domingo, 14 de julho de 2013

PASSEATA CONTRA A GUITARRA ELÉTRICA - 1967

PASSEATA CONTRA A GUITARRA ELÉTRICA - 1967


Jair Rodrigues, Elis Regina, Gilberto Gil e Edu Lobo 


Há 44 anos, em 17 de julho de 1967, com o intuito de "defender o que é nosso", foi organizada em São Paulo a famosa "Passeata da Música Popular Brasileira", que entrou para a história como a "Passeata contra a Guitarra Elétrica", uma passeata contra a invasão da música estrangeira.

Uma das líderes desse movimento era Elis Regina. Gilberto Gil, meio desconfiado, também compareceu à marcha em defesa da MPB. Geraldo Vandré, Edu Lobo, Jair Rodrigues e muitos outros artistas que representavam a música brasileira à época (e até hoje) entoaram gritos contra a guitarra e a música norte-americana.

Chico Buarque não participou. Caetano Veloso, amigo de Gil, conta no documentário "Uma noite em 67" que ele também não foi à passeata, mas assistiu a tudo do Hotel Danúbio ao lado de Nara Leão.

– Acho isso muito esquisito, ele teria dito.
Nara devolveu:

– Esquisito, Caetano? Isso aí é um horror! Parece manifestação do Partido Integralista. É fascismo mesmo.

A tal passeata contra a guitarra elétrica se revela hoje um movimento infantil, bobalhão, como sugerem Caetano e o próprio Gil no documentário. Até mesmo "idiota", como diz o jornalista Sérgio Cabral, jurado no Festival da Record de 1967. Resgatar essa história, no entanto, revela muita coisa sobre a música brasileira.

Em 1967, a música ocupava o horário nobre da TV Record e gerava acalorados debates. A "Jovem Guarda" fazia enorme sucesso nas tardes de domingo e o programa "Fino da Bossa", apresentado por Elis Regina e Jair Rodrigues, começava a perder espaço. O êxito de Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa era, para muitos, um sinal de que a MPB estava perdendo força. E tudo isso acontecia em uma ditadura militar, o que fazia com que os debates ganhassem contornos de arena. Segundo Nelson Motta, "a Jovem Guarda representava a música jovem e a MPB, a música brasileira. E a gente se perguntava: por que não pode haver uma música jovem e brasileira?"

Três meses depois da passeata contra a guitarra elétrica, em outubro de 1967, começou a primeira eliminatória do III Festival da TV Record. Jornais, revistas e todos os meios de comunicação deram grande espaço ao evento mesmo antes de ele começar. Não faltavam elementos para tornar aquela disputa emocionante.

Caetano Veloso era conhecido pela maioria do público apenas pela sua vasta cultura musical. Duelava com Chico Buarque no programa "Esta Noite se Improvisa". No jogo, comandado por Blota Jr, ganhava quem conseguisse cantar uma música a partir de uma palavra dada pelo apresentador. O bordão "A palavra é..." se tornou famoso em todo o país. Quando subiu no palco pela primeira vez para defender "Alegria, Alegria", Caetano tinha ambições muito maiores do que o primeiro lugar.


Apresentou-se com um grupo de cabeludos argentinos chamados Beat Boys que empunhava um instrumento profano para aquela plateia: guitarras elétricas. Recebeu uma imensa vaia. Entrou com uma cara furiosa e, sem pestanejar, atacou os acordes iniciais de sua música. As vaias foram baixando e alguns aplausos começaram a ser ouvidos. À medida que a música prosseguia, mais e mais vaias iam se transformando em aplausos. Caetano terminou ovacionado e, emocionado, tombou para trás. Caiu no chão de costas embevecido pelo estrondoso sucesso instantâneo. Estava provado que poderia haver uma música jovem e brasileira.

A maior surpresa musical do festival estava guardada para a segunda eliminatória. Para apresentar seu número, Gilberto Gil procurou o Quarteto Novo, composto por Hermeto Pascoal, Theo de Barros, Airto Moreira e Heraldo Do Monte. Mesmo tendo participado da passeata contra as guitarras elétricas, Gil estava profundamente influenciado pelo som dos Beatles - especialmente o disco "Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band" -, dos Rolling Stones e da vanguarda do rock internacional. Na sua cabeça, pipocavam ideias de mesclar as guitarras de George Harrison e Keith Richards com o violão de Jorge Ben, a sanfona de Luiz Gonzaga e os ritmos regionais brasileiros com os sons eletrônicos. Eram ideias arrebatadoras.


E o Quarteto Novo não topou a encrenca. O grupo acabou acompanhando Edu Lobo em "Ponteio". O maestro Rogério Duprat, que seria o arranjador da obra-prima de Gil, sugeriu que ele conhecesse uns meninos: um grupo de jovens de extrema sensibilidade musical e, principalmente, com afinidades estéticas em relação a Gil. Dessa forma, Rita, Arnaldo e Sergio - Os Mutantes - foram convidados a tocar guitarra, baixo e cantar "Domingo no Parque".

Nos bastidores do festival, o repórter da TV Record Randal Juliano entrevistou Arnaldo Baptista ao lado de Gilberto Gil e perguntou: "Qual foi a reação de vocês quando Gilberto Gil chegou e disse: 'quero vocês no meu número no festival tocando guitarra elétrica'?". Arnaldo respondeu "nós achávamos que dava certo". Deu certo. A música de Gil também começou vaiada e conquistou o público durante a apresentação. Os jurados também ficaram de queixo caído.

Na finalíssima do III Festival da Música Popular Brasileira, "Domingo no Parque" (Gilberto Gil) ficou em segundo lugar, atrás de "Ponteio" (Edu Lobo). Em terceiro lugar ficou "Roda Viva" (Chico Buarque) e "Alegria, Alegria" (Caetano Veloso) ficou em quarto.

Além da qualidade musical, o III Festival da Record teve uma influência imensa na música brasileira. Segundo Nelson Motta, em seu livro "Noites Tropicais", "é naquele momento que explode o tropicalismo, que racha a MPB, que Caetano e Gil se tornam ídolos instantâneos, que se confrontam as diversas correntes musicais e políticas da época."


A FAMIGERADA PASSEATA CONTRA A GUITARRA ELÉTRICA
fonte: (aqui)


Com o slogan “Defender O Que É Nosso”, a “Passeata da MPB”, que ficou conhecida como a “Passeata Contra A Guitarra Elétrica”, aconteceu em 17 de julho de 1967, em São Paulo, saindo do Largo São Francisco e desembocando diretamente no Teatro Paramount, na avenida Brigadeiro Luís Antonio, onde ocorreria o programa Frente Ampla da MPB.



Liderada por Elis Regina, mais as presenças de Jair Rodrigues, Zé Keti, Geraldo Vandré, Edu Lobo, MPB-4, e até Gilberto Gil, que entrou de gaiato, essa passeata colocava em confronto 2 tendências, uma conservadora e outra renovadora. Em entrevista a Júlio Maria, no C2+m/Entrevista, O Estado de São Paulo, de 28 de janeiro de 2012, Gil conta que era atraído por Elis, por quem era apaixonado : “…Eu participava com ela daquela coisa cívica, em defesa da brasilidade, tinha aquela mítica da guitarra, como invasora, e eu não tinha isso com a guitarra, mas tinha com outras questões, da militância, era o momento em que nós todos queríamos atuar. E aquela passeata era um pouco a manifestação desse afã na Elis”.

Diz ainda, “…Caetano não quis participar porque aquilo tinha um resultado negativo, negava uma série de coisas que a ele interessava afirmar naquele momento. No meu caso, eu saí desse jogo. Não quis fazer esse jogo, se eu fosse colocar como termo da equação essas questões e tirar a Elis da equação eu não teria ido. Mas eu fiz o contrário, eliminei todos os outros termos da equação e deixei ali só a Elis. Determinei meu ato, pautei meu ato por aquela questão. A questão era ela. Eu nada tinha contra a guitarra elétrica”.

Naquele momento, Caetano estava com Nara Leão na janela do Hotel Danúbio, observando a passeata que “mais parecia uma manifestação integralista”, segundo Nara.

Isso tudo logo após o lançamento do álbum “Sgt Pepper’s…” (1 de junho de 1967), dos Beatles, grande influência para Gil e Caetano. Mas consta que a passeata era uma manobra da TV Record, para promover seu “O Fino da Bossa”, estrelado por Elis Regina, que estava perdendo popularidade para a Jovem Guarda, da mesma emissora.

Pouco tempo depois, em outubro de 1967, aconteceria o III Festival da TV Record, histórico, porque foi aí que se revelou a renovação da MPB, via uma ação que podemos chamar de antropofágica, através de Caetano e Gil, isto é, engolindo as influências, Beatles, Rolling Stones, psicodelia, rock, e vomitando o pré-tropicalismo, com canções e arranjos abertas a todas as influências, e destronando aquela imbecilidade e caretice que foi a passeata. Caetano Veloso se apresentou com os Beat Boys (banda de rock argentina)



e Gil com os Mutantes,



certamente um dos momentos mais lindos e fervescentes de nossa história musical.
O 1º lugar ficou com “Ponteio”, de Edu Lobo, em 2º foi “Domingo no Parque”, de Gilberto Gil, em 3º ficou “Roda Viva”, de Chico Buarque e em 4º lugar ficou “Alegria, Alegria”, de Caetano Veloso.

Mesmo sob a ditadura militar, esse foi o momento que rompeu barreiras conceituais e políticas que alavancaram e multiplicaram as possibilidades da MPB, com guitarra e tudo. Com tudo isso, o programa da Jovem Guarda, que representava o que chamavam de ‘música jovem’ (leia o texto de Sofia Carvalhosa, Essas Bárbaras Guitarras ElétricasPrimeiro Toque nº 11, Editora Brasiliense (out-nov-dez 1984, publicado no blog Tarati Taraguá), começou a declinar em popularidade, não de sua importância histórica. Basta lembrar algumas obras que vieram na sequência, após o festival:

Em 1968 – Tropicália ou Panis e Circenses – com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Nara Leão, Torquato Neto, Tomzé, Os Mutantes, mais arranjos de Rogério Duprat.
No mesmo ano saiu um álbum solo de Caetano Veloso, aliás, seu primeiro.
Em 1971 – saiu outra obra prima – Clube da Esquina – com Milton Nascimento, Lô Borges, Wagner Tiso, e me perdoem se eu estiver esquecendo de mais alguém.
Em 1972 – o maravilhoso Acabou Chorare – Novos Baianos
Em 1973 – mais um clássico – Secos & Molhados
Todas essas obras estão entre os 10 maiores álbuns brasileiros de todos os tempos, e todas têm em comum o mesmo DNA.
Veja também:
A Labareda que Lambeu Tudo, em 3 partes :


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