A CONDIÇÃO NATURAL DOS MOVIMENTOS SOCIAIS É O APARTIDARISMO
Por Míriam Martinho
Experimentando do próprio veneno
Dilma diz que vai falar com movimentos sociais. Quais?
Nesse sentido, aliás, podemos dizer que a crise de representatividade atual não é apenas dos partidos mas também desses movimentos sociais que venderam a alma ao diabo e se prestam à representação teatral de pseudointerlocutores da sociedade junto aos órgãos de Estado. Basta ver que Dilma, em seu pronunciamento à nação sobre as manifestações, onde simplesmente choveu no molhado, disse que ia convidar os movimentos sociais para um diálogo privilegiado com o governo sobre suas demandas. Quais movimentos sociais, se essas manifestações ainda não engendraram nenhum? Vai convidar então o Movimento Passe Livre, compadre do petismo, para conversar, embora este não represente mais a população que foi às ruas cujas bandeiras são bem mais amplas e diversas do que diminuir R$0,20 no preço das passagens de ônibus? Na verdade, o mérito da demanda do MPL, a despeito de haver alguma justiça nela, foi mais o de galvanizar essas manifestações impressionantes do que qualquer outra coisa (elas também foram potencializadas pela truculência da PM). A demanda foi a gota d'água que fez transbordar o pote até aqui de mágoa de boa parte dos brasileiros diante de tantos descalabros que rolam no Brasil. E o MPL tem consciência disso, tanto que, ao perceber ter perdido as rédeas da manifestação, saiu de fininho para não comprometer suas ligações com a gente fina do PT e outros amiguinhos do PCdoB, PSOL, PSTU, PCO.
Não sou de forma alguma contra os movimentos sociais. Seria inclusive cuspir no prato que comi por quase toda a vida, se o fosse. Bem pelo contrário, exatamente por conhecer muitos dos movimentos sociais por dentro e ter me tornado testemunha ocular da devastação provocada pelo cooptação destes por partidos e grupos políticos de esquerda, é que gostaria de vê-los de volta ao apartidarismo para seu próprio bem. Além das razões já citadas, também porque a mistura das demandas legítimas dos movimentos sociais com os propósitos "revolucionários" desses partidos somente reforça a objeção conservadora contra eles. Cansei de dizer isso, pregando no deserto por anos.
Esses partidos de esquerda usam das demandas dos movimentos sociais para sua ascensão ao poder e permanência nele, mas, dependendo da conjuntura, descartam-nas quando outras forças políticas se tornam mais convenientes para seus objetivos, por mais contraditórias que essas alianças aparentemente sejam (vide aliança do petismo com os evangélicos). Então, jogam sem remorso as demandas dos movimentos sociais, sobretudo aquelas bandeiras que implicam mudanças nos costumes (como as feministas e LGBT), na cova dos leões conservadores (a omissão de Dilma sobre os direitos das mulheres e dos homossexuais é vergonhosa).
Por sua vez, os conservadores, além de razões próprias para combater todas essas bandeiras, veem sua sanha autoritária reforçada por associar esses movimentos a supostos complôs marxistas, gramscistas, com vistas a destruir a família, a cristandade, as democracias e o mundo ocidental. Óbvio que se trata de teoria conspiratória sem fundamento histórico (com perdão da redundância), mas, ao ver os movimentos sociais atrelados a partidos socialistas, com seu discurso anticapitalista e antidemocrático, alguém pode imaginar que essas pessoas saberiam ou gostariam de separar o joio do trigo? Pelo contrário, para elas melhor ainda essa confusão, porque assim podem jogar o bebê fora junto com a água suja da bacia.
