Mas eles recebiam o salário de R$ 2000,00 diretamente do governo e só podiam vir ao Brasil depois de terem seus diplomas validados por aqui. Tudo foi feito para atender à formação do recém criado estado de Tocantins. Uma situação bem diferente da atual. Infelizmente, apesar de uma iniciativa muito boa, a convenção foi revogada em 1999.
Dos cerca de 140 cubanos contratados, 34 fizeram o Revalida e continuam atuando no Estado.
25 de agosto de 2013 | 14h 00
Carlos Eduardo Entini
A vinda de médicos cubanos não é novidade no Brasl. Em 1998, o atual governador Siqueira Campos, na época governador do extinto PFL e cumprindo seu segundo mandato, fechou acordo com Cuba para a transferência de médicos.
Na época, a vinda dos médicos estrangeiros ao Brasil foi sustentada pela Convenção Regional sobre o Reconhecimento de Estudos, Títulos e Diplomas de Ensino Superior na América Latina e no Caribe, de 1974. O tratado pretendia “assegurar a maior mobilidade de professores, estudantes, pesquisadores e profissionais dentro do quadro da região”, a fim de evitar a emigração de talentos para a “países altamente industrializados'. Validado pelo Congresso Nacionalem 1977, a Convenção foi revogada em 1999.
Contactado para relembrar a experiência pioneira, agora repetida pelo governo federal, o governador Siqueira Campos não respondeu ao Estadão Acervo.
O resultado da chegada dos médicos foi imediato. O recém-criado Estado de Tocantins que contava na época com 17 hospitais, ampliou a capacidade de atendimento para mais de 2.600 leitos, antes tinha disponível menos de uma centena.
Não se sabe o número exato de médicos cubanos que desembarcaram em Tocantins, porque não foram registrados no CRM. O Conselho estima que foram 140. O que se pode afirmar, ainda segundo o CRM, é que 34 médicos cubanos conseguiram revalidar seus diplomas e estão atuando regularmente em Tocantins. Hoje eles atuam tanto na rede pública de saúde como na privada. Um deles, o cirurgião geral Pedro Manuel Gonzalez Cuellar, é conselheiro do CRM de Tocantins.
A maioria dos médicos cubanos atuou no interior do Estado, até 2005 quando tiveram que deixar o País. O Ministério Público do Trabalho entrou com ação argumentando que os municípios estavam pagando profissionais sem o devido registro de trabalho. O CRM de Tocantins também pressionou “passamos uma recomendação para todos os diretores médicos dos hospitais falando que não poderiam deixar essas pessoas trabalhando”, explicou Nemésio Tomasella, presidente do Conselho.
A decisão da retirada dos médicos causou surpresa para o ex-governador Marcelo Miranda. Para ele foi um momento muito difícil, porque os médicos “estavam bem presentes no interior”. Imediatamente o governo teve que fazer contratos e abrir concurso para preencher as vagas.
A retirada dos cubanos foi cumprida imediatamente. Tanto que os médicos deixaram as cidades que atuavam e foram para Palmas até com os móveis. Como não tinham onde deixá-los, colocaram tudo na porta do hotel, relembra Marcelo Miranda.
O maior peso da decisão caiu sobre Eduardo Medrado, o secretário de Saúde de Tocantins no governo Siqueira Campos. O CRM moveu contra ele 22 processos éticos profissionais. Foi condenado cinco vezes, duas com censura pública e três suspensões por 30 dias da atividade médica. Reticente em falar com a reportagem do Estadão Acervo contou que “pagou um preço alto” pela ida dos médicos cubanos.
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