O Mário Aberto FiléNascimento censurou minhas informações sobre o comunismo da sua postagem no Facebook sobre o Chico Buarque Jabuti com a desculpa vagabunda de que
a verdade ofende, e ainda desfez a nossa amizade no Facebook - faltou me bloquear.
Esse é o link do Facebook com a postagem/imagem dele (aqui) - covardemente ele derrubou a postagem.
Bom, já que o Mário Filé falou que as putas merecem apoio do governo deixo esse link (aqui).
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O que vocês acham disso?
Será mesmo apenas para
defender o emprego dele na Rádio Cultura?
Sei pelo menos de outro amigo meu Paulo Brasil que já sofreu nas mãos dos comunistas de lá.
Em Belém do Pará eu sei que muitos funcionários da Rede Cultura (Funtelpa)
são perseguidos e demitidos se não forem comunistas – e eles ainda tem que defenderem o comunismo como militante.
Vejam bem, demitidos de uma emissora ordinária comunista do governo petista (vide genéricos tucanos) envolvida em
esquema de trapassa com a retransmissora da Rede Globo no Pará TV Liberal –
ORM Organizações Romulo Maiorana (aqui).
E mesmo assim ainda temos tipos de gente evasiva que compactuam com os inúmeros assassinatos da seita esquerdista:
"O perfil é dele, a
postagem é dele ele faz o que quiser. Nossos questionamentos não são sobre
comunismo que pra mim é apenas um sonho distante, pois no planeta terra ele
nunca existiu. O importante é que os debates, fiquem na esfera politica e
ideológica e que nos respeitemos como amigos ou pelo menos como cidadãos. Bom
dia!"
Meus comentários:
Tanto o comunismo quanto os comunistas são bastantes reais e eles já mataram
muita gente.
Seres de outro planeta, até agora, nunca mataram ninguém, portanto, teu papo não passa de assassino.
Logotipo da TV Cultura em sua fase na Fundação Padre Anchieta - Uma cruz verde oliva
Voltando a postagem do
Mário Filé sobre os possíveis dizeres do Chico Jabuti vamos ficar apenas com as questões dos esquemas
comunistas na cultura brasileira e mundial (aqui), (aqui) e (aqui), já os citados generais e seus feitos (aqui), e as questões econômicas do comunismo petista no Brasil para não nos alongarmos muito (aqui).
E sobre os 500 anos citados quem tem que ter vergonha somos nós mesmo tendo em vista as outras nações que se desenvolveram mesmo sendo colonias - e viva Portugal (aqui).
E logo em seguida 5 (cinco) breves textos com pareceres sobre a cena de 31 de março de 1964 - Contra Golpe Militar.
1º A HISTÓRIA OFICIAL DE
1964
Se houve na história da
América Latina um episódio sui generis, foi a Revolução de Março (ou, se
quiserem, o golpe de abril) de 1964. Numa década em que guerrilhas e atentados
espoucavam por toda parte, sequestros e bombas eram parte do cotidiano e a
ascensão do comunismo parecia irresistível, o maior esquema revolucionário já
montado pela esquerda neste continente foi desmantelado da noite para o dia e
sem qualquer derramamento de sangue.
O fato é tanto mais
inusitado quando se considera que os comunistas estavam fortemente encravados
na administração federal, que o presidente da República apoiava ostensivamente
a rebelião esquerdista no Exército e que em janeiro daquele ano Luís Carlos
Prestes, após relatar à alta liderança soviética o estado de coisas no Brasil,
voltara de Moscou com autorização para desencadear – por fim! – a guerra civil
no campo. Mais ainda, a extrema direita civil, chefiada pelos governadores
Adhemar de Barros, de São Paulo, e Carlos Lacerda, da Guanabara, tinha montado
um imenso esquema paramilitar mais ou menos clandestino, que totalizava não menos
de 30 mil homens armados de helicópteros, bazucas e metralhadoras e dispostos a
opor à ousadia comunista uma reação violenta. Tudo estava, enfim, preparado
para um formidável banho de sangue.
Na noite de 31 de março
para 1o. de abril, uma mobilização militar meio improvisada bloqueou as ruas,
pôs a liderança esquerdista para correr e instaurou um novo regime num país de
dimensões continentais – sem que houvesse, na gigantesca operação, mais que
duas vítimas: um estudante baleado na perna acidentalmente por um colega e o
líder comunista Gregório Bezerra, severamente maltratado por um grupo de
soldados no Recife. As lideranças esquerdistas, que até a véspera se gabavam de
seu respaldo militar, fugiram em debandada para dentro das embaixadas, enquanto
a extrema-direita civil, que acreditava ter chegado sua vez de mandar no país,
foi cuidadosamente imobilizada pelo governo militar e acabou por desaparecer do
cenário político.
