quarta-feira, 27 de março de 2013

AGRESSORES SEXUAIS DE CRIANÇAS
| Marcadores: violência infantil

PERFIL PSICOLÓGICO E COMPORTAMENTAL

INTRODUÇÃO



A violência sexual vem sendo perpetrada desde a antiguidade em todos os lugares do mundo, em todas as classes socioeconômicas, sendo fenômeno complexo, com multiplicidade tanto de causas quanto de consequências para a vítima1-5.

As experiências de violência ou abuso sexual na infância correlacionam-se a perturbações psicológicas e comportamentais na vida adulta, especificamente sendo identificada a associação entre o abuso sexual de crianças e os distúrbios psiquiátricos como transtorno de estresse pós-traumático, transtornos do humor e transtornos psicóticos6-12.

Segundo os dados do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, criminosos sexuais são indivíduos que podem pertencer a qualquer classe socioeconômica, raça, grupo étnico ou religião. A grande maioria não tem comportamento criminal específico. Tipicamente, seu grau de escolaridade é de ensino fundamental ou médio, está empregado e apenas 4% sofrem de doença mental severa13.

Os crimes sexuais não acontecem simplesmente, pois somente pequeno número de molestadores de crianças age sem planejamento ou premeditação. Para a maioria desses criminosos o planejamento se inicia horas, dias ou até meses antes da ação. Apesar de compreenderem que estão agindo fora da lei, racionalizam seu comportamento, convencendo-se de que não estão cometendo nenhum crime e de que seu comportamento é aceitável14-17.

O molestador de crianças convence a si mesmo de que a criança quer se relacionar sexualmente com ele, projetando nela os pensamentos e sentimentos que ele quer que ela tenha sobre ele. Ele interpreta a reação humana da vítima aos seus atos preparatórios e manipulatórios como resposta positiva aos seus desejos sexuais e se convence de que seu comportamento abusivo não causa estragos nem é prejudicial18,19.

O objetivo do presente trabalho é apresentar uma revisão da literatura concernente à classificação de molestadores sexuais de crianças de acordo com o perfil psicológico e comportamental.

MÉTODOS

Para a elaboração do presente trabalho, os seguintes procedimentos foram adotados.
Foi realizada busca on-line nas bases de dados MedLine-PubMed e SciELO, considerando a literatura dos últimos 20 anos. Os textos foram pesquisados por área de interesse: psiquiatria forense, psicologia forense e medicina legal. Para a base de dados MedLine-PubMed, foram utilizados os seguintes termos: child sexual abuse, child molesters, sex offender, forensic examination psychological profile. Para a base dados SciELO, foram utilizados os seguintes descritores: pedofilia, abusador, molestador, ofensa sexual, perfil psicológico, totalizando 39 artigos que preencheram os critérios para este estudo.

Foram também consultados livros-textos e periódicos disponíveis nas bibliotecas do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), do Instituto de Psicologia da USP e do Instituto Oscar Freire da FMUSP, uma vez verificada a ausência de trabalhos nacionais referentes ao tema perfil psicológico de abusadores sexuais. Foram adicionados ainda nesta pesquisa dados do Department of Justice (US) - Session Sexual Assault of Young Children as reported to Law Enforcement (www.missingkids.com/en-US/publication/NC70.pdf).

APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DO MATERIAL OBTIDO

Os resultados, de maneira geral, demonstraram que o termo "perfil psicológico de abusadores sexuais infantis" não é consenso na literatura especializada, embora se publique. Entretanto, quando se reporta à publicação nacional, esta é inexistente. Observa-se, ainda, tendência a englobar a violência sexual contra crianças no contexto geral da pedofilia, e não da criminalidade, como será visto nas discussões por tópicos.


CARACTERIZAÇÃO DA PEDOFILIA: ABUSADORES VERSUS MOLESTADORES

Embora o termo pedofilia seja largamente associado à violência sexual infantil, trata-se mais precisamente de transtorno parafílico (e, para a maioria desses autores, não implica necessariamente atos criminosos - na verdade, na maioria dos casos não há ocorrência de atos ilícitos). É consenso que os portadores de pedofilia podem manter seus desejos em segredo durante toda a vida sem nunca compartilhá-los ou torná-los atos reais; podem casar-se com mulheres que já tenham filhos ou atuar em profissões que os mantenham com fácil acesso a crianças, mas raramente causam algum mal20-22.

