Lula 171
LONDRES – O jornal Financial Times publicou nesta segunda-feira, 17, editorial sobre a crise brasileira e a presidente Dilma Rousseff. A publicação afirma que, apesar dos pedidos de impeachment, a presidente tende a continuar no cargo porque o Congresso também está metido em corrupção e resiste “em puxar o gatilho”. Além disso, caso “Dilma seja removida, provavelmente haveria outro político medíocre para substituí-la”. O FT diz que a perda do grau de investimento continua sendo uma possibilidade real e “não há maneiras óbvias de quebrar o impasse” na economia.
A edição impressa desta segunda-feira do jornal britânico dá bastante destaque ao Brasil. Na primeira página, a principal foto mostra as manifestações contra o governo realizadas ontem com o título “Protestos no Brasil colocam mais pressão sobre Dilma”. Nas páginas internas, a publicação tem uma reportagem sobre as manifestações e, além disso, um editorial sobre a crise brasileira.
Protesto contra Dilma Rousseff em Porto Alegre.
“Um esquema de corrupção alastrado na Petrobrás, investigado por procuradores independentes com admirável vigor, tem revelado quão venais são os políticos brasileiros, especialmente do Partido dos Trabalhadores”, diz o editorial que lembra que mais de US$ 2 bilhões foram desviados e destaca a atual fraqueza de Dilma. “Como a senhora Rousseff era presidente do conselho quando muito dessa corrupção teve lugar, ela pode ser culpada pelo menos de grande incompetência”.
“Um esquema de corrupção alastrado na Petrobrás, investigado por procuradores independentes com admirável vigor, tem revelado quão venais são os políticos brasileiros, especialmente do Partido dos Trabalhadores”, diz o editorial que lembra que mais de US$ 2 bilhões foram desviados e destaca a atual fraqueza de Dilma. “Como a senhora Rousseff era presidente do conselho quando muito dessa corrupção teve lugar, ela pode ser culpada pelo menos de grande incompetência”.
O jornal lembra, porém, que as investigações sobre a Petrobrás não relacionam Dilma Rousseff e não há nenhuma acusação contra a presidente. O jornal explica que há acusações de desrespeito às regras de financiamento eleitoral e maquiagem das contas públicas. As duas acusações poderiam levar a um impeachment, mas tudo isso aconteceu no primeiro mandato, diz o jornal.
Mesmo que as acusações prevalecessem sobre o segundo mandato, o FT nota que o apoio do Congresso para o impedimento não seria fácil. “Os políticos, que também estão envolvidos em corrupção, estão relutantes em puxar o gatilho. Enquanto isso, o partido de centro-direita de oposição PSDB está feliz em ver Rousseff sofrendo essa agonia. O PSDB espera chegar às eleições presidenciais de 2018 com o PT completamente desacreditado e com um mandato claro para adotar reformas liberais”, diz o editorial.
“Além disso, mesmo que Dilma seja removida, provavelmente haveria outro político medíocre para substituí-la e, em seguida, tentar adotar o mesmo de programa de estabilização econômica que ela está tentando fazer”, continua o FT.
Rating e arrogância. O editorial voltou a cobrar reformas econômicas. O texto diz que a atitude “cada um por si” do Congresso diante da operação Lava Jato paralisa o andamento das medidas econômicas encaminhadas pelo governo. Por isso, o editorial diz que “um rebaixamento do Brasil para o status especulativo continua a ser uma possibilidade real”. “Se isso acontecesse, ainda mais investimento deixaria o País, e a economia iria piorar ainda. Nesse meio tempo, não há maneiras óbvias para quebrar o impasse”, diz o FT.
Apesar do tom pessimista, o FT reconhece que “alguma perspectiva é necessária” para avaliar a crise. “O Brasil está longe de ser um tipo de confusão que existe na Argentina ou na Venezuela”, cita o texto que, apesar da ponderação, acusa o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ter “nível espetacular de arrogância”.
“Seis anos trás, Luiz Inácio Lula da Silva proclamou que ele estava convencido que o Século XXI seria do Brasil. Ainda faltam 85 anos – então a frase pode se mostrar correta. Antes disso, no entanto, Lula, que já foi um dos políticos mais populares do mundo, também pode ser indiciado por acusações de corrupção. Raramente a arrogância atingiu níveis tão espetaculares”.
Fonte: Blog "Radar Econômico", Jornal "O Estadão"
17 Agosto 2015
Fernando Nakagawa, correspondente
Nenhum comentário:
Postar um comentário