Qualquer pessoa no
pleno uso da razão percebe que houve aí um fenômeno estranhíssimo, que requer
investigação. No entanto, a bibliografia sobre o período, sendo de natureza
predominantemente revanchista e incriminatória, acaba por dissolver a
originalidade do episódio numa sopa reducionista onde tudo se resume aos
lugares-comuns da "violência" e da "repressão", incumbidos
de caracterizar magicamente uma etapa da história onde o sangue e a maldade
apareceram bem menos do que seria normal esperar naquelas circunstâncias.
Os trezentos
esquerdistas mortos após o endurecimento repressivo com que os militares
responderam à reação terrorista da esquerda, em 1968, representam uma taxa de
violência bem modesta para um país que ultrapassava a centena de milhões de
habitantes, principalmente quando comparada aos 17 mil dissidentes assassinados
pelo regime cubano numa população quinze vezes menor. Com mais nitidez ainda,
na nossa escala demográfica, os dois mil prisioneiros políticos que chegaram a
habitar os nossos cárceres foram rigorosamente um nada, em comparação com os
cem mil que abarrotavam as cadeias daquela ilhota do Caribe. E é ridículo supor
que, na época, a alternativa ao golpe militar fosse a normalidade democrática.
Essa alternativa simplesmente não existia: a revolução destinada a implantar
aqui um regime de tipo fidelista com o apoio do governo soviético e da
Conferência Tricontinental de Havana já ia bem adiantada. Longe de se
caracterizar pela crueldade repressiva, a resposta militar brasileira, seja em
comparação com os demais golpes de direita na América Latina seja com a
repressão cubana, se destacou pela brandura de sua conduta e por sua habilidade
de contornar com o mínimo de violência uma das situações mais explosivas já
verificadas na história deste continente.
No entanto, a
historiografia oficial – repetida ad nauseam pelos livros didáticos,
pela TV e pelos jornais – consagrou uma visão invertida e caricatural dos
acontecimentos, enfatizando até à demência os feitos singulares de violência e
omitindo sistematicamente os números comparativos que mostrariam – sem
abrandar, é claro, a sua feiúra moral – a sua perfeita inocuidade histórica.
Por uma coincidência
das mais irônicas, foi a própria brandura do governo militar que permitiu a
entronização da mentira esquerdista como história oficial. Inutilizada para
qualquer ação armada, a esquerda se refugiou nas universidades, nos jornais e
no movimento editorial, instalando aí sua principal trincheira.
O governo,
influenciado pela teoria golberiniana da "panela de pressão", que
afirmava a necessidade de uma válvula de escape para o ressentimento
esquerdista, jamais fez o mínimo esforço para desafiar a hegemonia da esquerda
nos meios intelectuais, considerados militarmente inofensivos numa época em que
o governo ainda não tomara conhecimento da estratégia gramsciana e não
imaginava ações esquerdistas senão de natureza inssurrecional, leninista.
Deixados à vontade no seu feudo intelectual, os derrotados de 1964 obtiveram
assim uma vingança literária, monopolizando a indústria das interpretações do
fato consumado. E, quando a ditadura se desfez por mero cansaço, a esquerda,
intoxicada de Gramsci, já tinha tomado consciência das vantagens políticas da
hegemonia cultural, e apegou-se com redobrada sanha ao seu monopólio do passado
histórico. É por isso que a literatura sobre o regime militar, em vez de se
tornar mais serena e objetiva com a passagem dos anos, tanto mais assume o tom
de polêmica e denúncia quanto mais os fatos se tornam distantes e os
personagens desaparecem nas brumas do tempo.
Mais irônico ainda é
que o ódio não se atenue nem mesmo hoje em dia, quando a esquerda, levada pelas
mudanças do cenário mundial, já vem se transformando rapidamente naquilo mesmo
que os militares brasileiros desejavam que ela fosse: uma esquerda
socialdemocrática parlamentar, à européia, desprovida de ambições
revolucionárias de estilo cubano. O discurso da esquerda atual coincide, em
gênero, número e grau, com o tipo de oposição que, na época, era não somente
consentido como incentivado pelos militares, que viam na militância
socialdemocrática uma alternativa saudável para a violência revolucionária.
