sábado, 12 de outubro de 2013

PROTESTOS NO RIO: OAB QUER QUE POLÍCIA UTILIZE CACETES ACOLCHOADOS PARA NÃO FERIR MANIFESTANTES


  Manifestantes querem um mundo melhor - essa postagem é uma sátira (fonte aqui)




O presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB, Wadih Damous, afirmou que a violência policial no Rio de Janeiro ultrapassou “todos os limites”.

“O uso da força está sendo praticado de forma desmedida e desproporcional e os nossos professores, que já são tão sofridos, não merecem apanhar em praça pública só porque reivindicam melhores condições de trabalho”, disse Damous.”
Nossa equipe procurou o representante da OAB para perguntar se, por acaso, ele não viu violência de manifestantes contra policiais.
Não obtivemos resposta, mas podemos imaginar que seria, mais ou menos, a seguinte: “Os policiais fazem parte do aparelho repressor do estado, que visa manter o atual estado de coisas, sendo, portanto, a violência por ela praticada um ato das classes dominantes contra o povo que quer transformações sociais e um mundo melhor”.
A Ordem, na manhã de hoje, divulgou nota na qual “exige” que os policias utilizem cacetes acolchoados “para evitar danos aos manifestantes que estão lutando pela educação”, reiterando que qualquer violência da polícia é inaceitável.
Um setor mais radical da Ordem, no entanto, defende uma emenda constitucional que estabeleça o “monopólio do uso da força física e da violência para aqueles que defendem um mundo melhor”, o que excluiria, por essa ótica, a polícia.

Sobre a organização criminosa OAB - Organização de Assistência ao Bandido vejam (aqui)

TODO BANDIDO TEM ÉTICA IRMÃO! É NÓIS VÉIO!
Osvaldo Aires Bade Comentários Bem Roubados na "Socialização" - Estou entre os 80 milhões Me Adicione no Facebook 


SÓ PARA LEMBRAR:
Isso é no Brasil não é no Oriente Médio.



Bandeira da Síria

A turma do Mundo Melhor sempre quis a matança decapitada de cristão na Síria (aqui)













Aqui nós temos a queima da bandeira do Brasil e do Estado do Pará e um sapato modelo Sírio.
E na foto seguinte temos, também, a bandeira Síria no lado superior esquerdo bem ao fundo na foto.


QUAL É A DIFERENÇA BÁSICA ENTRE A ESQUERDA E A DIREITA?


Hoje existe uma grande confusão entre Esquerda e Direita.
“Ser de direita” implica uma determinada visão do ser humano — e “ser de esquerda” implica outra visão, diferente, do ser humano.
Por exemplo, defender um capitalismo selvagem não significa que se é “de direita”. Por outro lado, defender uma maior intervenção do Estado na regulação da economia não significa necessariamente que se é da esquerda.
Há políticos que se dizem da Direita mas que na realidade não o são, porque “ser de direita” implica uma determinada visão do ser humano — e “ser de esquerda” implica outra visão, diferente, do ser humano. O que marca distintamente a diferença entre Esquerda e Direita, em um determinado indivíduo, é a forma como ele concebe o ser humano — e não a forma como ele vê a economia.

Um indivíduo de direita segue os princípios da cultura ancestral — conforme Mircea Eliade (aqui) nos relatou nos seus livros de investigação antropológica — que se baseiam no conceito de “pecado original” que é comum a todas as culturas passadas e presentes. O ser humano é visto como um “anjo caído”, um “animal ferido” na sua origem ontológica, e o objectivo da política é o de suprir as lacunas dessa fraqueza originária humana mediante instituições fortes e que se fundamentem na herança histórica e na experiência do passadoO indivíduo de direita é um herdeiro de uma civilização, e ao mesmo tempo é o transmissor dessa civilização para as gerações futuras. Para um indivíduo de direita, a tradição é a condição do progresso.

Um indivíduo de esquerda recusa a herança da tradição porque acredita que o futuro é portador de maior felicidade e de sempre crescente liberdade, e considera o passado como limitador dessa felicidade e dessa liberdade. Para o indivíduo de esquerda, a política significa romper com a tradição em nome do progresso. Para a esquerda, o ser humano é um ser naturalmente bom (o “bom selvagem”, de Rousseau) e sem “pecado original”, que tende, pelo sentido da História, a um progresso em direcção à perfeição (Historicismo, e o “progresso” visto como uma lei da natureza), sendo que considera que os “arcaísmos do passado” são obstáculos a ser removidos em função desse progresso rumo à perfeição do ser humano — e a política é vista como uma forma de libertação desse “passado arcaico”.

A forma como um indivíduo vê o grau de intervenção do Estado na economia está ligada à sua sensibilidade ética, e não ao facto de ser de direita ou de esquerda. 

Naquilo a que se convencionou chamar de Esquerda e Direita, existem pessoas com sensibilidade ética e outras que são eticamente empedernidas. Podemos encontrar brutos nas denominadas “Esquerda” e “Direita”, pessoas que são insensíveis aos sentimentos e emoções — assim como existem pessoas “duras de ouvido” e que não são sensíveis à música.

Assim, é possível a um bruto defender o totalitarismo de Estado, e a um outro bruto defender o capitalismo selvagem e o darwinismo-social. São, ambas, formas embrutecidas de ver a realidade, e que se prendem unicamente com a afirmação supremacista do princípio do interesse próprio.

Osvaldo Aires Bade Comentários Bem Roubados na "Socialização" - Estou entre os 80 milhões Me Adicione no Facebook 





Gráfico em formato bem maior com recurso de zoom (aqui) 

MIRCEA ELIADE




Mircea Eliade (AFI: [ˈmirt​͡ʃe̯a eliˈade]; Bucarestegreg. 13 de marçojul. 28 de fevereiro de 19071 — Chicago22 de abril de 1986) foi um professor,historiador das religiõesmitólogofilósofo e romancista romenonaturalizado norte-americano em 1970.2

Falava e escrevia fluentemente oito línguas (romenofrancêsalemãoitalianoinglêshebraicofarsi e sânscrito), mas a maior parte dos seus trabalhos acadêmicos foi escrita inicialmente em romeno (depois em francês e em inglês). É um dos mais influentes historiadores e filósofos das religiões da contemporaneidade. Fez parte do Círculo Eranos3.

Considerado um dos fundadores do moderno estudo da história das religiões e grande estudioso dos mitos, elaborou uma visão comparada das religiões, encontrando relações de proximidade entre diferentes culturas e momentos históricos. No centro da experiência religiosa do Homem, Eliade situa a noção do Sagrado. Sua formação de historiador e filósofo levou-o ao estudo dos mitos, dos sonhos, das visões, do misticismo e do êxtase. Na Índia, estudou ioga e leu, diretamente em sânscrito, textos clássicos do hinduísmo que ainda não tinham sido traduzidos para as línguas ocidentais.
Autor prolífico, procurou encontrar uma síntese dos temas que abordou. Nos seus escritos, é, frequentemente, destacado o conceito de hierofania, através do qual Eliade definiu a manifestação do transcendente em um objeto ou um fenômeno do cosmo.
De família cristã ortodoxa, desde jovem tornou-se poliglota. Leu extensivamente em romeno, francês e alemão. Por volta de 1924 ou 1925, aprendeu italiano e inglês. Leu as obras do historiador da religião Raffaele Pettazzoni e do antropólogo James George Frazer no original. 4 Mais tarde, aprendeu hebraico, sânscrito e pársi.
Na escola, interessava-se por biologia e química e teve até um pequeno laboratório. Lia muito e aumentou o tempo de leitura diminuindo as horas de sono para apenas cinco a seis por noite.