Por outro lado, os molestadores de crianças, em sua maioria, apresentam motivações variadas para os seus crimes, que raramente têm origem em transtornos formais da preferência sexual18,19,23-27.

Acredita-se que a passagem da fantasia para a ação no caso dos pedófilos ocorre com maior frequência quando o indivíduo é exposto a estresse intenso, situações nas quais haja grande pressão psíquica, como discussão conjugal importante, demissão, aposentadoria compulsória etc. Nesse caso, quando envolvidos com atos ilícitos, a expressão do comportamento criminoso dos pedófilos permite diferenciá-los em dois tipos: os abusadores e os molestadores. Os abusadores caracterizam-se principalmente por atitudes mais sutis e discretas no abuso sexual, geralmente se utilizando de carícias, visto que em muitas situações a vítima não se vê violentada. Já os molestadores são mais invasivos, menos discretos e geralmente consumam o ato sexual contra a criança20-23,25.

Há, ainda, autores que classificam os pedófilos baseados na preferência de gênero - homossexual, heterossexual ou bissexual -, enquanto outros preferem diferenciá-los por faixa etária - adolescentes, de meia-idade ou idosos27.

a) Pedófilo abusador

O tipo mais comum de pedófilo abusador é o indivíduo imaturo. Em algum ponto da vida ele descobre que pode obter com crianças níveis de satisfação sexual que não consegue alcançar de outra maneira. Trata-se de tipo solitário, e a falta de habilidade social acaba levando-o a mergulhos cada vez mais profundos e fantasiosos na pedofilia. Seu comportamento é expresso de forma menos invasiva (usam de carícias discretas) e dificilmente age com violência, o que na maioria das vezes dificulta que a criança e as pessoas ao seu redor notem o fato. Tende a se envolver com pornografia infantil, pela internet ou utilizando fotografias diferentes dos molestadores16-19.

b) Pedófilo molestador

Como dito, a característica marcante do pedófilo molestador é o padrão de comportamento invasivo com utilização frequente de violência. Esse tipo também pode ser dividido em dois grupos: molestadores situacionais e preferenciais16-19,24.

b.1) Molestador situacional (pseudopedófilo)

Para esse indivíduo a criança não é especialmente o objeto central de sua fantasia, logo não pode ser diagnosticado como pedófilo, na acepção estrita do termo. Alguma circunstância contingente o impele a obter gratificação sexual através da criança, o que ocorre muito mais pela fragilidade dela e pela dificuldade de ser descoberto do que pelo fato de ser pré-púbere - daí a denominação "situacional"16-19.

Esse tipo de molestador frequentemente é casado e vive com a família, mas, se alguma situação de estresse acontece, ele é levado a sentir-se mais confortável com crianças. Na maioria das vezes ataca meninas. Se a preferência for por meninos, é provável que, nesse caso, o agressor seja homossexual17.

A maioria dos agressores desse tipo pertence às classes socioeconômicas mais baixas e é menos inteligente. Seu comportamento sexual está a serviço das suas necessidades básicas sexuais (excitação e desejo) ou não sexuais (poder e raiva). São oportunistas e impulsivos, focalizam as características gerais da vítima (idade, raça, gênero) e os primeiros critérios para a escolha dela são a disponibilidade e a oportunidade. Entre os molestadores de criança situacionais existem três perfis diferentes de indivíduos: o regredido, o inescrupuloso e o inadequado17,18.

b.1.1) Molestador situacional regredido

Segundo alguns autores16-18, o indivíduo com esse perfil, em razão de vivências intensas de estresse, regride a estágios anteriores do desenvolvimento e, para sentir-se seguro e à vontade, passa a interagir melhor com pessoas tão fragilizadas quanto ele naquele momento. Por esse motivo, não ataca apenas crianças. Para satisfazer seus desejos sexuais, utiliza-se de qualquer grupo vulnerável, como idosos e deficientes físicos ou mentais.










Esse tipo de molestador apresenta estilo de vida estável, financeira e geograficamente. Deve estar empregado, mas no seu histórico podem constar alguns problemas relativos a abuso de substâncias alcoólicas. Tem prazer imenso em seduzir, diminuindo, assim, seus problemas com a baixa auto-estima, que provavelmente o acometem, e mantém várias vítimas seduzidas em estágios diferentes, esperando sua ação19,24.

