MEDICINA/PSIQUIATRIA - Distúrbios na tireoide podem causar problemas psiquiátricos
Por Harriet Brown, The New York Times News Service/Syndicate
Os médicos encontram com frequência níveis anormais de hormônios da tireoide
no sangue de pacientes com depressão, ansiedade e outros problemas
psiquiátricos. Eles descobriram que o tratamento desse problema pode levar a
melhoras na memória, na disposição e na cognição.
Agora, os pesquisadores estão verificando uma ligação um tanto controversa
entre problemas de tireoide menores - ou subclínicos - e algumas dificuldades
vivenciadas por doentes psiquiátricos. Após revisar a literatura sobre o
hipotireoidismo subclínico (SCH) e a falta de ânimo, o Dr. Russell Joffe,
psiquiatra do Sistema de Saúde Judaico da Costa Norte de Long Island, concluiu
recentemente, junto a seus colegas, que o tratamento do SCH, que atinge cerca de
2 por cento dos norte-americanos, pode aliviar alguns sintomas de pacientes
psiquiátricos e até mesmo prevenir problemas cognitivos futuros.
Pacientes com sintomas psiquiátricos, conta Joffe, "nos dizem que, quando
tomam hormônios da tireoide, ficam melhores".
A tireoide, uma glândula de formato curvado que envolve a traqueia, produz
dois hormônios: a tiroxina, ou T4, e a triiodotironina, conhecida como T3. Esses
hormônios desempenham um papel em uma quantidade surpreendente de processos
físicos, desde a regulação da temperatura corporal e dos batimentos cardíacos
até o funcionamento cognitivo.
Muitos são os fatores que podem causar mau funcionamento da tireoide,
incluindo exposição a radiação, muito ou pouco iodo na alimentação, medicamentos
como o lítio e doenças autoimunes. Além disso, a incidência de doenças da
tireoide aumenta com a idade. O excesso de hormônio tireoidiano
(hipertireoidismo) acelera o metabolismo, causando sintomas como sudorese,
palpitações, perda de peso e ansiedade. Muito pouco hormônio tireoidiano
(hipotireoidismo) pode causar fadiga física, ganho de peso e lentidão, bem como
depressão, incapacidade de concentração e problemas de memória.
"No início do século XX, as descrições mais acuradas da depressão clínica
apareceram, na verdade, nos livros didáticos sobre distúrbios na tireoide, não
em manuais de psiquiatria", disse Joffe.
Contudo, os médicos discordam há muito tempo sobre a natureza das relações
entre sintomas psiquiátricos e problemas de tireoide.
"É como naquela história do ovo e da galinha", disse Jennifer Davis,
professora assistente de psiquiatria e comportamento humano da Universidade
Brown, em Providence, Rhode Island. "Existe um problema de tireoide subjacente
que causa sintomas psiquiátricos ou é o contrário?", questiona ela.
De acordo com Davis, são comuns diagnósticos equivocados de doenças
psiquiátricas em pessoas com problemas de tireoide.
Dez anos atrás, Leah Christian, hoje com 29 anos, tentou tomar
antidepressivos contra a depressão e ansiedade. Não funcionou.
"Eu apenas continuei me sentindo para baixo", disse Christian, que trabalha
como educadora infantil em São Francisco.
Alguns anos atrás, ainda tentando melhorar, ela pediu a seu médico para
encaminhá-la a um terapeuta. Primeiro, o médico realizou exames de tireoide e
descobriu que Christian tinha uma doença autoimune chamada Tireoidite de
Hashimoto, uma das causas comuns de hipotireoidismo.
Assim, Christian tomou levotiroxina, uma reposição sintética de hormônios da
tireoide. A depressão e a ansiedade desapareceram, conta ela: "No fim das
contas, todos os meus sintomas estavam relacionados à tireoide".
Em certo sentido, ela teve sorte; era evidente que seus níveis hormonais
estavam fora da faixa normal. Níveis "normais" de hormônios que estimulam a
tireoide variam entre 0,4 a 5 (quanto maior o nível de TSH, menos ativa é a
tireoide). A maioria dos endocrinologistas concorda que taxas de 10 ou mais
requerem tratamento contra o hipotireoidismo.
Porém, para as pessoas com taxa de TSH entre, digamos, 4 e 10, as coisas
ficam menos claras, especialmente para aqueles que vivenciam sintomas
psiquiátricos vagos, como depressão, fadiga leve ou que simplesmente se sentem
desconectados de si próprios.
Alguns médicos acreditam que esses pacientes devem ser tratados. "Se alguém
tem um transtorno de hipotireoidismo subclínico e falta de ânimo, isso pode ser
significativo", disse o Dr. Thomas Geracioti, professor de psiquiatria da
faculdade de medicina da Universidade de Cincinnati.
Geracioti usou hormônios da tireoide para tratar artistas que sentiam um medo
paralisante do palco; um músico de alto nível, disse o médico, conseguiu se
recuperar totalmente.
A ideia de tratar o hipotireoidismo subclínico é controversa, especialmente
entre os endocrinologistas. De acordo com Joffe, por um lado, o tratamento
hormonal da tireoide pode sobrecarregar o coração e agravar a osteoporose em
mulheres. Por outro lado, deixar de tratar a doença também pode prejudicar o
coração. Alguns estudos sugerem que pode inclusive aumentar o risco da doença de
Alzheimer e outras demências.
Além disso, há os problemas de ordem individual, que são difíceis de
mensurar.
"As pessoas tendem a deixar de lado os problemas de qualidade de vida
relacionados à depressão e à ansiedade", disse Joffe.
As mulheres são muito mais propensas a desenvolver problemas de tireoide que
os homens, especialmente após os 50 anos. Alguns especialistas acreditam que o
gênero tem a ver com alguma relutância em tratar a doença subclínica.
"Há um preconceito terrível contra as mulheres que se queixam de problemas
emocionais", disse Davis. "Suas queixas tendem a ser deixadas de lado ou
atribuídas ao estresse ou à ansiedade".
Os sintomas psiquiátricos podem ser vagos, sutis e bastante individuais,
observou James Hennessey, diretor da clínica de endocrinologia do Centro Médico
Beth Israel Deaconess, em Boston.
Outra complicação: não fica claro para muitos especialistas quais são os
níveis realmente "normais" de hormônios da tireoide.
"Um paciente pode ter um TSH de nível 5, que muitos clínicos diriam não ser
alto o suficiente para ser associado a sintomas", disse Hennessey. "Mas se o
nível adequado para essa pessoa estiver em torno de 0,5, isso 5 representaria um
nível de TSH dez vezes maior que o normal, o que pode muito bem representar uma
patologia para o indivíduo em questão".
Em um estudo publicado em 2006, pesquisadores da província de Anhui, na
China, utilizaram exames do cérebro para estudar pacientes com hipotireoidismo
subclínico, antes e após o tratamento. Após seis meses de terapia com
levotiroxina, eles conseguiram identificar melhoras expressivas tanto na memória
quanto na execução de atividades.
Com recursos dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, Joffe e outros
pesquisadores da Universidade de Boston iniciaram recentemente um experimento
para tentar desvendar a relação entre o SCH e certos sintomas cognitivos e de
falta de ânimo em pessoas com mais de 60 anos. Os resultados só virão à tona
daqui a alguns anos. Mas alguns médicos nem estão esperando por eles.
"Pessoalmente, acredito que devemos experimentar administrar uma medicação
contra distúrbios da tireoide em pacientes com TSH entre 5 e 10, especialmente
nos que apresentam sintomas psiquiátricos", disse Hennessey.
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Olimpia Pinheiro
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