Educar é contar histórias Claudio de Moura Castro
DA VEJA Sábado, Junho 06, 200
DA VEJA Sábado, Junho 06, 200
"Bons
professores eletrizam seus alunos com narrativas interessantes ou curiosas,
carregando nas costas as lições que querem ensinar"
De que servem
todos os conhecimentos do mundo, se não somos capazes de transmiti-los aos
nossos alunos? A ciência e a arte de ensinar são ingredientes críticos no
ensino, constituindo-se em processos chamados de pedagogia ou didática. Mas
esses nomes ficaram poluídos por ideologias e ruídos semânticos. Perguntemos
quem foram os grandes educadores da história. A maioria dos nomes decantados
pelos nossos gurus faz apenas "pedagogia de astronauta". Do espaço
sideral, apontam seus telescópios para a sala de aula. Poucos enxergam, poucos
ensinam que sirva aqui na terra.
Tenho meus
candidatos. Chamam-se Jesus Cristo e Walt Disney. Eles pareciam saber que
educar é contar histórias. Esse é o verdadeiro ensino contextualizado, que
galvaniza o imaginário dos discípulos fazendo-os viver o enredo e prestar
atenção às palavras da narrativa. Dentro da história, suavemente, enleiam-se as
mensagens. Jesus e seus discípulos mudaram as crenças de meio mundo. Narraram
parábolas que culminavam com uma mensagem moral ou de fé. Walt Disney foi o
maior contador de histórias do século XX. Inovou em todos os azimutes. Inventou
o desenho animado, deu vida às histórias em quadrinhos, fez filmes de aventura
e criou os parques temáticos, com seus autômatos e simulações digitais. Em tudo
enfiava uma mensagem. Não precisamos concordar com elas (e, aliás, tendemos a
não concordar). Mas precisamos aprender as suas técnicas de narrativa.
Há alguns
anos, professores americanos de inglês se reuniram para carpir as suas mágoas:
Apesar dos esplêndidos livros disponíveis, os alunos se recusavam a ler. Poucas
semanas depois, foi lançado um dos volumes de Harry Potter, vendendo
9 milhões de exemplares, 24 horas após o lançamento! Se os alunos leem J.K.
Rowling e não gostam de outros, é porque estes são chatos. Em um gesto de realismo, muitos
professores passaram a usar Harry Potter para ensinar até
física. De fato, educar é contar histórias. Bons
professores estão sempre eletrizando seus alunos com narrativas interessantes
ou curiosas, carregando nas costas as lições que querem ensinar. É preciso
ignorar as teorias intergalácticas dos "pedagogos astronautas" e
aprender com Jesus, Esopo, Disney, Monteiro Lobato e J.K. Row-ling. Eles é que
sabem.
Poucos
estudantes absorvem as abstrações, quando apresentadas a sangue-frio:
"Seja X a largura de um retângulo...". De fato, não se aprende matemática sem
contextualização em exemplos concretos. Mas o
professor pode entrar na sala de aula e propor a seus alunos: "Vamos
construir um novo quadro-negro. De quantos metros quadrados de compensado
precisaremos? E de quantos metros lineares de moldura?". Aí está a
narrativa para ensinar áreas e perímetros. Abundante pesquisa mostra que a maioria
dos alunos só aprende quando o assunto é contextualizado. Quando falamos em
analogias e metáforas, estamos explorando o mesmo filão. Histórias e casos
reais ou imaginários podem ser usados na aula. Para quem vê uma equação pela
primeira vez, compará-la a uma gangorra pode ser a melhor porta de entrada.
Encontrando pela primeira vez a eletricidade, podemos falar de um cano com
água. A pressão da coluna de água é a voltagem. O diâmetro do cano ilustra a
amperagem, pois em um cano "grosso" flui mais água. Aprendidos esses
conceitos básicos, tais analogias podem ser abandonadas.
É preciso garimpar as boas narrativas
que permitam empacotar habilmente a mensagem. Um dos maiores absurdos da
doutrina pedagógica vigente é mandar o professor "construir sua própria
aula", em vez de selecionar as idéias que deram certo alhures. É irrealista
e injusto querer que o professor seja um autor como Monteiro Lobato ou J.K.
Rowling. É preciso oferecer a ele as melhores ferramentas – até que apareçam
outras mais eficazes. Melhor ainda é fornecer isso tudo já articulado e seqüenciado.
Plágio? Lembremo-nos do que disse Picasso: "O bom artista copia, o grande
artista rouba idéias". Se um dos maiores pintores do século XX
achava isso, por que os professores não podem copiar? Preparar aulas é buscar
as boas narrativas, exemplos e exercícios interessantes, reinterpretando e
ajustando (é aí que entra a criatividade). Se "colando" dos melhores
materiais disponíveis ele conseguir fazer brilhar os olhinhos de seus alunos,
já merecerá todos os aplausos.
Claudio de Moura Castro é economista
claudio&moura&castro@cmcastro.com.br
Abraço e Sucesso a Todos
Olimpia Pinheiro
Consultora Executiva
(91)8164-1073
CRA-PA/AP 3698
CRECI-PA/AP 6312
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3- Cinema Como Recurso Pedagógico.
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