que venceram alguns dos mais 'curáveis' cânceres de adultos, devido aos regimes de tratamento altamente tóxicos.

Os cânceres secundários compõem agora o sexto grupo mais comum de doenças malignas, em parte porque os sobreviventes de câncer estão vivendo mais. Os médicos melhoraram sua capacidade de limitar a toxicidade da radiação e da quimioterapia, e menos pessoas morrem devido aos efeitos desses tratamentos. A má notícia: mais pessoas estão sobrevivendo ao câncer original apenas para serem assombradas pela perspectiva um novo diagnóstico posteriormente.

Quando se trata de nossa saúde psicológica, os sobreviventes de câncer geralmente se enquadram em um de dois grupos. Em primeiro lugar se encontram os atormentados por ansiedade, depressão, e até transtornos de estresse pós-traumático, o que pode afligir até 58 por cento de nós, de acordo com um estudo recente da Sociedade Americana de Câncer. Em segundo lugar estão os que experimentam um aumento na autoestima, uma maior valorização da vida e de seu significado, e às vezes uma nova ou mais profunda espiritualidade.

Em qual dos grupos você está? O mais importante: você pode escolher em qual deles vai se enquadrar?

Um dos meus heróis, o ex-senador Frank Church, de Idaho, ambientalista fervoroso e sobrevivente de câncer testicular, morreu de um segundo câncer duas semanas antes de eu me juntar ao clube do câncer. Depois de seu primeiro diagnóstico, Church escreveu que a sobrevivência o tinha inspirado a viver a vida em sua plenitude: 'A própria vida é uma proposta arriscada e a única maneira de viver é agarrando as chances'. Para Church, seu diagnóstico original foi um pontapé metafórico, resultando em uma vida de grandes obras.

Eu tinha lido o seu conselho alguns anos antes do meu próprio diagnóstico, e eu o ignorei, mas depois que comecei a quimioterapia revi essas palavras, e nos anos que se seguiram tomei algumas decisões arriscadas para mim. Algumas delas foram além do que eu podia imaginar: Abandonei um programa de doutorado para compilar uma história oral da epidemia da AIDS, e acabei me descobrindo como escritor. Perdi outras coisas em que apostei, nomeadamente uma relação que se acabou, como acontece com muitos.

Ao longo do caminho, percebi que você não pode realmente vencer grandes obstáculos sem antes assumir grandes riscos. Embora o câncer tenha me libertado do que parecia ser uma vida pequena, para mim, assim como para muitos outros sobreviventes, a liberdade não dura para sempre.

Quando eu estava sendo tratado, não havia dados de sobreviventes de câncer testicular que viveram mais de 20 anos. Se você sobreviveu, você conseguiu uma prorrogação, mas uma prorrogação limitada.

Aos 26 anos, isso parecia uma vida. Quando comecei a me aproximar da marca de 15 anos de sobrevivência, nem tanto.

Como o passar do tempo, fui envolvido pelo medo de um câncer secundário – e eu comecei a ouvir o que eu temia: o tique-taque do relógio da morte. Depois, quando cheguei à casa dos 40 anos, o alarme tocou.

Meus médicos descobriram um novo tumor através de uma ultrassonografia. Dois meses mais tarde e depois de três opiniões, a massa não existia. Mas o estrago estava feito. Fui trabalhar em um escritório com direito a um plano de contribuição 401(k) e com um ótimo plano de saúde. Paguei meus empréstimos estudantis e as dívidas do cartão de crédito. Eu disse adeus às grandes chances.

Minha vida encolheu novamente, já que eu trabalhava em um escritório e o sol nunca era visto; e eu estava solteiro novamente. Com a aproximação do meu vigésimo ano de sobrevivência, comecei a ter ataques de pânico e meu coração parecia que ia explodir no meu peito. Eventualmente, um terapeuta me ajudou a entender que, enquanto eu estava me transformando, isso também estava acontecendo com a medicina. Sobreviventes de câncer testicular agora vivem além de 20 anos, e eu fazia parte desses dados.

Isso foi há oito anos.

Para os quase 14 milhões de sobreviventes de câncer, incluindo Roberts e eu, a vida é uma montanha russa, sabendo que os tratamentos administrados para nós podem um dia nos custar um preço muito alto. Nem o adiamento e nem a liberdade que eles trazem são permanentes – mas com mais consciência dessas questões de saúde mental e novas intervenções terapêuticas, os médicos e os pacientes estão mais bem equipados do que nunca para lutar contra esses demônios.

Depois que eu encontrei o fundo do poço do medo, olhei novamente para Church. Mais uma vez, eu estou tentando buscar a sua noção de grandes possibilidades, mas é mais difícil na casa dos 50 anos, com uma hipoteca e pais idosos.

Agora eu entendo que o credo do senador não foi feito apenas para aqueles que possuem condições arriscadas de vida. Você está feliz em seu relacionamento? O seu trabalho o satisfaz? Se não, agarre-se à sua própria grande chance. Você não precisa ter tido câncer para se beneficiar dessa lição de vida.

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Osvaldo Aires Bade - Comentários Bem Roubados na "Socialização"

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