O grande interesse em religiões comparadasfilosofia e filologia levou-o, em 1925, a iniciar estudos na Universidade de Bucareste, formando-se em filosofia. Na universidade, a influência de Nae Ionescu, então assistente do professor Constantin Rădulescu-Motru no Departamento de Lógica e Teoria do Conhecimento e ativo jornalista, levou o jovem Eliade a se envolver com a extrema direita romena.4

Sua tese de mestrado examinava a filosofia na Renascença italiana, de Marsilio Ficino a Giordano Bruno. O interesse sobre o humanismo renascentista foi o maior estímulo para que seguisse para a Índia, a fim de "universalizar" a filosofia "provinciana" herdada de sua educação europeia. Graças a um financiamento do marajá de Kassimbazar, permaneceu quatro anos estudando no país. Em 1928, foi para a Universidade de Calcutá, onde estudou sânscrito e filosofia, sob a orientação de Surendranath Dasgupta (1885-1952), um bengali educado em Cambridge e autor de History of Indian Philosophy (Motilal Banarsidass 1922-55), em 5 volumes.
Eliade era um bom aluno e morava na casa do professor, mas a relação entre ambos deteriorou-se quando Mircea se apaixonou por Maitreyi, a filha de Dasgupta. A fracassada história de amor seria tema do romance erótico Isabel Si Apele Diavolului (1930), no qual os personagens centrais são um europeu e uma jovem indiana.5 6

A documentação recolhida na Índia, especialmente a respeito do ioga, tornar-se-ia a base de sua tese de doutoramento. Retornou a Bucareste em 1932 e, após cumprir o serviço militar, submeteu, com sucesso, a sua tese sobre ioga ao Departamento de Filosofia, em 1933. Publicou-a em francês (1936) como Yoga: Essai sur les origines de la mystique indienne ("Ioga: Ensaio sobre a origem do misticismo indiano"), posteriormente revista e republicada como Le Yoga. Immortalité et liberté ("Ioga, Imortalidade e Liberdade").

No mesmo ano, Eliade tornou-se professor da faculdade de letras da Universidade de Bucareste. Como assistente de Ionescu, Eliade ensinou a Metafísica de Aristóteles e a Docta Ignorantia, de Nicolau de Cusa.

De 1933 a 1939, participou ativamente de grupo Criterion, que promovia seminários públicos sobre diversos tópicos. O grupo era influenciado pela filosofia do Trăirismo, a busca do "autêntico" através da experiência vivida (em romeno, traire) considerada como única fonte de autenticidade.

Em 1934, casou-se com Nina Mares.

Depois de publicar Domnisoara Christina (1936), foi acusado de pornografia e, por um curto período, foi suspenso da universidade. O romance, baseado no folclore romeno, tinha, como personagem principal, uma vampira e abordava o significado do erotismo e da morte na vida humana.

Em 1938, Nae Ionescu foi preso e Eliade, seu assistente, demitido. Ionescu fora acusado de ser membro da Guarda de Ferro, organização romena de extrema-direita, antissemita e simpatizante do nazismo. Logo, Eliade também seria preso, passando um curto período em um campo de concentração.

A partir de 1940, trabalha como adido cultural e de imprensa nas representações diplomáticas romenas em Londres e Lisboa (1941-44), tendo residido em Lisboa e, após a morte da mulher, emCascais. Na capital portuguesa, interessou-se pelos clássicos, como Sá de MirandaCamões e Eça de Queiroz7 e empenhou-se em estabelecer elos mais fortes entre os latinos do ocidente e do oriente, impulsionando traduções, conferências e concertos.

Em 1944, sua mulher, Nina, morre de câncer.

Após a Guerra Mundial, por suas ligações com Nea Ionescu, Eliade não pôde voltar à Romênia, que agora se tornara comunista. Passa então a lecionar em várias universidades europeias. Em1945, transfere-se para Paris. Ensina religião comparada na Sorbonne e na École pratique des hautes études, a convite de Georges Dumèzil. Seus amigos desse período incluíam Eugène Ionesco e Georges Bataille, além do próprio Dumèzil.

Eliade adquire renome como professor de história das religiões. Leciona também no Instituto do Extremo Oriente de Roma, no Instituto Jung de Zurique e, finalmente, na Universidade de Chicago. Em 1950, casa-se com Christinel Cotrescu. Neste tempo, os trabalhos de Eliade passam a ser escritos em francês. A "Floresta Proibida", que Eliade considerava seu melhor romance, foi lançado em 1954.

Em Portugal, escreveu "Os Romenos, Latinos do Oriente", uma síntese histórica, cultural e espiritual do seu país, e Salazar e a Revolução Portuguesa, livro em que defendia que o general Ion Antonescu, no poder em Bucareste, poder-se-ia inspirar no regime português para criar um Estado autoritário mas não totalitário.8

A obra não surtiu, todavia, os efeitos pretendidos: não só Antonescu não adoptou o modelo português, como Salazar não gostou, segundo informações que obteve, da "heterodoxia" da interpretação, o que levou a que o livro não fosse traduzido para a língua portuguesa.9

Um livro que acabou por nunca escrever, por causa de Salazar Si Revolutia in Portugália, já tinha até título: "Camões - Ensaio de Filosofia da Cultura" e versaria sobre um tema que o fascinava - as civilizações marítimas.
No seu "Diário Português", obra conhecida apenas em 2001 através de uma editora de Barcelona, com edição portuguesa em 200810 , Mircea Eliade mostrou-se por vezes crítico, embora não hostil a Portugal, país que considerava periférico, um pouco à margem da história e da cultura.

Posteriormente, estabeleceu-se em Paris e, finalmente, em Chicago. Visitado por Joachim Wach, seu predecessor na Universidade de Chicago, um comparativista e hermeneuticista, Eliade foi convidado, em 1956, para dar aulas naquela universidade, sobre "Tipos de Iniciação". Nessa época, foi publicado "Nascimento e Renascimento" (Birth and Rebirth). Em 1958, foi convidado para chefiar o Departamento de Religião da Universidade, cargo que ocupou até a morte em 1986.

Além de ter escrito obras científicas tão importantes e centrais como "O sagrado e o profano", Eliade publicou uma extensa obra literária de ficção, cuja qualidade é universalmente reconhecida. Porém, por ter sido escrita inicialmente em romeno, tardou a ser divulgada. Também lançou "O jornal da História das Religiões" e o "Jornal das Religiões" e atuou como editor-chefe para a Enciclopédia Macmillan de Religiões.
Eliade recebeu o título de Doctor Honoris Causa de numerosas universidades de todo o mundo. Premiado em 1977 pela Academia Francesa, recebeu a Legião de Honra da França.