A internet é um meio de busca de alvos bastante comum para esse tipo de agressor, cujo comportamento sexual é composto de sexo oral e vaginal. O uso de pornografia infantil melhora seu desempenho e a conquista da vítima. É frequente esse tipo de molestador infantil colecionar filmes caseiros e/ou fotografias das crianças que foram suas vítimas16,19.

b.1.2) Molestador situacional inescrupuloso (moral ou sexual)

Esse agressor abusa de quem está disponível para satisfazer suas necessidades sexuais e o fato de atacar crianças faz parte desse contexto, não sendo a sua prioridade. Molestar uma criança é parte do padrão de abuso geral em sua vida, pois tem como hábito usar e abusar das pessoas. Esse indivíduo mente, trapaceia, furta e não vê motivo para não molestar crianças. Usa força, sedução ou manipulação para conquistar sua vítima. É um indivíduo charmoso, considerado agradável pelas pessoas e crianças à sua volta. Se for casado, é o tipo de homem que troca de mulher a toda hora16,18.

O incesto é comum para esse molestador, que não hesita em envolver seus filhos ou enteados na realização deseus desejos. Não é raro esse agressor fazer parte de grupos de pornografia infantil, mas escolhe uma faixa etária definida de vítimas ao atacar crianças16-18.

b.1.3) Molestador situacional inadequado

Alguns autores17,19,24 enfatizam a possibilidade de que esse tipo de molestador sofra de alguma forma de transtorno mental (retardo mental, senilidade etc.) que o impossibilita de perceber a diferença entre certo e errado em suas práticas sexuais, ou seja, o caráter delituoso de seus atos. Em geral, não manifesta comportamento agressivo, isto é, não machuca a criança fisicamente, pois suas práticas sexuais envolvem abraçar, acariciar, lamber ou outros atos libidinosos que raramente incluem a relação sexual. Quando mantém relação sexual com a criança, esta tende a ser anal ou oral.

A tabela 1 expressa a síntese das principais características do molestador de crianças situacional.

b.2) Pedófilo molestador preferencial

Para o molestador desse grupo, a gratificação sexual só será alcançada se a vítima for uma criança. Na realidade americana os agressores desse grupo tendem a ser mais inteligentes que a média da população e pertencem a classes sociais mais elevadas. Seu comportamento sexual está a serviço de suas parafilias e é persistente e compulsivo, orientado por suas fantasias. Focaliza sua ação em vítimas específicas, no seu relacionamento com elas ou no cenário dos fatos. Alguns colocam em prática com a criança as fantasias que têm vergonha de executar com um parceiro adulto. O número de vítimas desse tipo de molestador de crianças é altíssimo e ele costuma atacar mais meninos do que meninas16-19.

A característica marcante desse tipo de molestador é a violência extrema, que chega até o homicídio. Ele pode ser do tipo: sedutor, sádico e introvertido16.

b.2.1) Pedófilo molestador preferencial sedutor

De acordo com Holmes e Holmes16, esse perfil representa um dos grupos mais perigosos, visto ser difícil para a criança escapar das suas mãos. Geralmente ele corteja, presenteia e seduz seus alvos e é capaz de percorrer qualquer distância para alcançá-los. Em princípio, esse ofensor não quer machucar a criança. Fica íntimo dela antes de molestá-la e insinua gradativa e indiretamente assuntos sexuais, usando pornografia infantil e parafernália sexual. Esse material tem como objetivo diminuir as inibições da vítima e criar a possibilidade de ela manter sexo com um adulto. Normalmente é solteiro, tem mais de 30 anos e estilo de vida e comportamento infantilizados.

Para que esse tipo de molestador infantil possa estar em constante contato com seus alvos, deixando crianças em vários estágios de sedução, é necessário que o contato seja legítimo. Sendo assim, as profissões escolhidas por esse tipo de agressor serão aquelas da qual as crianças são parte inquestionável, como funcionários de escolas, monitores de acampamento, técnicos esportivos, motoristas de ônibus escolar, fotógrafos, padres etc.16-19.

b.2.2) Pedófilo molestador preferencial sádico

Esses agressores pretendem molestar crianças com o expresso desejo de machucá-las. Seu excitamento sexual é diretamente proporcional à violência, que pode ser fatal16,19.

O crime é premeditado e ritualizado, sendo resultado de elaborado plano de ataque. Ele não conhece a criança que ataca e não a seduz: utiliza-se de truques para tirá-la dos pais ou de armas para amedrontá-la ou simplesmente a leva a parquinhos, shopping centers e escolas19.

