sábado, 25 de agosto de 2012

EM BUSCA DE MEMÓRIAS GENÉTICAS NA ANDALUZIA




Por Doreen Carvajal- The New York Times News Service/Syndicate

Arcos de la Frontera, Espanha – De vez em quando, ainda me pego pensando sobre como acabei vindo morar em um antigo bordel medieval à beira de um penhasco de arenito na fronteira sul da Espanha.

Foi em 2008, durante o início da crise econômica na região da Andaluzia, quando a ansiedade se espalhou como a Peste Negra. Mas, a partir do teto de meu apartamento nesse antiquíssimo povoado, eu praticamente voltei no tempo.

O mundo exterior se preocupava com contas a pagar, com valores dos imóveis, turismo, empregos perdidos e o futuro. Eu, por outro lado, me isolei em minha jornada, esperando descobrir mais sobre minha identidade por meio das memórias, das histórias e das pistas de DNA deixadas por meus ancestrais. Eu acreditava que elas houvessem sido transferidas para mim ao longo das várias gerações da família Carvajal.

Eles haviam deixado a Espanha há séculos, durante a inquisição. E isso era tudo o que eu sabia. Nós recebemos uma educação católica na Costa Rica e na Califórnia, mas com o passar do tempo eu comecei a juntar as peças de uma identidade extremamente clandestina: nós éramos descendentes de judeus sefarditas – cristãos novos conhecidos como 'conversos', Anusim (a palavra hebraica para 'forçados'), ou ainda como Marranos, que significa 'porcos' em espanhol.

Eu não sei se minha família possuía qualquer ligação com esse povoado pintado de branco, mas vivendo em suas labirínticas ruas de paralelepípedos, eu esperava compreender os medos que moldaram a vida secreta de minha própria família.

A história faz parte da vida cotidiana deste velho bairro, onde eram realizados julgamentos da inquisição e vizinhos espiavam vizinhos, sempre denunciando os heréticos – cristãos novos que praticavam o judaísmo em segredo. Com casas brancas que se espalham por uma rua prateada, o antigo bairro judeu ainda está lá, mesmo que nenhuma placa indique esse fato. Eu queria entender porque minha família havia mantido identidades secretas durante tantas gerações, com um medo e uma cautela tão inexplicáveis. Quando minha tia morreu há alguns anos, ela deixou instruções claras para que nenhum padre participasse de seu funeral; minha avó fez o mesmo.


































Existem estudos científicos que tentam descobrir se a história de nossos ancestrais chega de alguma maneira até nós, herdada por meio das vastas redes químicas que ligam e desligam os genes em nossas células. No centro dessa ciência, conhecida como epigenética, está o conceito de que os genes têm memória e de que as vidas de nossos avós – aquilo que respiraram, comeram e beberam – podem nos afetar diretamente, décadas mais tarde.

Estudos realizados recentemente na Suécia exploram como a fome e a abundância afetam a saúde após quatro gerações. Mas isso não era exatamente o que eu estava procurando: acho intrigante a ideia de que as gerações transmitem determinadas habilidades de sobrevivência, além de um senso subconsciente de identidade que resiste à prova do tempo.
A psicóloga francesa Anne Ancelin Schuetzenberger, de 92 anos, passou décadas estudando o que ela chama de 'síndrome do ancestral' – segundo a qual somos elos em uma corrente de gerações, inconscientemente afetados por seu sofrimento e seus problemas não resolvidos, até que reconheçamos nosso passado.

A psicoterapeuta de Jerusalém, Dina Wardi, trabalhou nos anos 1990 com filhos de sobreviventes do holocausto e desenvolveu a teoria de que os pais frequentemente escolhem um de seus filhos como uma 'vela memorial', com o objetivo de agir como um elo que preserva o passado e se conecta com o futuro. Além disso, ela também descobriu que os filhos de sobreviventes que lutaram ativamente contra os nazistas possuíam uma ambição compulsiva pelo sucesso.

Uma estratégia similar existia entre os conversos forçados, os Anusim: geralmente as mulheres mais velhas tinham a incumbência de passar as informações a respeito de sua identidade secreta para alguns dos membros mais jovens da família. Entre os Carvajal, a historiadora era minha tia avó Luz. Eu passei um verão em sua casa em San Jose, na Costa Rica, mas ela nunca me contou o segredo e, infelizmente, eu não era curiosa o bastante sobre nosso passado para fazer perguntas.

