Publicado originalmente a 17 de junho de 2011.
A crise grega (aqui) que está nas manchetes, inclusive do site de VEJA, tem mil explicações, amigos do blog, mas seu olho do furacão começou com uma fraude, uma maracutaia inacreditável praticada pelo partido conservador Nova Democracia, que governou a Grécia por seis anos, até 2009.
Vencedor das eleições, o novo primeiro-ministro do Partido Socialista (Pasok), Giorgos Papandreu, constatou em poucos dias que seus antecessores haviam maquiado escandalosamente as contas públicas para os parceiros da União Europeia e o Banco Central Europeu (BCE). O verdadeiro déficit público do país, de gravíssimos 15,7% do PIB, era mais do que o dobro do informado pelo governo anterior.
O déficit verdadeiro era a conta que chegava para ser paga pela gastança do governo do antecessor de Papandreu, Kostas Karamanlis (2004-2009), que, em vez de atuar dentro das possibilidades do Orçamento e, mais, equacionar o que restava de déficit devido aos investimentos na preparação das Olimpíadas de 2004 pelo governo socialista que o precedeu, preferiu continuar torrando dinheiro público – e mentir.
Bola de neve de desconfiança e um brutal ajuste fiscal
A desconfiança dos mercados para com a Grécia, a partir daí, diante do temor de que os empréstimos ao governo e às empresas gregas não seriam quitados, fez rolar uma bola de neve que explodiu nas mãos de Papandreu.
O primeiro-ministro conseguiu realizar um brutal ajuste fiscal, o mais severo já feito por um país da zona do euro desde o estabelecimento da moeda comum, em 2000, e baixou em 5 pontos percentuais o rombo. A essa altura, porém, os cortes orçamentários e outras medidas restritivas haviam levantado um turbilhão de protestos na sociedade, que foram num crescendo tal que, apenas nos últimos 15 meses, houve 22 greves gerais no país.
Eles enganam o nosso povo lhes dando esmolas, embutem na cabeça de seus militantes a ideia de que o comunismo é bom, enaltecem os maiores genocidas que a terra conheceu, fazendo-os dissertá-los em TCC nas faculdades e aprisionam o futuro do país em um verdadeiro gulag mental... O povo grego optou pelo socialismo e agora, estão sentindo na pele o Holodomor que aniquilou em apenas um ano, mais de 7 milhões de ucranianos, é isto que o PT vai fazer com o nosso povo em pouco tempo... Quem viver verá...
A União Europeia, o BCE e o Fundo Monetário Internacional (FMI) – que muitos chamam de troika, ressuscitando a velha palavra da extinta União Soviética – socorreram a Grécia há um ano com um empréstimo de 110 bilhões de euros (algo como 250 bilhões de reais), mas o atoleiro grego não melhorou, e o Papandreu necessita de mais 60 bilhões de euros (140 bilhões de reais).
Privatizar o banco estatal, serviços de águas, portos e até um cassino
Para tanto, as exigências da troika são severíssimas. Depois de baixar os 5 pontos percentuais no déficit, em dois anos, Papandreu agora precisa derrubá-lo de 10,5% para 7,5% até o final deste ano.
Para fazer frente ao total da dívida grega antes desses 60 bilhões, que supera 142% do PIB (só para comparar: a do Brasil bate nos 40% do PIB) e é de 328 bilhões de euros (750 bilhões de reais, uma enormidade para um país das dimensões da Grécia), o programa para o qual Papandreu precisa obter o consenso das principais forças políticas, e que o levou a reformar seu gabinete, consiste em basicamente dois pontos:
1. Corte de gastos de mais 28 bilhões de euros
num país que já está no osso e que podou investimentos em saúde, educação e infraestrutura
2. Privatizações que obtenham de 50 a 60 bilhões de euros, para reduzir a sufocante dívida pública
E que incluem o banco estatal Caixa Postal de Poupança, os portos de Atenas (Pireu) e Salônica, a segunda maior cidade grega depois da capital, os serviços de abastecimento de água das duas cidades, a empresa telefônica nacional, OTE, que já tem como sócio minoritário o gigante alemão Deutsche Telekon, e até o cassino de Atenas, que pertence — vejam só — ao governo.