Pensamento

A despeito de que seu foco de investigações se situe na história das religiões, Eliade nunca se afastou da formação intelectual de filósofo, mesmo que ele nunca tenha sido um filósofo propriamente dito. Existem radicais desacordos sobre o seu pensamento. Alguns veem como crucial sua contribuição para os estudos das religiões, enquanto que outros o veem como um obscurantista cujas propostas normativas são inaceitáveis.

O pensamento de Eliade foi parcialmente influenciado por Rudolf OttoGerardus van der LeeuwNae Ionescu e pela obra da Escola das Tradições. De certa maneira, essa escola tinha uma afinidade com as preocupações esotéricas do fascismo (conexões também existentes com a obra do erudito Julius Evola, da Escola das Tradições).

Ao mesmo tempo, a Guarda de Ferro esteve à margem do movimento fascista por causa de seu caráter místico - temas preferidos de investigação de Eliade durante as atividades políticas (notavelmente, a preocupação a respeito do culto Zalmoxin e seu suposto monoteísmo). Estas foram as características que mais atraíram Eliade ao fascismo, ao invés de um padrão íntimo de pensamento que ele tenha seguido por toda a vida (podemos lembrar o caso de dom Hélder Câmara, bispo progressista do clero católico brasileiro, nos anos 1970 e 1980, que também teve uma ligação explícita com o movimento fascista brasileiro chamado de integralismo).

Mircea Eliade teve decisiva influência em muitos eruditos: por exemplo, Ioan Petru Culianu e no também romeno Emil Cioran, que dedica páginas de uma crítica lúcida e, ao mesmo tempo, apaixonada por Eliade no seu livro "Exercícios de Admiração" publicado no Brasil pela Rocco. Na Romênia, o legado de Eliade no campo da história das religiões se reflete no journal Archaeus (fundado em 1997).

A seção de História da Religião da Universidade de Chicago deve a Mircea Eliade o reconhecimento da vasta contribuição na pesquisa deste tema.

Cosmos e História

Em "O mito do eterno retorno" (1954), livro que ele tentou sub-intitular como "A Filosofia da História", Eliade cria a distinção entre a humanidade religiosa e não religiosa, com base na percepção do tempo como heterogêneo e homogêneo respectivamente. Esta distinção é muito familiar aos estudantes de Henri Bergson como um elemento de estudo e da análise das filosofias no tempo e espaço.

Eliade defende que a percepção do tempo como homogêneo, linear e irrepetível é uma forma moderna de não religião da humanidade. O homem arcaico, ou a humanidade religiosa (homo religiosus), em comparação, percebe o tempo como heterogêneo; isto é, divide-o em tempo profano (linear) e tempo sagrado (cíclico e reatualizável).

Por meio de mitos e rituais que permitem o acesso a este tempo sagrado, a humanidade religiosa protege-se contra o "terror da história" (uma condição de impotência diante dos dados históricos registrados no tempo, uma forma de existência aflitiva).

No processo de estabelecimento desta distinção, Eliade não esquece que a humanidade não religiosa é um fenômeno muito raro. Mitos e illud tempus estão ainda em operação, embora dissimulados no mundo da moderna humanidade, e Eliade claramente olha a tentativa de restringir o tempo real ao tempo histórico linear como um caminho que leva a humanidade ao desespero ou à fé cristã como única salvação. Pois o relativismo, existencialismo e historicismo modernos não são capazes de criar mecanismos para fazer com que a humanidade suporte os sofrimentos causados pela consciência da "história", consciência dos "acontecimentos" sem um sentido trans-histórico escatológico, cíclico ou arquetípico.

O "sagrado" tem também sido assunto de discussão. Alguns veem o "sagrado" de Eliade como simples correspondência para o conceito de convencional de deidade, ou para o ganz andere (o "inteiramente outro") de Rudolf Otto, enquanto outros veem uma semelhança maior com o sagrado socialmente influenciado de Emile Durkheim. O próprio Eliade repetidamente identifica o sagrado como o real, ainda que ele estabeleça claramente que "o sagrado é uma estrutura da consciência humana" (1969 i; 1978, xiii).

Este argumento deveria favorecer a última interpretação: um construção social tanto do sagrado como da realidade. Ainda que o sagrado seja identificado com a fonte de significância, significado, poder e ser, e suas manifestações como hierofanias, cratofanias ou ontofanias respectivamente (aparências do sagrado, do poder ou do ser). Em correspondência à sugerida ambiguidade do próprio sagrado está a ambiguidade de suas manifestações.

Eliade afirma que os crentes para os quais a hierofania é uma revelação do sagrado devem ser preparados pela experiência, includindo sua tradição religiosa anterior, antes que possam apreendê-la. Para os outros, a árvore sagrada, por exemplo, continua a ser uma simples árvore.

É indispensável, na análise de Eliade, que qualquer entidade fenomênica possa ser apreendida como uma hierofania com uma preparação apropriada. A conclusão deve ser a de que todos os seres revelam e, ao mesmo tempo, escondem a natureza do Ser. Uma retomada da Coincidentia Oppositorum de Nicolau de Cusa é evidente aqui, assim como é uma possível explicação da ambiguidade dos escritos de Eliade.

Lista de obras

Esta é uma lista breve e incompleta das obras de Mircea Eliade. Para uma bibliografia completa, veja Bryan Rennie, "Reconstruindo Eliade"11 .

"Cosmos e História: O Mito do Eterno Retorno", 1954, Princeton.
Provavelmente a mais crucial e curta aproximação do trabalho de Eliade. Apresenta análise do tempo como heterogêneo para religiosos e homogêneo para não religiosos e seu conceito de o "terror da história" e a habilidade de "reatualizar" a religião no tempo.

Forgerons et Alchimistes - "Ferreiros e Alquimistas" - Flammarion, 1956 e nova edição revista e aumentada em 1977.

"Colaborar com a Natureza, ajudá-la a produzir num tempo mais e mais rápida, mudar as modalidades da matéria, eis uma das fontes da ideologia alquímica. Tanto como o fundidor e o ferreiro, o alquimista trabalha sobre uma matéria ao mesmo tempo viva e sagrada; seus trabalhos perseguem a transformação da matéria, seu aperfeiçoamento, sua transformação".

"O autor insistiu sobre as alquimias indiana e chinesa porque são menos conhecidas e, sobretudo, porque apresentam, de uma forma mais viva, seu caráter de técnica ao mesmo tempo experimental e mística." Retirado da contracapa do livro.