A maioria dos molestadores desse tipo é do sexo masculino, tem personalidade antissocial, trabalha em empregos temporários e muda frequentemente de endereço ou de cidade. Antecedentes criminais envolvendo atos violentos, como estupro ou assalto, são comuns. Os meninos se caracterizam como a principal vítima desse molestador, que prefere o sexo anal. Machuca a criança de forma fatal, e a prática do canibalismo pode ser frequente. Castração de meninos, brutalização da área genital feminina e decapitação fazem parte do repertório de mutilações desse criminoso16-19.

b..3) Pedófilo molestador preferencial introvertido

É um indivíduo que prefere crianças, mas não tem habilidade pessoal para seduzi-las. Tipicamente, mantém mínima comunicação verbal com a criança que escolhe. Em geral, ela é desconhecida e muito pequena para entender o que está acontecendo. Sua área de ação envolve os parques infantis ou locais com grande concentração de crianças, onde observa e/ou tem breves encontros sexuais19. Telefonemas obscenos e exibicionismo também são ofensas comuns. Para realmente se relacionar sexualmente utiliza prostituição infantil, turismo sexual, internet ou se casa com a mãe das crianças que deseja para ter acesso legítimo e seguro e com a frequência que necessita19.

A tabela 2 apresenta as características entre molestadores situacionais e preferenciais.





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PEDOFILIA, PSICOPATIA E VIOLÊNCIA SEXUAL

Um importante aspecto associado aos molestadores de crianças é a psicopatia28-32. A presença de psicopatia em pedófilos colabora para a expressão de insensibilidade afetiva, diminuição da capacidade empática e elevado comportamento antissocial. Vários estudos têm demonstrado que criminosos psicopatas apresentam histórico de violência gratuita, com atos extremos de violência, como sadismo, crueldade e brutalidade33-36.

O termo psicopatia descreve o indivíduo que apresenta padrão invasivo de desrespeito e violação dos direitos dos outros e pobreza geral nas reações afetivas - estima-se que entre 25% e um terço dos indivíduos com transtorno de personalidade antissocial apresentam critério para psicopatia29. O que vai caracterizar o pedófilo ou molestador com psicopatia é a manifestação de evidente crueldade na conduta sexual, centrada e modulada pela postura de indiferença à ideia do mal que comete, não expressando emoções quanto ao desvio nem ao fato de que o seu comportamento produz sofrimento. Sugere-se que esse tipo de agressor sexual experimenta o prazer não mais com o sexo, e sim com o sofrimento de sua vítima. Em geral, reduz a vítima ao nível de objeto, passível de toda manipulação, degradação e descarte34. O crime por prazer é produto de extremo sadismo, e a vítima é assassinada e mutilada com o propósito de provocar gratificação ao criminoso, sendo o prazer dele adquirido pela violência, e não pelo ato sexual36.

Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais37, a prática do abuso pode ser caracterizada como o comportamento desviante denominado parafilia (do grego para → ao lado de, oposição + philos = amante, atraído por) se for motivada por transtorno da preferência sexual. Notadamente, as parafilias são caracterizadas por impulsos sexuais intensos e recorrentes, modulados por fantasias e manifestação de comportamentos não convencionais, como ocorre no fetichismo, travestismo fetichista, exibicionismo, voyeurismo, necrofilia e pedofilia37.

Alguns autores ressaltam que o fato de uma pessoa apresentar preferências por determinadas partes do corpo, objetos e acessórios não representa necessariamente parafilia e, em muitos casos, não há riscos para condutas sexuais criminosas. De acordo com esses autores, para que esse funcionamento preencha critérios para a parafilia, deve-se considerar no seu portador os seguintes aspectos: 1) caráter opressor do desejo, com perda de liberdade de opções e alternativas, isto é, o parafílico não consegue deixar de atuar dessa maneira; 2) caráter rígido, significando que a excitação sexual só se consegue em determinadas situações e circunstâncias estabelecidas pelo padrão da conduta parafílica; e 3) caráter compulsivo, que se reflete na necessidade imperiosa de repetição da experiência15,20,21.

