Igor Truz - 04/09/2013 - 16h33
No final da tarde desta terça-feira (3/9), a Câmara Municipal de São Paulo
aprovou, por 37 votos à 15, a concessão da “Salva de Prata”, uma das principais
honrarias da Casa, à Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), grupo de elite
da Polícia Militar paulista. A votação favorável à tropa gerou controvérsias em
diversos setores da sociedade civil e foi classificada como “uma loucura” por
militantes da área dos Direitos Humanos.
Esta não é, no entanto, a opinião do padre jesuíta, Geraldo Nascimento.
Membro do “Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça”, organização
suprapartidária que tem como objetivo o esclarecimento e a apuração oficial dos
responsáveis pelos crimes contra a Humanidade praticados pela ditadura militar
brasileira, ele esteve na Câmara Municipal durante a sessão que aprovou a
concessão da Salva de Prata, e afirmou que homenagear “uma entidade com tantos
crimes nas costas” é “uma loucura muito grande”.Segundo o autor da
proposta de homenagem, o vereador Coronel Telhada, a reverência se justifica
pelos “relevantes serviços prestados pelo Batalhão à sociedade brasileira, em
especial ao povo do estado de São Paulo”. Ex-comandante da corporação entre os
anos de 2009 e 2011, Telhada exaltou ainda o passado de “glórias” da tropa.
Quartel da Rota
“Aprovar uma homenagem destas é uma desonra para a cidade de São Paulo. A Rota é uma entidade conhecida por atuar de maneira covarde e mentirosa. É um absurdo maluco homenagear uma entidade com tantos crimes nas costas”, disse ele. Para o padre Geraldo, a Polícia Militar é formada por uma hierarquia e estrutura perversas, alicerçada no uso da força.
“Aprovar uma homenagem destas é uma desonra para a cidade de São Paulo. A Rota é uma entidade conhecida por atuar de maneira covarde e mentirosa. É um absurdo maluco homenagear uma entidade com tantos crimes nas costas”, disse ele. Para o padre Geraldo, a Polícia Militar é formada por uma hierarquia e estrutura perversas, alicerçada no uso da força.
“Muitos PMs
vem até mim para relatar como se sentem oprimidos por seus superiores, dentro
da própria corporação. Há uma grande tensão entre oficiais e praças (policiais
de baixa patente). Uma vez um policial me contou como era desrespeitado dentro
do batalhão e me perguntou: ‘Se eu não sou respeitado, como é que vou respeitar
a população?’”, conta.
Segundo o
padre, a homenagem à Rota ficará marcada para sempre. “Os nomes dos vereadores
que aprovaram esse absurdo ficarão na história. A história vai cobrar eles.
Ontem o Golpe Militar foi a glória e hoje é uma vergonha para a história
nacional”.
A Salva de
Prata, que segundo o regimento da Câmara pode ser concedida oito vezes por cada
vereador, durante uma legislatura, foi a que levou mais tempo (6 meses) para
ser aprovada em toda a história da Casa. Confira abaixo lista dos votos dos
vereadores.
Momento
inadequado
Para o
jurista Luiz Flávio Gomes, a aprovação homenagem da Câmara Municipal paulistana
à Rota demonstra como vereadores e opinião pública estão fora de sintonia.
Ex-juiz e ex-promotor de Justiça de São Paulo, Gomes lembrou que as grandes
manifestações ocorridas por todo o Brasil no mês de junho deste ano nasceram
justamente da reprovação da população à má-conduta e violenta repressão da
Polícia Militar em protestos que aconteciam na capital paulista.
“Considero
este um momento muito inadequado [para conceder à homenagem]. As manifestações
ocorridas recentemente questionaram justamente à conduta dos policiais”,
afirmou Gomes, que também é membro da Associação Internacional de Direito
Penal, com sede na França.
Segundo o
jurista, a proposta do vereador Coronel Telhada parece uma atitude de simples
“coleguismo”, e não algo que imergiu genuinamente dos desejos da população
paulistana. “Acredito que reverências oficiais deveriam acontecer de outra
maneira, inclusive com a abertura de editais públicos para sua aprovação. As
homenagens públicas poderiam ser submetidas à votação popular, através de redes
sociais, por exemplo, e só depois serem consumadas” .
Histórico
Criado nos
anos 70, em pleno regime militar, o batalhão da Rota se autodenomina
idealizador de “um policiamento com doutrina e características peculiares”. Em
sua história, a tropa traz registros de intensa e violenta repressão a
movimentos populares, e se orgulha por ter atuado contra líderes como Carlos Lamarca
e Carlos Marighella, conhecidos pela luta contra a ditadura e a favor da
democracia.
Precursor da
atual tropa de elite da PM paulista, o 1º Corpo Militar de Polícia foi formado
no século XIX, em 1891. Atualmente, o batalhão reivindica inclusive ter sido,
àquela época, o responsável pelo último combate da Guerra de Canudos, quando em
1897 teria destruído o arraial dirigido por Antônio Conselheiro, que reunia
camponeses, índios e escravos recém-libertos.
Alvo de
frequentes denúncias por emprego excessivo de força e homicídios
injustificáveis, a Rota tem como principal marca em seu passado recente a
participação no Massacre do Carandiru. Em outubro de 1992, a tropa invadiu o
principal presídio da capital paulista com o objetivo de encerrar uma rebelião entre
os detentos. A ação terminou com 111 mortos. No início de agosto deste ano, 25
policiais do grupo de elite foram condenados a mais de 620 anos de prisão.
Confira
abaixo os vereadores que participaram da votação, e suas respectiva
deliberações:
Roberto
Tripoli (PV)
Abou Ani (PV)
Adilson
Amadeu (PTB)
Conte Lopes (PTB)
Marquito (PTB)
Paulo Frange (PTB)
Andrea
Matarazzo (PSDB)
Claudinho de Souza (PSDB)
Coronel Telhada (PSDB)
Eduardo Tuma (PSDB)
Gilson Barreto (PSDB)
Floriano Pesaro (PSDB)
Mário Covas Neto (PSDB)
Ricardo Nunes (PSDB)
Patrícia Bezerra (PSDB)
Calvo (PSDB)
Aurélio
Nomura (PMDB)
George Hato (PMDB)
Nelo Rodolfo (PMDB)
Atílio
Francisco (PRB)
Jean Madeira (PRB)
Aurélio
Miguel (PR)
Toninho Paiva (PR)
José Police
Neto (PSD)
Marco Aurélio Cunha (PSD)
Coronel Camilo (PSD)
David Soares (PSD)
Edir Sales (PSD)
Goulart (PSD)
Marta Costa (PSD)
Souza Santos (PSD)
Sandra Tadeu
(DEM)
Laércio
Benko (PHS)
Pastor
Edemilson Chaves (PP)
Wadih Mutran (PP)
Noemi Nonato
(PSB)
Ota (PSB)
– Votos contrários à homenagem:
Orlando
Silva (PCdoB)
Paulo
Fiorilo (PT)
Nabil Bonduki (PT)
Alessandro Guedes (PT)
Alfredinho (PT)
Senival Moura (PT)
Arselino Tatto (PT)
Reis (PT)
Jair Tatto (PT)
Vavá (PT)
José Américo (PT)
Juliana Cardoso (PT)
Natalini
(PV)
Ricardo
Young (PPS)
Toninho
Véspoli (PSOL)
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