"Ioga, Imortalidade e Liberdade", 1958, Londres: Routledge & Kegan Paul.
Primeiramente publicado na França como Yoga: Essai sur l'origine de la mystique Indienne em 1933, este trabalho informativo e escolástico analisa o ioga como uma concreta busca pela liberdade das limitações humanas.
"Ritos e Símbolos de Iniciação" (Birth and Rebirth), 1958, Londres: Harvill Press.
A publicação das aulas de Eliade (1956, sobre Haskell) na Universidade de Chicago, "Padrões de Iniciação". Sua análise dos temas de iniciação implica na sua ubiquidade e na estrutura simbólica da morte e do renascer.
"Padrões das Religiões Comparadas", 1958, Londres: Sheed & Ward.
Uma tentativa de delinear a morfologia do sagrado. Frequentemente criticada por seu enfoque transcultural e aproximação à história. Padrões organizados do fenômeno religioso por suas similaridades estruturais a respeito do tempo ou lugar de origem. Uma valiosa fonte de dados a despeito disto.
"O Sagrado e o Profano: A Natureza da Religião", 1959, Londres: Harcourt Brace Jovanovich.
Ele avança para além das ideias de Rudolf Otto sobre o sagrado em Das Heilige. O sagrado é explicado através de sua relação binária com o profano. O complexo dialético do sagrado e do profano são destacados.
"Mitos, Sonhos e Mistérios: O Encontro entre a Fé Contemporânea e as Realidades Arcaicas", 1960, Londres: Harvill Press.
O entendimento de Eliade do mito no mundo moderno, o prestígio das origens míticas e sua análise do simbolismo da ascensão, do combate, do labirinto e da luta contra monstros, entre outros.
"Imagens e Símbolos: Estudos sobre o Simbolismo da Religião", 1961, Londres: Harvill Press.
Mais sobre simbolismo, particularmente o simbolismo do centro, nós, conchas e pérolas. Simbolismo e história e algumas reflexões sobre método.
"Mito e Realidade", 1964, Nova Iorque: Harper e Row.
A estrutura dos mitos. Mais sobre o prestígio das origens e a sobrivência dos mitos e os temas míticos do pensamento moderno.
"O Xamanismo e as Técnicas Arcaicas do Êxtase", 1964, Londres: Routledge & Kegan Paul.
Um longo trabalho sobre o estudo do Xamanismo, um detalhado e valiosa fonte de informação sobre estes fenômenos.
"Os Dois e o Um", 1965, Chicago, IL: University of Chicago Press.
Um importante trabalho sobre a análise da coincidentia oppositorum, a coincidência dos opostos, ou oposição binária na história da ideias religiosas. O Andrógino é explorado como cosmogonia e escatologia, o nascimento e morte do cosmos ou visão do mundo.
"A Busca: História e Significado das Religiões", 1969. Londres: University of Chicago Press.
Uma tentativa de fazer um trabalho mais metódico. A busca através dos seus artigos publicados previamente sobre a metodologia de Eliade e seus presupostos e teoremas, incluindo seu "novo humanismo" e sua resposta à busca das origens das religiões.
"A História das Religiões". Volume I. "Da Idade da Pedra aos Mistérios do Eleusiniano", 1969. Chicago, IL: Universidade de Chicago Press.
Originalmente projetado como um único volume. Esta foi uma tentativa de dar um entendimento de toda a história das religiões por Eliade em sua perceptiva única. Um trabalho de referência. Muitas das categorias sobrevivem a Eliade neste trabalho maduro: o terror da história, a coincidentia oppositorum, o simbolismo do centro, o hieros gamos ou simbólico casamento celeste.
"A História das Religiões". Volume II. "De Gautama Buddha ao Triunfo do Cristianismo", 1969, Chicago, IL: University of Chicago Press.
"A História das Religiões". Volume III. "De Muhammad à Época das reformas", 1985, Chicago, IL: University of Chicago Press.
"Enciclopédia das Religiões" (editor-em-chefe), 1987, Nova Iorque: Macmillan.
17 volumes com artigos sobre todos os aspectos da religião. Atualmente, um referência padrão para toda enciclopédia sobre religião.


Osvaldo Aires Bade Comentários Bem Roubados na "Socialização" - Estou entre os 80 milhões Me Adicione no Facebook 

CASAL OBAMA RECEBE MALALA YOUSAFZAI A ADOLESCENTE PAQUISTANESA, QUE SOBREVIVEU A UMA TENTATIVA DE ASSASSINATO DOS TALIBÃS HÁ UM ANO

Foto: Pete SOUZA / AFP PHOTO / THE WHITE HOUSE

A adolescente paquistanesa Malala Yousafzai, que sobreviveu a uma tentativa de assassinato dos talibãs há um ano, foi recebida pelo presidente dos EUA, Barack Obama, e pela primeira-dama, Michelle, na Casa Branca.

Malala age de maneira "impressionante e inspiradora" para os jovens paquistaneses, destacou o casal presidencial, que estava acompanhado da filha mais velha, Malia.

"Os Estados Unidos se unem ao povo paquistanês e a tantos outros no mundo para celebrar a coragem de Malala e sua determinação para promover o direito de todas as jovens de ir à escola e realizar seus sonhos. Damos as boas-vindas aos esforços de Malala para ajudar a realizar esses sonhos", informou nota divulgada pela Casa Branca.

A adolescente, que era uma das apostas para o Prêmio Nobel da Paz deste ano, sobreviveu a um ataque dos talibãs em 2012 em Mingora, no Paquistão. A região vive sob a versão radical da lei islâmica, imposta por insurgentes entre 2007 e 2009. Depois disso, ela se tornou militante internacional pelos direitos da educação e contra o extremismo religioso.

"Matem-me, mas antes de me matar, me escutem", disse em debate

Nesta sexta-feira, a jovem também fez um discurso em um debate público com o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, à margem das reuniões de outono do FMI e do BM e pediu a seus agressores que a escutem antes de matá-la.

— Matem-me, mas antes de me matar, me escutem! — implorou a jovem de 16 anos em Washington, onde chamou a atenção da comunidade e das organizações internacionais a fazer da educação prioridade número um.

Este enfoque implicaria combater, ao mesmo tempo, o trabalho infantil, o tráfico de crianças, a pobreza e a Aids, argumentou.

O Banco Mundial deu um primeiro passo nesta sexta-feira, ao anunciar uma doação de 200 milhões de dólares ao Fundo Malala, que a jovem paquistanesa criou para apoiar a educação das meninas em todo o mundo.

Malala, cujo nome era cotado para o Prêmio Nobel da Paz, não deixou transparecer qualquer decepção depois de o cobiçado prêmio ser concedido, nesta sexta, à Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ). Em um comunicado publicado após o anúncio do vencedor, a jovem saudou a organização por este "merecido reconhecimento".

Perguntada na sexta-feira sobre as razões de seu ativismo, Malala disse ter aceitado "esta vida intensa por uma única razão: o direito de todas as crianças à educação".

Na quinta-feira, a jovem recebeu o prestigioso Prêmio Sakharov do Parlamento Europeu.