A dificuldade no controle da compulsão se apresenta como o fator de maior vulnerabilidade para a ocorrência de condutas criminosas com implicação médico-legal27. Altos níveis de testosterona, incapacidade em manter relação conjugal estável, traumatismo cranioencefálico, retardo mental, psicoses, abuso de álcool e substâncias psicoativas, reincidência de crimes sexuais e transtornos da personalidade são outros fatores conhecidos de vulnerabilidade para as condutas sexuais criminosas38-42. Ressalta-se que no Brasil há grande escassez de material de pesquisa sobre a violência sexual infantil1.

Outro padrão psicológico e comportamental observado em molestadores refere-se a aspecto obsessivo. Gacono et al.28 ressaltaram que o construto obsessivo nos molestadores psicopatas se inicia bem antes da primeira expressão de conduta sexual delituosa.

CARACTERÍSTICAS DEMOGRÁFICAS E COMPORTAMENTAIS DOS AGRESSORES

Molestadores sexuais dificilmente modificam seus aspectos psicológicos, culturais ou sexuais, mesmo que corram risco de eles serem identificados. Para alguns autores19,27, a realização da investigação fenomenológica é a chave para a identificação do agressor.

O modus operandi (MO) - expressão repetitiva do comportamento criminoso em questão - assegura o sucesso do crime, protege a identidade do criminoso e garante sua fuga. O MO é dinâmico e maleável, na medida em que o infrator ganha experiência e confiança. O ritual, por sua vez, é comportamento que excede o necessário para a execução do crime, sendo construído com base nas necessidades psicossexuais do agressor, e este aspecto é crítico para a satisfação dos seus desejos e impulsos16-19,24.

Lanning18 ressalta que, se o MO é repetido frequentemente durante a atividade sexual, alguns de seus aspectos podem, por comportamento condicionado, transformar-se em ritual e seus comportamentos subsequentes são determinados pelas imagens eróticas e abastecidos pela fantasia e podem ter natureza bizarra.

O típico agressor é homem, começa a molestar por volta dos 15 anos, se engaja em vários comportamentos pervertidos e molesta uma média de 117 jovens, cuja maioria não dá queixa. Cerca de 30% são menores de 35 anos. Por volta de 80% têm inteligência normal ou acima da média16,18.

Lanning19 e Salfati e Canter25 ressaltam que 50% dos abusos infantis envolvem o uso de força física e que molestadores de crianças produzem o mesmo percentual de ferimentos na vítima que os estupradores

Mais da metade dos criminosos sexuais condenados que acabam de cumprir pena voltam para a penitenciária antes de um ano. Em dois anos esse percentual sobe para 77,9%. A taxa de reincidência varia entre 18% e 45%. Quanto mais violento o crime, maior a probabilidade do criminoso repeti-lo30.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Analisado com minúcia, o crime sexual contra menores vem se mostrando complexo e variado, com diferentes perfis de criminosos se engajando nessa prática, por diferentes motivos. O perfil psicológico para identificar criminosos sexuais, embora utilizado por alguns pesquisadores, ainda requer melhor validação científica, visto que seus procedimentos são em sua maioria decorrentes de pesquisas empíricas43.

Diante do quadro exposto, todavia, tal prática é muitas vezes necessária na esfera da psiquiatria e da psicologia forense, não só como forma de ampliação do conhecimento da dinâmica do indivíduo agressor, mas também contribuindo para a determinação da sua capacidade de entendimento e autocontrole.

Reforça-se que estabelecer sólidas bases para a classificação de criminosos sexuais de acordo com comportamento, tipo de vítima, motivação e risco de reincidência só é possível em um contexto interdisciplinar. Fica claro que a confluência dos saberes do psiquiatra, apto a diagnosticar transtornos mentais com seu instrumental específico; do psicólogo, cuja expertise se dá na direção da análise do comportamento, das motivações e da psicodinâmica subjacente aos atos; do assistente social, capaz de identificar elementos do contexto socioeconômico e familiar implicados nas situações; enfim, de equipe verdadeiramente comprometida com o trabalho conjunto, deve ser ativamente perseguido, se o objetivo é traçar perfil fidedigno das pessoas envolvidas em atitudes, como os crimes sexuais, uma vez que o comportamento de agressores sexuais não apresenta uma causa única, tem origem sabidamente multifatorial e envolve o complexo imbricamento de vários fatores. Só assim haverá, de fato, possibilidades para uma contribuição de forma técnica tanto para a possível identificação do ofensor como para o planejamento de tratamentos individualizados, auxiliando na definição de qual intervenção é mais efetiva e para quem.