Por último, vale salientar que ser apartidário, embora condiçãosine qua non para a legitimidade de qualquer movimento, não significa ser contrário a existência dos partidos. Preservada a autonomia dos movimentos sociais, as duas instâncias podem coexistir sem grandes problemas. Aliás, se essas manifestações tiverem tempo para amadurecer, podem gerar movimentos sociais que sintam a necessidade de eleger representantes para o parlamento. Para isso, no contexto atual ao menos, precisarão de interlocução com algum partido existente ou até mesmo criar algum novo. Obviamente, contudo, os partidos atuais precisam recuperar alguma credibilidade junto à população, se querem voltar a ser levados em consideração. Para tal, urge fazer autocrítica, cortar na carne podre da corrupção de cada um, e não tentar, como de costume, capitalizar essas manifestações para seus interesses particulares. O mesmo se pode dizer dos atuais movimentos sociais que precisam voltar a ter alguma autonomia e democracia interna. Caso isso não aconteça, aí sim - e só assim - o apartidarismo dessas manifestações pode degenerar em algo adverso.
No estágio atual, contudo, o apartidarismo das manifestações não só nada tem de fascista como é inclusive elemento democrático essencial para dar chance de algo novo surgir na paisagem estagnada da política brasileira. As esquerdinhas estão tratando o apartidarismo das manifestações como sinônimo de fascismo porque são vigaristas mesmo, porque não puderam, por enquanto, cooptar e aparelhar os protestos. Se conseguirem, como de praxe, pôr de novo as garras nessas manifestações, todo esse discurso de supostos fascismos mudará da noite para o dia, como começou, e as manifestações voltarão a ser classificadas como politizadas e progressistas! Alienado de fato é quem ainda não se tocou do modus operandi dessa gente e suas ladainhas. Trata-se de um verdadeiro disco quebrado.
À guisa de ilustração, termino com um vídeo que circulou bastante nas redes sociais, onde a população - e não qualquer tropa de choque fascista - homenageia o PT nas manifestações em São Paulo. Ouve-se uma voz feminina dizendo "PT mentiroso" seguida de um coro de "PT vai tomar..." Um verdadeiro gozo!
Experimentando do próprio veneno
Expulsos das manifestações de rua pelo povo de verdade que eles costumam dizer que representam e a quem querem conduzir - iluminados que são - os partidos de esquerda passaram a fazer campanha contra os protestos de rua, alegando que seu apartidarismo é coisa de fascista.
Segundo os rejeitados, também é sinal de fascismo cantar o hino nacional, pintar a cara de verde-amarelo (gozado que quando foi para derrubar o Collor eles pensavam o oposto), vestir-se de branco, dizer "o gigante acordou", ser antiesquerdo-direitista (como esta blogueira), chamar a depredação do patrimônio público e privado pelo nome, ou seja, vandalismo, e, claro, acima de tudo, ser contra a corrupção. Ah, já ia esquecendo, não ser contra o capitalismo e contra a democracia representativa também é sinal de fascismo, segundo os illuminati estalinistas, embora qualquer um minimamente alfabetizado em termos políticos saiba que o fascismo era contra as democracias liberais porque ditatorial. Inclusive apontam uma suposta contradição entre a massa se querer apartidária e, ao mesmo tempo, não ansiar por acabar com a democracia representativa.
Acontece que alhos não têm a ver com bugalhos. A condição sine qua non para um movimento social ser considerado legítimo é exatamente o apartidarismo. Movimentos sociais e partidos são instâncias distintas de se fazer política: os primeiros buscam direitos específicos ou melhorias na condição de vida de segmentos particulares (podem ser, por exemplo, os direitos dos homossexuais ou o saneamento de problemas de um bairro); os segundos visam chegar ao poder de Estado e deveriam ter um programa para o país com base em determinadas visões ideológicas. Digo deveriam porque, no caso do Brasil, os partidos, em geral, tornaram-se apenas siglas de aluguel, formas de vigaristas de todo o tipo impunemente encher os bolsos às custas do dinheiro público.
Essa é, aliás, uma das principais razões da hostilidade dos protestos contra a presença de partidos políticos em suas fileiras. Sendo uma das bandeiras de destaque das marchas exatamente a luta contra a corrupção, como aceitar que os corruptos façam parte delas sem descambar para a total incoerência!? Seguramente, se a credibilidade dos partidos não fosse, no momento, zero à esquerda, a condescendência com bandeiras partidárias seria bem maior.
