domingo, 8 de julho de 2012

CARTA DESMASCARA O GOLEIRO BRUNO
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Andréa Silva, de Belo Horizonte (MG)
PLANO B - Na carta interceptada, Bruno convoca o comparsa Macarrão a “ficar aqui” e livrá-lo da condenação pela morte de Eliza: três vezes “Me perdoe”
PLANO B - Na carta interceptada, Bruno convoca o comparsa Macarrão a “ficar aqui” e livrá-lo da condenação pela morte de Eliza: três vezes “Me perdoe” - Alex de Jesus/O Tempo: Mercelo Theobald/Extra/Ag. Globo 

                                          Eliza Samudio teria feito filme erótico


                                          Eliza fala sobre seu filho e atitudes de Bruno





Na entrevista, Eliza fala sobre seus encontros com outros jogadores além de Bruno, inclusive com Adriano e Cristiano Ronaldo. O vídeo pornô da produtora Brasileirinhas em que ela participou com o nome artístico de Fernanda Faria, apesar de proibido para menores de 18 anos, pode ser acessado a partir de link proibido para menores de 18 anos no site dos Vídeos Legais. Não nos responsabilizamos pela sua decisão de assistir às cenas que incluem sexo oral, vaginal e anal.










AMOR VERDADEIRO - Macarrão, o fiel escudeiro: peça fundamental do plano para tirar de uma vez por todas Eliza do caminho de Bruno, o seu “Tigrão”, a quem dedicou uma tatuagem horas antes de sequestrá-la na frente de um hotel na Barra da Tijuca

AMOR VERDADEIRO - Macarrão, o fiel escudeiro: peça fundamental do plano para tirar de uma vez por todas Eliza do caminho de Bruno, o seu “Tigrão”, a quem dedicou uma tatuagem horas antes de sequestrá-la na frente de um hotel na Barra da Tijuca - Fabiano Rocha/Ag. Globo


Advogado que atua com o Ministério Público de Minas Gerais pretende anexar nova prova ao processo. Edição de VEJA revela detalhes de como o goleiro e seus comparsas atraíram Eliza Samudio para a morte


Os advogados de acusação estão convencidos de que a defesa do goleiro Bruno montou uma estratégia para tentar inocentar o ex-jogador, contando com a colaboração de Luiz Henrique Romão, o Macarrão, para assumir toda a culpa pelo sequestro, tortura e morte da jovem Eliza Samudio. Em entrevista ao site de VEJA, o advogado José Arteiro Cavalcante de Lima, que atua junto ao Ministério Público de Minas Gerais no processo, afirmou nesta tarde que pretende anexar ao processo uma cópia da carta escrita por Bruno, endereçada ao amigo, falando do “plano B” e pedindo desculpas por ter que agir dessa maneira. O documento foi revelado pela edição de VEJA que chegou às bancas neste sábado.
EM CENA - Um executou, o outro assistiu: os depoimentos de Jorge Luiz (de rosto coberto, por ser menor de idade na época), primo de Bruno que assistiu ao assassinato, incriminaram o ex-policial Bola, matador de aluguel que asfixiou Eliza na sua própria casa

EM CENA - Um executou, o outro assistiu: os depoimentos de Jorge Luiz (de rosto coberto, por ser menor de idade na época), primo de Bruno que assistiu ao assassinato, incriminaram o ex-policial Bola, matador de aluguel que asfixiou Eliza na sua própria casa - Pedro Silveira/O Tempo/Folhapress e Cristiano Trad/AE