MENINA PAQUISTANESA É BALEADA


http://youtu.be/QvfjhXZN3tU

MALALA RECUPERA DO ATENTADO

MALALA YOUSAFZAI: "DEUS DEU-ME UMA SEGUNDA VIDA"


http://youtu.be/LSINDCXdB30

MALALA 'CONTRA-ATACA' TALIBÃ NA ONU COM "CANETAS E LIVROS"


http://youtu.be/3QgXtMXl0aQ

MALALA YOUSAFZAI STORY: THE PAKISTANI GIRL SHOT IN TALIBAN ATTACK



http://youtu.be/9F5yeW6XFZk


Osvaldo Aires Bade Comentários Bem Roubados na "Socialização" - Estou entre os 80 milhões Me Adicione no Facebook 

- A BASE DE TREINAMENTO DA GUERRILHA URBANA (aqui)

O QUE SERIA DOS PROTESTANTES SEM A IGREJA CATÓLICA?



Alguns evangélicos detestaram minhas explanações em um artigo que publiquei sobre os “pecados” históricos e teológicos do protestantismo. Meu amigo Julio Severo, blogueiro de confissão protestante e militante cristão pró-vida, postou uma resposta em sua página, que é cheia de equívocos históricos. Na verdade, suas declarações apenas revelaram aquilo que critiquei no imaginário protestante. A idéia errônea de uma Igreja Católica irremediavelmente corrupta e de uma “Reforma” moralizadora e salvadora da Cristandade. Até o dado momento, não vi nenhuma refutação realmente convincente.

O protestantismo do século XVI ameaçou destruir todas as bases culturais e históricas do Catolicismo na Europa. Em nome dos erros da Sola Scriptura e de outras idiossincrasias teológicas, queria apagar da memória cerca de quase mil e quinhentos anos de Cristianismo. Ou na melhor das hipóteses, reescrever essa tradição e essa história conforme as conveniências de cada seita ou grupo político apologista do cisma reformado. De fato, esse apagão cultural ocorreu dentro da cultura protestante. Monarcas como Henrique VIII saquearam os mosteiros e templos católicos, expulsando ou executando monges e padres e obrigando toda a uma população a aderir à sua nascente igreja particular. Na Alemanha foi até pior. Igrejas foram queimadas, obras de arte foram destruídas e os católicos foram obrigados à conversão forçada ou assassinados. A Alemanha foi um verdadeiro palco de guerra civil e religiosa.

Até aqui falei de história. De fatos. Como católico, naturalmente que sempre me chamou a atenção para essa lendária calúnia contra a Igreja Católica. O peso histórico dessas calúnias foi tão estrondoso que fez até o Papa João Paulo II declarar um mea-culpa inconveniente, já que o fez baseado em uma perspectiva enviesada. O Santo Padre pediu desculpas por boa fé. Porém, suas declarações acabam por legitimar meias verdades históricas. Os católicos da atualidade são bombardeados por um nível tal de estigma social, que ficam simplesmente desarmados e sem resposta, por ignorância.

Voltemos aos protestantes. Obviamente que a Igreja do século XVI não era exemplar. Estava acometida pelas corruptas famílias nobres da Itália e também era alvo de disputas pelos poderes seculares da Europa. A depravação do clero era algo que não poderia ser ignorado. Contudo, o problema central é vender a idéia de que o protestantismo significava uma oposição a isso. Eis a questão. O protestantismo representou a mais completa rebelião do poder secular contra o poder espiritual. Na verdade, a Reforma não foi uma mera consequência da corrupção da Igreja Católica. A rebelião protestante é parte e consequência dessa corrupção. A decadência do clero católico apenas serviu de pretexto.

Muitos ficaram ofendidos quando associei o protestantismo ao catarismo, heresia gnóstica do século XII, em Albi, na França e demais regiões da Itália e no norte da Espanha. Pois bem, se atentarmos aos anabatistas e aos rebeldes fanáticos luteranos de Thomas Müntzer ou mesmo da tirania religiosa de Münster, houve aberrações horripilantes de seitas milenaristas que pregavam a destruição da ordem vigente e a instituição de utopias sociais. Em muitos aspectos lembram as utopias totalitárias do século XX.

Friedrich Engels escreveu um artigo sobre a Reforma, onde fazia a objeção dialética entre Lutero e Müntzer. O primeiro, embora rebelado contra Roma, representava a situação encabeçada pelos príncipes protestantes alemães. Müntzer seria uma espécie de “teólogo da libertação” ou da “Missão Integral” do século XVI. Pregava a abolição da propriedade, a rejeição á autoridade e o estabelecimento de um regime comunista de bens. Insuflou uma violenta rebelião camponesa, que foi esmagada com incrível crueldade.

Entretanto, há um erro na análise de Engels, preso aos esquemas mentais do materialismo histórico. Lutero também era revolucionário. A diferença é que não era totalmente um utopista. Há quem diga que o monge agostiniano foi o pai do nacionalismo alemão. De fato, ele significou a ruptura da ordem internacional cristã da Idade Média, para o surgimento dos Estados nacionais e do absolutismo monárquico. Naturalmente que Lutero não foi o único gerador do processo. Outros fatos coexistiram com ele. Todavia, sua doutrina política deu força suficiente para que os príncipes rebeldes da Europa usassem as armas teológicas contra a Igreja Católica.

Pensemos aqui numa outra hipótese: se o protestantismo conquistasse toda a Europa, incluso Portugal, Itália e Espanha e destruísse a fé católica, qual seria o futuro do Cristianismo? Com certeza o prejuízo seria terrível. A história cristã tradicional seria apagada para se impor uma nova e fictícia ordem religiosa, embasada em erros históricos e teológicos.

Qualquer igreja ou seita evangélica ou “reformada” praticamente reescreveu toda a história do mundo antigo e medieval, em particular, sobre as origens da Igreja cristã, riscando o legado católico do mapa. Embora as historietas sobre uma suposta “Idade das Trevas” tenha surgido na prepotência do humanismo renascentista europeu, a militância protestante absorveu profundamente esse mito e a entronizou na sua propaganda anticatólica. A tônica central da historiografia protestante já se tornou um padrão de pensamento: havia uma idealizada “Igreja primitiva” que guardava as Escrituras como se fosse uma espécie de código penal. Essa “igreja” foi corrompida quando o Imperador Constantino “criou” a Igreja Católica e destruiu a espiritualidade dos primeiros cristãos. E do final do Império Romano até a Reforma, a Igreja viveu seu período de trevas, paganismo, corrupção e tirania dos papas e do clero romano, “escondendo” a bíblia do povo e contrapondo a sua “tradição” humana com as Escrituras. Lutero e Calvino vieram “salvar” a igreja verdadeira do engodo romano buscando a “palavra de Deus”. Qual católico ignorante não se converteria ao protestantismo depois dessa ladainha? A historiografia apologética protestante encontrada em qualquer livro parte uma teologia errônea para sustentar uma falsa história.

Uma das mais significativas lendas negras da historiografia protestante é basicamente sobre a Inquisição. Criou-se toda uma sorte de desinformações a respeito dessa instituição abominada pela posteridade. A lenda nasce, em parte, por conta das guerras entre a Espanha católica e as nações “reformadas” da Holanda e Inglaterra. A Espanha era o país mais poderoso, rico e culturalmente sofisticado da Europa. Era um gigantesco império, que envolvia a América do Sul, central e do norte, parte da Itália, parte da atual Bélgica e Holanda, além de algumas regiões da Alemanha. E um verdadeiro bastião militar da fé católica da Contra-Reforma. Se os protestantes não conseguiam derrotar os tércios e as armadas dos Áustrias espanhóis, ou seja, Carlos V e Felipe II, eles seriam derrotados pela propaganda. Dito e feito.

