CUTUCARAM A CONSTITUIÇÃO
18/08/2013
às 15:00 \ Vasto Mundo
Enquanto no Brasil manifestantes saíram do Facebook e foram para a rua, na Islândia eles saíram às ruas e depois voltaram para reescrever a Constituição no próprio Facebook.
O cientista político islandês Eiríkur Bergmann conversou com a Super sobre o processo.
Até cinco anos atrás, a Islândia é que parecia estar deitada em berço esplêndido: todo mundo sabia ler, 95% da população tinha acesso à internet, a economia ia muito-bem-obrigado e não existia desemprego. Só que durante a crise financeira que tomou conta do mundo em 2008, o pequeno país nórdico (pequeno mesmo, 82 vezes menor que o Brasil) passou por uma barra tão pesada que a situação chegou a ser descrita pelo FMI como uma “crise financeira de proporções catastróficas”.
Os maiores bancos da região faliram e a moeda local sofreu uma desvalorização de 80% em relação ao euro. A taxa de desemprego aumentou nove vezes, a dívida do país chegou a 900% do PIB e, bom, as pessoas começaram a empobrecer.
Os islandeses deram uma de argentinos e foram às ruas protestar batendo panelas quando o governo quis aplicar medidas exigidas pelo FMI em troca de uma ajuda financeira bilionária. Bateram tanta panela que o primeiro-ministro foi obrigado a renunciar, e novas eleições foram convocadas. Mesmo assim, eles não ficaram satisfeitos.
De repente, os protestos já não eram mais contra as medidas de austeridade, mas contra tudo que parecia errado no país (soa familiar?). No caso da Islândia, o que o povo realmente queria era uma nova Constituição. Foi aí que o Facebook entrou na jogada.
A rede social foi a principal plataforma escolhida pelos islandeses para recolher contribuições para a nova Constituição. O processo foi mediado por um conselho de 25 voluntários apartidários, que postava os textos no Facebook depois de cada reunião para que o resto da população pudesse debater a respeito.
E foi assim que a Islândia ficou conhecida mundialmente por ter elaborado a primeira Constituição crowdsourced da história. O texto final passou por referendo e foi aprovado por dois terços dos islandeses em 2012. Está até agora aguardando aprovação do Parlamento (Brasil e Islândia também têm suas semelhanças), mas já serviu de exemplo para destacar a força das redes sociais na construção de uma nova forma de democracia.
Um daqueles 25 conselheiros, o cientista político Eiríkur Bergmann, diretor do Centro de Estudos Europeus da Bifröst University, enfrentou uma viagem de 24 horas da Islândia para o Brasil para fazer uma palestra sobre o futuro dos Estados democráticos. Aproveitou para falar sobre o uso da tecnologia pela democracia e para dar sua opinião sobre a viabilidade de um processo parecido por aqui.
Como vocês receberam sugestões para a nova Constituição?
Por alguma razão, todos na Islândia estão no Facebook, então esse foi o principal portal. Criamos uma página onde as pessoas podiam mandar sugestões e comentar, e nos dividimos em comitês para analisar os assuntos.
As pessoas também mandaram sugestões pelo Twitter, e-mail, correspondências, ligaram e vieram pessoalmente até nós. A decisão que tomamos foi que não importava de que maneira elas viriam, só queríamos que participassem. Se quisessem mandar um pombo com uma mensagem, podiam fazer isso também. Recebemos 3.600 sugestões formais.
Como foi tomada a decisão de criar um canal no Facebook para que a população se manifestasse?
Existiram muitos motivos para isso. Um foi que existia alguma animosidade entre o conselho eleito e o Parlamento, e sabíamos que isso poderia ser uma estratégia para ter o apoio do público. E como ter o envolvimento do público? Botando no Facebook.
Entre os 25 conselheiros representantes, houve quem dissesse que devíamos desligar o celular, fechar a internet e apenas escrever o texto e trazer ao público quando estivesse completo. Mas decidimos fazer completamente o oposto.
Nosso time técnico cuidou de todas as portas de entrada de opinião. Convocamos toda a população a participar. Postamos até nossos telefones particulares para as pessoas ligarem se quisessem. Postávamos todo o nosso trabalho online imediatamente para as pessoas debaterem. E desse debate tirávamos a vontade do público e integrávamos no próximo round de postagens.
E as pessoas levaram isso a sério?
Essa foi a parte maravilhosa disso. Normalmente, na Islândia, temos discussões acaloradas sobre tudo, as pessoas atacam as gargantas umas das outras nos comentários, temos discursos muito negativos e comentários muito duros e pessoais.