Bruno está preso desde julho de 2011, aguardando julgamento. Para Arteiro, a carta comprova a tese de que a polícia e o Ministério Público haviam formulado ainda no início do processo: a de que em algum momento do processo a defesa dos envolvidos no sumiço de Eliza tentaria tirar de Bruno a responsabilidade pelo crime, usando para isso até uma possível confissão de Macarrão. Desta forma, Bruno estaria livre para voltar a atuar no futebol e, como sempre fez, sustentar as famílias dos envolvidos e arcar com os custos de defesa.
Esse movimento, para Arteiro, demonstra um desespero da defesa. “Primeiro eles optaram por negar que havia um crime e orientaram os acusados a se manterem em silêncio. À medida que as provas foram surgindo e mais testemunhas apareceram, entre eles um menor, primo de Bruno, que contribuiu com as investigações, eles mudaram de tática”, disse.
VENDE-SE - O sítio de onde Eliza saiu para a morte: ninguém se interessou por comprar a propriedade de Bruno. Ali, enquanto a amante ficava trancada em um quarto, o goleiro oferecia um churrasco no quintal, local em que, dois dias depois, queimaria as roupas da moça
VENDE-SE - O sítio de onde Eliza saiu para a morte: ninguém se interessou por comprar a propriedade de Bruno. Ali, enquanto a amante ficava trancada em um quarto, o goleiro oferecia um churrasco no quintal, local em que, dois dias depois, queimaria as roupas da moça - José Patrício/AE


Arteiro considera que uma parte dessa estratégia passa pela insinuação, pelos próprios envolvidos, de que Macarrão nutriria por Bruno um sentimento homossexual. Dessa forma, estaria criada uma motivação passional para que o amigo resolvesse, de forma voluntária, o problema do jogador – Eliza cobrava o reconhecimento de paternidade e, como mostra a reportagem de VEJA, estaria também ameaçando divulgar um vídeo constrangedor para Bruno e Macarrão.
Eliza Samudio, de 25 anos, está desaparecida desde o início de junho. Eliza era ex-amante do ex-goleiro do Flamengo Bruno e tentava provar judicialmente que o atleta era pai de seu filho, também batizado de Bruno, de cinco meses. A suspeita é de que Eliza, a mando de Bruno, tenha sido brutalmente assassinada por amigos do goleiro
As declarações sobre o possível amor de Macarrão por Bruno começaram a surgir em março, logo após o advogado Rui Pimenta Caldas assumir a defesa do jogador. Pimenta confirmou a VEJA que houve uma mudança de direção na tática de defesa. “Falei com ele: não adianta ficar negando que essa jovem morreu. Todos têm culpa nesse caso, menos o Bruno, que é inocente, o bobo da corte. O problema dele foi ter o Macarrão como secretário”, disse.

Um trecho da carta diz o seguinte: “Eu sinceramente nunca pediria isso para você, mas hoje não temos que pensar em nós somente. Temos uma grande responsabilidade que são nossas crianças”, diz o goleiro. “Você me disse que se precisasse você ficaria aqui e que era para eu nunca te abandonar. Então, irmão, chegou a hora”, acrescenta. Em seguida, Bruno pede perdão por três vezes. Macarrão jamais recebeu a mensagem, que foi assinada pelo goleiro. A reportagem de VEJA comprovou a autenticidade da assinatura com dois peritos.

