Células da pele de pacientes com mal de Alzheimer foram reprogramadas para formar células cerebrais, oferecendo indícios de sua demência e, para outros, a possibilidade de um diagnóstico precoce e de novas maneiras de encontrar tratamentos.
Estima-se que 30 milhões de pessoas no mundo tenham o mal de Alzheimer, que provoca neurodegeneração e normalmente atinge pessoas com mais idade. A doença é quase impossível de se diagnosticar antes que os sintomas se desenvolvam, e atualmente não existem medicamentos capazes de reverter o seu avanço.
Com o objetivo de identificar as causas do mal de Alzheimer, cientistas têm examinado biópsias cerebrais de pacientes após seu falecimento, exames de sangue e animais tão diversos quanto drosófilas e peixes. Até recentemente, não havia como analisar os neurônios dos pacientes de Alzheimer antes de eles apresentarem sintomas.
"Quando é possível identificar que uma pessoa está em um processo de demência, suas células cerebrais já estão se comportando de uma forma anormal há anos, talvez décadas ou mais", diz Larry Goldstein, neurocientista da Universidade da Califórnia, em San Diego, que liderou a pesquisa publicada online recentemente pela revista Nature.
Destrinchando os resultados
Goldstein e sua equipe criaram células-tronco pluripotentes induzidas (iPS) a partir de quatro pacientes com Alzheimer e duas pessoas sem demência. As células iPS são feitas por meio da manipulação de fibroblastos, um tipo de célula da pele, com fatores de reprogramação, a fim de revertê-los a um estado que assemelha-se ao embrionário. Como as células-tronco de embriões, as células iPS conseguem formar qualquer tecido do corpo _ incluindo os neurônios.
Os pesquisadores geraram os neurônios a partir de pacientes com dois tipos de Alzheimer: o familiar, que é causado por mutações hereditárias e raras em genes específicos, e o esporádico, que resulta de uma interação entre fatores genéticos e ambientais.
O mal de Alzheimer reprogramado
Muitos pesquisadores estão preocupados com a possibilidade dessas células iPS cultivadas em laboratório não serem retratos verdadeiros da doença, mas apenas artefatos que surgem com o processo de reprogramação. Contudo, pesquisas anteriores mostraram que os neurônios do mal de Alzheimer que foram reprogramados com o uso de um método diferente apresentaram alguns dos mesmos defeitos moleculares encontrados nas células de Alzheimer familiar examinadas no estudo de Goldstein. Esses neurônios vieram de pacientes com mutações em um gene diferente do mal de Alzheimer. Isso sugere que ambas as equipes estão lidando com alterações genuínas nos neurônios de pacientes com doença de Alzheimer familiar, e não com diferenças aleatórias resultantes da reprogramação, diz Asa Abeliovich, neurocientista da Universidade Columbia, em Nova York, que liderou o estudo anterior.
Abeliovich não está tão certo quanto aos neurônios derivados de pacientes com Alzheimer esporádico estarem mostrando sinais genuínos da doença. Pode ser que variações genéticas não relacionadas ou outras manipulações envolvidas na elaboração de células iPS estejam em jogo. "Acho que é muito difícil dizer se isso é simplesmente por acaso", diz ele.
Goldstein admite que os pesquisadores terão de estudar neurônios reprogramados e outras células cerebrais de muitos outros pacientes com Alzheimer para descobrir detalhes sobre a demência, assim como as suas causas.
Porém, a esperança é de que essas células ajudem os cientistas a desenvolver novos medicamentos e adequá-los aos pacientes individualmente, com base em como as células cerebrais reprogramadas reagem. As células reprogramadas poderiam até mesmo ser usadas para diagnosticar o mal de Alzheimer décadas antes das pessoas apresentarem sintomas, diz Goldstein. Sem terapias comprovadas, isso não seria muito útil, mas o diagnóstico precoce pode ajudar os cientistas a selecionar pacientes para ensaios clínicos, diz ele.
"Estamos em uma situação terrível no que diz respeito a essa doença tão comum e devastadora. Ela impõe um impacto devastador em termos financeiros e emocionais às famílias que têm que lidar com ela, e não temos nada que funcione para oferecer aos pacientes", diz Goldstein.
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Olimpia Pinheiro
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