Os supostos horrores atribuídos à inquisição, com suas torturas abomináveis e sadismo dos inquisidores, são mitos cada vez mais desmistificados por historiadores sérios. Na verdade, a inquisição foi a primeira instituição europeia a limitar o uso da tortura para fins de confissão. Recordemos que a tortura era um método comum do tribunal criminal secular. Segundo estudiosos como Henry Kamen, a tortura era raramente empregada e havia restrições para seu uso.

Vende-se a ideia comum de que a Inquisição Espanhola foi uma instituição que impunha o terror e o medo generalizados nas populações católicas e também protestantes e esterilizou a cultura ibérica. Nada mais falso. A sociedade espanhola aceitava a inquisição como instituição legítima e defensora da ortodoxia. Recordemos que o ápice da Inquisição espanhola foi também o auge da cultura espanhola, o Siglo de Oro, onde uma penca de escritores, moralistas, teólogos, juristas, místicos, poetas e músicos brilhou por todo o século de Felipe II.

A inquisição espanhola não era feita de fanáticos ensandecidos por sadismo e violência. Era formada por homens eruditos e juristas de Salamanca, gente educada e letrada. No inicio do século XVI, cardeais inquisidores como Ximenes eram humanistas e admiradores de livros com os de Erasmo de Roterdã. Até Torquemada, um dos mais duros inquisidores, embora não o pior, era um homem de letras.

Foi a inquisição espanhola, contrariando toda uma tendência histérica e delirante do direito criminal europeu, que decretou, no início do século XVII, a inexistência do crime de bruxaria. Para o Consejo de la General y Suprema Inquisición, órgão maior da instituição em Madrid, a bruxaria não passava de superstição, difícil de ser comprovada, estimulada por pessoas loucas ou problemáticas. A lógica inquisitorial era muito simples: como juristas, queriam provas. Como não havia provas, não haveria também como afirmá-las de sua existência. Ademais, é comum brandir o espantalho contra a bruxaria, ao citar obras como o Malleus Maleficarum dos dominicanos Kraemer e Sprenger ou o Manual da Inquisição, de Nicolaus Eymerich. Contudo, a inquisição espanhola rejeitou esses livros e, inclusive, em alguns casos, chegou a proibi-los.

Esse é um dado importante, pois a historiografia protestante finge ignorar a existência de sua própria inquisição. A caça às bruxas no século XVII foi um fenômeno mais protestante do que católico. Milhares de mulheres “bruxas” foram queimadas na Alemanha, Suíça, Inglaterra, Suécia, Dinamarca e demais países “reformados”. Até hoje há seitas protestantes que vêem bruxas pra tudo quanto é lado.

Outra grande lenda que leio no blog de Julio Severo é a de que a inquisição matou milhares de pessoas em toda a Europa. Nem todos os países católicos tinham uma “inquisição”. Com exceção de Portugal, Espanha e algumas regiões da Itália, os procedimentos para os crimes de heresia pertenciam ao poder secular. Quanto mais se aprofunda a pesquisa sobre o assunto, descobre-se que o número de pessoas entregues ao braço secular pelo sistema inquisitorial foi ínfimo. Em Portugal, ao menos, segundo Anita Nowinski, foram cerca de 1700 pessoas em dois séculos, embora esses números sejam francamente exagerados. Na Espanha, acreditava-se que o máximo seria 10000 a 20000 pessoas em quatro séculos. Hoje, há dados que diminuem ainda mais esses números. De acordo com o historiador Agostino Borromeo, junto com o Simpósio Internacional sobre a Inquisição, realizado no Vaticano, em 1998, de 1540 a 1700, apenas 800 pessoas foram entregues ao braço secular. Numa ordem de 44 mil processos, apenas 2% dos acusados foram executados. As mortes atribuídas à inquisição em séculos são menores do que uma tarde de verão de qualquer ditadura do século XX. São menores, inclusive, do que as perseguições praticadas pelos próprios protestantes. 

É necessário observar um mero detalhe: o mal daqueles que criticam a Inquisição é o de falhar pelo contexto histórico. Os valores religiosos tinham uma importância crucial, tanto nas sociedades católicas, como nas protestantes. A heresia, como a dissidência religiosa, era considerada uma grave ameaça à ordem social. O conceito de “liberdade religiosa” era completamente estranho ao homem europeu do século XVI. Nem Lutero e Calvino pregavam essa idéia. O “livre exame” era “livre” dentro dos preceitos protestantes. Cada religião tinha sua forma de manutenção da ordem social. Era um fator de unidade e de identidade e de preservação da ordem.

Julio Severo fala da perseguição da Inquisição aos judeus como se fosse uma realidade, quando na prática, ficou restrita a um caso particular em Portugal e Espanha. Cabe acrescentar que a inquisição não tinha jurisdição sobre os judeus. Nos Estados papais italianos havia uma comunidade judaica onde os judeus poderiam viver sua religião sem serem incomodados. Na República de Veneza era a mesma coisa. E por quê? Pelo simples fato de que a Inquisição só julgava pessoas batizadas no catolicismo. Os judeus espanhóis e portugueses julgados pela Inquisição tinham batismo católico e eram considerados como tais. O batismo implicava a aceitação das regras, valores e preceitos religiosos da comunidade católica. E a partir dessas leis que os heréticos ou apóstatas eram inquiridos pelo tribunal eclesiástico.

Julio Severo também diz que a punição contra a dissidência religiosa é algo que contraria o Evangelho. De fato, no Evangelho não há prescrições impositivas contra dissidentes religiosos. Todavia, no Antigo Testamento, o que não faltam são prescrições contra blasfêmias ou práticas pagãs entre os judeus, cuja pena era a morte. Aliás, recordemos que os judeus da Diáspora viviam essas regras severas. Na “tolerante” Holanda do século XVII, a comunidade judaica excomungou Uriel da Costa e Baruch de Spinoza, acusados de ateísmo. Os argumentos protestantes para queimar bruxar na Europa também se embasavam na interpretação literal do Antigo Testamento.

É verdade que a Inquisição católica cometeu muitas injustiças. Todavia, os “heterodoxos”, nas palavras do historiador espanhol Menéndez y Pelayo, não eram totalmente sacrossantos. Muitas heresias catalogadas na Espanha do século XVI, XVII e XVIII eram manifestações de loucuras coletivas que seriam punidas por qualquer sistema penal vigente. A onda de “dejados”, “alumbrados” outros tipos lunáticos que insuflavam uma massa fanatizada pelas palavras do louco herético, causava uma comoção social e uma desordem tal, que poderiam romper os laços de paz social. A extrema ferocidade com que a Espanha combateu a heresia protestante evitou que o país entrasse no campo da guerra civil européia, por conta das dissidências religiosas.

