A eleição de 2014, por enquanto, está demolindo mitos. O primeiro a cair foi o da estratégia “paz e amor” para o marketing dos candidatos, que embala eleições há quase vinte anos. Desde que a rejeição a Marina Silva dobrou (de 11 % para 22%) e suas intenções de voto diminuíram, viu-se que a pancadaria patrocinada pela campanha de Dilma Rousseff surtiu efeito.
Outra verdade absoluta a ser desmistificada é o palanque regional – aquele fenômeno no qual um candidato a governador puxa votos para o postulante à presidência do mesmo partido. A pesquisa do Ibope, divulgada pelo jornal O Estado de S. Paulo, mostra que essas dobradinhas são coisa do passado.
Tome-se como exemplo o maior colégio eleitoral do país, o estado de São Paulo. Os paulistas devem reeleger Geraldo Alckmin ainda no primeiro turno. Seria de se esperar que a maioria dos eleitores tucanos fosse votar em Aécio Neves para presidente, mas não é o que deverá acontecer. Dos votos de Alckmin, 41 % vão para Marina. Por incrível que pareça, Dilma receberá mais votos dos partidários do atual governador do que Aécio (30% a 25%).
Em estados como Goiás, Bahia, Pará, Rio Grande do Sul e Paraíba, vê-se fenômeno semelhante. Os eleitores do PSDB ou de partidos aliados, em sua maioria, vão votar em Dilma e Marina.
Em Minas, ocorre o contrário. Pimenta da Veiga, do PSDB, está atrás de Fernando Pimentel, do PT. Mas Aécio é beneficiado por uma parte significativa de eleitores do PT.
O curioso é que nenhum candidato a governador transfere integralmente seus votos para o companheiro de partido que disputa a presidência. Todos aqueles que postulam a governança de seus estados têm seus sufrágios diluídos entre os três nomes que concorrem à chefia da nação.
Nos principais colégios eleitorais (São Paulo, Minas, Rio, Bahia e Rio Grande do Sul), Marina lidera em São Paulo, Dilma está à frente na Bahia e no Rio Grande, enquanto há empate técnico em Minas (Dilma e Aécio) e Rio de Janeiro (Dilma e Marina). No Brasil inteiro, Marina está à frente em quatro praças (Distrito Federal incluso), há empate técnico em quatro e Dilma lidera em 16.
Chama a atenção como o PSDB tem poucos votos em alguns estados, a começar pelo Rio. No terceiro maior colégio eleitoral do país, Aécio tem apenas 9 %. O.K., pode-se argumentar que o PSDB nunca foi forte no Rio. Mas o PT também nunca teve tradição em terras fluminenses – e Dilma tem 37 % nas pesquisas, empatada com Marina, com 34%.
Em estados como Pernambuco, Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe, os tucanos têm menos de 10% das intenções de voto. Nestes casos, apenas Bahia e Pernambuco e Ceará têm relevância em número de sufrágios. Mesmo assim, um candidato como Aécio, que foi lançado para polarizar a campanha contra Dilma, precisa melhorar urgentemente seu desempenho se quiser estar no segundo turno.
O descolamento entre candidaturas estaduais e nacionais descortina duas situações.
A primeira é que os eleitores, cada vez mais, não estão alinhados com os partidos. O que conta, neste novo cenário, é o conjunto oferecido pela pessoa física que aparece na campanha, o que compreende sua própria figura, seu carisma (ou falta de), suas propostas, o jeito através do qual essas propostas são apresentadas e sua capacidade de apanhar e ficar de pé.
O segundo ponto é que as propostas dos partidos, afinadas com exaustivas pesquisas de mercado, soam muito parecidas umas das outras. No caso dos três candidatos, Marina até que se diferencia quando o assunto é a preservação do meio ambiente. Mas em termos de propostas econômicas e sociais, seu programa é muito parecido com os de Dilma e Aécio.
O eleitor identifica essa semelhança e passa a fazer suas escolhas com base nos candidatos e não mais nos partidos.
Se as eleições atuais fossem como as instituídas após a queda de Getúlio Vargas, quando era possível votar em candidatos a presidente e vice-presidente de partidos diferentes, provavelmente ocorreria o mesmo que houve no pleito de 1960, quando Jânio Quadros chegou à presidência pela UDN e teve como vice João Goulart, do PTB. Neste caso, Dilma poderia ser eleita conjuntamente com o senador Aloysio Nunes, do PSDB, Marina com Michel Temer, do PMDB, ou Aécio com Beto Albuquerque, do PSB. Se é possível perceber já as dificuldades de relacionamento entre Dilma e Temer, ou Marina e Albuquerque, imagine o que seria do jogo político se mais esta variável estivesse à disposição do eleitor.
Esses camaradas são os maiores propagadores do comunismo no mundo (aqui)