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PEDOFILIA E ABUSO SEXUAL
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A MAIORIA DOS CASOS FICA IMPUNE


A prisão do médico Antônio Claret Lima em 2007, acusado de molestar crianças, põe luz sobre um problema que ocorre com maior freqüência do que se imagina. O abuso sexual infantil é considerado pela Organização Mundial da Saúde como um dos maiores problemas de saúde pública, devido aos altos índices de incidência e às sérias conseqüências para o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social da vítima e de sua família. No caso de Goiânia, a Polícia Civil gravou em dois meses mais de 3,7 mil ligações telefônicas que trazem relatos contundentes da ação criminosa. “São diálogos impublicáveis, repletos de palavras chulas e que descrevem como o grupo agia. É deprimente”, resume a delegada Adriana Accorsi, da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente.

Estudos realizados em diferentes partes do mundo sugerem que o percentual de crianças e adolescentes que sofrem algum tipo de abuso sexual varia de 3% a 36%. Muitas crianças não revelam o abuso, somente conseguindo falar sobre ele na idade adulta. As estatísticas, portanto, não são dados absolutos. Geralmente o crime é encoberto por um “muro de silêncio” do qual fazem parte os familiares, vizinhos e, algumas vezes, os próprios profissionais que atendem as crianças vítimas de violência.

Estudo realizado nos EUA com 935 pessoas revelou que 32,3% das mulheres e 14,2% dos homens tiveram abuso sexual na infância. Dados da Polícia Civil do Rio Grande do Sul apontam que, em 2002 e 2003, 3.163 crianças foram vítimas de violência; destas, 2.038 (64%) foram vítimas de violência sexual. De janeiro a julho de 2004, de 525 crianças vítimas de violência, 333 ou 63,43% estavam relacionadas à violência sexual. Já o programa Rede de Proteção às Crianças e Adolescentes em Situação de Risco para Violência, da cidade de Curitiba, apurou que das 1.356 notificações de maus-tratos no ano de 2003, 17,6% foram casos de abuso sexual.

Por sofrer intenso repúdio social e por sua própria natureza, o crime de pedofilia geralmente é cometido com todos os cuidados para não ser notado. O pedófilo tende a se proteger em uma teia de segredo, mantido às custas de ameaças e barganhas à criança abusada. Se não bastasse isso, uma série de situações e elementos de ordem social e técnica acabam por gerar uma subnotificação dos casos.

Segundo o estudo “Abuso sexual infantil e dinâmica familiar: aspectos observados em processos jurídicos”, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), os abusos acontecem geralmente com crianças de 5 a 10 anos. Já a denúncia quase sempre só ocorre na adolescência, quando a vítima já possui entre 12 e 18 anos. Essa notificação tardia evidentemente beneficia o criminoso, dificulta a apuração dos casos que vêm à tona, gerando impunidade, e ainda aumenta os danos sofridos pela vítima.

Embora a denúncia seja um procedimento determinado em lei, estudos indicam que a subnotificação ainda é uma realidade muito forte no Brasil. Se da parte da vítima há sentimentos de culpa, de vergonha e de tolerância, existe a relutância de alguns médicos em reconhecer e relatar o abuso sexual. O trabalho nesse campo ainda é fragmentado, desorganizado e, em geral, metodologicamente difuso. “Há um despreparo generalizado envolvendo desde os profissionais da área de saúde, educadores e juristas até as instituições escolares, hospitalares e jurídicas, em manejar e tratar adequadamente os casos surgidos”, conclui o estudo da UFRS.

Na maioria dos casos que chegam a conhecimento das autoridades, alguém (geralmente familiar) informou que já sabia da situação abusiva e não denunciou. “Estes dados revelam a dificuldade que a família e a sociedade ainda apresentam para denunciar situações de suspeita ou confirmação de abuso sexual contra crianças e adolescentes aos órgãos de proteção”, destaca a psicodramatista Luciane Toledo Borges.

A psicóloga aconselha os pais a ficar de olho em reações e comportamento estranho das crianças, especialmente aquelas que ficam aos cuidados de outras pessoas. “As crianças de alguma maneira externam isso, muitas vezes através de uma retração excessiva, medo demasiado ou então vai perdendo contato com brincadeira e outra criança”, exemplifica.