Diante desse quadro dificílimo, quem começou tudo, o partido Nova Democracia, não tem colaborado em nada. Pode ser que Papandreu venha a obter para as medidas duras e mesmo um governo de união nacional, caso em que ele próprio disse que cederia seu cargo em prol de um acordo. Mas as palavras de Antonis Samaras, líder da Nova Democracia, ditas ainda esta semana são de uma hipocrisia aterradora: “Não estou disposto a apoiar uma politica que arrase nosso país”, afirmou.
Ele ignorou o fato de que foi o governo antecessor de Papandreu, de seu próprio partido, quem iniciou esse processo de derrocada do país com uma fraude.
1 - Alexis Tsipras toma mijada do ex-primeiro ministro da Bélgix
2 - A forte Alemanha x a Grécia aos pedaços: os dois lados (muito diferentes) da mesma moeda — o euro (aqui)
3 - Na Europa, cresce pressão para salvar Grécia da falência (aqui)
Na Grécia, o desespero por comida fixado numa fotografia
Mãos estendidas para um
saco de laranjas. É esta a imagem que está correr sites e redes sociais. Mas
depois fazemos zoom out para perceber a cena. Mãos estendidas, as laranjas, e
caras apanhadas em expressões que parecem pedir. Um homem sai com um sorriso e
um saco de legumes ao ombro. As imagens mostraram, sublinharam, condensaram uma
coisa: o desespero de muitos gregos por comida.
Foi em Atenas, em
frente ao Ministério da Agricultura, que agricultores, protestando contra o
aumento dos custos de produção, distribuíram fruta e vegetais de graça.
Não foi a primeira ação destas em Atenas. Mas o caos que se seguiu mostrou o ponto a que chegou a
carência na Grécia, onde a taxa de desemprego é de 26% (superada na zona euro
apenas pelos 26,6% de Espanha) e onde um em cada três gregos vive abaixo do
limiar de pobreza, com novos 400 mil pobres entre 2010 e 2011, segundo o
Instituto de Estatística da Grécia.
A ação dos
agricultores de quarta-feira tinha começado pacífica, mas quando as
pessoas se aperceberam que a fruta e vegetais estavam a acabar, lançaram-se
para o único camião que ainda tinha alguma coisa. Velhos, mulheres com
crianças, todos aos gritos e empurrões para ver quem conseguia chegar primeiro
aos mantimentos. A dada altura, um dos agricultores faz gestos como que a
enxotar as pessoas, pendido-lhes para se afastarem. Entre a multidão destaca-se
uma criança num plano mais alto, está às cavalitas de alguém.
Uma pessoa acabou por
ser levada para o hospital com problemas respiratórios.
Estas pessoas tinham
uma vida normal
"Estas imagens deixam-me zangado", disse Kostas Barkas, deputado do
partido de oposição Syriza. "Zangado por um país que não tem comida para
comer, que não tem dinheiro para se manter quente, que não consegue chegar ao
fim do mês", disse. Muitas famílias não têm dinheiro para o combustível de
aquecimento, essencial no Inverno, muito rigoroso em algumas zonas da Grécia, e
têm queimado madeira ou mobília em lareiras ou salamandras, no que provocou um
problema de poluição em Atenas, e já foi letal, com a morte de três crianças
num incêndio em Mesoropi, perto de Salónica.
O site grego Newsit,
que mostrou vídeos da agitação na entrega dos vegetais, comentou: "Estas
pessoas não são pedintes. São vítimas de uma crise econômica que como um
furacão passou e deixou por terra famílias inteiras. São vizinhos que até ontem
tinham empregos e uma vida normal. Hoje estas pessoas, engolindo o seu orgulho
e dignidade, vão onde quer que seja preciso para encontrar um pouco de comida
gratuita, como fizeram aqui".
No final, fica outra
imagem: uma mulher com uma pequena criança aproxima-se da banca e inspeciona o
que sobrou, restos de tomates rebentados, pequenas cenouras, uma laranja. Pega
num tomate, testando a firmeza. Ainda haverá algo para levar?