A HISTÓRIA DOS BUDAS DE BAMIYAN, UM PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE DESTRUÍDO PELO TALIBAN NO AFEGANISTÃO

Bandeira Taliban
Um dos regimes fundamentalistas islâmicos mais cruéis de todos os tempos

sábado, 30 de julho de 2011

O Taliban, regime fundamentalista islâmico que comandou o Afeganistão entre 1996 e 2001, foi responsável por atrocidades inimagináveis, principalmente quando percebemos que estamos falando de um grupo que atuava em nome do Islã. Assassinatos e execuções sumárias de qualquer um que fosse contra as regras mais banais do Alcorão tornaram-se corriqueiras, espalhando o terror por um país destruído por décadas de guerra.

Afeganistão, a guerra a serviço da religião?

Infelizmente, não é surpreendente saber que o Taliban tratou o maior patrimônio histórico do seu país com o mesmo desrespeito com que tratava seus cidadãos. 

Os paredões rochosos de Bamiyan em 1931
Por aqui passava a famosa "Rota da Seda" (aqui)

E foi em nome de sua distorcida interpretação do Alcorão que um dos grandes monumentos da humanidade foi impiedosamente destruído em março de 2001, numa série de incêndios e bombardeios que duraram semanas. Estamos falando dos "Budas de Bamiyan"

O maior dos Budas de Bamiyan, em foto de 1977

Estas lindas estátuas escavadas na pedra durante o século VI em um paredão rochoso do Vale de Bamiyan, um importante ponto de parada de viajantes da Rota da Seda, formavam um dos mais impressionantes complexos de esculturas do planeta.


Localização de Bamiyan, na região central do país

No período compreendido entre o Séc. II e o Séc. IX, Bamiyan fazia parte do Reino de Ghandara, uma região repleta de Monastérios Budistas, onde a arte e a cultura indiana floresciam como em poucos lugares.



A beleza estonteante de Bamiyan

Nas encostas rochosas de Bamiyan os monges eremitas que viviam na cavernas da região esculpiram as estátuas dos Budas Vairokana e Sakiamuni, medindo respectivamente 55 e 37 metros, além de belos afrescos coloridos que impressionavam todos os visitantes em trânsito entre o Leste Europeu e a China. 

Afrescos com 1500 anos de idade em Bamiyan

Durante mais de 1.500 anos estas foram as maiores estátuas de Budas em posição ereta até então construídas, sendo ultrapassadas apenas pela Estátua do Buda de Lushan, na China, construída em 2002, com nada menos do que 128 metros de altura.


Buda de Lushan - china. A maior estátua do mundo (aqui)



Compare...

Desde 1997, alguns comandantes Taliban já pretendiam dinamitar as estátuas, consideradas falsos ídolos pelos fundamentalistas muçulmanos. Porém, o próprio Mullah Omar evitou durante alguns anos que as estátuas fossem destruídas, com medo da reação internacional . O máximo permitido foi a queima de pneus sobre a cabeça dos Budas.

Suposta foto do Mullah Omar, comandante supremo do Taliban
Muito pouco fotografado, até hoje é procurado pelos Estados Unidos (aqui)


No início de 2000, ao mesmo tempo em que o governo afegão pedia ajuda internacional para recuperar as estátuas, mais de 400 clérigos taliban iniciaram uma campanha pela destruição do complexo, argumentando que haviam chegado ao consenso de que as Estátuas iam contra a "Sharia", o código de conduta islâmico.




Foi na mesma época que em nome da Sharia o Taliban aboliu as estações de TV, esportes e músicas no Afeganistão.

A Burka era obrigatória para as mulheres afegãs

Na tentativa de evitar a destruição das estátuas, foram convocadas reuniões com a participação do Paquistão, Arábia Saudita e Emirados Árabes, mas os resultados foram desanimadores. Só a UNESCO enviou 34 cartas ao governo afegão pedindo que não houvesse a destruição de tão importante patrimônio, também em vão. 

Foto de um dos bombardeios feitos à Bamiyan em Março de 2001

E foi a partir de março de 2001 que os Budas de Bamiyan foram incendiados por vários dias com o uso de baterias anti-aéreas. Em seguida minas anti-tanque foram instaladas e detonadas em nichos na parte inferior do complexo. Os ataques foram finalizados com o uso de dinamite e lançamento de foguetes na face das estátuas. Enfim, o Taliban comemorava a destruição de um patrimônio de valor inestimável....

Antes e Depois...

Em 2006, o governo afegão declarou que tem a intenção de reconstruir o complexo de Bamiyan, e enquanto não decide iniciar o processo, há vários fundos preparados para investir grandes quantias na reconstrução e no resgate dos pedaços das estátuas que permanecem até hoje no local. 

Onde antes estavam as Estátuas, hoje restam apenas os nichos vazios.

No início de 2011, uma empresa alemã divulgou que poderia restaurar a Estátua do Buda menor usando um composto especial de Silício, montando-a como um gigantesco quebra-cabeças...o trabalho foi iniciado ainda no primeiro semestre do mesmo ano, e a expectativa de que possamos visitar novamente este monumento é muito grande.

A prova da intolerância está sempre à vista em Bamiyan

Mas, por enquanto, os nichos vazios onde costumavam ficar as milenares imagens são uma triste lembrança da intolerância religiosa no Afeganistão.

Brasão de Armas do Afeganistão (aqui)

Para entender melhor o que as décadas de Guerra Civil causaram a este país, veja as fotos destes fantásticos posts do site English Russia.

O Afeganistão dos anos 50 e 60 - Paz e Desenvolvimento (aqui)



Os Horrores do Afeganistão atual (aqui)

Nota: Curiosamente, a UNESCO declarou o complexo de Bamiyan um "World Heritage Site" apenas em 2003, dois anos após os bombardeios e incêndios que destruíram as estátuas...

Saiba mais sobre os Budas de Bamiyan em... (Aqui)

Sobre o Taliban em... (Aqui)



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