EFEITO SOBRE AS VÍTIMAS PODE SER DEVASTADOR

Os efeitos psicológicos do abuso sexual podem ser devastadores e os problemas decorrentes do abuso persistem na vida adulta das vítimas. O desenvolvimento da criança pode ser afetado de diferentes formas, uma vez que algumas apresentam efeitos mínimos ou nenhum efeito aparente, enquanto outras desenvolvem graves problemas emocionais, sociais e até mesmo psiquiátricos.

“A vítima pode desenvolver quadros de depressão, transtornos de ansiedade, alimentares, dissociativos, hiperatividade e déficit de atenção e transtorno de personalidade”, explica a psicóloga Cristiane Toledo Borges.

Quem é abusado sexualmente freqüentemente repete o ciclo de “vitimização”, perpetrando o abuso sexual intergeracional com seus próprios filhos. Nestes casos, estabelece-se um processo defensivo, o qual tende a se perpetuar: a identificação com o agressor como uma maneira psíquica de sobreviver ao abuso.

Os sentimentos de medo, raiva e vergonha da vítima em relação ao perpetrador são comuns, principalmente em casos de abuso sexual intrafamiliar, uma vez que a violência rompe a relação de confiança e o vínculo afetivo. “Com relação à situação abusiva, os estudos apontam que as crianças desenvolvem crenças distorcidas, tais como percepção de que são culpadas pelo ocorrido, de que são ruins e diferentes de outras crianças com a mesma idade, bem como apresentam alterações na percepção quanto à confiança interpessoal”, destacam os pesquisadores da UFRS.

Além de deixar marcas definitivas no desenvolvimento físico e emocional das vítimas, o abuso sexual deve é apontado como um fator predisponente a sintomas posteriores, como fobias, ansiedades e depressão, bem como envolvimento de um transtorno dissociativo de identidade, também conhecido como transtorno de personalidade múltipla com possibilidade de comportamento autodestrutivo e suicida.

PERFIL DO PEDÓFILO

Os casos de abuso sexual na infância e adolescência são praticados, na sua maioria, por pessoas ligadas diretamente às vítimas e sobre as quais exercem alguma forma de poder ou de dependência. Portanto, é uma distorção associar esse tipo de violência a um agressor estranho, marginal ou psicopata de rua. Na mesma linha, as pesquisas indicam que na maioria dos casos o agressor não apresentava antecedentes criminais, o que dificulta o trabalho dos profissionais que investigam suspeitas de abuso sexual. Para complicar ainda mais, as pessoas que convivem com o pedófilo o descrevem como “trabalhador, religioso e cuidador zeloso de sua família”.

“Este perfil pode confundir os profissionais e levá-los a cometer o erro de considerar o relato da criança fantasioso diante da negação do agressor”, lembra Cristiane Toledo.

De acordo com a psicodramatista, os criminosos pedófilos “são muito inteligentes”, têm consciência do ato que cometem e geralmente não buscam o tratamento. “Às vezes por vergonha ou preconceito, isolamento, e medo de ser denunciado. Aí acabam entrando num círculo vicioso, porque têm que aliviar aquele desejo. Às vezes, fogem do tratamento e voltam de novo. São angustiados, sofrem muito, especialmente aqueles que não querem lembrar que foram abusados.”, destaca.

Cristiane Toledo, que já atendeu caso de pedofilia, diz ainda que é possível que o pedófilo sofra realmente uma “atração irresistível” para a realização do seu desejo, mas não lembra que isso não o exime do crime. “Não é desculpa, mesmo porque ele tem consciência e poderia procurar tratamento. De qualquer forma, vai depender de como o juiz analisa o caso concreto”, diz.

O QUE É PEDOFILIA

Abuso ou violência sexual na infância e adolescência ocorre quando a criança, ou o adolescente, é usada para satisfação sexual de um adulto ou adolescente mais velho, incluindo desde a prática de carícias, manipulação de genitália, mama ou ânus, exploração sexual, voyeurismo, pornografia, exibicionismo, até o ato sexual, com ou sem penetração. Em qualquer caso a lei brasileira sempre presume que houve violência quando a vítima é menor de 14 anos.