Durante toda a história
da esquerda mundial, os comunistas votaram a seus concorrentes, os
socialdemocratas, um ódio muito mais profundo do que aos liberais e
capitalistas. Mas o tempo deu ao "renegado Kautsky" a vitória sobre a
truculência leninista. E, se os nossos militares tudo fizeram justamente para
apressar essa vitória, por que continuar a considerá-los fantasmas de um
passado tenebroso, em vez de reconhecer neles os precursores de um tempo que é
melhor para todos, inclusive para as esquerdas?
Para completar, muita
gente na própria esquerda já admitiu não apenas o caráter maligno e suicidário
da reação guerrilheira, mas a contribuição positiva do regime militar à
consolidação de uma economia voltada predominantemente para o mercado interno –
uma condição básica da soberania nacional. Tendo em vista o preço modesto que
esta nação pagou, em vidas humanas, para a eliminação daquele mal e a conquista
deste bem, não estaria na hora de repensar a Revolução de 1964 e remover a
pesada crosta de slogans pejorativos que ainda encobre a sua
realidade histórica?
2º RESUMO DO QUE PENSO
SOBRE 1964
Tudo o que tenho lido
sobre o movimento de 1964 divide-se nas seguintes categorias:
(a) falsificação
esquerdista, camuflada ou não sob aparência acadêmica respeitável;
(b) apologia
tosca e sem critério, geralmente empreendida por militares que estiveram de
algum modo ligado ao movimento e que têm dele uma visão idealizada.
Toda essa bibliografia,
somada, não tem valor intelectual nenhum. Serve apenas de matéria-prima, muito
rudimentar, para um trabalho de compreensão em profundidade que ainda nem
começou.
Para esse trabalho, a
exigência preliminar, até hoje negligenciada, é distinguir entre o golpe que
derrubou João Goulart e o regime que acabou por prevalecer nos vinte anos
seguintes.
Contra o primeiro, nada
se pode alegar de sério. João Goulart acobertava a intervenção armada de Cuba
no Brasil desde 1961, estimulava a divisão nas Forças Armadas para provocar uma
guerra civil, desrespeitava cinicamente a Constituição e elevava os gastos
públicos até as nuvens, provocando uma inflação que reduzia o povo à miséria,
da qual prometia tirá-lo pelo expediente enganoso de dar aumentos salariais que
a própria inflação tornava fictícios. A derrubada do presidente foi um ato
legítimo, apoiado pelo Congresso e por toda a opinião pública, expressa na
maior manifestação de massas de toda a história nacional (sim, a “Marcha da
Família com Deus pela Liberdade” foi bem maior do que todas as passeatas
subsequentes contra a ditadura).
É só ler os jornais da época – os mesmos que
hoje falsificam sua própria história – e você tirará isso a limpo.
O clamor geral pela
derrubada do presidente chegou ao auge em dois editoriais do Correio da
Manhã que serviram de incitação direta ao golpe. Sob os títulos “Basta!” e
“Fora!”, ambos foram escritos por Otto Maria Carpeaux, um escritor notável que
depois se tornou o principal crítico do novo regime. Por esse detalhe você
percebe o quanto era vasta e disseminada a revolta contra o governo.
O golpe não produziu
diretamente o regime militar. Este foi nascendo de uma sequência de
transformações – quase “golpes internos” – cujas consequências ninguém
poderia prever em março de 1964. Na verdade, não houve um “regime militar”.
Houve quatro regimes, muito diferentes entre si:
(1) o regime
saneador e modernizador de Castelo Branco;
(2) o período de confusão e opressão
que começa com Costa e Silva, prossegue na Junta Militar e culmina no meio do
governo Médici:
(3) o período Médici propriamente dito; e
(4) a dissolução do
regime, com Geisel e Figueiredo.
Quem disser que no
primeiro desses períodos houve restrição séria à liberdade estará mentindo.
Castelo demoliu o esquema político comunista sem sufocar as liberdades
públicas. Muito menos houve, nessa época, qualquer violência física, exceto da
parte dos comunistas, que praticaram 82 atentados antes que, no período
seguinte, viessem a ditadura em sentido pleno, as repressões sangrentas, o
abuso generalizado da autoridade. O governo Médici é marcado pela vitória
contra a guerrilha, por uma tentativa fracassada de retorno à democracia e por
um sucesso econômico estrondoso (o Brasil era a 46ª. economia do mundo, subiu
para o 8º. lugar na era Médici, caindo para o 16º. de Sarney a Lula).
Geisel adota uma política econômica socializante da qual pagamos o prejuízo até
hoje, tolera a corrupção, inscreve o Brasil no eixo terceiro-mundista antiamericano
e ajuda Cuba a invadir Angola, um genocídio que não fez menos de 100 mil
vítimas (o maior dos crimes da ditadura e o único autenticamente hediondo --
contra o qual ninguém diz uma palavra, porque foi a favor da esquerda).
Figueiredo prossegue na linha de Geisel e nada lhe acrescenta – mas não se pode
negar-lhe o mérito de entregar a rapadura quando já não tinha dentes para
roê-la.
É uma estupidez
acreditar que esses quatro regimes formem unidade entre si, podendo ser
julgados em bloco. Na minha opinião pessoal, Castelo foi um homem justo e um
grande presidente; Médici foi o melhor administrador que já tivemos, apesar de
mau político. Minha opinião sobre Costa, a Junta Militar, Geisel e Figueiredo
não pode ser dita em público sem ferir a decência.
Em 1964 eu estava na
esquerda. Por vinte anos odiei e combati o regime, mas nunca pensei em negar
suas realizações mais óbvias, como hoje se faz sem nenhum respeito pela
realidade histórica, nem em ocultar por baixo de suas misérias os crimes
incomparavelmente mais graves praticados por comunistas que agora falseiam a
memória nacional para posar de anjinhos.
3º DROGA É CULTURA
Como explicar que
ministros aceitem pedir licença a narcotraficantes para entrar no seu
território? O acontecimento indica, desde logo, que o Estado brasileiro
reconhece os limites impostos à sua jurisdição pela "diversidade
cultural". Há tempos vigora entre esquerdistas a convicção de que droga é
cultura e de que não se pode impor à população criada sob essa cultura os
padrões do restante da sociedade. Os srs. ministros parecem ter sido
profundamente afetados por essa crença. Os reis da droga, nessa perspectiva,
tornam-se líderes tribais e gozam de prerrogativas similares às dos caciques
indígenas, entre as quais a soberania territorial. Os representantes do Estado,
ao entrar na taba, já não são autoridades: são meros visitantes estrangeiros
que devem curvar-se às normas locais.
Em segundo lugar, os
narcotraficantes brasileiros estão, direta ou indiretamente, sob a orientação
das FARC - e as FARC, a mais rica e poderosa entidade participante do Foro de
São Paulo, ocupam na hierarquia da esquerda continental uma posição mais alta
que a do nosso partido governante. Este não só se recusa a reconhecê-las como
entidade criminosa, mas, em resolução do Foro assinada pelo sr. Luís Inácio
Lula da Silva poucos meses antes de eleger-se presidente, comprometeu-se a defendê-la
contra o verdadeiro criminoso, o governo da Colômbia, que o documento acusa de
praticar "terrorismo de Estado" contra os parceiros comerciais do sr.
Fernandinho Beira-Mar.
Legitimada por um
arremedo de antropologia cultural, alicerçada num pacto político macabro,
sancionada pela deferência servil de dois ministros, a soberania dos
narcotraficantes, no Complexo da Maré ou onde mais lhes ocorra instalar-se
neste vasto Brasil, pode portanto considerar-se definitivamente integrada no
quadro das instituições nacionais, ao lado do Parlamento, das Forças Armadas e
da Presidência da República.
Digo isso sem a mínima
intenção de sátira. Certas situações, dizia Karl Kraus, transcendem a
possibilidade de satirizá-las.
***
Do ponto de vista do
direito à vida, a diferença entre o tempo dos militares e os dias de hoje é
simples e auto evidente: naquela época havia tranquilidade para a maioria dos
brasileiros, mas não para a pequena elite esquerdista que tinha boas razões
para sentir-se ameaçada. Hoje, essa elite - 60 mil pessoas no máximo -
desfrutam de todas as garantias de paz e segurança que a prosperidade à sombra
do governo pode oferecer, enquanto os demais brasileiros vivem expostos ao
terror cotidiano nas mãos dos narcotraficantes, assaltantes, homicidas e sequestradores.
Passamos de uma
relativa igualdade capitalista à cruel e cínica desigualdade socialista. Em
cima, a nomenklatura, arrogante, prepotente, onissapiente, segura de si,
vivendo às custas do Estado, sob a proteção de guardas armados. Em baixo, o povo,
sem meios de defesa, entregue aos caprichos de delinquentes sanguinários.
