8/9/2013 às 14h18 REUTERS/Stringer
Psicóloga diz que
garota chamou a atenção dos pais para o fato assim que começou a falar.
Com decisão, Lulu passa
a ser reconhecida como menina na certidão de nascimento.
Autoridades atendem a
pedido de pais para que seu filho transgênero seja identificado como menina em
certidão de nascimento e identidade.
A psicóloga argentina que atendeu a criança transgênera que terá o nome e o sexo modificados na certidão de nascimento e no documento de identidade disse que ela "deixou de ser um menino triste para ser uma menina feliz".
Nos documentos, ela
passará a figurar sexo feminino e não mais masculino, segundo informaram
autoridades de Buenos Aires.
A psicóloga Valeria Pavan, coordenadora da área de saúde da ONG Comunidade Homossexual Argentina (CHA), disse à reportagem que a criança, que hoje tem seis anos, chamou a atenção dos pais para sua condição sexual assim que começou a dizer as primeiras palavras, aos dois anos e meio.
— Ela já demonstrava gostar de coisas de menina e quando começou a falar melhor dizia que queria ser chamada de Lulu e de brincar como menina e não como menino.
Lulu tem um irmão gêmeo
e é filha de um casal da província de Buenos Aires. Eles foram orientados pelo
Instituto Nacional contra a Discriminação, a Xenofobia e o Racismo (INADI) e
pela CHA sobre como proceder no caso de Lulu.
A CHA orientou os pais da criança no pedido de mudança de nome e sexo nos documentos, a partir da Lei de Identidade de Gênero e acordos e direitos sobre a infância, segundo Marcelo Suntheim, ativista da organização.
— Os pais contaram que ela dizia que era uma princesa e "uma bebê", não "um bebê" como seu irmão gêmeo.
Quando Lulu completou
quatro anos, os pais passaram a procurar psicólogos que os orientassem na
educação da criança, até que foram aconselhados a procurar a equipe de saúde da
ONG.
Valeria Pavan afirmou
que a "menina transsexual", como ela a definiu, chegou ao seu
consultório com características de tristeza.
— Ela se escondia,
chorava o tempo inteiro e quando brincava pegava um lenço e colocava na cabeça,
para parecer que tinha cabelos compridos.
Segundo a psicóloga, os pais de Lulu contaram, ao longo de uma série de consultas em cerca de dois anos, que especialistas anteriores recomendaram terapias para "reforçar a masculinidade" da criança.
Segundo a psicóloga, os pais de Lulu contaram, ao longo de uma série de consultas em cerca de dois anos, que especialistas anteriores recomendaram terapias para "reforçar a masculinidade" da criança.
— A novidade aqui é que pessoas simples decidiram ouvir, prestar atenção no que a criança dizia e eles foram muito democráticos ao respeitá-la e ao escutá-la.
Pavan diz que, para o
pai da criança, "no inicio foi mais difícil" aceitar a sua
identificação com outro gênero. "Mas com o tempo, ele também foi vendo que
ela realmente se entendia como menina."
NOVOS DOCUMENTOS
Na última quinta-feira, as autoridades do governo da província de Buenos Aires e do governo nacional responderam aos apelos, feitos por escrito, dos pais e deram a autorização para que Lulu tenha uma nova certidão de nascimento e uma nova carteira de identidade.
Os documentos, informaram, terão o mesmo numero que os primeiros emitidos, quando a criança nasceu, mas com modificações no sexo e na identidade.
"É a primeira vez que alguém tão pequeno tem seus direitos sexuais reconhecido e sem ter ocorrido uma disputa judicial para isso", afirmou César Cigliutti, presidente da CHA.
Na primeira vez que foram ao Registro Civil de Buenos Aires, os pais tiveram o pedido rejeitado.
A decisão foi revista
depois que a mãe de Lulu, identificada como Gabriela, escreveu ao governador de
Buenos Aires, Daniel Scioli, e às autoridades da Secretaria Nacional da
Infância, Adolescência e da Família (Senaf).
Na quinta-feira, o
chefe de gabinete da província de Buenos Aires, Alberto Pérez, disse que o
governo "toma a decisão, neste caso particular, por uma questão
humanitária e para que os direitos de todos os cidadãos sejam atendidos".
Atualmente, segundo a Valeria Pavan, Lulu já frequenta um jardim de infância com roupas de menina, mas a mudança no documento evitará "constrangimentos" para ela.
— Na escola, ela é
chamada de Lulu, mas no documento, ela tinha nome masculino. O mesmo ocorria,
por exemplo, quando ia a um hospital para tomar vacinas. A aparência e o
comportamento dela são de menina, mas quem a atendia via o nome de um menino.
A criança terá os novos documentos a partir da semana que vem.
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Osvaldo Aires Bade
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