Nos casos de abuso sexual, o ato libidinoso é o mais freqüente. Inicialmente, através de manobras de sedução e intimidação, seguidas de ameaças à própria criança ou a algum membro de sua família, comumente à mãe, o agressor obriga essa criança a praticar atos sexuais que não incluam a penetração vaginal para não caracterizar o estupro, mas sim uma série das mais variadas formas de contato sexual, constantemente incluindo sexo oral e penetração anal. A maioria dos abusos sexuais cometidos contra crianças e adolescentes ocorre dentro de casa e são perpetrados por pessoas próximas, que desempenham papel de cuidador destas. Cerca de 80% dos casos de abuso sexual contra crianças é perpetrado no contexto doméstico, tendo uma duração de mais de um ano.


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ABUSO SEXUAL NA ESCOLA: COMO LIDAR
| Marcadores: Convidados, Sexo
Por Arlete Gavranic

Famílias enfrentam problemas de abuso sexual nas escolas. As formas de abuso feitas por garotos (as) são: agressão física, exposição de genitália para colegas, coerção por meio de ameaça e represália física ou moral por meio de chacotas e palavrões para não delatar o abuso.

Por isso, família e escola precisam urgentemente se preparar para educar, orientar e impor limites. Infelizmente, parte dos pais e escola ainda acreditam que dizer não ou punir através de regras e sanções, a quem não as cumpre, seja difícil, ou possa ser repressão. Muitos 'psicologizam' que pode fazer mal, mas pior é a ausência de limite.

POR QUE OCORREM CASOS DE ABUSO?

As primeiras noções e valores associados à sexualidade ocorrem no ambiente familiar através do comportamento dos pais entre si, na relação com os filhos (carinhosa, correta ou agressiva), no tipo de recomendações ou na ausência dessas, e até nas expressões faciais, gestos e proibições incorporados desde a infância.

A sexualidade está cada dia mais presente na vida de nossos filhos: na TV, na Internet, na moda, nas relações de casa, da escola, dos condomínios, etc.

Muitas famílias ainda vêem a permissividade e até a estimulação para a eroticidade de seus filhos - do sexo masculino-, como algo "natural". É por isso que muitos ainda deixam revistas pornográficas disponíveis, liberam canais eróticos da TV paga e não colocam restrição a sites pornográficos. Eles pensam que ao estimular a eroticidade de seus filhos, podem evitar a possibilidade de homossexualidade.

Há crianças, ou melhor, pré-adolescentes que por erotização excessiva, por falta de uma estruturação de "superego" - componente da personalidade que introjeta valores e normas na visão psicanalítica -, cometem comportamentos abusivos.

A educação sexual é obrigatória nas escolas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB nº. 9.394 de 20/12/96. E há 10 anos é obrigatória pelo Ministério da Educação. O objetivo é preparar as pessoas de forma saudável e segura para o exercício da sexualidade.

Mas isso não significa estimular a precocidade da sexualidade como alguns tentam aludir, mas trabalhar a idéia de sexualidade relacionada ao afeto, respeito, cidadania, melhorando a auto-estima e a segurança de jovens para escolhas mais sensatas e protegidas de riscos. Inclusive, evitando casos de abuso ou exploração sexual.

Mas infelizmente essa obrigatoriedade não tem sido respeitada.

O abuso sexual não ocorre só em escolas de periferia. Acontece também em escolas com mensalidades salgadas que chegam a R$800,00.

Procure prestar atenção no comportamento de seu filho. Se há mudança ou instabilidade de humor, se ocorre rejeição para ir à escola sem causa específica.

Esteja próximo de seu filho para que ele sinta confiança em contar, caso ocorra algo estranho, pois tais abusos deixam seqüelas para sua vida afetiva e sexual no futuro.

Nem sempre escolas e professores estão preparados para perceber esses casos ou tomar atitudes pontuais na colocação de limites e indicação de tratamentos.

Esse despreparo é devido a vários fatores: escola não é clínica de recuperação; falta de consciência das seqüelas de atos desse tipo; questões mercadológicas; onipotência da coordenação da escola em achar que dará conta de resolver tudo ou até por desconsiderar efetivamente as queixas de alunos.

Procurar apoio nas coordenações das escolas é um caminho, mas se não for suficiente, procure a Delegacia de Ensino e o Conselho Tutelar para saber como proceder.

Proteja seu filho para que ele não carregue pela vida a sensação de que ser 'abusado', ameaçado ou subjugado sejam coisas naturais da vida. 

Osvaldo Aires Bade Comentários Bem Roubados na "Socialização" - Estou entre os 80 milhões  Me Adicione no Facebook 

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