Ex-amante do goleiro Bruno Eliza com Bruninho no colo
Ex-amante do goleiro Bruno Eliza com Bruninho no colo
Rui Pimenta, apesar de saber que o documento passou por dois peritos antes de ser tornado público, afirmou, depois da publicação de VEJA, que considera “fantasiosa” a carta. “O texto, a meu ver, tem um tempero homossexual, o que não se encaixa ao perfil do Bruno. Vamos aguardar até eu conversar com ele para saber se ele a escreveu”, disse. Pimenta pretende ir, na segunda-feira, até a penitenciária Nelson Hungria para conversar com o cliente e saber mais sobre o manuscrito.
Após tomar conhecimento das novas provas contra Bruno, reveladas por VEJA, o delegado Edson Moreira, que durante as investigações do caso era o chefe do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) em Belo Horizonte, disse neste sábado não ter dúvida de que todas as dez pessoas acusadas no inquérito da Polícia Civil estão envolvidas até o pescoço no crime. Moreira vai além, e afirma acreditar que mais envolvidos virão à tona. Entre eles José Lauriano de Assis Filho, o Zezé, citado na reportagem e que caminha para ser uma figura-chave do caso. Foi Zezé quem apresentou ao grupo o ex-policial Bola, apontado como matador.
Fotos do filho de Eliza Samudio e do goleiro Bruno, em álbum encontrado pela polícia no sítio do goleiro
Fotos do filho de Eliza Samudio e do goleiro Bruno, em álbum encontrado pela polícia no sítio do goleiro - Agência Folha
“O Zezé é um policial civil. Na época do crime, ele estava na ativa. Foram captados sinais de diversas ligações do celular dele para o celular do Macarrão, inclusive no dia em que Eliza e o filho foram trazidos para Minas. Há ainda ligações dele para o Bola na data que a jovem foi morta. Ele foi ouvido duas vezes na delegacia, uma na condição de testemunha e a outra como suspeito, mas não conseguimos provas ligando ele a morte da jovem”, afirmou Moreira. Segundo ele, Zezé trabalhava no 2º Distrito Policial do Bairro Floramar, na Região Norte de BH.
Cães do Corpo de Bombeiros procuram vestígios do corpo de Eliza Samudio, ex-amante do goleiro Bruno
Cães do Corpo de Bombeiros procuram vestígios do corpo de Eliza Samudio, ex-amante do goleiro Bruno - AE
Medo – A mãe de Eliza Samudio, a sitiante Sônia de Fátima Moura, falou neste sábado a respeito das novas provas sobre a ação do grupo de Bruno contra a jovem. Sônia afirma que nunca acompanhou de perto a vida íntima da filha. “Eu tentei levantar informações sobre o que havia acontecido com a minha filha com as duas amigas com quem ela dividia o apartamento em São Paulo, mas elas desapareceram. Mudaram de casa e trocaram o número dos telefones, certamente apavoradas, com medo de também serem assassinadas, pois poderiam saber de algo que incomodasse os acusados”. Sônia também disse que soube da história de que Macarrão e Bola estiveram em São Paulo atrás de sua filha, para matá-la, mas não conseguiram encontrá-la.
O goleiro Bruno Fernandes durante a comissão de Direitos Humanos, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Belo Horizonte
O goleiro Bruno Fernandes durante a comissão de Direitos Humanos, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Belo Horizonte - Alex de Jesus/O Tempo/Folhapress

Luiz Henrique, o Macarrão, o goleiro Bruno, e Marcos Paulista, fichados pela polícia de Minas 
Luiz Henrique, o Macarrão, o goleiro Bruno, e Marcos Paulista, fichados pela polícia de Minas - Divulgação

O goleiro Bruno Fernandes e o policial Marcos Paulista, envolvidos na morte de Eliza Samudio
O goleiro Bruno Fernandes e o policial Marcos Paulista, envolvidos na morte de Eliza Samudio - Agência Globo

Goleiro Bruno Fernandes chega ao Departamento de Investigações, em Belo Horizonte  (José Patrício/Agência Estado)
Goleiro Bruno Fernandes chega ao Departamento de Investigações, em Belo Horizonte (José Patrício/Agência Estado)

Camisa autografada pelo goleiro Bruno: 79 reais 
Camisa autografada pelo goleiro Bruno: 79 reais - Reprodução


Camisa do ex-goleiro Bruno em liquidação


Camisa do ex-goleiro Bruno em liquidação

O Land Rover do goleiro Bruno, onde foram encontrados sangue de Eliza e de um homem: polícia
rastreou uma série de endereços por onde o carro circulou no período em que Eliza esteve em
cárcere privado. - Marcelo Theobaldo/Agência Globo. 

Dayanne Rodriques do Carmo Souza(d), ex-mulher do goleiro Bruno Fernandes, e outros quatro acusados de sequestro e suposto assassinato de Eliza Samudio, ex-amante do goleiro do Flamengo, são ouvidos em audiência no Fórum de Contagem (MG), na região metropolitana de Belo Horizonte 
Dayanne Rodriques do Carmo Souza(d), ex-mulher do goleiro Bruno Fernandes, e outros quatro acusados de sequestro e suposto assassinato de Eliza Samudio, ex-amante do goleiro do Flamengo, são ouvidos em audiência no Fórum de Contagem (MG), na região metropolitana de Belo Horizonte - EUGENIO MORAES/AE 

O ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, acusado de envolvimento no assassinato de Eliza Samudio, ex-amante do goleiro Bruno 
O ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, acusado de envolvimento no assassinato de Eliza Samudio, ex-amante do goleiro Bruno - AE

Dayanne
Dayanne Souza: ex-mulher do goleiro Bruno, com quem ele ainda é casado oficialmente, fez revelações importantes à polícia mineira.


