domingo, 18 de outubro de 2015

O DEA chega ao Rio

CONFRONTO Acima, bando de criminosos com fuzis circula na favela de Manguinhos, no Rio. Abaixo, os americanos do DEA



Muitas das armas já apreendidas têm origem nos Estados Unidos, como o fuzil Barret .50 que é capaz de destruir carros blindados, encontrado pelo Bope há dois meses com traficantes do Comando Vermelho em uma favela carioca . “Esta é uma arma criada para guerra. Como estava aqui?”, questiona Beltrame. Sabe-se, agora, que foi comprada legalmente por um cidadão americano em uma loja no Arizona, em 2006. Mas a trajetória desta arma até o bandido carioca é totalmente desconhecida. “Os agentes da DEA terão assento no nosso centro de comando, tudo terá mão dupla.” A agência atua no Brasil há muitos anos, mas sempre com o governo federal e por meio das embaixadas. Beltrame furou a fila -- essa será a primeira vez que os americanos irão trabalhar diretamente com uma polícia estadual.

O jurista e professor Walter Maierovitch lembra que uma alternativa para controle de armas foi dada pela ONU em 2013, quando a entidade determinou que todo país fabricante precisaria emitir um certificado de destinação final em suas vendas. “Porém, não existe órgão para verificar se a arma chega mesmo ao destino registrado. Então, isso não funciona.” Segundo o especialista, “o Paraguai é entreposto de venda de armamentos” para o crime organizado brasileiro. Maierovitch lembra que a DEA já enfrenta um problema similar ao nosso. “O país deles faz fronteira com o México, cujos cartéis compram armas nos Estados Unidos e, assim, ‘enfiam’ a droga no território americano.” No Brasil, igualmente, as armas abrem caminho para as drogas.
E quem sofre é o cidadão comum. Estima-se que, nos primeiros quatro meses deste ano, morreu uma pessoa a cada dois dias vítima de bala perdida no Rio, a maioria atingida por estilhaços do fuzil. O secretário Beltrame explica que os fuzis têm alcance de até três quilômetros e seu estilhaço pode atingir alguém a até 10 metros de distância. “Agora, estamos apreendendo muito fuzil AK 47, de origem russa, na versão mais moderna, sem cabo de madeira e, sim, de polímero (produto sintético formado de macromoléculas muito fortes e resistentes), e pistolas com adaptadores que aumentam o cabo, prolongam o cano e permitem usar um pente de 90 balas, praticamente transformando-as em um fuzil.” A PM não tem autorização para comprar esses instrumentos, porque são de uso restrito do exército. O secretário pede que não se afrouxe o Estatuto do Desarmamento (leia quadro) e, ao contrário, que se aumente a pena para quem portar armas restritas a militares. “Dez anos de cadeia serviriam para desencorajar os comparsas.” O rastreamento desse arsenal, com a rapidez para obtenção de informações internacionais via DEA, completa, segundo ele, as ações que podem vir a salvar muitas vidas.
Fotos: Pablo Jacob/Agência O globo 

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