A CORUJA SÍMBOLO DA FILOSOFIA - E A MINERVA
"Por Osvaldo Aires extraído de Paulo Ghiraldelli Jr."
A coruja da filosofia é a Coruja de Minerva. Minerva é uma deusa romana. Seu equivalente grego é Athena.
O mito pode ser lido como tendo o objetivo mostrar a criação da aranha. Mas, como sempre, fornece mais leituras: mostra Athena como compreensiva aos erros humanos: um deus que não fosse Athena não se daria ao luxo de virar uma mortal para, sutilmente, persuadir um outro mortal de não insultá-lo. Assim, com tal característica, Athena era de fato a condutora da cidade de Athenas, que recebeu tal nome por causa dela. Inspirados em Athena, os cidadãos gregos daquela cidade aprenderiam a se comportar diante das leis urbanas, deveriam tomar as melhores decisões, evitar conflitos e se proteger, ordenadamente – inclusive através da guerra – contra inimigos externos.
A imagem de Athena povoou as mentes de alguns filósofos. Platão, ao falar de Athena, a tomou como protetora dos artesãos, ressaltando o caráter da deusa enquanto não somente uma guerreira e conselheira, mas efetivamente como aquela que, desde o momento que deu a oliveira aos mortais, estava preocupada em honrar a sabedoria prática, a habilidade de usar as mãos em articulação com o cérebro. Talvez Marx, ao falar que o pior engenheiro é ainda melhor que a melhor das aranhas, estivesse pensando, de fato, em Arachne. Mas certamente é com Hegel que Athena se imortalizou para nós modernos, finalmente, na sua ligação com a filosofia. É claro que predominou seu nome romano, Minerva. E mais que a própria deusa, a coruja ficou no centro da história.
''Tente mover o mundo - o primeiro passo será mover a si mesmo.'' Platão.
+ Berlim,Alemanha – 1831 d.C
A Dialética Hegeliana
"O melhor uso da vida consiste em gastá-la por alguma coisa que dure mais que a própria vida." William James - Filósofo e Psicólogo Americano.
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"Por Osvaldo Aires extraído de Paulo Ghiraldelli Jr."
A coruja da filosofia é a Coruja de Minerva. Minerva é uma deusa romana. Seu equivalente grego é Athena.
A deusa Athena é filha predileta do deus dos deuses, Zeus, e da deusa Metis, cujo nome significa “conselheira”, e que indica a posse de uma sabedoria prática. Athena não nasceu de parto normal. Zeus engoliu a esposa, Metis, para se safar do filho que, pensava ele, poderia destroná-lo, aliás como ele próprio fez com seu pai, Cronos. O nascimento de Athena se dá de um modo especial: após uma grande dor de cabeça, Zeus teve sua fronte aberta por um de seus filhos, e daí espirrou Athena, já forte e grande.
Na imagem: Metis, deusa da astúcia, seduzida por Zeus, prestes a conceber Atenas.
ATHENA: Embora a mitologia lhe reservasse várias atribuições, em
todas elas Atena personificava a serenidade e a sabedoria características do espírito grego.
Athena seria a protetora natural de Athenas – uma vez que estava ligada à idéia de cuidado com as habilidades manuais, com as artes em geral, com a guerra enquanto capacidade de proteção e, enfim, com a sabedoria, ou seja, tudo que deveria comandar uma cidade.
Todavia, foi desafiada por Poseidon, que também desejava ser o protetor da cidade de Atenas. Os deuses em reunião decretaram que ficaria com a cidade aquele que produzisse algo de mais útil aos mortais. Poseidon fez o cavalo, Athena fez a oliva. A vitória foi concedida a Athena. A disputa clássica na vida de Athena, no entanto, foi contra uma mortal – Arachne, talvez uma princesa, mas que aparece na mitologia como um tipo de doméstica. Arachne tecia muito bem, maravilhosamente, a ponto de dizerem que a própria deusa das habilidades, Athena, a havia ensinado. Mas Arachne negava tal fato e retrucava que poderia produzir uma rede muito superior a qualquer coisa que Athena fizesse. E assim desafiou a deusa.
Por Que a Coruja é o Símbolo da Filosofia?
Athena transformou-se em uma velha e foi procurar Arachne, para aconselhá-la a não desafiar um deus. Mas Arachne ficou furiosa, e manteve seu desafio. E então veio o confronto. Ambas teceram rapidamente, mostrando uma habilidade incrível, e a própria disputa se fez de modo tão fantástico que parecia uma homenagem ao trabalho. No produto de Athena, as figuras tecidas mostravam os deuses, imponentes, mas desgostosos com a presunção dos mortais. No produto de Arachne, as figuras exemplificavam erros dos deuses – tudo em forma de deboche. O resultado foi que Athena não suportou o insulto, e se insurgiu contra Arachne. Quando foi para colocar fim na vida de Arachne sentiu piedade (piedade grega, não cristã, é claro) e a poupou, deixando-a viver como um estranho animal – a aranha.
Diego Rodríguez de Silva y Velázquez. A Fábula de Aracne c. 1657 Museo del Prado, Madrid
Vamos para duas obras de arte: Trata-se de uma cena mitológica dentro de uma cena mitológica. Em primeiro plano temos Las Hilanderas (as fiadeiras) que representam a Fábula de Aracne. Esta dizia que existiu um concurso entre Atenas e a mortal Aracne, que aparentemente foi mais apreciada pelo poeta romano Ovídio que a sua rival. De acordo com Ovídio, no livro “Metamorfoses”, Aracne vivia em Lídia, uma cidade que tinha uma longa e bem fundamentada tradição na confecção de têxteis.Atena teceu uma peça onde mostrava as consequências para os mortais que ousassem desafiar os deuses e Aracne teceu uma peça onde mostrava o seu amor pelos deuses (por deuses entenda-se os deuses masculinos e as divindades femininas). Tanto na destreza como no tema, as criações estavam ao mesmo nível a Atena acabou por reconhecer a derrota, não sem antes tem atingido a jovem na cabeça e rasgado o tapete, tal era a raiva. Apavorada, Aracne enforcou-se, mas Atena arrependida transformou a força numa teia e sobre ela lançou fluidos que a transformaram numa aranha. Eis uma das explicações para se dizer que as aranhas são boas tecedeiras.
Neste quadro Velazquez foi muito influenciado pelo ambiente espanhol dos bodegones e de facto podemos ver duas áreas muito diferentes uma da outra na pintura, mas que se equilibram. Dizem que o cenário do que está em primeiro plano é um modelo da Fábrica Real de Têxteis de Santa Elizabeth em Madrid. Como podemos ver em primeiro plano temos um conjunto de mulheres que tece. Uma estão na roda e no fuso e outras trazem mais lã. Há no entanto um segundo compartimento no quadro e que se pode ver em segundo plano e ao qual se acede subindo uns degraus. Aí o espaço está muito mais iluminado do que a cena que decorre em primeiro plano e difere deste da forma como as mulheres estão vestidas. Não são trabalhadoras e parecem mais, avaliando pela mulher que tem na cabeça um elmo imitando Atena, jovens posando para uma pintura ou para a elaboração de uma tapeçaria, dado o local. No fundo está uma tapeçaria cujo desenho não nos é estranho: trata-se da pintura de Ticiano, o Rapto de Europa que Aracne (que se encontra à direita de Atena), terá tecido para a competição com a deusa. No entanto, este quadro de Ticiano sofreu uma pequena transformação na versão de Rubens, pois o pintor italiano mostrou na sua versão o castigo de Aracne que Velazquez ignorou.
Neste quadro Velazquez foi muito influenciado pelo ambiente espanhol dos bodegones e de facto podemos ver duas áreas muito diferentes uma da outra na pintura, mas que se equilibram. Dizem que o cenário do que está em primeiro plano é um modelo da Fábrica Real de Têxteis de Santa Elizabeth em Madrid. Como podemos ver em primeiro plano temos um conjunto de mulheres que tece. Uma estão na roda e no fuso e outras trazem mais lã. Há no entanto um segundo compartimento no quadro e que se pode ver em segundo plano e ao qual se acede subindo uns degraus. Aí o espaço está muito mais iluminado do que a cena que decorre em primeiro plano e difere deste da forma como as mulheres estão vestidas. Não são trabalhadoras e parecem mais, avaliando pela mulher que tem na cabeça um elmo imitando Atena, jovens posando para uma pintura ou para a elaboração de uma tapeçaria, dado o local. No fundo está uma tapeçaria cujo desenho não nos é estranho: trata-se da pintura de Ticiano, o Rapto de Europa que Aracne (que se encontra à direita de Atena), terá tecido para a competição com a deusa. No entanto, este quadro de Ticiano sofreu uma pequena transformação na versão de Rubens, pois o pintor italiano mostrou na sua versão o castigo de Aracne que Velazquez ignorou.