Tão egoísta e
desavergonhada é essa elite, que chora mais - e dispende mais dinheiro público
- pelos seus trezentos velhos companheiros, terroristas mortos pela repressão
militar, do que pelos cinquenta mil civis desarmados que são anualmente
assassinados por bandidos neste país ou os ainda 70 mil que morrem no transito.
***
4º O ANO EM QUE O TEMPO
PAROU
Se 1968 ainda é chamado
“O Ano Que Não Terminou”, é porque não terminou mesmo -- nem dá sinais de
pretender fazê-lo tão cedo. Ao menos no Brasil é assim. Os trejeitos e cacoetes
verbais que dominam o horizonte mental “dêfte paíf” ainda são em essência
aqueles que então ecoavam pela rua Maria Antônia e pelos bares do Leblon, os
dois pólos neuronais, Tico e Teco, entre os quais circulava o comércio local de
ideias.
Isso não quer dizer que
o Brasil esteja preso no passado. Está é fora do tempo. Na França, nossa
principal fornecedora degadgets intelectuais, 1968 não foi propriamente um
capítulo da História, foi uma crise abrupta de esquecimento, quando o acesso
cognitivo a milênios de tradição cultural se tornou inviável graças ao consumo
conspícuo de dois poderosos estupefacientes. De um lado, veio a repentina
substituição do ensino tradicional baseado em letras clássicas e ciências
físicas pela nova cultura de sexo, drogas, rock'n roll e guevarismo,
criada para atender a um público de adolescentes que a prosperidade da classe
média no pós-guerra transformara em consumidores independentes e vorazes (o
processo está relativamente bem documentado na obra apologética Linguistique et
Culture Nouvelle, de Philippe Rivière e Laurent Danchin, Paris, Éditions
Universitaires, 1971).
De outro, as próprias instituições nominalmente
encarregadas de conservar a inteligibilidade do passado foram incapacitadas
para essa tarefa pela disseminação epidêmica da moda “desconstrucionista”. Se a
alfabetização consiste em construir pontes entre os sinais escritos e o mundo
da experiência exterior e interior, é evidente que dinamitar essas pontes,
fazendo da linguagem um universo autorreferente, não pode resultar em nenhuma
elevação do nível de compreensão da cultura, e sim apenas numa forma superior
de analfabetismo, praticamente irreversível por vir legitimada pelo aval da
intelectualidade acadêmica, aliás, a mais presunçosa e pedante que já existiu.
Também é patente que, na impossibilidade de apelar ao testemunho da realidade experiência,
o único critério de julgamento que resta é precisamente a palavra daquela
intelectualidade, investida assim, gramscianamente, da “autoridade onipresente
e invisível de um imperativo categórico, de um mandamento divino”.
Cortando a comunicação
com o passado, 1968 destruiu o senso de continuidade histórica, de modo que
todo o progresso alcançado desde então no mundo do pensamento – e ele foi
considerável – se deu à margem da zona desconstrucionista, tornando-se
incompreensível ou totalmente invisível aos que permanecem dentro dela. Esses
adolescentes perpétuos continuam fechados numa redoma de atemporalidade
postiça, separados da história e da atualidade, entregues aos prazeres mórbidos
da auto referência narcisista psicoticamente repetitiva, que os vai tornando
cada vez mais estúpidos e incapazes à medida mesma em que reforça a sua devoção
aos mitos culturais e políticos de um ano lendário transfigurado em caricatura
grotesca da eternidade.
Foi assim que a França
saiu da história intelectual do mundo, e o Brasil, que nunca havia entrado
nessa história senão como apêndice da França, saiu junto com ela sem nem
perceber. O reinado da inconsciência que desde então se instalou no país,
eliminando toda possibilidade de vida intelectual genuína ao menos dentro das
fronteiras do establishment, está na origem da assombrosa degradação moral
e política da qual hoje todos se queixam, mas que, no fim das contas, é o
destino que escolheram.
5º 1968, O EMBUSTE QUE NÃO
TERMINOU
Se a celebração das
seis décadas de existência do Estado de Israel vem consistindo essencialmente
em culpá-lo por todo o mal que lhe fazem e em desejar com fervor a sua morte
próxima, a dos 40 anos das rebeliões estudantis de 1968 não tem feito outra coisa
senão tomar como realidade, a priori e sem o mínimo exame crítico, a auto
interpretação lisonjeira que seus líderes fizeram desse movimento na época da
sua eclosão.
