O governo petista
acabou! Tudo depende do como e quando intervirá o seu fim. Como um doente
terminal, ele pode durar meses ou anos, com todos os sofrimentos daí
resultantes. Impeachment ou renúncia teria a imensa vantagem de dar um basta a
esta situação, com a segunda alternativa sendo muito melhor do que a primeira,
por ser mais rápida e menos traumática.
Aguardar as eleições de 2018 pode bem
significar que o novo governo que, então, assumiria teria de reestruturar
totalmente um país exaurido.
O discurso petista de
que qualquer abreviamento do mandato da atual presidente seria um golpe nada
mais é do que um mero instrumento demagógico. Impeachment é um instrumento
previsto constitucionalmente e utilizado quando do governo Collor, forçando-o a
uma renúncia. A transição não foi traumática, tendo o então vice-presidente
Itamar Franco feito um governo exemplar, de união nacional, sendo o responsável
pelo Plano Real. O mesmo pode, agora, se repetir com o vice-presidente Michel
Temer, ao qual não faltam condições para tal mudança.
Aliás, o PT parece não
ter memória, pois chegou a apregoar o impeachment do então presidente Fernando
Henrique. Não era golpe! No que diz respeito às convicções democráticas, o PT e
seu governo têm dados sinais indeléveis de seu pouco apreço pelas instituições
republicanas, defendendo os governos bolivarianos e o socialismo do século XXI
em nossos países vizinhos. A democracia desmorona a golpes de facões chavistas
na Venezuela, e nosso governo não cessa de defender a sua “democracia”.
Mais recentemente, o
presidente da CUT, Vagner Freitas, fez uma declaração, dentro do Palácio do
Planalto, segundo a qual ele e seus comparsas pegariam em “armas” para defender
o atual governo. Como assim, pregando a violência no Palácio e chamando a isto
de defesa da democracia? A situação não deixa de ser hilária. O PT não defende
o Estatuto do Desarmamento? Terão os sindicalistas da CUT armas? Onde as
obtiveram?
O ex-presidente Lula
tentou logo depois fazer um remendo, dizendo que a verdadeira arma seria a “educação”.
Conversa fiada. Repete o mesmo comportamento que o caracterizou no governo.
Atiça o fogo e logo diz atuar como bombeiro.
Ocorre, porém, que o
país mudou. Nas manifestações nacionais do dia 16, um boneco inflável de Lula
enquanto presidiário virou meme nas redes sociais e apareceu nos jornais e
meios de comunicação em geral. Um símbolo, neste dia, ruiu. É toda uma época
que atinge o seu término.
O boneco estampava o
número do PT e um artigo do Código Penal, em uma clara demonstração de que o
seu nome já está associado à corrupção, à Lava-Jato e à prisão. Perdeu o efeito
teflon, ou talvez, tenhamos, agora, um outro tipo de teflon, o negativo, tudo
passando a colar nele e na sua sucessora. Os acordos negociados com o
presidente do Senado, por sua vez, não tiveram nenhum efeito popular, senão o
de colar o senador Renan Calheiros às figuras de Dilma e Lula. O acordão não
passou junto a esse importante setor da opinião pública.
As manifestações, ao
contrário das anteriores, focaram no afastamento da presidente, insistindo no
impeachment ou em eventual renúncia. A sua imagem não apresenta nenhuma
melhora. Pelo contrário, piora. Elas estão apontando para o fim do ciclo
petista, procurando abreviá-lo.
Note-se que essas
manifestações foram maiores e mais importantes do que as previsões que
supostamente sinalizavam para uma baixa adesão. Elas foram maiores do que as de
abril deste ano e reuniram 1.029.000 pessoas, apesar de jornalistas e
“analistas” simpáticos ao PT procurarem camuflar esse fato. Globo e G1 fizeram
um cálculo, segundo as Polícias Miliares, de 879 mil participantes, não
contando os manifestantes do Rio e Recife, sem estimativas das respectivas PMs.
Ora, o Rio congregou
pelo menos cem mil pessoas e Recife 50 mil, o que dá um total superior a um milhão.
Só perdem para as manifestações de março. As imagens cariocas foram
impressionantes.
Ademais, trata-se de um
processo que começou em março, seguiu em abril e chega, agora, a agosto, com
novas manifestações já sendo previstas. Tivemos três enormes manifestações em
cinco meses, algo inédito na história de nosso país. Por último, esta última
manifestação teve foco, centrada nas figuras de Dilma e Lula, com a bandeira
explícita do impeachment.
Exemplo público a ser
seguido se concretizou no aparecimento de camisas e faixas em apoio ao juiz
Sérgio Moro. Ele representa atualmente um ideal de justiça, algo digno de ser
imitado. O país não mais tolera metamorfoses ambulantes, mas correção na vida
pública e esperança de um Brasil justo, no qual um novo futuro possa ser
vislumbrado.
Do ponto de vista
político, essas manifestações de apoio a Moro significam uma forte sustentação
à operação Lava-Jato, contra qualquer tipo de pizza. A sociedade está atenta
aos seus desdobramentos e, certamente, não aceitará nada que possa
prejudicá-la. Os culpados deverão ser punidos, tanto no setor empresarial
quanto no político. Se isto não acontecer, as manifestações poderão ganhar
ainda mais fôlego. Um recado foi enviado!
Apostar em uma melhora
da situação econômica significa voltar a ouvir os cantos de sereias que nos
guiaram desde a saída de Antonio Palocci do Ministério da Fazenda. Os “mágicos”
economistas petistas levaram o país a esse buraco, os ditos desenvolvimentistas
incrustados no governo e no partido. A inflação deve alcançar dois dígitos (ou
perto disto), no final do ano, o desemprego está aumentando, o PIB é estimado
em 2% negativo neste ano, devendo permanecer negativo no próximo, o poder de
compra da classe média e dos trabalhadores em geral está caindo e assim por diante.
O Natal e o Ano Novo
não serão de festa do ponto de vista social. A quebra de expectativas e a
desesperança só tendem a piorar. E será neste cenário que o clima de
insatisfação política vai se expandir.
Denis Lerrer Rosenfield
é professor de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul