domingo, 12 de fevereiro de 2012

NEGÓCIOS INTERNACIONAIS - Brasileiros movimentam o mercado de decoração de Nova York
 

Apartamentos são usados por toda a família para temporadas de férias e trabalho

 

Em um dos quartos de uma townhouse em NY, amplitude e conforto ao mesmo tempo. Imóvel vai abrigar família de um banqueiro brasileiro
Foto: Divulgação
Em um dos quartos de uma townhouse em NY, amplitude e conforto ao mesmo tempo. Imóvel vai abrigar família de um banqueiro brasileiro

Não é só em roupas, eletrônicos, teatros e bons restaurantes que os brasileiros têm usado seus dólares em Nova York. Crescem também os gastos com o mercado de decoração. A contratação de arquitetos, por exemplo, aumentou 50% nos últimos dois anos, segundo profissionais que atuam na cidade. Afinal, desde a quebradeira no mercado imobiliário americano e a alta de preços de imóveis por aqui, cresceu o número de brasileiros comprando apartamentos e casas nos Estados Unidos.
Agora, os novos proprietários estão dando um toque de doce lar a seus apartamentos americanos, a maioria deles localizados em Miami e Nova York. E, para isso, não costumam se importar muito com preços. Os projetos de decoração saem por US$ 10 mil (ou R$ 18 mil), fora as comissões de 10% a até 35% sobre as obras. No Rio, a comissão varia de 5% a 10%, mas os projetos podem chegar a algo entre R$ 100 e R$ 200, o metro quadrado (R$ 24 mil para um imóvel de 120 metros).
— São pessoas que têm um certo refinamento — explica a arquiteta brasileira Cristiana Mascarenhas, que há 20 anos mora em Nova York e nunca atendeu tantos brasileiros como agora. — Ano passado, fiz 20 projetos para brasileiros que não moram aqui e apenas quatro para brasileiros que vivem na cidade.
Sim, porque esses imóveis são quase sempre para temporadas. Tanto de férias quanto de negócios, no caso de empresários, advogados e profissionais do mercado financeiro — a maioria dos brasileiros que compram por lá. Não à toa, escolhem áreas valorizadas e próximas ao burburinho (das compras e das noites), como o Upper East Side e o Central Park, para montar sua base na Big Apple. E em bairros como Brickell, no caso de Miami.
Para a também arquiteta brasileira Suzana Monacella, radicada há 30 anos em NY, ao contrário do americano, que costuma ser mais contido, o brasileiro nova-iorquino gosta de boa vida e, portanto, de conforto:
— O brasileiro que vem para Nova York quer o que a cidade tem de melhor: os grandes restaurantes, as boas peças, os melhores prédios para morar...
O que se reflete também na hora de escolher móveis e objetos de decoração. Como querem qualidade, optam por marcas italianas: B&B Italia e Minnotti estão entre as preferidas.
— São muito poucos os que apelam para Pottery Barn, por exemplo — diz Suzana, citando a marca americana famosa por produzir peças em série e mais em conta. — O brasileiro que compra apartamento aqui tem um nível de demanda muito alto e gosto sofisticado — afirma.
Achar o tom certo dessa decoração, aliás, é um dos grandes desafios dos arquitetos que atendem a brasileiros. É que os imóveis são quase sempre usados por toda a família em diferentes épocas do ano, e a decoração, claro, deve agradar a todos — dos netos aos avós. Talvez por isso, boa parte dos espaços seja “clean”, com móveis amplos, de linha reta e toques clássicos, principalmente, em Nova York. Em Miami, o clima quente garante cores mais fortes.
Leis americanas e regras rígidas de prédios dificultam mudanças e são pedra no sapato de proprietários
Antes de definir cores e mobiliário, contudo, os arquitetos têm outro grande desafio: administrar as reformas nos imóveis, atendendo aos desejos dos moradores e, principalmente, a todas as exigênCias das leis americanas e dos prédios. Em Nova York, por exemplo, são muito comuns prédios do tipo co-op (cooperativas em que as pessoas são proprietárias de ações do prédio e não exatamente dos apartamentos). Ali, as dificuldades são ainda maiores, já que toda mudança ou reforma precisa ser aprovada por todos. Tanto assim que, mesmo os brasileiros com maior poder aquisitivo, preferem os grandes prédios de condomínio, onde são efetivamente donos dos imóveis. Isso não significa, porém, re-gras menos rígidas.
— Na verdade, esse é um trabalho em que há muitos imprevistos. As regras aqui são feitas para que tudo se torne mais previsível — explica a arquiteta Suzana Monacella.
Entre elas, estão a exigência de seguros que cubram acidentes — que dependendo do prédio pode chegar a US$ 1 milhão (R$ 1,8 milhão) —, horas de trabalho semanais reduzidas para os operários, horários rígidos para entrega de materiais e até normas de acessibilidade.
— Aqui, é como se você não fosse dono do seu apartamento. Tudo precisa ser aprovado pelo prédio e pela prefeitura. E como Nova York quer ser uma cidade totalmente acessível, banheiros e cozinhas só podem ser reformados se atenderem às regras de acessibilidade — conta a arquiteta Cristiana Mascarenhas, que leva em média seis meses para entregar um apartamento reformado e mobiliado.
Durante esse tempo, os proprietários costumam acompanhar o que acontece em seus imóveis via contatos constantes com os arquitetos, pela internet, claro! Mais difícil é quando o arquiteto também está no Brasil, já que há quem prefira exportar para lá os profissionais com quem está acostumado a trabalhar aqui. A arquiteta carioca Andrea Chicharo, por exemplo, fez dois projetos num mesmo prédio em Miami, para antigos clientes do Rio. Nesse caso, as visitas foram quase sempre conjuntas, tanto às obras quanto às lojas para a escolha de móveis:
— Mudei basicamente os revestimentos e alguma coisa na parte elétrica dos imóveis. E como não podia estar lá o tempo todo, contratei um engenheiro da cidade acostumado a fazer obras no prédio.
Com cozinhas já abertas para salas e espaços quase sempre amplos, a maior mudança costuma ser mesmo na iluminação, já que por lá, principalmente em prédios mais antigos, não é muito comum luz no teto, um pedido de quase todos os brasileiros. Também há quem exporte daqui algumas peças, como quadros de seus artistas favoritos. Talvez para mostrar ao americano, o que, afinal, o brasileiro tem.
Fonte: Jornal "O Globo" on line, de 12/02/2012

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