O que as pessoas já postaram sobre mim, meu deus! E isso acontece com todo mundo. Mas, com esse assunto, por alguma razão, ninguém fez comentários negativos. A questão é que todos queriam causar impacto. Quando você convida as pessoas, tem de escutar o que elas têm a dizer.
E elas levaram a sério porque sabiam que o que dissessem também seria levado a sério. Deixamos claro para elas que seus comentários realmente importavam, e como resultado tivemos comentários muito mais responsáveis.
Quando você dá poder às pessoas, e diz a elas que suas vozes realmente importam, elas tomam mais cuidado com o que dizem. Eles sentiram que estavam participando de verdade, não apenas assistindo à recuperação da Islândia. Isso teve efeito de cura na sociedade. Foi um jeito construtivo de avançar, em vez de ficar nos protestos.
Se o povo não tivesse sido parte desse processo, você acha que a Constituição teria sido diferente?
Sim. Por exemplo: capítulos importantes sobre recursos naturais e direitos humanos sofreram grande impacto com a participação do público. Se a Constituição tivesse sido criada pelos parlamentares, teria sido mais conservadora.
O quanto a crise econômica que afetou a Islândia influenciou esse movimento?
Em 2008, a Islândia foi a primeira a entrar em colapso. Nossos bancos foram à falência em apenas uma semana. Isso foi um choque e houve um grande senso de crise. E crises abrem espaço para discursos políticos, fazem surgir novos pensamentos. Além disso, tivemos uma sociedade receptiva, homogênea o suficiente para compreender algo assim, e tecnológica o bastante para que as pessoas participassem.
Além da crise, o que mais colaborou para que esse projeto desse certo na Islândia?
Foi uma vantagem sermos um país pequeno, onde é fácil conseguir que as pessoas se envolvam. Somos poucos, mas o suficiente para causar impacto, se quisermos. Fora isso, mais de 95% da população tem internet e 100% é alfabetizada. Os islandeses são educados, têm acesso à mídia.
Uma iniciativa como essa poderia funcionar em um país maior?
O processo aconteceria de um jeito diferente, mas poderia funcionar, sim. Acho que o que vale é o convite para que as pessoas participem, que é quase mais importante do que elas participarem de fato. Também é fundamental saber que as necessidades são diferentes em lugares diferentes. Você não pode forçar uma mudança em uma sociedade que não precisa dela. Tem de haver uma demanda por mudanças.
Isso daria certo no Brasil?
Sim, talvez mais certo do que em outros países, porque vocês têm uma herança muito interessante de participação popular. Claro que a maioria não participaria, mas uma parte, sim. Eu acredito que esse tipo de exercício vai ser cada vez mais comum.
"Na Islândia, temos discussões acaloradas sobre tudo, as pessoas atacam as gargantas umas das outras nos comentários, temos discursos muito negativos e comentários muito duros e pessoais" (Foto: Getty Images)
Há quem chame essa de uma nova forma de democracia direta por meio da internet. Você concorda?
A nova Constituição foi esboçada por 25 pessoas, que receberam sugestões e impactos do público em geral. Então houve um filtro, isso não é democracia direta.
Mas o senhor acredita que esse é o caminho? Transformar pela internet?
Estamos em um ponto de virada no que diz respeito ao desenvolvimento da democracia. Agora, estamos nos movendo para uma forma mais participativa de democracia.
Eu sinto que essa é a primeira vez que a tecnologia pode ser usada democraticamente. Temos essa tecnologia há anos, mas não tínhamos uma população pronta para isso. Até agora. Quando começarmos a ver esses exemplos se acumulando, vai ser mais fácil dar um passo para frente e realmente integrar mecanismos participatórios na tomada de decisão.
Eu acredito que organismos participativos são importantes para aumentar processos democráticos representativos tradicionais, trazendo a tomada de decisões de volta para as pessoas. As mudanças estão vindo, quer você goste ou não, concorde ou não.
O desafio é se organizar para que essas mudanças sejam construtivas. Não sabemos o que vai acontecer. E isso pode ser usado para o bem ou para o mal.
Tags: Constituição, Constituição crowdsourced, crise financeira, desemprego,direitos humanos, Eiríkur Bergmann, Facebook, FMI, Islândia, manifestantes,medidas de austeridade, participação popular, recursos naturais
Osvaldo Aires Bade Comentários Bem Roubados na "Socialização" - Estou entre os 80 milhões Me Adicione no Facebook
REVOLUÇÃO NA ISLÂNDIA
http://youtu.be/qexDr71_cDY
Publicado em 19/06/2013
A Islândia sumiu da
mídia por uma revolução que fora divulgada somente pela internet. Por que será?