O goleiro Bruno Fernandes passou mal e desmaiou por volta de 10h45 desta quarta-feira, pouco antes da audiência que deve ouvir 21 testemunhas no processo que corre em Contagem (MG) contra o jogador
O goleiro Bruno Fernandes passou mal e desmaiou por volta de 10h45 desta quarta-feira, pouco antes da audiência que deve ouvir 21 testemunhas no processo que corre em Contagem (MG) contra o jogador - Eugênio Moraes/Hoje em Dia/Folha

Eliza Samudio, 25, ex-amante do goleiro Bruno, do Flamengo
Eliza Samudio, 25, ex-amante do goleiro Bruno, do Flamengo - AE

Luís Carlos Samudio, pai da Eliza Samudio,  ex-amante do goleiro Bruno, com o filho do casal
Luís Carlos Samudio, pai da Eliza Samudio, ex-amante do goleiro Bruno, com o filho do casal - FolhaPress


O delegado Edson Moreira, que preside a investigação do desaparecimento de Eliza Samudio, ex-amante do goleiro Bruno
O delegado Edson Moreira, que preside a investigação do desaparecimento de Eliza Samudio, ex-amante do goleiro Bruno - AE


Polícia Civil de MG e RJ na casa onde estariam restos mortais de Eliza Samudio, ex-amante do goleiro Bruno, do Flamengo
Polícia Civil de MG e RJ na casa onde estariam restos mortais de Eliza Samudio, ex-amante do goleiro Bruno, do Flamengo - Domingos Peixoto/Agência o Globo

Polícia Civil no condomínio do goleiro Bruno
Policiais civis deixam o condomínio do jogador Bruno, no Recreio dos Bandeirantes: menor encontrado na casa do goleiro é suspeito de ter participado da morte de Eliza Samudio - Carlos Moraes/Agência O DIA/AE

O chefe do Departamento de Investigações da polícia mineira, Edson Moreira, mostra a foto do ex-policial Marco Antônio Aparecido dos Santos, acusado de estrangular Eliza Samudio.
O chefe do Departamento de Investigações da polícia mineira, Edson Moreira, mostra a foto do ex-policial Marco Antônio Aparecido dos Santos, acusado de estrangular Eliza Samudio. - FolhaPress



Como o goleiro Bruno atraiu Eliza Samudio para a morte

Informações inéditas obtidas por VEJA desvendam a trama montada pelo ex-jogador e seus comparsas para eliminar a amante

Leslie Leitão
PLANO B - Na carta interceptada, Bruno convoca o comparsa Macarrão a “ficar aqui” e livrá-lo da condenação pela morte de Eliza: três vezes “Me perdoe”
  PLANO B - Na carta interceptada, Bruno convoca o comparsa Macarrão a “ficar aqui” e livrá-lo da condenação pela morte de Eliza: três vezes “Me perdoe” (Alex de Jesus/O Tempo: Mercelo Theobald/Extra/Ag. Globo)
Nunca houve dúvida de que Eliza Samudio, a jovem que teve um filho com o goleiro Bruno Fernandes, foi vítima de um enredo de barbáries que culminou em sua morte, em 10 de junho de 2010, na casa de um matador contratado pelos comparsas do então ídolo do Flamengo. Mas faltavam peças essenciais da trama, que a Polícia Civil de Minas Gerais desvendou em um inquérito de 8 500 páginas a que VEJA teve acesso. É revelador. Ali estão detalhes técnicos, científicos e testemunhais que mostram a articulação de Bruno e seu bando para atrair, sequestrar, matar e dar sumiço ao corpo da incômoda amante. Agora está claro que a caçada a Eliza foi planejada.


Ela durou pelo menos cinco meses. “Espantam a frieza e a determinação do grupo para eliminar essa moça”, diz a delegada Alessandra Wilke, à frente da investigação. Paralelamente, VEJA obteve uma série de novas evidências, exclusivas, que contribuem para fechar ainda mais o anel em torno dos responsáveis. Em Minas, conversou com o homem que apresentou Bruno e seu séquito ao matador, o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola. Ouviu ainda de pessoas próximas ao grupo do goleiro que Eliza tinha em seu poder um vídeo comprometedor que ameaçava divulgar e que teria efeito devastador sobre a reputação de Bruno. E obteve uma carta, interceptada por um agente penitenciário, em que o goleiro escreve – de sua cela no presídio de Nelson Hungria, na Grande Belo Horizonte, no qual completa neste dia 7 de julho dois anos de permanência – o que nunca falou.
Fabiano Rocha/Ag. Globo
AMOR VERDADEIRO - Macarrão, o fiel escudeiro: peça fundamental do plano para tirar de uma vez por todas Eliza do caminho de Bruno, o seu “Tigrão”, a quem dedicou uma tatuagem horas antes de sequestrá-la na frente de um hotel na Barra da Tijuca
AMOR VERDADEIRO - Macarrão, o fiel escudeiro: peça fundamental do plano para tirar de uma vez por todas Eliza do caminho de Bruno, o seu “Tigrão”, a quem dedicou uma tatuagem horas antes de sequestrá-la na frente de um hotel na Barra da Tijuca


Endereçada a seu fiel escudeiro Luiz Henrique Romão, o Macarrão (“meu querido irmão”), a carta revela o mesmo Bruno que negava ter estado com Eliza na ocasião de seu sumiço pedindo ao amigo que assuma toda a responsabilidade em seu lugar. É o que chama de “plano B” – o A era simplesmente negar o óbvio, a existência do crime, o que ele próprio já não acha viável, “diante das investigações”.
“Eu sinceramente nunca pediria isso para você, mas hoje não temos que pensar em nós somente. Temos uma grande responsabilidade que são nossas crianças”, diz o goleiro. “Você me disse que se precisasse você ficaria aqui e que era para eu nunca te abandonar. Então, irmão, chegou a hora”, acrescenta. E pede perdão – três vezes. Encerra a carta que Macarrão jamais recebeu com a assinatura (comprovada por dois peritos) que, por quase quatro anos, estampou o uniforme de jogador número 1 do Flamengo.

Lançar a culpa em Macarrão e alegar que não sabia de nada é a estratégia atual de Bruno para se livrar das acusações de sequestro e assassinato que pesam sobre ele. O advogado do goleiro confirma a tática: “Falei com ele: não adianta ficar negando que essa jovem morreu. Todos têm culpa nesse caso, menos o Bruno, que é inocente, o bobo da corte. O problema dele foi ter o Macarrão como secretário”, diz Rui Pimenta, renomado criminalista de Minas Gerais. Macarrão ainda não se pronunciou sobre esse assunto. As informações que agora vêm à tona, no entanto, não deixam dúvida sobre o papel do goleiro nesse enredo de brutalidades no qual esteve presente do começo ao fim.


A memória do computador apreendido no apartamento da Zona Leste de São Paulo onde Eliza estava morando nos meses que antecederam sua morte é decisiva para destrinchar a teia criminosa. Entre 9 de novembro de 2009 e 7 de maio de 2010 – 35 dias antes de morrer –, ela trocou centenas de mensagens por MSN com amigos. O caso de Eliza com Bruno (que era casado e tinha noiva e uma amante fixa) veio à tona em outubro de 2009, quando ele e Macarrão a procuraram, espancaram, encostaram uma arma em sua cabeça e lhe deram à força um abortivo que não funcionou. Grávida de um filho que dizia ser do goleiro, Eliza denunciou a agressão e, com medo da reação de Bruno, refugiou-se na casa de amigos, sem revelar seu paradeiro.

O temor de ser encontrada fica evidente nas conversas, nas quais ela insiste que “Bruno é maluco” e que à “terra do Bruno vou só com passagem de ida. Vão me matar lá”. A partir de janeiro de 2010, um mês antes de o bebê nascer, amigos do goleiro (nunca ele mesmo), sempre por MSN, começaram a pedir a Eliza seu endereço e a tentar atraí-la de volta ao Rio. “O objetivo deles, o tempo todo, era matá-la”, reforça o então diretor do Departamento de Investigações de Minas Gerais, delegado Edson Moreira.

