quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

NO CINEMA COM PLATÃO!


Muito sintomático que, no seu livro A República, obra da velhice e considerada, junto com As Leis, o seu canto de cisne, Platão em momento nenhum trabalha com uma das suas mais originais e impactantes ferramentas conceituais: a Teoria da Reminiscência. Praticamente não há uma única alusão a essa via do conhecimento tão celebrada nas obras anteriores.

A maioria dos comentadores falam que Platão se tornou um cético no final da sua vida, depositando na teoria do estado ideal todas as suas esperanças de um mundo melhor, a paideia cedendo lugar à mística recordação dos arquétipos um dia vislumbrados por nossa alma. A verdade.

Porém, parece-nos ser outra: nessa obra, o filósofo nos apresenta a sua famosa Alegoria da Caverna. Nesse mito de soberania gnóstica, vemos os homens condenados à ignorância e às opiniões grosseiras sobre a realidade última das coisas, conhecendo apenas as sombras projetadas no interior da caverna. 
Para maior convicção do leitor, a teoria da reminiscência seria como um furo na lona, deixando entrar uma réstia de luz verdadeira, na medida em que estes prisioneiros poderiam acessar o conhecimento via este artifício espiritual mesmo presos e algemados no interior da caverna, não precisando assim romper com as formas de tirania que os aprisionavam, saindo para a luz natural do sol da Verdade lá fora (como era a proposta do vetusto filósofo).


Patão sacrificou um de seus mais diletos filhos, a Teoria da Reminiscência, para dar convicção e verossimilhança ao seu mito! Colocou a Eikasia, a fantasmagoria imaginária do mito acima do Logos, confundindo os leitores e fazendo o inverso do que pregava, enterrando mais ainda os leitores no fundo da caverna onde impera a ilusão da arte e dos mitos! 
Era um artista, acima de tudo. Um feiticeiro. Um Próspero dissimulado que, na velhice, finge ter jogado fora a varinha mágica e fica com ela sob as vestes brincando com Ariel e Caliban! Nietzsche foi um dos primeiros a perceber essa irredutível alma de artista do grego genial e enlouqueceu de tanta inveja! 

Osvaldo Aires Bade Comentários Bem Roubados na "Socialização" - Estou entre os 80 milhões  Me Adicione no Facebook 

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