Aliás, um fator interessante dos tribunais protestantes é a sua interpretação literal e sectária da bíblia, tornando sociedades e reinos em verdadeiras tiranias teocráticas. Com exceção da Inglaterra e Holanda, a linha do legalismo bíblico ganhou ares sectários de lei. Genebra foi um exemplo clássico disso. Por essa razão é que os tribunais protestantes foram tão impiedosos. A carência de distinção entre o secular e o religioso tornava o Estado implacável. A inquisição católica parece branda perto das perseguições protestantes. E lembremos que essas perseguições não se limitavam aos católicos. Protestantes também perseguiam protestantes. Anglicanos, luteranos, puritanos, anabatistas e outros se matavam entre si.

Os Estados Unidos, tão idolatrados por Julio Severo, nasceram da perseguição religiosa protestante contra outra seita protestante. E neste ponto, o meu amigo evangélico sustenta outro mito, que já tinha identificado no texto anterior: a supremacia do protestantismo como sociedade política, em detrimento da sociedade católica. Ele cria uma fantasiosa relação de tolerância entre calvinistas holandeses no nordeste do Brasil no século XVII, nas seguintes palavras:

 “Ora, preciso fazer algumas ponderações aqui. O Brasil é o país mais católico do mundo. A primeira grande presença protestante no Brasil foi nos idos de 1600, com a ocupação holandesa no Nordeste. Os protestantes holandeses vieram e trouxeram artistas, arquitetos, engenheiros, pastores, etc. Sob o comando do Conde Maurício de Nassau, eles construíram teatros, pontes e outras magníficas edificações que duram até hoje, depois de vários séculos. Mas ao contrário do resto do Brasil, onde tanto protestantes quanto judeus não tinham a mínima chance de escapar das torturas e fogueiras “santas” da Inquisição, no Nordeste holandês havia liberdade religiosa. Você tinha liberdade de ser católico, protestante ou judeu. Aliás, muitos judeus vieram da Europa para viver no Brasil holandês. A primeira tradução completa da Bíblia para o português foi feita por João Ferreira de Almeida, sob patrocínio holandês”.

Se o mito da prosperidade soa bonito na propaganda protestante, o mesmo se fala dos holandeses, em detrimento dos portugueses. É bem verdade que Mauricio de Nassau era um homem pragmático e um grande político patrocinador das artes e da cultura. Todavia, esse reino de “tolerância” não escondia o radicalismo dos calvinistas holandeses, que odiavam profundamente os católicos ibéricos, incluso, os brasileiros.  A coexistência pacífica, aparentemente realista, não escamoteava o desprezo mútuo entre os calvinistas, os católicos e os judeus. Ademais, Julio Severo faz uma confusão entre “liberdade religiosa” e “tolerância religiosa”. Os calvinistas holandeses poderiam tolerar a diferença religiosa, mas não a dissidência interna. Bastou que a Companhia das Índias Ocidentais pressionasse os senhores de engenho através de dívidas impagáveis, para que os católicos se reunissem em armas a expulsar os holandeses.

Ademais, Julio Severo se engana ao crer que a primeira tradução da bíblia em português é do calvinista João Ferreira de Almeida. Talvez ela seja a mais famosa e mais aprofundada. Mas a tradução da bíblia para o português já existia desde o século XIII, na época do Rei Dom Dinis e dos monges do mosteiro de Alcobaça. A relativa desconfiança da Igreja com relação à tradução da bíblia em vernáculo tinha menos a ver com elementos conspiratórios do que de evitar a disseminação de heresias e interpretações errôneas dos textos bíblicos.
Julio Severo interpreta erroneamente a história e acaba por idealizar algo irreal:

“O Nordeste do Brasil muito perdeu por amor à Inquisição católica. Perdeu uma cultura de tolerância e respeito e ficou com uma cultura de trevas, inquisição e morte”.

A Inquisição Católica teve pouca relevância no Brasil. Julio Severo cria uma falsa associação entre Igreja e Inquisição, como se fossem elementos essenciais e institucionais. Há outro problema: por que os católicos ibéricos da América aceitariam se sujeitar a políticos protestantes visivelmente hostis à sua religião e que só acataram a tolerância por questões puras de pragmatismo? É preciso recordar dos massacres praticados por holandeses contra os católicos no Brasil, em particular, os de Uriaçu e Cunhaú, em 1645. É preciso também recordar que os holandeses tomaram o nordeste através das armas. Eram inimigos de Portugal e da Igreja Católica.

Falou-se aqui em tolerância e prosperidade. Os países protestantes vendem a idéia de que são tolerantes em matéria de religião. É verdade que começaram a discutir sobre a “tolerância” no século XVII. Contudo, isso se deveu menos a uma mera liberalidade espiritual do que uma solução civil e política para acabar com as matanças, guerras civis e hostilidades religiosas causadas por eles mesmos. A Inglaterra caiu numa guerra civil entre puritanos e anglicanos, entre o parlamento puritano e os anglicanos alinhados com o rei. A Alemanha foi o palco da guerra dos trinta anos. E a França, embora católica, caiu numa selvagem guerra civil no século XVI.

A discussão sobre a “tolerância”, embora mais antiga, ressurge deste contexto. Mas essa “tolerância” era também restrita. Na Inglaterra do século XVII, em particular, na Revolução Gloriosa, os protestantes se toleravam entre si, mas desprezavam os católicos e restringiam ao máximo suas liberdades civis e políticas. Na Irlanda, os ingleses tratavam os católicos como abaixo de animais. Alguém poderia afirmar que a aceitação de católicos nas instituições inglesas poderia ameaçar a volta do catolicismo como religião oficial. Mas a recíproca não era verdadeira nos países católicos com relação aos protestantes? Os protestantes também não queria impor sua hegemonia e seu poder em detrimento dos católicos?

Julio Severo ataca-me, quando declaro o perigo da ameaça protestante sobre as “bases civilizacionais católicas” do Brasil. Inclusive, atribui aos católicos à pretensa “apostasia” religiosa dos Eua:

“O perfil cristão dos EUA hoje é radicalmente diferente do que era duzentos anos atrás. Na elaboração da exemplar constituição americana no século XVIII, dos 55 constituintes, havia apenas 3 deístas e 2 católicos. Todos os outros eram evangélicos. A liberdade que os católicos tiveram foi notável, pois na mesma época os protestantes do Brasil — se é que havia — não teriam liberdade nem de dizer quem eram, muito menos participar da elaboração de uma constituição.
A diferença entre as bases “civilizacionais católicas” do Brasil e o protestantismo tolerante dos EUA era a diferença entre trevas e luz cultural, liberdade e escravidão cultural. Ser católico na América protestante do século XVIII era a prova da cultura tolerante dos EUA. Ser protestante no Brasil católico do século XVIII era risco certeiro de vida.
A apostasia que os EUA enfrentam hoje, com o coincidente aumento dos imigrantes católicos latino-americanos, ocorre por estarem rejeitando o Cristianismo de vertente protestante, com seus rígidos valores éticos, que tornou sua nação grande e poderosa”.