Três pessoas ligadas a Bruno e ouvidas por VEJA relatam que Macarrão e outro homem chegaram a ir atrás de Eliza em Santos, pois tinham informações de que ela estaria lá. “O Bruno fala que Macarrão lhe contou que precisava ir a São Paulo para resolver alguns problemas, mas não especificou do que se tratava”, diz o advogado Pimenta. Por fim, Eliza foi vencida pela promessa de um apartamento mobiliado e pela exibição de um contrato em que Bruno se comprometia a fazer exame de DNA e a pagar pensão de 3.500 reais. Chegou ao Rio com o bebê em maio de 2010 e se instalou em um hotel (bancado por Bruno) na Barra da Tijuca, na Zona Oeste, próximo à casa do goleiro.
Trazia na manga, ao que tudo indica, uma arma poderosa e um forte motivo para o atleta querer eliminá-la – além do desejo de se livrar de alguém que havia feito dele motivo de chacota entre os colegas de gramado, por tê-lo supostamente engambelado ao engravidar, e que insistia em tirar dele dinheiro e conforto.
Pessoas próximas a Bruno falaram a VEJA sobre a existência de um vídeo gravado por Eliza em seu celular com as cenas de uma orgia envolvendo ela própria, Bruno e Macarrão. Esse celular jamais foi encontrado. A mudança de tom nas mensagens de Eliza pouco antes de chegar ao Rio reforça a suspeita de que ela tinha em seu poder um trunfo que assombrava Bruno: em vez de se sentir ameaçada, agora era ela quem fazia amea-ças (“Não sei o que fazer, viu? Estou me contendo. Vou desestabilizar o Fla”, escreveu ao jogador Rodrigo Alvim, então colega de time de Bruno). No dia 4 de junho de 2010, Eliza e o bebê foram sequestrados na porta do hotel por Macarrão e Jorge Luiz Rosa, primo do goleiro, na época menor de idade.

Foi nos depoimentos desse primo que a polícia alinhavou a maior parte do roteiro que se segue. No carro, ferida por coronhadas na cabeça, Eliza foi levada para a casa de Bruno. A portaria do condomínio foi instruída pelo próprio goleiro a não deixar ninguém entrar, com exceção de uma pessoa: Fernanda Gomes de Castro, também sua amante, convocada para cuidar do bebê -- o que reforça a ideia de que os passos seguintes já estavam planejados. Detalhe: VEJA apurou que foi nesse dia, mais precisamente cinco horas antes do sequestro (e não meses antes, como afirmava), que Macarrão fez a famosa tatuagem “Bruno e Ma-ka, a amizade nem mesmo a força do tempo irá destruir, amor verdadeiro”.

No dia seguinte, o Flamengo jogou com o Goiás no Maracanã (perdeu de 2 a 1); do vestiário, Bruno ligou quatro vezes para Macarrão, demonstrando estar atento à situação em casa. Duas horas depois do jogo, partiram todos para o sítio do goleiro em Esmeraldas, Minas Gerais – Bruno, o bebê e Fernanda num carro que ele próprio tomou emprestado de um amigo (sem GPS); Macarrão, Jorge Luiz e Eliza, sempre apanhando, no Land Rover do goleiro. No caminho, pararam em um motel, onde se hospedaram em quartos separados. Nos depoimentos, sustentaram a imaginosa versão de que um não sabia da presença do outro, embora Bruno tenha pago a conta inteira: 431 reais.
José Patrício/AE
VENDE-SE - O sítio de onde Eliza saiu para a morte: ninguém se interessou por comprar a propriedade de Bruno. Ali, enquanto a amante ficava trancada em um quarto, o goleiro oferecia um churrasco no quintal, local em que, dois dias depois, queimaria as roupas da moça
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VENDE-SE - O sítio de onde Eliza saiu para a morte: ninguém se interessou por comprar a propriedade de Bruno. Ali, enquanto a amante ficava trancada em um quarto, o goleiro oferecia um churrasco no quintal, local em que, dois dias depois, queimaria as roupas da moça

