sábado, 7 de março de 2015

Finalmente chega ao Brasil um livro de Theodore Dalrymple! Ou: A vida na sarjeta


19/10/2014
 às 8:35 \ CulturaPaternalismo

Quem acompanha o blog há algum tempo sabe que sou um grande admirador de Theodore Dalrymple, o médico psiquiatra britânico com viés conservador. Já li dele dez livros, e achei todos muito bons. Foi, sem dúvida, uma das mais importantes influências em minha formação intelectual, especialmente a mais recente, que caminhou mais na direção do conservadorismo anglo-saxão.
Pois bem: a editora É Realiazações finalmente trouxe o autor para o Brasil. O primeiro livro será Life at the Bottom, que ganhou a tradução A vida na sarjeta. O psiquiatra trabalhou 14 anos em prisões, e conseguiu ver de perto o estrago que certas ideias progressistas, paridas do conforto dos escritórios dos intelectuais, causaram no “andar de baixo”.
O autor concedeu uma entrevista ao portal da Veja, que recomendo. Faço a ressalva de que liberal, aqui, quer dizer “progressista”. Não é o liberalismo clássico que ele está atacando, até porque este tem muito mais afinidade com seu conservadorismo “de boa estirpe”, baseado nas tradições e não necessariamente na religião (Dalrymple é um agnóstico que respeita o papel social das religiões). Segue um pequeno trecho:
O senhor escreve que a “pobreza da alma” é muito pior que a pobreza material. Que lições países que ainda lidam com a miséria material, como o Brasil, devem tirar da “subclasse” dos países mais desenvolvidos? Mesmo em países miseráveis da África, onde trabalhei, nunca vi tamanha pobreza espiritual ou psicológica como a que observei na Inglaterra. E isso, eu acho, só pode ser explicado pela privação do sentido da vida. São pessoas capturadas por esse ciclo de dependência, em que nada parece tornar a vida melhor ou pior. Não há esperança, nem medo. Isso é algo que os brasileiros devem saber e evitar. Deixe-me dar um exemplo. Na Inglaterra, em 2006, antes da crise econômica, nós tínhamos 2,9 milhões de pessoas vivendo graças ao auxílio-doença. Elas não eram considerados desempregadas, mas doentes. Acontece que a grande maioria não tinha enfermidade nenhuma – ou teríamos mais doentes do que na 1ª Guerra Mundial. Essa corrupção moral tem um efeito profundo sobre a sociedade, tanto sobre as pessoas que pedem o benefício, como os médicos que dão os atestados e até sobre o governo, que pôde melhorar seu indicador de desemprego.
O assistencialismo tem um peso grande na vida dos brasileiros. Um em cada quatro pessoas é beneficiado por programas de transferência de renda, que praticamente todos os políticos apoiam. É possível erguer uma rede de proteção social que atenda à população necessidade sem incentivar os vícios que o senhor identifica? Eu não conheço muito bem o Brasil. Mas é certamente perigoso permitir que transferências regulares se tornem mais importantes que a renda das pessoas, porque haverá uma pressão para aumentá-las cada vez mais, em detrimento não só de toda a economia, mas também do caráter dos beneficiados. E é claro também que esses benefícios, quando elevados, acabam se tornando um direito divorciado de qualquer forma de merecimento. Se você tem direito a uma casa, renda, educação, assistência médica e tudo o mais, qual o sentido do esforço? Acho que, se bem controlada, não há razão para não ter uma rede de proteção social. O problema é que na Europa, particularmente na Grã-Bretanha, o sistema saiu de controle.
E no Brasil, eu acrescentaria, o sistema também já saiu do controle, com o agravante de que adotamos o “luxo” do welfare state benevolente antes de ficarmos ricos.
Rodrigo Constantino

  
Esses camaradas são os maiores propagadores do comunismo no mundo (aqui)

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