Por diferentes razões, milhões de mulheres sofrem de desconforto vaginal. Trata-se às vezes de uma dor paralisante, na maioria das vezes decorrente de uma perda de estrogênio.
| Por Jane E. Brody- The New York Times News Service/Syndicate
Por diferentes razões, milhões de mulheres sofrem de desconforto vaginal. Trata-se às vezes de uma dor paralisante, na maioria das vezes decorrente de uma perda de estrogênio. A secura vaginal e a atrofia resultantes podem fazer com que ter relações sexuais, submeter-se a exames pélvicos, urinar e mesmo sentar, andar ou pedalar se tornem um pesadelo doloroso.
Além das mulheres na pré ou pós-menopausa, entre as mulheres afetadas estão aquelas que deram à luz recentemente ou estão amamentando, mulheres tratadas com medicamentos supressores de estrogênio contra o câncer de mama ou submetidas à quimioterapia ou radioterapia pélvica contra outros tipos de câncer, e mulheres cujos ovários foram removidos cirurgicamente.
Atualmente, com cada vez mais mulheres vivendo mais de um terço da vida após a menopausa e um número cada vez maior delas sobrevivendo ao câncer, problemas sexuais ligados à diminuição de estrogênio estão cada vez mais comuns.
No entanto, apenas cerca de um quarto das mulheres que sofrem de dor vaginal chegam a relatar o problema para um profissional médico. E aqueles que se pronunciam muitas vezes escutam – incorretamente – que nada pode ser feito e que elas devem aprender a viver com a dor.
Entre as muitas pacientes tratadas pela Dra. Deborah Coady, ginecologista de Nova York e autora, com Nancy Fish, de 'Healing painful sex' ('Curando o sexo doloroso'), estão aquelas que recebem conselhos de outros médicos que lhes dizem que 'Isso é coisa da sua cabeça', 'Você só precisa relaxar', 'Deve haver algo de errado no seu relacionamento' ou 'Não há nada de fisicamente errado com você'. Um médico chegou a sugerir que uma paciente dissesse a seu namorado que fosse atrás de outra namorada.
Não é de admirar que tantas mulheres que sofrem de dor vaginal se sintam isoladas e envergonhadas e pensem em si como mercadorias danificadas, disse Fish, psicoterapeuta e também paciente de dores sexuais.
'Seja qual for a sua idade, se você sofre de dor sexual, todo o seu sentido de identidade é prejudicado', disse ela em uma entrevista. 'Independentemente da causa, para muitas mulheres pode ser uma condição que altera a vida.'
Fish incentivou as mulheres a não se sentirem envergonhadas e a começarem a falar sobre o assunto, o que representaria um primeiro passo fundamental para fazer com que tratamentos eficazes se tornem mais amplamente disponíveis.
A ligação com os hormônios
À medida que a mulher se aproxima da menopausa, há um declínio na produção de estrogênio, que mais tarde é completamente interrompida, ou quase isso, à medida que os ovários vão se tornando inativos.
Quando os ovários são removidos cirurgicamente antes da menopausa, ou quando as mulheres que sofrem de câncer antes da menopausa são tratadas com medicamentos que suprimem o estrogênio ou com radioterapia pélvica, a perda de estrogênio é abrupta. Muitas vezes as mulheres não estão preparadas para as consequências.
É improvável que os médicos focados no tratamento do câncer considerem os efeitos que isso tem sobre a sexualidade de uma mulher. Coady, porém, disse que existe uma nova quase-especialidade chamada 'oncossexologia', que está tentando educar os oncologistas a respeito de como lidar com esse efeito colateral de forma mais eficaz.
A atrofia vaginal, também conhecida como vaginite atrófica, causa diluição, secagem e inflamação das paredes vaginais por conta da perda de estrogênio. Os sintomas podem incluir secura e ardor; encurtamento do canal vaginal; ardência, urgência e incontinência urinária, e frequentes infecções do trato urinário.