Uma das poucas vozes
dissonantes foi Nicolas Sarkozy, que em discurso recente afirmou:
“O Maio de 68 impôs o
relativismo moral e intelectual a todos nós. Impôs a ideia de que não existia
mais qualquer diferença entre bom e mau, verdade e falsidade, beleza e feiura.
Sua herança introduziu o cinismo na sociedade e na política, ajudando a
enfraquecer a moralidade do capitalismo, a preparar o terreno para o
inescrupuloso capitalismo das regalias e das proteções para executivos velhacos.”
Reagindo com indignação
a essas palavras, o ativista-historiador Tariq Ali – ele mesmo um dos
agitadores de 1968 – exclama: “Não me venha com essa, Sarkozy!”. E, imaginando
brandir contra o presidente francês argumentos irrespondíveis, pergunta: “Então,
nós é que somos responsáveis pela crise do subprime, pelos políticos
corruptos, pela desregulamentação, pela ditadura do livre mercado, pela cultura
infestada por um oportunismo descarado, pela Enron, pela Conrad Black, entre
outras coisas?”
Mas a resposta a essa
pergunta é, incontornavelmente, “sim”. O movimento de 1968, que na verdade
começou em Harvard em 1967, marcou a conversão mundial da esquerda aos cânones
da “revolução cultural” preconizada por Georg Lukács, Antonio Gramsci e os
frankfurtianos. A ambição da militância, daí por diante, já não era tomar o
poder, nem muito menos implantar o socialismo. Estas metas eram adiadas para
depois de conquistado o objetivo primordial: destruir a civilização do
Ocidente, corroer até à extinção completa as bases culturais e morais sobre as
quais tinha se erigido o capitalismo. Ora, o que é o mais bem sucedido sistema
econômico, quando amputado de seus fundamentos civilizacionais e reduzido à
pura mecânica das leis de mercado?
É um mundo de riqueza sem alma, um inferno
dourado. Os revolucionários de 1968 produziram esse efeito por três vias e em
três fronts:
(1) Espalhados na mídia
e nas instituições de cultura, empreenderam a agressão direta, pertinaz e
brutal a todos os valores e símbolos mais veneráveis da civilização e a
demolição deliberada do sistema de ensino, onde as aulas de grego e latim foram
substituídas por seminários de sexo anal (aqui).
(2) Infiltrados no meio
empresarial como técnicos e consultores, persuadiram os capitalistas a
“modernizar-se”, mandando às favas as exigências da moral tradicional e
passando a agir segundo o modelo deformado do argentário sem escrúpulos. A
caricatura marxista do empresariado tornou-se realidade, não raro encarnada
pelos próprios homens de 1968, cuja posadíssima conversão à livre-empresa vinha
acompanhada de uma ênfase cínica na eficiência amoral do sistema, propaganda
irônica que só fazia ressaltar, de maneira implícita, mas por isto mesmo ainda
mais contundente, a superioridade moral do socialismo injustamente derrotado
pelo mundo mau.
(3) Atuando como
líderes e porta-vozes de movimentos sociais, condenavam os efeitos de suas
próprias ações como se elas não fossem obra deles e sim de uma abstração
hedionda, “o capitalismo”, e simultaneamente exploravam a nostalgia do universo
cultural destruído, cooptando de volta os velhos valores e símbolos
civilizacionais, até mesmo os religiosos, esvaziando-os de seu sentido
originário e reduzindo-os a slogans da propaganda anticapitalista.
Com essa tripla
operação, adquiriram o simulacro terrivelmente convincente de autoridade que
até hoje aufere lucros morais de seus próprios crimes, debitando-os na conta da
burguesia sonsa que se deixa intoxicar pelo seu discurso.
1º A HISTÓRIA OFICIAL DE
1064
Olavo de Carvalho
O Globo, 19 de janeiro de 1999
2º RESUMO DO QUE PENSO
SOBRE 1964
Olavo de Carvalho
Bah! (jornal universitário
gaúcho), maio de 2004
3º DROGA É CULTURA
Olavo de Carvalho
O Globo, 1º de janeiro de 2005
4º O ANO EM QUE O TEMPO
PAROU
Olavo de Carvalho
Jornal do Brasil, 22 de novembro de 2007
5º 1968, O EMBUSTE QUE NÃO
TERMINOU
Olavo de Carvalho
Jornal do Brasil, 29 de maio de 2008