Nesse ponto, entra em cena a figura-chave que se manteve por todo esse tempo à sombra do enredo: José Lauriano de Assis Filho, o Zezé, então policial na ativa que conhecera Bruno e Macarrão dois anos antes. Foi Zezé quem apresentou ao grupo um matador conhecido na região, o ex-policial Bola -- o que ele admitiu no inquérito e repetiu a VEJA. Justificou-se: o filho de Bola queria ser jogador de futebol.
Do motel, Macarrão e Zezé se falaram 23 vezes por telefone; a certa altura, as antenas dos celulares mostram que os dois estavam pertíssimo um do outro e que no quarto 25, de Macarrão, alguém autorizou a entrada de um visitante, que lá permaneceu quarenta minutos.

Mas a polícia não conseguiu comprovar um encontro de Zezé com Macarrão ou Bruno. “Eu estava caminhando naquela região”, disse Zezé a VEJA. “Temos a convicção de que ele participou de tudo, mas não conseguimos provar”, diz o delegado Moreira. Os dois grupos seguiram viagem até o sítio do goleiro. Chegando lá, Eliza e o bebê foram trancados num quarto, onde a polícia depois detectou vestígios de sangue no chão. Despreocupado, Bruno organizou um churrasco para cerca de trinta pessoas no quintal do imóvel -- na ocasião os convidados não tinham permissão de entrar na casa, restringindo-se à área do jardim. Nesse churrasco, Cleiton Gonçalves, amigo do goleiro com passagens pela polícia, quis ir ao banheiro, foi impedido e acabou avisado do cativeiro. À polícia, ele disse que percebeu as intenções do grupo e aconselhou o goleiro: “Não mata ela, não”. Ao que Bruno respondeu: “Já fiz m..., agora vou resolver”.


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Na noite de 10 de junho de 2010, Macarrão telefonou para Bola. Em seguida, pôs Eliza e o bebê no carro, e, acompanhado de Jorge Luiz, dirigiram-se a um ponto onde encontraram o ex-policial, de moto. Seguiram-no até a casa do matador. Ali, diante dos dois, Bola asfixiou Eliza e carregou seu corpo para outro cômodo. De lá saiu com um saco que disse conter pedaços do corpo da moça e atirou tudo a seus cães rottweiler.
Agora está claro para a polícia: era fingimento – ele só queria aterrorizar as testemunhas. Os detalhes sobre os derradeiros momentos de Eliza constam dos depoimentos de Jorge Luiz, que reforçou a veracidade do relato 1) fazendo uma descrição minuciosa do interior da casa e 2) do próprio matador, apontando até uma falha em seu dente que ele tentou disfarçar, dizendo ter sido um acidente com as algemas, mas que foi confirmada pela perícia.

Macarrão e Jorge Luiz foram embora com o bebê. Bruno se encarregou de atear fogo à mala de roupas de Eliza em seu sítio. Às 23 horas, todos (menos o bebê, que foi entregue aos caseiros) voltaram para o Rio de Janeiro. O corpo da amante do goleiro nunca foi achado.
O sítio no condomínio Turmalinas, palco do horror vivido por Eliza, está à venda há mais de um ano, sem atrair compradores. Aguardando o julgamento, que deve ficar para 2013, Bruno, hoje com 27 anos, vive numa cela de 6 metros quadrados com chuveiro de água fria, pia e vaso sanitário. Tem TV e rádio, levados por parentes, e uma Bíblia, que lê todo dia. Está sozinho desde abril do ano passado, quando, por determinação judicial, deixou de dividir o local com Macarrão. É considerado um preso de comportamento tranquilo.