Por outro lado, especialmente no caso dos partidos de esquerda, como é público e notório, eles não respeitam a autonomia dos movimentos sociais, tentam SEMPRE cooptá-los e aparelhá-los para suas causas. Principalmente o PT, sobretudo ao chegar ao poder federal, passou a cooptar e aparelhar praticamente todos os movimentos sociais (também porque muitos se vendem facilmente), destruindo sua legitimidade ao transformá-los em meras correias de transmissão das visões nada democráticas do partido. Os movimentos sociais em geral se tornaram pelegos, tentáculos de um poder - esse sim - de características fascistoides. Tornaram-se também reféns de visões de uma esquerda que continua, à revelia do fracasso histórico de suas ideias, a querer derrubar o capitalismo e a democracia representativa (a quem demonizam) sem ter qualquer coisa para substitui-los, a não ser que alguém considere estagnação econômica (e todas as suas terríveis consequências) e regimes ditatoriais como substitutos para qualquer coisa que valha.
Dilma diz que vai falar com movimentos sociais. Quais?
Nesse sentido, aliás, podemos dizer que a crise de representatividade atual não é apenas dos partidos mas também desses movimentos sociais que venderam a alma ao diabo e se prestam à representação teatral de pseudointerlocutores da sociedade junto aos órgãos de Estado. Basta ver que Dilma, em seu pronunciamento à nação sobre as manifestações, onde simplesmente choveu no molhado, disse que ia convidar os movimentos sociais para um diálogo privilegiado com o governo sobre suas demandas. Quais movimentos sociais, se essas manifestações ainda não engendraram nenhum? Vai convidar então o Movimento Passe Livre, compadre do petismo, para conversar, embora este não represente mais a população que foi às ruas cujas bandeiras são bem mais amplas e diversas do que diminuir R$0,20 no preço das passagens de ônibus? Na verdade, o mérito da demanda do MPL, a despeito de haver alguma justiça nela, foi mais o de galvanizar essas manifestações impressionantes do que qualquer outra coisa (elas também foram potencializadas pela truculência da PM). A demanda foi a gota d'água que fez transbordar o pote até aqui de mágoa de boa parte dos brasileiros diante de tantos descalabros que rolam no Brasil. E o MPL tem consciência disso, tanto que, ao perceber ter perdido as rédeas da manifestação, saiu de fininho para não comprometer suas ligações com a gente fina do PT e outros amiguinhos do PCdoB, PSOL, PSTU, PCO.
Sendo uma das bandeiras de destaque das marchas exatamente a luta contra a corrupção, como aceitar que partidos corruptos façam parte delas sem descambar para a total incoerência!?
Não sou de forma alguma contra os movimentos sociais. Seria inclusive cuspir no prato que comi por quase toda a vida, se o fosse. Bem pelo contrário, exatamente por conhecer muitos dos movimentos sociais por dentro e ter me tornado testemunha ocular da devastação provocada pelo cooptação destes por partidos e grupos políticos de esquerda, é que gostaria de vê-los de volta ao apartidarismo para seu próprio bem. Além das razões já citadas, também porque a mistura das demandas legítimas dos movimentos sociais com os propósitos "revolucionários" desses partidos somente reforça a objeção conservadora contra eles. Cansei de dizer isso, pregando no deserto por anos.
Esses partidos de esquerda usam das demandas dos movimentos sociais para sua ascensão ao poder e permanência nele, mas, dependendo da conjuntura, descartam-nas quando outras forças políticas se tornam mais convenientes para seus objetivos, por mais contraditórias que essas alianças aparentemente sejam (vide aliança do petismo com os evangélicos). Então, jogam sem remorso as demandas dos movimentos sociais, sobretudo aquelas bandeiras que implicam mudanças nos costumes (como as feministas e LGBT), na cova dos leões conservadores (a omissão de Dilma sobre os direitos das mulheres e dos homossexuais é vergonhosa).