Mas, recentemente, minha prima Rosie me contou que havia questionado nossa tia Luz durante uma reunião de família. Fazendo jus à nossa propensão para os segredos, ela registrou toda a conversa com um gravador escondido.

'Luz me disse que nossa família veio da Espanha', afirmou Rosie. 'Ela me perguntou, 'Sua mãe já lhe disse que nós somos sefarditas?' É claro que quando falei sobre isso com minha mãe, ela não quis conversar.'

Em minha imaginação, eu conseguiria acessar essas antigas memórias de alguma maneira. Recentemente eu conheci outro Carvajal na Espanha, um ator que se lembra de que sempre afirmou para sua mãe que era judeu, ainda que tenha sido criado dentro do catolicismo. Ele me disse que começou a dizer isso quando tinha cerca de 6 anos de idade.

No jogo de videogame Assassin's Creed, a ficção sugere uma solução para esse tipo de enigma: os jogadores recorrem aos arquivos da memória genética da personagem principal para ter lembranças vívidas de Jerusalém e da Itália durante o renascimento.

A realidade é ainda mais estranha. O Dr. Darold A. Treffert, um psiquiatra do Wisconsin, mantém um registro com cerca de 300 'savants', pessoas que adquiriram conhecimentos e habilidades após sofrerem um ferimento na cabeça ou serem vítimas de demência. Possivelmente, essas habilidades, como a música, a matemática, as artes e o cálculo de tempo estavam guardadas nas profundezas de seus cérebros. 

Ele chama isso de memória genética, ou de 'software de fábrica', um enorme reservatório de conhecimento dormente que pode ressurgir quando um cérebro danificado faz novas conexões para se recuperar dos ferimentos.

'Como isso é possível?' perguntou Treffert em uma entrevista. 'A única forma de esse conhecimento ter chegado até ali é por meio de transferência genética.'

'No reino animal nós aceitamentos sem questionamentos a ideia de que os pássaros já nascem conhecendo seus padrões de migração. As borboletas monarcas fazem uma viagem do Canadá ao México, e chegam a uma área de pouco mais de 9 hectares. São necessárias três gerações para que elas completem essa viagem.'

Eu penso no voo das borboletas quando tento entender o que me trouxe de volta ao sul da Espanha, de onde meus ancestrais certamente partiram para a Costa Rica em um barco na baía de Cadiz, provavelmente com alguns dos primeiros exploradores espanhóis, carregando cristãos novos que fugiam da inquisição.

Na pasta de couro vermelho onde guardo meu caderno de anotações e meus cartões de visita, eu sempre levo uma foto da antiga cadeia da inquisição em Arcos de la Frontera. Ela foi tirada quando visitei o povoado pela primeira vez e senti uma forte necessidade de ficar e explorar. A foto mostra uma porta de madeira lascada, uma rua de paralelepípedos e um pequeno prédio caiado de branco, com uma luz brilhante e uma placa com a palavra 'leal'. Eu escrevi sobre a foto uma frase de T.S. Eliot: 'E ao final de toda nossa exploração, chegaremos ao lugar de onde partimos e conheceremos esse lugar pela primeira vez.'

Muitos anos depois de minha estadia em Arcos de la Frontera, que é parcialmente delimitada pelo Guadalete – cujo nome faz referência ao mitológico rio do esquecimento – eu descobri que minha tia Luz às vezes sonhava com a Andaluzia. Agora é tarde demais para questioná-la – ela morreu em 1998 – mas sou assombrada pelo que ela contou para outra de minhas primas na Costa Rica: com frequência ela sonhava com um rio que deságua na baía de onde Colombo partiu para as Américas.

Esse certamente é o lar de nossas borboletas: o verde rio do esquecimento, o Guadalete.
(Doreen Carvajal escreve para o International Herald Tribune e o The New York Times, além de ser autora do livro 'The Forgetting River: A Modern Tale of Survival, Identity and the Inquisition' – 'O rio do esquecimento: um conto moderno de sobrevivência, identidade e inquisição', em tradução literal.)

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