PARAGUAI: SERÁ QUE ESSA PRESSÃO CONTRA O NOVO GOVERNO NÃO TEM A VER COM O “NÃO” DO SENADO PARAGUAIO À DITADURA DE CHÁVEZ NO MERCOSUL?
Amigos do blogo, está sendo hoje, em Mendoza, na Argentina, a discussão dos países-membros do Mercosul sobre as eventuais sanções a serem adotadas contra o governo do novo presidente Frederico Franco, o vice que assumiu no Paraguai depois que o Congresso decretou o impeachment do presidente Fernando Lugo.
É interessante notar que, enquanto o descabelado governo de Cristina Kirchner na Argentina fala, nas entrelinhas, até em expulsão do Paraguai do Mercosul, e a diplomacia brasileira, acarneirada, em vez de tomar sua decisão com vistas aos reais interesses do país e assumir seu papel de país mais importante da América Latina, aguarda o que dirão os sócios — e também na Unasul — para pronunciar seu veredito, um homem de bem, com passado esquerdista a ponto de ter assaltado bancos, como o presidente do Uruguai, José Mujica, se manifesta contra sanções.
Mais interessante ainda foram os esfregões de mão percebidos em Brasília — não da presidente Dilma, ressalve-se — diante do “agora, vai” em relação à admissão da Venezuela de Hugo Chávez no Mercosul.
Isso porque o mesmo Senado do Paraguai que afastou o “bolivariano” Lugo continua, firme, como faz há quase três anos, se recusando a aprovar o ingresso da Venezuela no Mercosul.
Lembremo-nos: os acordos do Mercosul prevêem a chamada “cláusula democrática” — mérito, diga-se de passagem, dos ex-presidente José Sarney, do Brasil, e Raúl Alfonsín, da Argentina: países sem instituições democráticas não podem integrar o órgão. Prevêem, ainda, que a adesão de qualquer país deve ser aprovada pelos Congressos dos países-membros.
No caso — vergonhoso — do Brasil, confirmando decisão da Câmara dos Deputados, o Senado aprovou a adesão da Venezuela em dezembro de 2009, apesar da notória feição autoritária do regime de Chávez, que sufoca a imprensa livre, intefere no Judiciário, persegue opositores, confisca propriedades de grupos econômicos não afins com o regime, moldou uma Constituição, um legislativo e um Judiciário à sua maneira e, em grande parte, vem governando por decreto.
Sem contar que perdeu as eleições para o Parlamento mas, graças a uma lei esperta e pré-fabricada pela Assembleia antiga, onde contava com maioria de dois terços, tem mais deputados do que a oposição.
O único consolo para a triste decisão do Senado brasileiro foi a votação algo apertada (35 votos a 27). A Argentina e o Uruguai já tinham aprovado então a entrada do que seria o quinto integrante do bloco.
Neste caso, agora, do novo governo paraguaio, não por acaso a voz que se ergue mais alto pedindo punição ao Paraguai é a de Chávez.
Enquanto isso, o novo governo já foi reconhecido pelos Estados Unidos — sim, sei que muitos dirão que o “imperialismo americano”, fonte de todo o mal no mundo, está feliz com o afastamento do esquerdista Lugo –, mas também pela sóbria e sensata Alemanha, detrás da qual certamente virá a Europa inteira, e, vejam só, até pelo Vaticano.
Tags: Cristina Kirchner, diplomacia brasileira, Fernando Lugo, Frederico Franco,Hugo Chávez, impeachment, José Mujica, José Sarney, Mercosul, Raúl Alfonsín,Senado paraguaio, Unasul
Cubramo-nos de vergonha: falou-se tanto em golpe, golpe, golpe no Paraguai, e quem acabou dando um golpe fomos nós
29/06/2012
às 19:35 \ Política & Cia
A reunião do Mercosul em Mendoza, Argentina: a "suspensão" do Paraguai foi uma óbvia malandragem para permitir ao governo ditadorial de Hugo Chávez, da Venezuela, ingressar no bloco (Foto: Reuters)
O Senado do Paraguai — imaginemos, do Paraguai, antes motivo de piada quando se falava de democracia — vinha resistindo bravamente, há seis anos, às pressões para aprovar o ingresso da Venezuela do tirano bufão Hugo Chávez no Mercosul, bloco integrado pelo próprio Paraguai e por Brasil, Argentina e Uruguai.
O Senado paraguaio, diferentemente da maneira covarde com que se houve o Congresso brasileiro, se apegou à chamada “cláusula democrática” do Mercosul, segundo o qual só podem integrar o organismo países plenamente democráticos, com eleições livres, liberdade de imprensa, liberdade de opinião, liberdade sindical, Justiça livre e independente e respeito às minorias, entre outras exigências.
Essa cláusula, justiça se faça, foi inserida nos tratados de formação do Mercosul pelos então presidente José Sarney, do Brasil, e Raúl Alfonsín, da Argentina. Com Sarney, naquele momento, a diplomacia brasileira viveu um bom momento.
Agora, estamos vivendo um péssimo e vergonhoso momento: o Brasil participou, alegremente, da manobra que “suspendeu” o Paraguai do Mercosul até as eleições presidenciais já previstas no país para abril do próximo ano. Então, com o Paraguai “suspenso” até abril, seu Senado não pode vetar nada agora em relação ao Mercosul.
Um presentão para a camarilha “bolivariana” que pressionava para que o governo ditatorial de Chávez ingressasse no mercado comum do Sul do continente: o negócio foi fechado hoje mesmo, na mesma reunião de Mendoza, na Argentina, convocada para examinar a situação no Paraguai após o impeachment do presidente Fernando Lugo.
Um golpe na democracia e na credibilidade do Mercosul
Ou seja, a “suspensão” do Paraguai constituiu uma evidente manobra calhorda para driblar o obstáculo às pretensões de Chávez, que o Senado paraguaio impedia.
O governo tresloucado e autoritário de Cristina Kirchner na Argentina foi quem primeiro vociferou que ocorrera um “golpe” no Paraguai com o impeachment de Lugo pelo Congresso. Vários outros governos sul-americanos bateram na mesma tecla — inclusive, apesar de permanecer em cima do muro e por meias palavras, o do Brasil.
Falou-se tanto em golpe, golpe, golpe – e quem assesta um golpe na democracia, agora, são justamente os que acusavam o Paraguai disso. Um golpe na democracia que mina a credibilidade que ainda poderia restar ao Mercosul.
Como publica hoje o site de VEJA, “com alta dose de hipocrisia, os governantes do grupo, que em nenhum momento mencionaram as artimanhas de Chávez para se manter no poder, afirmaram que a suspensão do Paraguai ocorreu devido ao ‘rompimento do processo democrático’ no país – como tem sido definido por países sul-americanos o impeachment sofrido pelo presidente Fernando Lugo, ocorrido estritamente dentro das regras da Constituição paraguaia.”
“[A presidente] Dilma Rousseff, por exemplo, defendeu da seguinte forma a suspensão paraguaia: ‘Nossa posição mostra a sobriedade desta região. Há 140 anos vivemos sem guerras, conflitos étnicos ou perseguições religiosas no Mercosul. Fizemos todos os nossos organismos baseados no compromisso fundamental com a democracia, e o protocolo de Ushuaia evidencia isso’. O protocolo de Ushuaia determina que os países-membros do bloco possuam governos democráticos” (justamente o que impedia o ingresso no Mercosul do truculento regime de Chávez).
Não foi por falta de prever, como publiquei em post anterior.
Cubramo-nos de vergonha. Mais um vexame da diplomacia brasileira que, no governo Dilma, vinha se comportando melhor do que durante os oito anos do lulalato.
Não mais.
Tags: Argentina, Brasil, cláusula democrática, Congresso Nacional, credibilidade,Cristina Kirchner, democracia, Dilma Rousseff, golpe, manobra calhorda,Mercosul, Paraguai, Senado do Paraguai, Uruguai
Osvaldo Aires Bade Comentários
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