Meu amigo Julio Severo apela a um sofisma para atribuir a decadência dos Estados Unidos aos católicos latino-americanos. Aliás, é comum aos elementos brancos, anglo-saxônicos e protestantes atribuírem à quebra da harmonia cultural e religiosa norte-americana a outros povos inseridos em sua comunidade. Nada mais falso e artificioso. A decadência das instituições norte-americanas se deve às fortes influências maçônicas e relativistas da gênese do próprio protestantismo da sociedade americana. E ela não começa com os imigrantes católicos, mas com a concepção filosófica do pragmatismo político sem raízes metafísicas e morais sólidas. Em outras palavras, são as elites americanas, desde sempre, que causam a própria decadência. E isso pode incluir uma parte da intelligentsia judaico-americana, afeita ao esquerdismo militante.

Os católicos latino-americanos não têm a menor influência política nos Eua. Aliás, Julio Severo omite outros dados: os rígidos valores protestantes, em particular, os calvinistas, criaram uma sociedade racista e discriminatória contra negros e índios. Uma sociedade que discriminava católicos e outros tipos de povos considerados não-nórdicos ou não-protestantes. As toneladas de inverdades que a cultura protestante americana criou sobre a Igreja Católica são assustadoras. O nível de mentiras chega a ser patológico.  São essas falsidades que se repetem à exaustão nas escolas dominicais de qualquer igreja protestante. O ódio a Igreja Católica é dos mais caros dogmas protestantes.

Foi a partir do protestantismo que a cultura politicamente correta teve uma sólida força, já que os americanos estavam acostumados em mesclar os conceitos bíblicos literais de cada seita com os códigos pessoais de conduta. Daí o legalismo soberbo na vida privada alheia. O que ameniza a cultura pessimista do calvinismo nos EUA são as outras influências, em particular, deístas e maçônicas, embora estas também tenham um forte fervor relativista e potencialmente revolucionário.

Entretanto, Julio Severo me chama de “inquisidor”, pelo único defeito de criticar a essência teológica e política do protestantismo:

“No Brasil, que de acordo com o colunista do Mídia Sem Máscara está perdendo as “bases civilizacionais católicas,” o que aconteceria se “limpassem” a nação brasileira dos homens, mulheres e crianças que ele chama de “cátaros” modernos? Há uma grande maioria católica no Congresso Nacional, mas a principal resistência ao aborto e à agenda gay ali é católica? Não. É a Frente Parlamentar Evangélica. Que tal um Brasil sem essa resistência?”

Eu nunca preguei assassinato, perseguições ou matanças de evangélicos. Pelo contrário, em vários aspectos comuns sou aliado deles. Não tenho a menor pretensão pela volta da Inquisição ou de qualquer outra instituição policiando ortodoxias. Mas é tremendamente verdadeiro que o protestantismo sofre de uma síndrome de catarismo, de obsessão pela “pureza”, com enorme semelhança entre os cátaros medievais. Recordemos que a bancada evangélica, embora faça um trabalho excelente de resistência cultural, apoiou o governo federal.

Aliás, por que será que os protestantes estão escandalizados com minhas observações? Eles ganham espaço pelo mesmo imaginário faccioso que repetem dos católicos. O mito da Reforma protestante, o mito da inquisição, o mito do “atraso” católico, dentre outros, é pregado à exaustão como “verdades”, quando na prática são mistificações. Mistificações estas apenas confirmadas pelas palavras de meu querido amigo Julio Severo.

Eu fiz uma pergunta em meu texto onde respondi apenas superficialmente: o que seria dos protestantes sem os católicos? A negação radical da Tradição, dos legados da Igreja medieval e mesmo da teologia cristã durante séculos seria a castração do Cristianismo, a destruição de suas origens. Até as origens do Evangelho seriam apagadas.

Percebe-se que essa castração já nasce com a Sola Scriptura. Mas “sola scriptura” baseado em que? Em que história? Aquela inventada pelos protestantes, que ora chamam a Santa Madre Igreja de “intolerante” e “corrupta”, ao mesmo tempo em que essa mesma Igreja caluniada guardou fiel e honestamente a bíblia? Para ser protestante é preciso apagar a história. É preciso passar uma borracha na tradição. É preciso seguir uma opinião pessoal em desfavor de toda uma Tradição apostólica que foi repassada diretamente de Jesus Cristo, para ser reduzida às tendências caprichosas dos luteranos, calvinistas, anabatistas e milhares e milhares, senão milhões de seitas que mal se entendem entre si e se julgam a “igreja de Jesus”. Nem os cristãos gregos, cujo cisma gerou a primeira ruptura da Igreja em 1054, conseguiram ser tão odiosos contra a Tradição.

Nós, católicos, representamos a preservação de um passado civilizacional que se quer destruir. Será que o protestantismo possui a força civilizacional da Igreja Católica? Será que os norte-americanos representam, atualmente, alguma força neste sentido? Acredito que não.

Se o protestantismo aceita o liberalismo teológico, por que não aceitaria outras formas de liberalismos? Não é curioso notar que o ateísmo cresce absurdamente nos países protestantes, justamente porque o protestantismo é a primeira etapa do secularismo? Na Europa, as igrejas reformadas aceitam casamento e padres homossexuais e admitem quaisquer tipos de aberrações morais em nome de certas conveniências politicamente corretas. A legalização do aborto é uma vitória de pais protestante espalhado em países católicos. A apostasia é muito mais grave no protestantismo do que no catolicismo. A Igreja Católica pode ter padres, bispos e até papas ruins. Mas somos escravos de uma Tradição que não podemos mudar substancialmente. Essa Tradição, junto com a Sagrada Escritura e o Magistério, é a bussola do católico. A Igreja está nestes pilares.

Por que tanto ódio contra a Igreja Católica? Alguém tem dúvida de que se ela decair totalmente, a civilização ocidental vai junto para o ralo? A crise moral brasileira também é a crise moral do catolicismo. Nem as seitas protestantes são capazes de compensar essa lacuna. Por uma razão simples: o protestantismo é teologicamente fraco e suas bases culturais e religiosas são inconsistentes.  A própria civilização europeia depende de suas origens católicas.

É por esse motivo que a Igreja Católica tem tantos detratores e inimigos. O ódio protestante pelo catolicismo é paradoxalmente o mesmo compartilhado por segmentos ateus, secularistas, iluministas, marxistas e outros. Eles podem ser aparentemente distintos nas idéias, mas possuem alguns elementos em comum. A Igreja Católica representa a tradição que teima em resistir. Ainda que o clero não saiba representá-la, ainda que até o papa cometa falhas, ainda que muitos católicos a ignorem, a sua sobrevivência perante os séculos deve ser uma dádiva sobrenatural.


Osvaldo Aires Bade Comentários Bem Roubados na "Socialização" - Estou entre os 80 milhões Me Adicione no Facebook 

Esse texto é uma resposta para esse:
A INQUISIÇÃO, O PAPA E O SUSPIRO DE ALGUNS CATÓLICOS “CONSERVADORES” (aqui)