Confira o vídeo, legendado em português, e tire suas conclusões
Na Islândia:
- o povo obrigou a demissão em bloco do governo;
- os principais bancos foram nacionalizados e foi decidido não pagar as dívidas que eles tinham contraído junto dos bancos do Reino Unido e da Holanda, dívidas que tinham sido geradas pelas suas más políticas financeiras;
- foi constituída uma assembleia popular para reescrever a Constituição.
Tudo isto pacificamente. Uma autêntica revolução contra o poder que conduziu a esta crise. E aí está a razão pela qual nada tem sido noticiado no decurso dos últimos dois anos. O que é que poderia acontecer se os cidadãos europeus lhe viessem a seguir o exemplo?
Sinteticamente, eis a sucessão histórica dos factos:
- 2008: o principal banco do país é nacionalizado. A moeda afunda-se, a Bolsa suspende a atividade. O país está em bancarrota.
- 2009: os protestos populares contra o Parlamento levam à convocação de eleições antecipadas, das quais resulta a demissão do primeiro-ministro e de todo o governo.
A desastrosa situação econômica do país mantém-se. É proposto ao Reino Unido e à Holanda, através de um processo legislativo, o reembolso da dívida por meio do pagamento de 3.500 milhões de euros, montante suportado mensalmente por todas as famílias islandesas durante os próximos 15 anos, a uma taxa de juro de 5%.
- 2010: o povo sai novamente à rua, exigindo que essa lei seja submetida a referendo.
Em Janeiro de 2010, o Presidente recusa ratificar a lei e anuncia uma consulta popular.
O referendo tem lugar em Março. O NÃO ao pagamento da dívida alcança 93% dos votos.
Entretanto, o governo dera início a uma investigação no sentido de enquadrar juridicamente as responsabilidades pela crise. Tem início a detenção de numerosos banqueiros e quadros superiores. A Interpol abre uma investigação e todos os banqueiros implicados abandonam o país.
Neste contexto de crise, é eleita uma nova assembleia encarregada de redigir a nova Constituição, que acolha a lições retiradas da crise e que substitua a atual, que é uma cópia da constituição dinamarquesa. Com esse objectivo, o povo soberano é diretamente chamado a pronunciar-se. São eleitos 25 cidadãos sem filiação política, de entre os 522 que apresentaram candidatura. Para esse processo é necessário ser maior de idade e ser apoiado por 30 pessoas.
- A assembleia constituinte inicia os seus trabalhos em Fevereiro de 2011 a fim de apresentar, a partir das opiniões recolhidas nas assembleias que tiveram lugar em todo o país, um projeto de Magna Carta. Esse projeto deverá passar pela aprovação do parlamento atual bem como do que vier a ser constituído após as próximas eleições legislativas.
Eis, portanto, em resumo a história da revolução islandesa:
- Demissão em bloco de um governo inteiro;
-- Referendo, de modo a que o povo se pronuncie sobre as decisões económicas fundamentais;
- Prisão dos responsáveis pela crise e
- reescrita da Constituição pelos cidadãos:
Ouvimos falar disto nos grandes media europeus?
Ouvimos falar disto nos debates políticos radiofônicos? Vimos alguma imagem destes factos na televisão? Evidentemente que não!
O povo islandês deu uma lição à Europa inteira, enfrentando o sistema e dando um exemplo de democracia a todo o mundo.
(Por DESEMPREGADOS, in Facebook)
FONTE: http://www.blogger.com/profile/128585...
DADOS PRINCIPAIS:
Área: 103.000 km²
Capital: Reykjavik
População: 318 mil (2010)
Nome Oficial: República da Islândia
Nacionalidade: islandesa
Governo: República parlamentar
Divisão administrativa: 79 municipalidades
Membro das seguintes organizações internacionais: OTAN, OCDE e EFTA
brasao_islandiaBrasão de armas da Islândia
GEOGRAFIA:
Localização: extremo norte da Europa
Cidades Principais: Reykjavik, Kópavogur, Hafnarfördur, Akureyri
Clima: subpolar (centro e norte) e temperado oceânico (Sul)
DADOS CULTURAIS E SOCIAIS:
Composição da População: islandeses (99%) e outros (1%)
Idioma: islandês (oficial)
Religião: cristianismo (96,4%), sem religião e ateísmo (2,2%) e outras (1,4%)
IDH: 0,906 (2012) -- muito elevado
Expectativa de vida: 81,8 anos
Índice de alfabetização (população adulta): 99%
ECONOMIA:
PIB (Produto Interno Bruto): US$ 12,59 bilhões (estimativa 2010)
Renda per capita: US$ 39.025 (2010)
Força de trabalho: 180 mil (2010)
Moeda: coroa islandesa
Confira o vídeo, legendado em português, e tire suas conclusões
Na Islândia:
- o povo obrigou a demissão em bloco do governo;
- os principais bancos foram nacionalizados e foi decidido não pagar as dívidas que eles tinham contraído junto dos bancos do Reino Unido e da Holanda, dívidas que tinham sido geradas pelas suas más políticas financeiras;
- foi constituída uma assembleia popular para reescrever a Constituição.
