sábado, 17 de março de 2012

MEDICINA/PSIQUIATRIA - Distúrbios na tireoide podem causar problemas psiquiátricos
Por Harriet Brown, The New York Times News Service/Syndicate
NYTimes
Os médicos encontram com frequência níveis anormais de hormônios da tireoide no sangue de pacientes com depressão, ansiedade e outros problemas psiquiátricos. Eles descobriram que o tratamento desse problema pode levar a melhoras na memória, na disposição e na cognição.
Agora, os pesquisadores estão verificando uma ligação um tanto controversa entre problemas de tireoide menores - ou subclínicos - e algumas dificuldades vivenciadas por doentes psiquiátricos. Após revisar a literatura sobre o hipotireoidismo subclínico (SCH) e a falta de ânimo, o Dr. Russell Joffe, psiquiatra do Sistema de Saúde Judaico da Costa Norte de Long Island, concluiu recentemente, junto a seus colegas, que o tratamento do SCH, que atinge cerca de 2 por cento dos norte-americanos, pode aliviar alguns sintomas de pacientes psiquiátricos e até mesmo prevenir problemas cognitivos futuros.
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Pacientes com sintomas psiquiátricos, conta Joffe, "nos dizem que, quando tomam hormônios da tireoide, ficam melhores".
A tireoide, uma glândula de formato curvado que envolve a traqueia, produz dois hormônios: a tiroxina, ou T4, e a triiodotironina, conhecida como T3. Esses hormônios desempenham um papel em uma quantidade surpreendente de processos físicos, desde a regulação da temperatura corporal e dos batimentos cardíacos até o funcionamento cognitivo.
Muitos são os fatores que podem causar mau funcionamento da tireoide, incluindo exposição a radiação, muito ou pouco iodo na alimentação, medicamentos como o lítio e doenças autoimunes. Além disso, a incidência de doenças da tireoide aumenta com a idade. O excesso de hormônio tireoidiano (hipertireoidismo) acelera o metabolismo, causando sintomas como sudorese, palpitações, perda de peso e ansiedade. Muito pouco hormônio tireoidiano (hipotireoidismo) pode causar fadiga física, ganho de peso e lentidão, bem como depressão, incapacidade de concentração e problemas de memória.
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"No início do século XX, as descrições mais acuradas da depressão clínica apareceram, na verdade, nos livros didáticos sobre distúrbios na tireoide, não em manuais de psiquiatria", disse Joffe.
Contudo, os médicos discordam há muito tempo sobre a natureza das relações entre sintomas psiquiátricos e problemas de tireoide.
"É como naquela história do ovo e da galinha", disse Jennifer Davis, professora assistente de psiquiatria e comportamento humano da Universidade Brown, em Providence, Rhode Island. "Existe um problema de tireoide subjacente que causa sintomas psiquiátricos ou é o contrário?", questiona ela.
De acordo com Davis, são comuns diagnósticos equivocados de doenças psiquiátricas em pessoas com problemas de tireoide.
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Dez anos atrás, Leah Christian, hoje com 29 anos, tentou tomar antidepressivos contra a depressão e ansiedade. Não funcionou.
"Eu apenas continuei me sentindo para baixo", disse Christian, que trabalha como educadora infantil em São Francisco.
Alguns anos atrás, ainda tentando melhorar, ela pediu a seu médico para encaminhá-la a um terapeuta. Primeiro, o médico realizou exames de tireoide e descobriu que Christian tinha uma doença autoimune chamada Tireoidite de Hashimoto, uma das causas comuns de hipotireoidismo.
Assim, Christian tomou levotiroxina, uma reposição sintética de hormônios da tireoide. A depressão e a ansiedade desapareceram, conta ela: "No fim das contas, todos os meus sintomas estavam relacionados à tireoide".
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Em certo sentido, ela teve sorte; era evidente que seus níveis hormonais estavam fora da faixa normal. Níveis "normais" de hormônios que estimulam a tireoide variam entre 0,4 a 5 (quanto maior o nível de TSH, menos ativa é a tireoide). A maioria dos endocrinologistas concorda que taxas de 10 ou mais requerem tratamento contra o hipotireoidismo.
Porém, para as pessoas com taxa de TSH entre, digamos, 4 e 10, as coisas ficam menos claras, especialmente para aqueles que vivenciam sintomas psiquiátricos vagos, como depressão, fadiga leve ou que simplesmente se sentem desconectados de si próprios.
Alguns médicos acreditam que esses pacientes devem ser tratados. "Se alguém tem um transtorno de hipotireoidismo subclínico e falta de ânimo, isso pode ser significativo", disse o Dr. Thomas Geracioti, professor de psiquiatria da faculdade de medicina da Universidade de Cincinnati.
Geracioti usou hormônios da tireoide para tratar artistas que sentiam um medo paralisante do palco; um músico de alto nível, disse o médico, conseguiu se recuperar totalmente.
A ideia de tratar o hipotireoidismo subclínico é controversa, especialmente entre os endocrinologistas. De acordo com Joffe, por um lado, o tratamento hormonal da tireoide pode sobrecarregar o coração e agravar a osteoporose em mulheres. Por outro lado, deixar de tratar a doença também pode prejudicar o coração. Alguns estudos sugerem que pode inclusive aumentar o risco da doença de Alzheimer e outras demências.
Além disso, há os problemas de ordem individual, que são difíceis de mensurar.
"As pessoas tendem a deixar de lado os problemas de qualidade de vida relacionados à depressão e à ansiedade", disse Joffe.
As mulheres são muito mais propensas a desenvolver problemas de tireoide que os homens, especialmente após os 50 anos. Alguns especialistas acreditam que o gênero tem a ver com alguma relutância em tratar a doença subclínica.
"Há um preconceito terrível contra as mulheres que se queixam de problemas emocionais", disse Davis. "Suas queixas tendem a ser deixadas de lado ou atribuídas ao estresse ou à ansiedade".
Os sintomas psiquiátricos podem ser vagos, sutis e bastante individuais, observou James Hennessey, diretor da clínica de endocrinologia do Centro Médico Beth Israel Deaconess, em Boston.
Outra complicação: não fica claro para muitos especialistas quais são os níveis realmente "normais" de hormônios da tireoide.
"Um paciente pode ter um TSH de nível 5, que muitos clínicos diriam não ser alto o suficiente para ser associado a sintomas", disse Hennessey. "Mas se o nível adequado para essa pessoa estiver em torno de 0,5, isso 5 representaria um nível de TSH dez vezes maior que o normal, o que pode muito bem representar uma patologia para o indivíduo em questão".
Em um estudo publicado em 2006, pesquisadores da província de Anhui, na China, utilizaram exames do cérebro para estudar pacientes com hipotireoidismo subclínico, antes e após o tratamento. Após seis meses de terapia com levotiroxina, eles conseguiram identificar melhoras expressivas tanto na memória quanto na execução de atividades.
Com recursos dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, Joffe e outros pesquisadores da Universidade de Boston iniciaram recentemente um experimento para tentar desvendar a relação entre o SCH e certos sintomas cognitivos e de falta de ânimo em pessoas com mais de 60 anos. Os resultados só virão à tona daqui a alguns anos. Mas alguns médicos nem estão esperando por eles.
"Pessoalmente, acredito que devemos experimentar administrar uma medicação contra distúrbios da tireoide em pacientes com TSH entre 5 e 10, especialmente nos que apresentam sintomas psiquiátricos", disse Hennessey.
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Olimpia Pinheiro
Consultora Executiva
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