Ticiano Vecellio "Rapto de Europa" 1559-1562 Isabella Stewart Gardner Museum, Boston
O mito pode ser lido como tendo o objetivo mostrar a criação da aranha. Mas, como sempre, fornece mais leituras: mostra Athena como compreensiva aos erros humanos: um deus que não fosse Athena não se daria ao luxo de virar uma mortal para, sutilmente, persuadir um outro mortal de não insultá-lo. Assim, com tal característica, Athena era de fato a condutora da cidade de Athenas, que recebeu tal nome por causa dela. Inspirados em Athena, os cidadãos gregos daquela cidade aprenderiam a se comportar diante das leis urbanas, deveriam tomar as melhores decisões, evitar conflitos e se proteger, ordenadamente – inclusive através da guerra – contra inimigos externos.
A imagem de Athena povoou as mentes de alguns filósofos. Platão, ao falar de Athena, a tomou como protetora dos artesãos, ressaltando o caráter da deusa enquanto não somente uma guerreira e conselheira, mas efetivamente como aquela que, desde o momento que deu a oliveira aos mortais, estava preocupada em honrar a sabedoria prática, a habilidade de usar as mãos em articulação com o cérebro. Talvez Marx, ao falar que o pior engenheiro é ainda melhor que a melhor das aranhas, estivesse pensando, de fato, em Arachne. Mas certamente é com Hegel que Athena se imortalizou para nós modernos, finalmente, na sua ligação com a filosofia. É claro que predominou seu nome romano, Minerva. E mais que a própria deusa, a coruja ficou no centro da história.
''Tente mover o mundo - o primeiro passo será mover a si mesmo.'' Platão.
A frase de Hegel, que diz que a Coruja de Minerva levanta vôo somente ao entardecer, alude ao papel da filosofia. Ou seja, a filosofia só pode dizer algo sobre o mundo, através da linguagem da razão, após os acontecimentos que haviam de acontecer realmente acontecerem. Antes que “prever para prover”, que é um lema de Comte e, portanto, do espírito cientificista, Hegel preferia dar crédito a uma postura filosófica que se via distinta da postura da ciência: a voz da razão explica – racionaliza – a história. Ou seja, depois da história, ela mostra que esta não foi em vão.
Hegel: Georg Wilhelm Friedrich Hegel
* Stuttgart,Alemanha – 1770 d.C+ Berlim,Alemanha – 1831 d.C
A Dialética Hegeliana
Quando dizemos, com William James, que cada filosofia é o temperamento do filósofo que a criou, podemos então caminhar mais um pouco e dizer que Marx e Hegel aparecem como os que melhor encarnaram a própria psicologia de Athena para tecerem suas filosofias. Marx e Hegel, cada um com sua própria psicologia, seus temperamentos, captaram o espírito de Athena para fazerem disso espelhos para suas filosofias. Pois, afinal, Athena detinha com suas duas facetas o espírito de suas filosofias: de um lado, Athena era a protetora de uma democracia de artesãos, de outro, a racionalizadora das decisões urbanas. Portanto, Marx e Hegel, em essência! Mas sabemos que, de fato, o símbolo da filosofia ficou sendo a coruja, não Athena. Poderia ser outro animal, e não a coruja, o mascote de Athena? E como mascote da filosofia, o que indica?
A coruja não é bela. Platão era tido como belo, mas Sócrates era horrível. A coruja não é adepta de uma visão unidirecional, ela gira a cabeça quase que completamente, vendo todos os lados. Platão era adepto de uma visão unificadora, mas Sócrates era quase um perspectivista. Platão ensinava em uma escola que, muitas vezes, foi oficial. Mas Sócrates ensinava nas ruas. Foi acusado e condenado por seduzir os jovens, por roubá-los da Cidade, da Pólis. A coruja, por sua vez, é a ave de rapina par excellence, e apanha os descuidados – na noite. Os leva da cidade, para seu ninho. E então, dá para entender, agora, o que é que coruja e filosofia fazem juntas?
MUSEU DE ATHENA:
http://www.goddess-athena.org/
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Abraço e Sucesso a Todos
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CRECI-PA/AP 6312
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