Se um jornalista obtém, após a devida apuração, uma informação relevante, deve ele simplesmente ignorá-la por estar o país em época eleitoral? Claro que não! Se assim o fizesse não seria bom jornalista. E a decisão de não revelar a informação para não prejudicar determinado candidato, por óbvio, implica na escolha de prejudicar outro candidato, no caso seu oponente. Logo, guardar para si a importante descoberta também seria uma escolha política e contra os princípios do bom jornalismo.
Qualquer pessoa minimamente inteligente entende isso. Mas o calor eleitoral impede que a inteligência seja preservada muitas vezes. Especialmente por parte de esquerdistas, cuja inteligência, quando presente, não costuma combinar com a honestidade intelectual. Vale tudo para vencer, inclusive sacrificar a verdade. Assim tem sido o histórico da esquerda.
Fiz essa introdução para chegar no caso da polêmica capa da revista Veja nas vésperas das últimas eleições. Nela estava estampada uma foto de Lula e Dilma com os dizeres: “Eles sabiam de tudo”. Acima ficava claro que se tratava de uma acusação ou confissão feita pelo doleiro Alberto Youssef, em sua delação premiada a qual Veja tomou conhecimento. Se um doleiro envolvido no esquema, em processo de delação no qual precisa apresentar evidências, diz que a presidente da República sabia, como um veículo sério de imprensa poderia sonegar tal revelação bombástica dos seus leitores?
A informação era quente, foi devidamente apurada, mas outros veículos se sentiram intimidados e preferiram não dar o mesmo destaque. Repercutiram somente no dia seguinte a notícia, e basicamente porque não poderiam ignorar a reação de seguidores do PT: eles depredaram a sede da revista! E isso virou uma notícia que não poderia mais ser ignorada, levando os jornais televisivos a comentar o que causara tal ato de vandalismo.
Nas redes sociais, uma legião de bajuladores do PT aplaudiu o ato quase terrorista contra a Abril, ou no mínimo fez um conivente silêncio. Era a esquerda sendo a esquerda, adotando a máxima de que os fins “nobres” justificam quaisquer meios, usando um padrão seletivo de julgamento moral. É o que fazem desde sempre, como nas invasões do MST, por exemplo, que podem até destruir pesquisas científicas importantes que continuam blindadas de críticas, pois vêm de um “movimento social” ligado ao PT.
Pois bem: a acusação foi geral do lado esquerdo, de que a Veja era “golpista”. Atacaram o mensageiro, e ignoraram a mensagem. Sobre Youssef, o doleiro do esquema de corrupção na Petrobras, afirmar que Lula e Dilma sabiam de tudo, nem uma palavra! Mas a Veja se tornava o alvo, como sempre. Revista tucana, partidária, golpista, mentirosa. Só há um porém: ela estava cumprindo seu papel jornalístico, que a torna a mais respeitada e vendida revista do Brasil, há décadas (inclusive quando o governo era dos tucanos, algo que os petistas hoje esquecem).
Veja divulgou uma nota agora que as transcrições da denúncia de Youssef vieram à público, comprovando que ela estava certa. Seguem alguns trechos:
A mais extraordinária característica dos fatos é que eles são teimosos. Os fatos não desaparecem facilmente. A realidade é feita de fatos e, à semelhança da verdade, cedo ou tarde ela se impõe.
[...]
Internamente, na apresentação da reportagem de capa, VEJA escreveu: “Cedo ou tarde os depoimentos de Youssef virão a público em seu trajeto na Justiça rumo ao Supremo Tribunal Federal (STF)”. Nesta sexta, os depoimentos efetivamente vieram a público e quando se examina seu conteúdo no que diz respeito às afirmações de VEJA na capa Lula e Dilma Sabiam a constatação insofismável é a de que VEJA apurou e publicou um fato real: Yousseff disse à Justiça, no âmbito de sua delação premiada, que o Palácio do Planalto sabia das tenebrosas transações que ocorriam na Petrobras.
VEJA cumpriu com seu dever jornalístico ao trazer esse fato ao conhecimento de seus leitores. Portanto, quem se insurgiu contra a revista naquele episódio, se insurgiu, realmente, contra os fatos. Atacou o mensageiro, quando o que feria era a mensagem.
Agora, com a quebra de sigilo sobre os depoimentos da Lava Jato, veio a confirmação de que VEJA estava certa e seus contestadores errados. A eles, quem sabe, seja útil a leitura de João 8:23: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”.
De fato, a verdade é libertadora. Mas certas pessoas fogem dela como o diabo foge da cruz. Sofrem de dissonância cognitiva, e a verdade dói demais da conta, torna-se insuportável, pois vai contra sua ideologia, suas crenças enraizadas e obtidas não por reflexões isentas, mas por paixão cega. Os escravos da mentira não toleram a verdade, pois ela poderia demolir todo o seu castelo de areia, montado sobre pilares frágeis, de papelão.
Falo daqueles que, apesar de tudo que já sabemos, repetem por aí com ar de “intelectual” que o PT se preocupa com os mais pobres, e que as “elites” não suportam isso, que a Veja faz parte dessa “elite golpista”. Alienação à enésima potência, criando uma casca impermeável aos fatos. Veja precisa ser odiada por essa gente, pois Veja trabalha com os fatos, e esses negam seus slogans. Diante de um fato incômodo, eles preferem repetir, feito autômatos: “tinha que ser na Veja!”
Pois é: tinha mesmo que ser na Veja, uma revista corajosa que não teme expor fatos incômodos para o governo poderoso. É o que diferencia o bom jornalismo da adesão chapa-branca dos vendidos ou covardes. É o que me enche de orgulho de fazer parte desse time, mantendo meu blog na Veja.com. Algumas pessoas valorizam a verdade; outras, necessitam da mentira. Para estes, há os blogs financiados pelo governo, pois encarar os fatos seria tarefa insuportável demais para essas pobres almas pusilânimes…
Rodrigo Constantino