DIMINUINDO A DIVISÃO DE CLASSES
Washington _ Tenho ouvido muitos comentários de todos os lados sobre meu livro recém-publicado, "Coming Apart", que aborda a divergência entre as classes média alta e operária da população branca dos Estados Unidos nos últimos 50 anos.
Por Charles Murray, The New York Times News Service/Syndicate
Washington _ Tenho ouvido muitos comentários de todos os lados sobre meu livro recém-publicado, "Coming Apart", que aborda a divergência entre as classes média alta e operária da população branca dos Estados Unidos nos últimos 50 anos.
Algumas críticas são justas, outras, frívolas. Mas há uma _ "ele não oferece
soluções!" _ que não posso refutar. O motivo é simples: as soluções remotamente
práticas agora não resultariam em muito avanço.
A solução que mais costumo ouvir, um programa de serviço nacional que
reuniria jovens de todas as classes, é um exemplo. Dizem que o precedente é o
alistamento militar obrigatório, que teve fim no começo dos anos 1970. Porém, o
alistamento era capaz de transformar alistados relutantes em soldados
competentes porque os oficiais do exército tinham o Código Uniforme da Justiça
Militar para fazer valer suas ordens.
Os administradores de um serviço nacional civil obrigatório também
enfrentariam jovens que não gostariam de participar, sem serem capazes de
exercer uma disciplina ao estilo militar. Tal programa reproduziria o efeito
inesperado dos programas de emprego para a juventude desamparada dos anos 1970:
treinar os jovens a fingir e derrotar o sistema. O serviço nacional
provavelmente criaria mais ressentimento do que camaradagem.
Dito isso, vejo quatro etapas que podem enfraquecer o isolamento, ao menos o
dos filhos da nova classe alta.
Para começar, devemos extinguir os estágios não remunerados. Os filhos da
nova classe alta quase nunca conseguem empregos de verdade durante as férias de
verão. Em vez disso, fazem estágio em lugares como Brookings Institution,
American Enterprise Institute (onde eu trabalho) ou no escritório de um
senador.
Isso equivale a uma assistência na carreira para jovens ricos e inteligentes.
Quem é da classe operária ou da média, sofrendo para pagar a faculdade, não pode
se dar ao luxo de trabalhar de graça. Os estágios abrem o caminho para os jovens
passarem automaticamente de uma criação privilegiada a carreiras igualmente
privilegiadas sem precisar aceitar um emprego chato ou que exija
fisicamente.
Então que os sindicatos trabalhistas ganhem esta batalha: se você não for uma
organização religiosa e tiver mais de dez funcionários, a lei do salário mínimo
deveria valer para qualquer um que vier trabalhar todo dia.
Também podemos tirar o teste SAT dos programas de admissão das faculdades.
Ele se tornou um símbolo do privilégio da nova classe rica à medida que as
pessoas presumem (ainda que erroneamente) que a pontuação alta seja comprada com
os recursos das escolas particulares e cursinhos caros.
Pelo contrário, as faculdades de elite deveriam exigir testes em disciplinas
específicas para as quais os estudantes podem se preparar à moda antiga, com
livros.
Outro passo substituiria a ação afirmativa étnica por ação afirmativa
socioeconômica. Isso é óbvio. É um absurdo, em 2012, dar ao filho de um advogado
negro uma vantagem no vestibular, mas não para o filho de um encanador
branco.
Por fim, deveríamos estourar a bolha do bacharelado. O diploma de bacharel se
tornou um fomentador de divisão de classes no mesmo momento histórico em que se
tornou educacionalmente sem sentido. Não precisamos de legislação para resolver
esse problema, basta uma enérgica banca de advogados de interesse público
desafiar a constitucionalidade do diploma como exigência de emprego.
Afinal, faz muito tempo que a Suprema Corte decidiu que o empregador não pode
usar a pontuação de testes padronizados para escolher entre os candidatos a
emprego sem demonstrar um vínculo forte entre a prova e as exigências do cargo.
Um empregador exigir um pedaço de papel chamado diploma de bacharel não pode ser
mais constitucional, o que nem sequer garante que seu dono saiba escrever um
parágrafo coerente.
Se estou defendendo essas ideias agora, por que não as propus em "Coming
Apart"? Porque, infelizmente, elas não produzem uma diferença imediata e real.
Estágios que paguem o salário mínimo ainda são muito mais factíveis para alunos
abastados do que para aqueles que pagam a faculdade. Os mesmos estudantes que
tiram nota alta no SAT têm desempenho similar nos testes avaliativos, e pelo
mesmo motivo (são inteligentes e bem preparados).
Mesmo sem uma ação socioeconômica afirmativa, uma elevada proporção de
crianças dotadas academicamente da classe operária já possui bolsas de estudo em
boas escolas. E mesmo que as entrevistas de emprego estejam abertas para pessoas
sem diploma de bacharel, aquelas com as melhores credenciais verdadeiras
continuarão conseguindo a vaga e, predominantemente, serão escolhidas entre as
mesmas pessoas que conseguem o trabalho agora.
Porém, pode haver um valor simbólico nessas reformas. As mudanças importantes
têm de acontecer no coração dos americanos. Os ricos de nossa sociedade estão
cada vez mais isolados num sistema que torna mais fácil para seus filhos
continuarem ricos. Reconhecer isso e agir para diminuir as vantagens artificiais
da nova classe superior _ principalmente se essa classe assumir a liderança na
defesa dessas reformas _ poderia vir a ser uma afirmação importante dos ideais
americanos.
(Charles Murray é pesquisador do American Enterprise Institute e autor, entre
outros, de "Coming Apart: The State of White America, 1960-2010".)
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Osvaldo Aires Bade Comentários
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