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Após ser seguidamente desmentido pela imprensa ao afirma que não possuía contas na Suíça, talvez seja essa sua última/única bala.
No jornalismo, andam chamando de “preparar armadilha” a tática cada vez mais comum de ter um montante de informação apurada, jogar um naco numa primeira manchete, esperar o alvo soltar um desmentido, soltar outra fatia de informação, ver o personagem principal tropeçar nas próprias pernas e, numa cartada final, encaixar um golpe fatal. Por mais que Eduardo Cunha demonstre segurança quando sabatinado por jornalistas, comportou-se nos últimos dias como um sofrível amador. Resultado? A imprensa passou a semana deitando e rolando com uma mesma notícia, trazendo a cada dia novos detalhes que tornavam a coisa toda cada vez mais crível – e o presidente da Câmara cada vez mais mentiroso.
Os milhões de dólares que Cunha escondeu na Suíça soam centavos quando comparados com a mais grossa parte dos escândalos recentes envolvendo o PT. Até mesmo com a atualização das “pedaladas fiscais”, que só em 2015 já chegam a R$ 38 bilhões. Mas nada disso impediu a imprensa de tornar o fato o mais importante desta sexta-feira. E de cobrar a renúncia do peemedebista como se fosse mais urgente que a da própria Dilma, a presidente que enfiou o Brasil numa recessão que já deve comer 3% do PIB em 2015 e desempregou um milhão de brasileiros.
Claro que o próprio Cunha tem culpa no cartório e merece pagar por isso. E não só por ter mentido na CPI da Petrobras e escondido grana no exterior. Mas por ter sido ele mesmo um defensor do governo que hoje o queima para se salvar. Quando milhões ocupavam as ruas em março e abril, ele chamava a ideia de um impeachment de Dilma de “inconstitucional”.
Qual a saída numa situação dessas? Por muito menos, Roberto Jefferson contou tudo o que sabia e levou para cadeia outros 24 mensaleiros. Cunha, ao que tudo indica, quer levar pelo menos um petista para fazer-lhe companhia no chão. Ou uma. Segundo Fernando Rodrigues, esse é o medo da própria Dilma. Porque o presidente da Câmara prometeu despachar na próxima terça-feira todos os pedidos de impeachment que ainda restam em sua mesa. Inclusive o principal: o de Hélio Bicudo.
A estratégia era arquivar todos liberando a oposição para entrar com um recurso e, via maioria simples, colocar em pauta processo de impedimento de Dilma. Mas… E se ele aceita um dos pedidos? E se aceita logo o de Bicudo, mais bem fundamentado com o auxílio de Janaína Paschoal e Miguel Reale Jr? É esse o principal temor do Planalto. Porque assim a oposição ganha um enorme tempo e ainda conseguirá aproveitar uma semana na qual Dilma enfileirou derrotas estrondosas nas mais variados instâncias.
Ao PT, restaria repetir o que já grita por aí: “Que moral tem Eduardo Cunha para pedir o impeachment de alguém?” Bom… Num caso desses, cada parlamentar poderá enfrentar as câmeras de todo o Brasil e responder, durante a votação, se os desvios de conduta do presidente da Câmara são motivos fortes o suficiente para manter Dilma na Presidência da República. No mais, cabe a pergunta: que moral tem o PT para exigir moral de alguém?
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Na verdade, é até estranho que a lábia nada lógica da presidente ainda não tivesse gerado um incidente do tipo além da vergonha brasileira de ter uma líder defendendo diálogo com o Estado Islâmico. Mas dessa vez não foi necessário nem ir à ONU ou às câmeras. Ao chamar o processo de impeachment que deve enfrentar de “golpe democrático à paraguaia”, além de ofender a honestidade intelectual, Dilma Rousseff ofendeu também os vizinhos do Paraguai. Por lá, o embaixador brasileiro, José Felício, já foi chamado para dar explicações. Nas palavras do governo local, a afirmação provocou “surpresa e desagrado“. E ainda rendeu uma lição de moral ao Brasil:
“O governo do Paraguai respeita o princípio de não intervenção em assuntos internos de outros Estados e ratifica que, na República do Paraguai, o Estado de direito e as instituições estão plenamente vigentes, sólidos e são respeitados, ininterruptamente desde 1989.”
Mais cedo, o Antagonista lembrou que, uma vez livres de Fernando Lugo via impeachment, a economia do Paraguai cresceu 14,1% no ano seguinte. Não deve ser tão fácil assim limpar a bagunça que o PT fez nos últimos 13 anos. Mas há poucas dúvidas de que a queda de Dilma animará o PIB brasileiro de alguma forma.