Muito sintomático que, no seu livro A República, obra da velhice e considerada,
junto com As Leis, o seu canto de cisne, Platão em momento nenhum trabalha com
uma das suas mais originais e impactantes ferramentas conceituais: a Teoria da
Reminiscência. Praticamente não há uma única alusão a essa via do conhecimento
tão celebrada nas obras anteriores.
A maioria dos comentadores
falam que Platão se tornou um cético no final da sua vida, depositando na
teoria do estado ideal todas as suas esperanças de um mundo melhor, a paideia
cedendo lugar à mística recordação dos arquétipos um dia vislumbrados por nossa
alma. A verdade.
Porém, parece-nos ser
outra: nessa obra, o filósofo nos apresenta a sua famosa Alegoria da Caverna.
Nesse mito de soberania gnóstica, vemos os homens condenados à ignorância e às
opiniões grosseiras sobre a realidade última das coisas, conhecendo apenas as
sombras projetadas no interior da caverna.
Para maior convicção do leitor, a
teoria da reminiscência seria como um furo na lona, deixando entrar uma réstia
de luz verdadeira, na medida em que estes prisioneiros poderiam acessar o
conhecimento via este artifício espiritual mesmo presos e algemados no interior
da caverna, não precisando assim romper com as formas de tirania que os
aprisionavam, saindo para a luz natural do sol da Verdade lá fora (como era a
proposta do vetusto filósofo).
Patão sacrificou um de
seus mais diletos filhos, a Teoria da Reminiscência, para dar convicção e
verossimilhança ao seu mito! Colocou a Eikasia, a fantasmagoria imaginária do
mito acima do Logos, confundindo os leitores e fazendo o inverso do que
pregava, enterrando mais ainda os leitores no fundo da caverna onde impera a
ilusão da arte e dos mitos!
Era um artista, acima de tudo. Um feiticeiro. Um
Próspero dissimulado que, na velhice, finge ter jogado fora a varinha mágica e
fica com ela sob as vestes brincando com Ariel e Caliban! Nietzsche foi um dos
primeiros a perceber essa irredutível alma de artista do grego genial e
enlouqueceu de tanta inveja!
Osvaldo Aires Bade Comentários Bem Roubados na "Socialização"
- Estou entre os 80 milhões Me Adicione
no Facebook
Nenhum comentário:
Postar um comentário