Por duas horas diárias, aproveita o banho de sol para treinar sozinho, com bola, meia alta e caneleira. De segunda a sexta, trabalha no presídio como faxineiro. Ganha salário de 466 reais. Recebe visitas regulares da avó paterna e de Ingrid Calheiros, sua noiva, com direito a um encontro íntimo por mês. De vez em quando, Macarrão lhe manda o que seu advogado descreve como “cartas de amor”, nas quais é chamado de “Tigrão”. Bruno não responde a elas.
Pedro Silveira/O Tempo/Folhapress e Cristiano Trad/AE
EM CENA - Um executou, o outro assistiu: os depoimentos de Jorge Luiz (de rosto coberto, por ser menor de idade na época), primo de Bruno que assistiu ao assassinato, incriminaram o ex-policial Bola, matador de aluguel que asfixiou Eliza na sua própria casa
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EM CENA - Um executou, o outro assistiu: os depoimentos de Jorge Luiz (de rosto coberto, por ser menor de idade na época), primo de Bruno que assistiu ao assassinato, incriminaram o ex-policial Bola, matador de aluguel que asfixiou Eliza na sua própria casa
Com reportagem de Marcelo Sperandio 

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08/07/2010 às 21:15
O CASO DO GOLEIRO BRUNO PRECISA SER PENSADO PELO FUTEBOL BRASILEIRO ALÉM DA TRAGÉDIA EPISÓDICA
Sabemos, e como!, que não adianta ter um equipe de jogadores que não sabe a diferença entre disciplina e subserviência. Se alguém tem alguma dúvida a respeito, pergunte a Dunga e a Jorginho, o pequeno cérebro que dirigia a carranca do outro. Atribui-se ao lendário técnico João Saldanha a máxima de que o futebol não precisa de jogadores que queremos para casar com as nossas filhas. Até aí, estamos de acordo.
Mas o futebol tem uma importância cultural no Brasil que requer certos ajustes. O caso estarrecedor do goleiro Bruno vem se juntar a outras polêmicas recentes envolvendo jogadores do Flamengo, como Vagner Love e Adriano, que já deixou o time. Os dois foram flagrados, vamos ser mansos, em relações excessivamente cordiais com traficantes.
Pode-se apelar à história, à sociologia, à antropologia e até à luta de classes para especular por que as coisas são assim: meninos pobres, alçados à fama e com uma montanha de dinheiro, teriam dificuldades para… Bem, vocês sabem onde explicações como essa terminam: na justificação da bandalheira.
O caso Bruno excede a imaginação mais perversa. Parece se tratar de uma verdadeira conspiração de psicopatas; de gente que veio ao mundo sem culpa, que pode amarrar as mãos de uma mulher, mãe de um bebê que está presente (e sobre cujo assassinato também se especula), e anunciar: “Você vai morrer”. A ser verdade o que diz um menor que participou do crime, o corpo de Eliza foi retalhado e dado como comida aos cães. Bruno é um ponto fora da curva até mesmo dos crimes mais hediondos.
Mas uma coisa certa: testemunhos anteriores da vítima e declarações do próprio jogador sugeriam que o  atleta tinha uma vida, digamos, bastante heterodoxa para quem era o goleiro do time que tem a maior torcida do país — e que o tinha como ídolo. O futebol brasileiro não precisa de escoteiros cretinos mais ocupados em dar vivas a Jesus — como se o Nazareno se interessasse por futebol! — do que em obedecer ao evangelho da bola. Mas estará cometendo um erro se não exigir dos talentosos um comportamento compatível com a sua função e com aquilo que representam num país apaixonado por esse esporte.
As profissões todas têm códigos de ética. A associação que reúne os clubes e a própria CBF poderiam se ocupar de elaborar um conjunto de procedimentos decorosos a que o atleta se obrigaria — devidamente previstos em contrato.
Alguém dirá: “Não há regras contra os psicopatas”.  Pode até ser. A questão é saber se, nesse caso, o próprio Bruno já não havia dado uma pista importante quando convocou o testemunho pessoal de jornalistas, convidando-os a revelar quem, ali, nunca havia dado uns tabefes na própria mulher. O clube o forçou a pedir desculpas, ele pediu. E continuou, com o direi?, em seu ritmo dissoluto…
Flamengo, Corinthians, Vasco, Palmeiras ou o meu Mocoembu, de Dois Córregos… A disciplina sem o talento é uma tristeza; o talento sem a disciplina é uma estupidez. Em ambos os casos, o desastre fica à espreita.

Por Reinaldo Azevedo

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