'À medida que ocorre um declínio de estrogênio, acontecem grandes mudanças ambientais na vagina', disse Coady em uma entrevista. 'As células que ficam na superfície do canal vaginal não amadurecem, o que faz com que a pele fique fina.'
A vagina se torna menos ácida, acrescentou ela. As bactérias benéficas que normalmente são predominantes, conhecidas como lactobacilos, desaparecem e são frequentemente substituídas por bactérias e fungos nocivos. O resultado pode ser uma secreção amarelada que pode ser irritante. O revestimento vaginal também fica mais suscetível a machucados, o que pode levar a infecções.
Quando as paredes vaginais estão frágeis, a penetração e a pressão exercida durante a relação sexual, se ela ainda for possível, podem causar pequenas lesões. Quando o sexo provoca dor, a mulher pode tentar evitar a intimidade por completo, o que pode prejudicar um relacionamento atual ou impedi-la de entrar em um novo.
'Ironicamente, as mulheres que estão em forma e são magras tendem a sofrer uma perda maior na função ovariana, já que as mulheres que possuem muitas células de gordura produzem mais estrogênio em sua gordura corporal.'
Os efeitos da perda hormonal também são maiores entre as mulheres que fumam e entre as que nunca deram à luz por via vaginal.
Tratar é possível
Coady incentiva as mulheres que sofrem de dor sexual a não desistirem, independentemente de quantos anos têm ou de quantos médicos possam lhes ter dito que nada poderia ser feito para aliviar o desconforto. É importante não adiar o tratamento: quanto mais tempo a dor sexual persistir, maior é a probabilidade de que ela resulte em nevralgias e disfunções do diafragma pélvico, fazendo com que o problema se torne ainda mais difícil de tratar.
Ter paciência também é importante. Pode-se levar semanas ou até mesmo meses para alcançar os benefícios de um tratamento eficaz, que pode demandar várias abordagens complementares.
Os tratamentos localizados que se mostraram úteis incluem um anel vaginal de estrogênio (Estring) que é substituído de três em três meses, um comprimido de estrogênio (Vagifem) usado diariamente durante duas semanas, e, após isso, duas vezes por semana, ou creme de estrogênio vaginal (Estrace, Premarin e similares) administrado diariamente durante algumas semanas e, posteriormente, duas vezes por semana. O uso em pequenas quantidades, como indicado, resulta em uma absorção sistêmica bastante baixa de estrogênio. O Estriol, um estrogênio menos potente, é considerado seguro para as mulheres que foram acometidas por um câncer que modificou os seus níveis de estrogênio.
Contudo, a inserção de um estrogênio na vagina não ajuda muito a aliviar a 'dor causada pela penetração', disse Coady, de modo que tratar a abertura vaginal também é fundamental.
Independentemente do desconforto vaginal ser suave ou severo, o uso regular de um lubrificante vendido sem prescrição médica, como o KY Jelly (para ambos os parceiros) ou um hidratante vaginal como o Replens pode ajudar a tornar o sexo mais prazeroso. Coady descobriu que a aplicação de revestimentos de óleos naturais, tais como a vitamina E ou óleo de cártamo, de coco, ou azeite, três ou quatro vezes por dia durante um ou dois meses pode hidratar a mucosa vulvar, fortalecê-la e até curar rachaduras.
Esses óleos são ainda mais eficazes quando combinados a pequenas quantidades de fórmulas de estriol e testosterona provenientes de farmácias de manipulação, disse ela.
A fisioterapia também pode ser um componente importante do tratamento. A experiência de dores durante o sexo muitas vezes tem a ver com alterações subcutâneas: tecidos conjuntivos mais curtos e músculos enfraquecidos que contribuem para o desconforto sexual. Coady destacou que o uso de um dilatador ou vibrador pode aumentar o fluxo sanguíneo em direção à área vaginal, e um anel de rosca suave na abertura vaginal pode alongar o canal vaginal.
Além disso, exercícios como yoga, pilates, Chi Kung e outros que fortalecem o diafragma pélvico e aumentam a flexibilidade podem ser muito úteis, disse Coady.
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