Por sua vez, os conservadores, além de razões próprias para combater todas essas bandeiras, veem sua sanha autoritária reforçada por associar esses movimentos a supostos complôs marxistas, gramscistas, com vistas a destruir a família, a cristandade, as democracias e o mundo ocidental. Óbvio que se trata de teoria conspiratória sem fundamento histórico (com perdão da redundância), mas, ao ver os movimentos sociais atrelados a partidos socialistas, com seu discurso anticapitalista e antidemocrático, alguém pode imaginar que essas pessoas saberiam ou gostariam de separar o joio do trigo? Pelo contrário, para elas melhor ainda essa confusão, porque assim podem jogar o bebê fora junto com a água suja da bacia.
Por isso, retomando, vejo com júbilo a rejeição desses partidos nas manifestações em curso. De fato, me lava a alma observar esses esquerdistas hipócritas experimentando do próprio veneno, tendo que correr da turba, como na foto acima, eles que sempre trataram qualquer divergência na base do pau e pedra, quando não do paredão. Claro que os esbirros do petismo e do esquerdismo já estão a todo vapor nas redes sociais, nas redações dos jornais, nas universidades, procurando denunciar supostos elementos de extrema-direita como os que os vaiaram e botaram para correr nas manifestações. A despeito de haver neocons militaristas, saudosos da ditadura dos generais, que também deram as caras nessas manifestações, quem vaiou e rechaçou petistas e congêneres, a grosso modo, foi a população mesmo. Aliás, Dilma já havia recebido sonora vaia dos torcedores brasileiros na abertura da Copa das Confederações. Se formos levar em consideração a falação dos esquerdinhas, teríamos que aceitar a possibilidade maluca do país ter sido tomado por uma horda de integralistas que invadiu não só as ruas como também as arquibancadas dos estádios.
Vejam que lindo movimento social: É indígena ou gay mesmo?
Por último, vale salientar que ser apartidário, embora condiçãosine qua non para a legitimidade de qualquer movimento, não significa ser contrário a existência dos partidos. Preservada a autonomia dos movimentos sociais, as duas instâncias podem coexistir sem grandes problemas. Aliás, se essas manifestações tiverem tempo para amadurecer, podem gerar movimentos sociais que sintam a necessidade de eleger representantes para o parlamento. Para isso, no contexto atual ao menos, precisarão de interlocução com algum partido existente ou até mesmo criar algum novo. Obviamente, contudo, os partidos atuais precisam recuperar alguma credibilidade junto à população, se querem voltar a ser levados em consideração. Para tal, urge fazer autocrítica, cortar na carne podre da corrupção de cada um, e não tentar, como de costume, capitalizar essas manifestações para seus interesses particulares. O mesmo se pode dizer dos atuais movimentos sociais que precisam voltar a ter alguma autonomia e democracia interna. Caso isso não aconteça, aí sim - e só assim - o apartidarismo dessas manifestações pode degenerar em algo adverso.
No estágio atual, contudo, o apartidarismo das manifestações não só nada tem de fascista como é inclusive elemento democrático essencial para dar chance de algo novo surgir na paisagem estagnada da política brasileira. As esquerdinhas estão tratando o apartidarismo das manifestações como sinônimo de fascismo porque são vigaristas mesmo, porque não puderam, por enquanto, cooptar e aparelhar os protestos. Se conseguirem, como de praxe, pôr de novo as garras nessas manifestações, todo esse discurso de supostos fascismos mudará da noite para o dia, como começou, e as manifestações voltarão a ser classificadas como politizadas e progressistas! Alienado de fato é quem ainda não se tocou do modus operandi dessa gente e suas ladainhas. Trata-se de um verdadeiro disco quebrado.
À guisa de ilustração, termino com um vídeo que circulou bastante nas redes sociais, onde a população - e não qualquer tropa de choque fascista - homenageia o PT nas manifestações em São Paulo. Ouve-se uma voz feminina dizendo "PT mentiroso" seguida de um coro de "PT vai tomar..." Um verdadeiro gozo!
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