Tudo isto pacificamente. Uma autêntica revolução contra o poder que conduziu a esta crise. E aí está a razão pela qual nada tem sido noticiado no decurso dos últimos dois anos. O que é que poderia acontecer se os cidadãos europeus lhe viessem a seguir o exemplo?
Sinteticamente, eis a sucessão histórica dos factos:
- 2008: o principal banco do país é nacionalizado. A moeda afunda-se, a Bolsa suspende a atividade. O país está em bancarrota.
- 2009: os protestos populares contra o Parlamento levam à convocação de eleições antecipadas, das quais resulta a demissão do primeiro-ministro e de todo o governo.
A desastrosa situação econômica do país mantém-se. É proposto ao Reino Unido e à Holanda, através de um processo legislativo, o reembolso da dívida por meio do pagamento de 3.500 milhões de euros, montante suportado mensalmente por todas as famílias islandesas durante os próximos 15 anos, a uma taxa de juro de 5%.
- 2010: o povo sai novamente à rua, exigindo que essa lei seja submetida a referendo.
Em Janeiro de 2010, o Presidente recusa ratificar a lei e anuncia uma consulta popular.
O referendo tem lugar em Março. O NÃO ao pagamento da dívida alcança 93% dos votos.
Entretanto, o governo dera início a uma investigação no sentido de enquadrar juridicamente as responsabilidades pela crise. Tem início a detenção de numerosos banqueiros e quadros superiores. A Interpol abre uma investigação e todos os banqueiros implicados abandonam o país.
Neste contexto de crise, é eleita uma nova assembleia encarregada de redigir a nova Constituição, que acolha a lições retiradas da crise e que substitua a atual, que é uma cópia da constituição dinamarquesa. Com esse objectivo, o povo soberano é diretamente chamado a pronunciar-se. São eleitos 25 cidadãos sem filiação política, de entre os 522 que apresentaram candidatura. Para esse processo é necessário ser maior de idade e ser apoiado por 30 pessoas.
- A assembleia constituinte inicia os seus trabalhos em Fevereiro de 2011 a fim de apresentar, a partir das opiniões recolhidas nas assembleias que tiveram lugar em todo o país, um projeto de Magna Carta. Esse projeto deverá passar pela aprovação do parlamento atual bem como do que vier a ser constituído após as próximas eleições legislativas.
Eis, portanto, em resumo a história da revolução islandesa:
- Demissão em bloco de um governo inteiro;
-- Referendo, de modo a que o povo se pronuncie sobre as decisões económicas fundamentais;
- Prisão dos responsáveis pela crise e
- reescrita da Constituição pelos cidadãos:
Ouvimos falar disto nos grandes media europeus?
Ouvimos falar disto nos debates políticos radiofônicos? Vimos alguma imagem destes factos na televisão? Evidentemente que não!
O povo islandês deu uma lição à Europa inteira, enfrentando o sistema e dando um exemplo de democracia a todo o mundo.
(Por DESEMPREGADOS, in Facebook)
FONTE: http://www.blogger.com/profile/128585...
DADOS PRINCIPAIS:
Área: 103.000 km²
Capital: Reykjavik
População: 318 mil (2010)
Nome Oficial: República da Islândia
Nacionalidade: islandesa
Governo: República parlamentar
Divisão administrativa: 79 municipalidades
Membro das seguintes organizações internacionais: OTAN, OCDE e EFTA
brasao_islandiaBrasão de armas da Islândia
GEOGRAFIA:
Localização: extremo norte da Europa
Cidades Principais: Reykjavik, Kópavogur, Hafnarfördur, Akureyri
Clima: subpolar (centro e norte) e temperado oceânico (Sul)
DADOS CULTURAIS E SOCIAIS:
Composição da População: islandeses (99%) e outros (1%)
Idioma: islandês (oficial)
Religião: cristianismo (96,4%), sem religião e ateísmo (2,2%) e outras (1,4%)
IDH: 0,906 (2012) -- muito elevado
Expectativa de vida: 81,8 anos
Índice de alfabetização (população adulta): 99%
ECONOMIA:
PIB (Produto Interno Bruto): US$ 12,59 bilhões (estimativa 2010)
Renda per capita: US$ 39.025 (2010)
Força de trabalho: 180 mil (2010)
Moeda: coroa islandesa
Nenhum comentário:
Postar um comentário